sábado, 31 de outubro de 2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Podiam meter este formato na gaveta? Podiam. Mas não era a mesma coisa.

Era só para dizer que acho que correu bem. O Zé Carlos não tinha corrido assim grande coisa, muita gente disse que eles se iam espalhar à bruta desta vez, e eles não fizeram por menos e decidiram meter o Daily Show ao barulho... E acho que correu bem. Ok que o Araújo é um génio e que o Góis não acerta uma piada em televisão, que o Dores e o Quintela foram meio encostados em nome do projecto, mas aí estão os Gato outra vez. Cheios de fôlego. Grandes audiências, grandes convidados, um mês com o país colado. Eles é que sabem o que querem fazer no próximo formato. Mas acho que correu bem.

"We're Never Gonna Die"

The Boat that Rocked é um filme apaixonante. Podia sê-lo, em particular, por muitas razões, do elenco à banda sonora, mas diria que a maior de todas é o espírito. Há uma envolvência que é absoltuamente contagiante e que nos transporta para outra era, outros tempos, marcantes e inesquecíveis, pela música, pelos movimentos, pela vontade de viver. E o filme carrega tudo isso. Diria mesmo que nos chega a fazer sentir nostálgicos, mesmo por um tempo que nunca vivemos. Um tempo único, de toda uma escola de saber e querer viver, materializada, aqui, simplesmente num barco. Como diz o Seymour Hoffman, a dada altura, aquele é o tempo de uma vida. Deixa-nos a pensar.

The Boat that Rocked é um filme despretensioso, porque a mensagem é pura: amar a música, amar uma época, amar uma forma de vida. E as opções resultam quase todas. O elenco é das melhores massas em funcionamento que me lembro de ver. Bill Nighy, Nick Frost, Tom Wisdom, Rhys Ifans, todos fantásticos. O monstro Seymour Hoffman, cada vez melhor, acima de todos, iconográfico. Junta-se-lhes uma banda sonora fácil, talvez, mas assustadoramente boa, obrigatória. E o fim é como devia ser, como tinha de ser, porque The Boat that Rocked não precisava de twists nem de grand finales. Acaba como nos sabe bem que acabe. Era bonito a Academia lembrar-se dele.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Monumental.

The Crashing of Pelham 123

Este Pelham não é um sequestro, é um desastre. Podia ser só um sequestro, qualquer coisa para passar mais ou menos esquecida, mas estamos a falar do Tony Scott a realizar o Denzel, o Travolta e o Gandolfini, e, portanto, desculpas não estão aqui à mão. Ok que o filme nunca induz em erro, no sentido de negar a sua génese comercial, mas há limites para tudo, e gente com este traquejo, não devia acabar numa coisa tão pobrezinha.

Acima de tudo, acho que o filme é mal gerido. O mauzão podia ser ou um capote a nível ideológico, tipo Joker, ou um sangessuga por dinheiro, tipo mauzão do costume, e acaba por ser meio dos dois, o que, para mote, é fraco, ainda por cima pela linha que o filme toma durante muito tempo. Depois, não se explora a personagem do presidente da câmara, um paupérrimo Gandolfini, temos uma figura de chefe só a mandar papaias, e temos um bando de quatro gajos em que três são espantalhos, o que é das coisas mais constrangedoras que existe. Até uma boa ideia, como o plano de fuga do golpe, que tinha o seu charme, é toda rebentada da maneira mais estúpida possível. E, claro, a cereja no topo do bolo são os sound-bytes à lá american hero, essa aberração transversal, como o namoradinho-que-está-a-morrer-e-diz-pela-webcam-que-ama-a-namorada, ou a mulher-do-protagonista-que-não-só-exige-que-o-marido-volte-a-casa-vivo-como-que-lhe-traga-"four-gallons-of-milk!" ou o presidente da câmara a dizer ao herói improvável, ao simples controlador do metro, que quando disser que Nova Iorque vale a pena, vai-se lembrar dele e saber porquê. Não há nada tão lixo como estas tiradas fofas.

Com um Denzel novamente mortiço, pouco intenso e com pouca alma, depois dos muito fraquinhos American Gangster e The Great Debaters, apesar da boa vontade, o filme valeu, única e exclusivamente, por um Travolta fantástico. Já disse que o background da personagem foi mal conseguido, porque um doido puro, ali, tinha partido tudo, mas, ainda assim, estamos perante uma senhora interpretação. Frio, sempre no limite, genuínamente perdido, louco até. Não salva a honra do convento, mas marca um pontinho de dignidade. E é sempre bom ver um nome como o dele, ainda ir a tempo de fazer umas coisas destas. Pese a envolvência.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Coisas Fantásticas #4

"Terá o número 27 um significado que nós desconheçamos?"
via Nós por Cá, SIC

Eu vi um sapo, um grande sapo (hehehehehe...)

"Masca chiclete de boca aberta e pragueja no banco"

"Dá-me gozo ficar à frente do mestre da táctica"

"Apenas uso um bloco de papel e, mesmo assim, fiquei à frente de alguém tão especial, talvez o Especial 2"
Manuel Machado, sobre Jorge Jesus

Jorge Jesus, na reacção ao Benfica 4-1 nacional

terça-feira, 27 de outubro de 2009

One man show


A defini-lo em duas palavras, The Informant! seria, definitivamente, qualquer coisa como "Matt Damon". Sinceramente, nunca fui com a cara dele, nunca achei que valesse muito mais do que o miúdo dos Ocean ou o robot dos Bourne, e não esperava que, ainda por cima a solo, fosse capaz de fazer uma coisinha assim. Mas enganei-me.

Não que The Informant! seja um filme por aí além, porque não o é. É um filme feito para ter um protagonista, para estar dentro da cabeça dele, para seguir os passos dele, para se ouvir falar dele, para ouvi-lo falar a ele, e não tem assim tanto sumo para sobreviver só disso, além de que acaba por se alongar para lá do que devia. O que não invalida que o filme tenha, ainda assim, várias virtudes. Uma delas, muito particular: a capacidade para ser refinadamente enervante. Ao acompanhar a história de Mark Withacre, acabamos por entrar numa espiral de irritação, mas no bom sentido, genuína, que acaba por dar sal ao filme. Depois, o tom de tragicomédia, em que tudo mergulha, tem piada, a maneira como se embala a história, o tom como se trata tudo aquilo, dá cor ao filme, e fá-lo ganhar pontos. E claro, há o Damon no seu papelão, num mundo à parte, a viver quase com a naturalidade do próprio Withacre, doentio. Ainda hão de falar dele para o Óscar, digo eu...

Coisas Fantásticas #3

"Os bilhetes para os concertos dos U2 em Portugal, no próximo ano, foram comprados em 27 países diferentes"
via SIC Notícias

domingo, 25 de outubro de 2009

Coisas Fantásticas #2

"Known to be the "magic" number in sex, 27 is identified as the ideal number of participants for an orgy"
via Wikipédia

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Crowe a ser jornalista = obrigatório

Um bom filme não tem, necessariamente, de ser denso a nível psicológico, nem tem de ter uma grande mensagem subliminar, e este State of Play é um óptimo exemplo disso. O filme vive de uma candência incrível, dum ritmo perfeitamente fantástico, e essa capacidade para explorar a dimensão e as potencialidades do cinema, para nos deixar boquiabertos e expectantes, faz dele, sem dúvida, um trabalho muito bom. Para quem gosta de thrillers então, é um absoluto must. Longe de exagerar na acção, como poderia ser tentado a, é um filme que triunfa pelo facto de ter uma escrita muito, muito boa, co-autoria dum senhor chamado Tony Gilroy, que um dia criou um dos melhores argumentos que já vi em cinema, esse portento chamado Michael Clayton. É uma escrita, se quisermos, "cinematográfica", no sentido em que, como já disse, o impacto que caracteriza a indústria, o poder, está todo lá. O que está longe de ser uma coisinha fácil. E, imagine-se, até dá para sentir o perfume de redacção no ar.

O elenco assusta, só de o ler. E a verdade é que corresponde, com o enorme Russel Crowe à cabeça. É o regresso duma referência, depois dos fraquinhos American Gangster e Body of Lies, na pele dum jornalista-velho-caminhante, que lhe assenta como tudo. O Crowe tem carisma, tem estilo, e o papel é aquilo, só pode. É muito bom tê-lo de volta. A Helen Mirren ganhou a minha admiração. Fui dos que nunca chegou a ver A Raínha, infelizmente talvez, mas facto é que a senhora é um vulto, um colosso. A Rachel McAdams, sem brilhar, e com um início um tanto ou quanto deslocado, consegue acabar muito bem, a fazer um contraponto giro, e não podia deixar de falar na Robin Wright Pen, muito bem encaixada, pese o papel ter sido pouco explorado, que é linda, do alto dos seus 43 anos. Só não consegui gostar do Affleck. Pode ser mania minha, mas, para mim, ele continua a valer pouco, a ser inconsistente, muito menino bonito e pouco actor. Além de que não está muito para colega de faculdade do Crowe, definitivamente.

O filme só fraqueja nas ideias-chave. Algures entre o cliché e o previsível, são elas que borram a pintura, que não honram uma escrita que merecia melhores acabamentos, um nadinha de maior inspiração. Não era preciso ter feito a coisa à volta duma grande conspiração, muito menos jogar tanto com coincidências, nem pôr o jornalista e o congressista a serem amigos desde sempre, etc. Felizmente, mesmo rodeado de certas linhas fracas, e mesmo a roçar o previsível, o fim acaba por elevar a fasquia, e o filme conclui-se de uma forma poeticamente inglória, que o sela com chave de ouro. Para quem goste duma coisa ritmada, com um grande elenco, uma boa história e um cheiro a jornalismo, é vivamente recomendável.

sábado, 17 de outubro de 2009

Pesetero.

"Enxotaram-me de Madrid"
Figo no i, via As

Antes de mais, uma consideração prévia: numa geração de jogadores incrível que juntou Zidane, Ronaldo, Beckham, Rivaldo ou Henry, o Figo foi porventura o que jogou mais tempo a um nível mais alto. Barça, Real, Inter, 15 anos, títulos espanhóis e italianos, a Champions e a Bola de Ouro. Um vulto de dimensão em todo o lado onde jogou, um nome incontornável do futebol europeu do último quarto de século. Não houvesse Eusébio e teria sido o nome maior da História do Futebol Português mas, mesmo com ele, foi com Figo e com a Geração de Ouro que moraram as maiores glórias do nosso futebol, o 2º e o 3º lugar dos Europeus, o 4º no Mundial, os Mundiais de sub20. Figo foi, talvez, a maior bandeira do país no último meio século, e isso nem é discutível.

Tudo isto não invalida que seja possível não gostar de Figo. Porque o futebol tem tudo a ver com paixão, e porque essa não tem que ver necessariamente com resultados e títulos e produtividade. O Figo foi um jogador monstruoso, um colosso, mas nunca vai ser uma lenda, e por uma razão muito simples: não soube assumir fora do campo o que representava dentro dele. Leio muitas vezes que ele soube gerir a carreira de uma forma ímpar, mas quem diz isso, não consegue perceber a verdadeira essência do futebol. O Figo tinha tudo, tudo, tudo para ser um perfeito ícone, mas optou por desprezar tudo isso no dia 24 de Julho de 2000, quando trocou a braçadeira de capitão do Barça, depois de ser um dos únicos estrangeiros, na História do clube, a ter a honra de a usar), pelos muitos milhões com que lhe acenaram de Madrid. Já ouvi que é injusto e hipócrita condenar alguém por querer melhorar a vida, por querer subir na carreira, mas lá está: futebol não tem nada a ver com ser racional. E quem faz o que ele fez, não vai ter nunca a idolatria das pessoas.

Esta semana, Figo falou da sua traumática saída de Madrid. Na altura, pagou, valha a verdade, pela imagem de galáctico, e foi afastado mal e porcamente, logo que o Real tentou lavar a cara depois dum período duro, pós-grandes resultados. Figo disse, agora, de maneira amargurada, que foi enxotado. Foi-o, de facto, e a verdade é que não o justificava. Não o merecer é que já não tem nada a ver com isso. Figo saíu do Real pelo negócio, porque foi para lá pelo negócio. Se queria respeito e devoção, que tivesse ficado na Catalunha. Não sei se existem muitos com moral para falar ou não, mas ele, definitivamente, não a tem.

Oh My Fucking God

Eu vou. (faltam 350 dias).


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vaya Con D10S

«Eu não fazia milagres, ele faz»
Maradona, sobre "El Loco" Palermo

A Argentina continua viva na luta pela África do Sul, a depender apenas de si, graças a um golo de "El Loco" Palermo, contra o Perú, no último minuto de descontos. Na próxima 5ª feira, segue-se um jogo épico em Montevideu, com o Uruguai a estar, apenas, a um ponto de distância (e o Equador a dois, quando só se qualifica directamente o 4º classificado). Esta Argentina pode não ter, de facto, quase nada à imagem de Maradona. Mas o coração, esse, está todo lá.


(actualizado)

«Chupem e continuem a chupar. Os que não acreditaram, os que me trataram como lixo, agora vão ter de aceitar. Qualificámo-nos para o Mundial com todas as honras. Hoje vários jogadores que ganham um monte de dinheiro suaram a camisola como nunca, esforçaram-se e merecemos a qualificação»

Maradona, após a vitória por 0-1 no Uruguai

Foram mesmo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Tu eras o herói, Son Goku


Sinceramente, não consigo ter noção das horas que passei a ver Dragonball. Devo ter visto as séries todas algumas 3 ou 4 vezes, no tempo em que o Bueréré era uma religião, comprei e lidei com quantidades massivas de cromos, às centenas mesmo, quando a Panini ainda era uma instituição, tive bonecos, desenhos, tudo, tudo. Se há alguma coisa que marcou verdadeiramente a minha geração, essa foi, sem sombra de dúvidas, o Dragonball.

Apesar de preconceitos raramente me impedirem de ver seja o que for, não posso dizer que não sabia, à partida, que este Dragonball: Evolution ia ser um desastre. Não ia deixar de ver por mim, claro, quanto mais não fosse quase por um questão de respeito, mas toda a gente não podia estar enganada. E não me surpreendi, realmente. Este Dragonball é uma anedota. Podia ser só mau, ter maus efeitos especiais, ter uma história parvalhona de acção, seca, mal interpretada, ter feito más opções de cast. Mas não, é muito pior que isso.

O pior de tudo são os clichés. Nunca vi nada assim. Este Son Goku é um Son Goku moderno, um miúdo do Secundário, o que já de si é uma aberração e um atentado à essência do Dragonball, mas a coisa é mais refinada, consegue ser uma matrioshki de estupidez: ele não só é um miúdo de Secundário, como é o miúdo-de-secundário-totó-que-gosta-da-namorada-linda-do-gajo-grande-e-mau-que-o-goza-a-toda-hora. Familiar? Não faltam, depois, as frases de último fôlego, os conselhos no leito de morte, os "nunca te esqueças de quem és", isto na secção melodramática, porque na do amor temos os momentos Bulma-Yamcha, com coisas fofas como "é bom saber disso no dia antes do fim do mundo", ou o Son Goku a aprender em segundos a técnica basilar da série... porque a Kika lhe prometeu uns amassos.

As personagens são, também elas, miseráveis. A suposta Kika (pelo menos não me lembro do Son Goku se agarrar a mais ninguém) é deslumbrante, mas deve ter resultado dalgum exercício para encontrar o completo oposto do que a personagem devia ser, o Yamcha é só rasca, o Son Goku é aparvalhado, a concubina do Satã ainda não percebi o que foi, o boneco do Satão dispensou uma vista de olhos pelo boneco da série, e esqueceram-se do Tartaruga Genial para pôr lá um palhaço (é, talvez, a pior personagem de todas). Só sobrevive a Bulma, talvez fruto da maior rodagem da Emmy Rossum (The Day After Tomorrow, Mystic River, Poseidon), a fazer uma intepretação minimamente legítima para com a personagem, com as míticas cápsulas que se transformavam em coisas mesmo grandes e úteis e o radar das bolas de cristal (apesar deste estar mais para GPS). O que não salva o filme, como é óbvio.

Num filme que tem pouco mais de uma hora e um quarto, acabou por ser também inevitável o vazio retundo no fio da história, cujo corolário, piadas asneironas à parte, é empacotar o Satã em 2 segundos, como se isso fosse uma brincadeira de crianças. Não faltaram, ainda, uma cena à filme asiático maluco (que acaba com uma mosca na boca de alguém) e uma sequência nada mais nada menos do que made in Senhor dos Anéis, desde bolas de cristal em que se vê o futuro e o gajo mau até Uruk-hais à moda do Dragonball, a aparecerem num caminho meio manhoso para um montanha com lava. Só faltou o Gollum, a dizer que sempre em frente e chegavam a Mordor.

Enfim, há coisas que nunca vou perceber, e esta é uma delas: como é que alguém fez isto a um Dragonball?

domingo, 4 de outubro de 2009

Ouvi uma conversa em português numa série americana e não era uma empregada de limpeza

Apesar de ter acompanhado, no AXN, o início das transmissões para cá, acabei por nunca me tornar fã de NCIS. O Mark Harmon até tinha pinta, mas a série sempre me parece um tanto ou quanto seca e óbvia demais, sempre me pareceu ser só mais uma, e portanto, deixei-a cair naturalmente. Estava o assunto enterrado até que, nos fins da última temporada televisiva americana, surgiu uma pequena pérola para o nós por cá: a Daniela Ruah ia entrar numa spin-off da coisa. Ok que não era a Ruah que ia tornar a série num must, mas, e estejam à vontade para mandar vir com o saloiísmo, esse NCIS Los Angeles tinha acabado de se tornar obrigatório.

Ontem, vi o primeiro episódio da série. Devo dizer que ainda não foi desta que um NCIS me apanhou verdadeiramente. Continuo a achar que o argumento é pouco aliciante, pouco tentador, e que se cai no óbvio ou no exagero muito mais do que se devia. Contudo, o cast é francamente interessante. O Chris O'Donnell encaixa como tudo (ainda me lembro dos velhos tempos em The Tree Musketeers e, claro, no ASSOMBROSO Scent of a Woman), o LL Cool J dá o relief à coisa, Linda Hunt é daquelas actrizes iconográficas em tudo o que faça e, eh pá, depois há a Daniela, no seu inglês perfeito, como menina do bando, a dar o pontapé de saída na história com uma toda atarefada conversa no nosso delicioso português. Não digo que ela seja uma referência ali, um foco (como aliás não seria lógico que fosse), nem sequer que, numa primeira impressão, seja uma personagem especialmente carismática. Apesar de tudo isso, nesta coisa de Hollywood se ter lembrado de nós para fazer umas coisinhas, é impossível não ficar com um certo gosto.

Não sei se vou mesmo seguir a série até ao fim, mas, pelo menos, hei de vê-la concerteza nos próximos tempos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quo vadis Marítimo?

Carlos Carvalhal já não é treinador do Marítimo. O técnico abandona o clube depois da derrota nesta jornada frente à Naval (1-2), e quando o Marítimo soma cinco pontos em seis jornadas da Liga.

in Maisfutebol

Há 3 anos, Carvalhal ganhou a Taça da Liga. Na mesma época, levou o Setúbal à UEFA com um dos orçamentos mais baixos do Campeonato e, um par de anos antes, levou o Leixões, na altura mergulhado na 2ªB, à final da Taça de Portugal (qualificando o clube, impensavelmente, para a UEFA do ano seguinte). Também é verdade que falhou no Belenenses e, principalmente, no Braga, clubes com mais condições e onde, pela lógica, deveria ter maior facilidade em materializar o seu trabalho. O que não o rotula necessáriamente seja do que for.

No Marítimo, os números foram claros: 2 vitórias em 18 jogos oficiais, razões, a seco, mais do que suficientes para fazer rolar a cabeça de qualquer treinador. Podia argumentar que, a entrar em Março e sem ter tido, como é óbvio, uma única palavra a dizer sobre o plantel, seria muito injusto lhe imputar responsabilidades, e que, ainda assim, em termos de produção de jogo, a equipa subiu muito em relação aos tempos do Lori Sandri. Podia ainda dizer que a equipa foi claramente prejudicada em Braga e na choupana, jogos que poderiam ter mudado muita coisa e que, já este ano, a derrota nos Barreiros com o Braga é fruto dum penalty fantasma. Nada disso mascara, contudo, o essencial. Apesar de ser um admirador do Carvalhal e de ter sido um entusiasta da sua chegada, admito que ele já não tinha condições para continuar. No fundo, foi muito pouco 1 vitória em 11 jogos na época passada, como é muito pouco 1 vitória em 7, nesta. Além de que é difícil engolir que, ao fim de 3 meses, um plantel com a qualidade do do Marítimo não tenha uma equipa, que se empate com o Trofense, se perca em casa com a Naval, se leve um banho do Braga e se perca na choupana com um nacional a jogar meia parte com 10. O Carvalhal falhou mais do que devia, e é óbvio que tem culpa disso. O que não o torna um mau treinador, muito menos garante que a mudança vá mudar tudo. É que o problema do Marítimo é muito mais fundo, e o Carvalhal não é nenhuma excepção. Ele foi só mais um dos que, na última década, teve a infelicidade de passar pelo Marítimo. Só mais um dos que falhou, dos que saíram pela porta pequena.

Vou aos Barreiros há 10 ou 11 anos, e só conheci um presidente: o Carlos Pereira. Digo, sem desvalorizar, que o Marítimo lhe deve muito, porque nos salvar da falência para nos tornar capazes de pagar do próprio bolso um centro desportivo, não é coisa que se esqueça. Contudo, não é só disso que se viveu na última década. Infelizmente, a acompanhar a gestão patrimonial, esteve quase sempre uma gestão desportiva absolutamente ruinosa e isso, num clube de futebol, não pode ser nunca um segundo plano. Pelo menos, não no Marítimo. Nas últimas 7 épocas, o clube teve 11 treinadores, plantéis refeitos, quase do zero, permanentemente e, com um orçamento sempre entre os 5 ou 6 maiores do campeonato, só se qualificou 2 vezes para a UEFA. Pior do que tudo isso, o clube sofreu um esvaziamento humano arrepiante. Subimos pela primeira vez em 1978, fomos à UEFA pela primeira vez em 1993, e, nesses anos, mesmo sem apoios do governo, sem orçamentos chorudos, sempre fomos o clube do Caldeirão, do estádio cheio, o clube que era a bandeira de uma região, o clube do povo. Hoje, com o governo regional imiscuído numa SAD inócua e ridícula, com um rival a dar sinais gritantes de maior competência desportiva, somos o Marítimo que já não consegue encher meio estádio dos Barreiros. Somos o Marítimo que faz casas de 2 mil e tal pessoas, o Marítimo que cada vez diz menos às pessoas, o Marítimo que recebe os três estarolas para encher a Central de adeptos deles. Somos o Marítimo que perdeu as referências, que se converteu num enorme negócio, o Marítimo que jogou de azul e amarelo na Luz porque o governo regional quis, o Marítimo que vai ter um estádio novo azul e amarelo porque o governo regional quis. Somos o Marítimo que já não mete medo a ninguém, o Marítimo que se tornou numa piada, o Marítimo que, no fundo, já não é o Marítimo.

É estranho olhar para o Braga, um clube com as mesmas condições, o mesmo dinheiro, o mesmo potencial regional, e ver os resultados estrondosos, o método, o projecto. Ver a incompetência que grassa tanto por cá. Em 7 anos só tivemos dois treinadores verdadeiramente bons, o Cajuda e o Lazaroni, e, para cúmulo, qualquer um deles, depois de cumprir os objectivos aos quais o Marítimo tem sempre de se vincular, foi ESCORRAÇADO do clube, o primeiro porque afrontou o presidente em relação à composição do plantel, o segundo porque reclamou um prémio por objectivos que o presidente nem admitiu negociar. O presidente que come e cala sempre que o chefe do governo regional abre a boca, é o mesmo presidente que converteu o Marítimo numa pequena ditadura. O Marítimo que, nas palavras do próprio Alberto João Jardim, lhe provocou a única verdadeira derrota política na vida. Foi nos Barreiros, a 25 de Maio de 1997. Nesse dia, antes dum jogo do Marítimo, 6 ou 7 mil pessoas apuparam-no em uníssono enquanto subia a escadaria da bancada Central, em resposta à sua intenção de fundir Marítimo, nacional e união num Clube Único da Madeira. E isso ele nunca vai esquecer.

Em 12 anos de presidência, o Carlos Pereira secou o Marítimo. Os adeptos estão afastados, a equipa tornou-se numa piada que vagueia ao sabor do vento, e, neste Marítimo, já nenhum treinador tem verdadeiramente condições para ter sucesso. Não sei se interessa a alguém que o Marítimo seque, se o Marítimo ainda é uma espinha encravada nalguma garganta, nem sei se o Carlos Pereira optou por determinados caminhos pela própria cabeça ou pela de outros. Sei é que, a um ano do centenário, está na hora.