sábado, 17 de outubro de 2009

Pesetero.

"Enxotaram-me de Madrid"
Figo no i, via As

Antes de mais, uma consideração prévia: numa geração de jogadores incrível que juntou Zidane, Ronaldo, Beckham, Rivaldo ou Henry, o Figo foi porventura o que jogou mais tempo a um nível mais alto. Barça, Real, Inter, 15 anos, títulos espanhóis e italianos, a Champions e a Bola de Ouro. Um vulto de dimensão em todo o lado onde jogou, um nome incontornável do futebol europeu do último quarto de século. Não houvesse Eusébio e teria sido o nome maior da História do Futebol Português mas, mesmo com ele, foi com Figo e com a Geração de Ouro que moraram as maiores glórias do nosso futebol, o 2º e o 3º lugar dos Europeus, o 4º no Mundial, os Mundiais de sub20. Figo foi, talvez, a maior bandeira do país no último meio século, e isso nem é discutível.

Tudo isto não invalida que seja possível não gostar de Figo. Porque o futebol tem tudo a ver com paixão, e porque essa não tem que ver necessariamente com resultados e títulos e produtividade. O Figo foi um jogador monstruoso, um colosso, mas nunca vai ser uma lenda, e por uma razão muito simples: não soube assumir fora do campo o que representava dentro dele. Leio muitas vezes que ele soube gerir a carreira de uma forma ímpar, mas quem diz isso, não consegue perceber a verdadeira essência do futebol. O Figo tinha tudo, tudo, tudo para ser um perfeito ícone, mas optou por desprezar tudo isso no dia 24 de Julho de 2000, quando trocou a braçadeira de capitão do Barça, depois de ser um dos únicos estrangeiros, na História do clube, a ter a honra de a usar), pelos muitos milhões com que lhe acenaram de Madrid. Já ouvi que é injusto e hipócrita condenar alguém por querer melhorar a vida, por querer subir na carreira, mas lá está: futebol não tem nada a ver com ser racional. E quem faz o que ele fez, não vai ter nunca a idolatria das pessoas.

Esta semana, Figo falou da sua traumática saída de Madrid. Na altura, pagou, valha a verdade, pela imagem de galáctico, e foi afastado mal e porcamente, logo que o Real tentou lavar a cara depois dum período duro, pós-grandes resultados. Figo disse, agora, de maneira amargurada, que foi enxotado. Foi-o, de facto, e a verdade é que não o justificava. Não o merecer é que já não tem nada a ver com isso. Figo saíu do Real pelo negócio, porque foi para lá pelo negócio. Se queria respeito e devoção, que tivesse ficado na Catalunha. Não sei se existem muitos com moral para falar ou não, mas ele, definitivamente, não a tem.

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