quarta-feira, 29 de abril de 2009

Beleza Americana

Este American Beauty é um filme assombroso. Grandes interpretações (o Spacey, que é um génio sempre e em qualquer circunstância, o Wes Bentley, e, sobretudo, o Chris Cooper, a fazer a interpretação duma vida, muito injustamente esquecida pela Academia), mas, muito em especial, um texto e um desenho fantásticos. É, para mim, daqueles filmes que, mais do que adorar, não resistimos a reverenciar. Porque é impossível não admirar, acima de tudo, qualquer coisa tão inteligente, qualquer coisa que, de cada vez que a vemos, se insinua como se nunca a fôssemos perceber completamente. O que carrega consigo uma certa poesia.

Este é, na essência, um filme sobre beleza. Sobre o que parece mas não é, no quotidiano perturbador da família americana comum, incoerente e com duas caras, esforçada por mostrar uma perfeição que não tem nem pode ter, mas, particularmente, da que é mas não parece. Ou da que, pelo menos, não costumamos ver. Um verdadeiro must.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Magic Ryan


Nunca foi MVP da FIFA, nem nunca foi Bola de Ouro. Nunca protagonizou nenhuma transferência milionária, nem nunca esteve sequer numa fase final do que quer que fosse com a sua selecção. E sempre passou ao lado dos grandes prémios individuais. No entanto, para os adeptos do maior clube do Mundo, é quase um deus. 19 anos de Manchester, 800 jogos. Uma vida. Se quisermos perceber o que é o United realmente, vale a pena olhar para Giggs. O génio e a mística, tudo num só. Um futebolista doutro tempo. Correndo o risco de cair na poesia, é por isso que Giggs é tão especial. Por ser quase uma impossibilidade, um capricho do destino, na era dos galácticos, na era em que já não é suposto haver jogadores como ele. Porque já não é suposto que alguém tão bom jogue tanto durante tanto tempo. E sempre no mesmo lugar. É por isso que Giggs representa tão bem o United. É por jogadores como ele que o clube se fez tão grande. Por aquela dedicação, aquela paixão, aquele respeito. E por toda aquela qualidade. Como todos os que não se sabem ou não se querem vender, nunca foi favorito a ganhar nada. Anos e anos, em Inglaterra e na Europa, ao mais alto nível, e sempre a passar ao lado. Até que, no limite da sua vida futebolística, do alto dos seus fantásticos 35 anos, foi eleito como o melhor jogador da Premier League.

Para mim, não é nenhum prémio de consolação. Porque me recuso a aceitar que alguém que já fez tanto precise disso. Porque, para mim, ganhou este ano, como podia ter ganho noutro ano qualquer. E porque não, este não foi o seu ano de despedida. É que desconfio que, no campo como na essência, Magic Ryan é eterno.

Quem sabe, nunca esquece

Dizem dele que foi o mais entusiasmante jogador depois de Maradona. Percebe-se. Houve Van Basten, Baggio, Zidane, Figo, Rivaldo, todos grandes, todos melhores do Mundo. Mas nenhum era como ele. Nenhum era capaz de arrancar assim, nenhum era capaz de resolver como ele. Como se jogasse sozinho. Nenhum poderia ter sido tão grande como ele. No auge, a vida pregou-lhe uma partida e pôs-lhe a carreira por um fio. Os joelhos, o pior de tudo. Mesmo assim, do fundo do poço, voltou. Para mostrar que não merecia menos que o Madrid, para ser campeão na Ásia e para bater o recorde de Muller. Para ser, de novo, o melhor do Mundo. Só que era fácil de mais e não podia durar sempre. Voltaram as lesões, os problemas de peso, o ocaso em Madrid. Fugiu para Milão, mas o destino já não parecia querer nada com ele. Os joelhos, novamente. Ao fim de mais de um ano parado, sem contrato e com as portas da Europa fechadas, voltou ao Brasil, o último refúgio. Consideraram-no morto mas, mesmo com muito mais peso do que sequer poderia, ele quis tentar uma última vez. E voltou a ser notícia de semana a semana. Percebe-se. Valendo o que valha, El Gordo, como o baptizaram em Madrid, ainda faz coisas como a que vai cá em baixo. E em finais, mesmo que sejam só do Campeonato Paulista. Já não vai a tempo de voltar ao seu lugar, já nem sequer alguma vez o voltaremos a ver fazer qualquer coisa como naquela noite em Compostela. Talvez não dure nem mais um mês. Mas vale a pena esperar para ver. Porque, mesmo preso a um corpo, o génio vai estar sempre lá. Porque, tenha o peso que tiver, ele vai ser sempre o Fenómeno.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Acredito

"Gil é perigoso porque acredita que pode ganhar"
Rafa Nadal

Não sei se o Frederico Gil vale realmente tanto entusiasmo, nem se tem, sequer, tanto potencial quanto se apregoa. É que, por mais que simpatize com ele, é um tipo que vem de um país que nunca teve nada na modalidade, e onde, facilmente, dadas as circunstâncias, qualquer um se torna suspeito para falar. Ele pode, portanto, e é até o mais provável, desaparecer com a mesma rapidez com que chegou, e daqui a um par de meses já ninguém se lembra dele.
À parte isto, ainda bem que andam a falar tanto nele. Porque ele merece e porque desconfio que é também deste apoio e deste tipo de reconhecimento que se fazem os grandes atletas. E porque é evidente que sentir que se representa toda uma Nação, praticamente a solo, é um motivo muito forte. A juntar a isto, ele tem engatado de jogar com um senhor que, aos 22 anos, já é, talvez, o maior fenómeno da História da modalidade, o que ajuda. E que ontem disse o que está ali em cima. Que o ganhou, por um 2-0 clarinho, mas que disse aquilo. Qualquer um de nós, por mais que torça pelo Gil, sabe, secretamente, que, no máximo, vamos ficar contentes por ele ter vendido cara a derrota. Ele, pelos vistos, não. Secretamente ou não, em cada devolução de serviço, em cada amortie, em cada resposta, ele acredita que pode mais qualquer coisa. Não devia passar a acreditar mais nele pelo que os outros dizem. Mas porra, quem disse foi o Nadal. Já passei a fase da admiração e da vontade que as coisas lhe corram bem. Agora tenho fé. Disse um dia o mítico Bill Shankly, eterna referência de um Liverpool monstruoso que assombrou a Europa nos anos 60, que "os verdadeiros campeões são aqueles que acreditam em si mesmos quando mais ninguém acredita". Começo mesmo a achar que o Gil tem qualquer coisa de campeão.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Paçamos!

O Marítimo não vai estar na UEFA do próximo ano, mas vai continuar a ser a única equipa madeirense a ter ido ao Jamor. Amo-te, Paços.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

I got a crush on Obama

Quando for grande

"Vocês podem ter o melhor equipamento do mundo, mas se não tiverem cabeça, não têm nada"

Einstein disse um dia que a educação era o que sobrava depois de esquecermos tudo o que aprendemos na escola. Com o devido respeito, acho que, no mundo universitário, a frase merecia ser calibrada. É que, apesar de mal estarmos se achássemos que tudo o que vamos lá ouvir é inútil, os textos, os monólogos, as teorias, os trabalhos, as horas de aulas, todos esses vão ser efectivamente esquecidos, e é deles, na maioria, que está previsto constituir-se a nossa formação. Acho portanto que, neste admirável mundo novo, depois de esquecermos "tudo" o que lá aprendemos, o que vai ficar, para além, como é óbvio, de todos os amigos para a vida, são aquelas pessoas que tiveram mesmo algo para nos dizer, as suas histórias, os seus conselhos, e tudo aquilo que soubermos apreender, quer da sua experiência de vida, quer da sua fantástica experiência no meio do qual sonhamos um dia fazer parte.
Talvez veja as coisas assim por ser um apaixonado por histórias, mas acho que são as nossas vivências e as nossas memórias, aquilo que fizemos e aquilo por que passamos, que verdadeiramente nos faz quem somos e que influencia, em última instância, tudo o que fazemos. Ser muito bom "tecnicamente" é indispensável, mas eu, pelo menos, acredito que sem tacto, sem princípios, sem cultura de meio, sem experiências e histórias ouvidas, sem boas opiniões e bons conselhos, nunca seremos excelentes, nunca poderemos ser os melhores. É por isso que, apesar de eu prezar um professor competente, que sabe o que faz e nos forma bem, que nos deixa preparados, só reverencio verdadeiramente os que nos dizem o que não podemos aprender nos livros. Esses, o que me dizem, guardo-o para a vida. Porque é a caminhar que se faz o caminho e porque, cada vez mais, é também por eles que um dia gostava de ser jornalista. Como eles.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A todas as maneiras esquisitas de falar

“Eu nasci no Alentejo, cresci no Alentejo e vivo no Alentejo. Mal era se, ao fim de um dia de televisão, já não falasse alentejano”

Disse mais ou menos isto um miúdo que não deve ter mais do que 10 anos, em directo num horário nobre, entre perguntas sobre as reacções à sua primeira aparição no novo programa da TVI e a voz da Júlia Pinheiro a repetir apalhaçadamente tudo o que ele dizia. A coisa pode ter sido toda preparada em casa, mas certo é que, naquele momento, o miúdo falou à senhor, e disparou uma bruta duma lição para os quatro cantos de um país onde ainda se teima em achar que a diferença é uma coisa reles, a todos aqueles que, por muito menos do que um dia de televisão, fazem questão de afogar todo e qualquer sotaquezinho. Falou à campeão e tem o meu reconhecimento. Que acredite sempre nisso.