sábado, 28 de novembro de 2009

Isabella


Surpreendeu-me. Não pelo interesse dos personagens ou até da história em si, já perceptíveis no Twilight, muito menos por ter conseguido ultrapassar problemas graves de diálogo, porque não o conseguiu, mas pela saga ter sobrevivido à sequela, e, sobretudo, à histeria, sem se ter deixado avacalhar, ou seja, sem ter perdido a suavidade que a caracteriza. A maior qualidade do filme é, sem dúvida, a realização. Meticulosa e lúcida, soube contornar quase todos os exageros e gerir muito bem a edição dos planos (há sequências que, visualmente, são muito muito boas, e não estou a falar de efeitos especiais), não descurando, sequer, o enquadramento de uma excelente banda sonora, que, apesar de ser inferior à do Twilight, volta a resultar muito bem.

As personagens têm uma densidade natural, e parte do cast volta a sobressair, porque foi uma boa escolha. É o caso do par Bella-Edward, que resulta claramente, quer porque a Kristen Stewart tem uma delicadeza genuína no papel, quer porque (vá lá saber-se porquê, cof cof) o Patinson consegue vender-se como vampiro de uma maneira que, pelo menos a mim, me surpreende. O caso do Jacob é o oposto, porque o personagem tem condições para ter uma expressão tremenda neste filme, mas não a concretiza, quer pela falta de traquejo do Taylor Lautner, quer pelo aberrante caparro com que ele se apresenta no filme, que mata, à nascença, tudo o que ele poderia vir a fazer ali como actor.

A personagem do Jacob remete, também, para um dos pontos mais pobres do filme: os lobos. Os efeitos especiais ficaram deslocados e a bonecada só desacredita a história, quando uma abordagem metafórica, além de mais lógica, teria resultado infinitamente melhor. No mesmo pacote, estão as enervantes aparições do Patinson pelo filme, qual Nossa Senhora, algo só batido pelo que este New Moon tem mesmo de pior: os diálogos. A edição do livro falha rotundamente neste ponto, e os diálogos, sobretudo os mais pessoais, são uma muito pouco comestível papa de soundbytes, que só vêm dar ao filme um muito empobrecedor tom cliché. Não deixa de ser curioso, contudo, que o soundbyte final, a última linha, resulte incrivelmente bem. Ela e o tacto de acabar o filme no segundo seguinte, têm o dom de criar uma última imagem muito própria, daquelas que se dá ao luxo de continuar a pairar na nossa cabeça. Na verdade, longe de ser motivo para se escabelar, este New Moon não deixa de ser um filme agradável, porventura injustamente underrated.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

My name is quase Traveller

Não sei se mais alguém se lembra do Traveller. A coisa começou a dar na RTP, no tempo em que a RTP tinha tradição nas séries de fim-de-semana, e, na altura, na ressaca de Losts e Prison Breaks, não me escapou. Versava, tricas para dominar o mundo à parte, sobre um rapaz supostamente normal mas que afinal era um agente secreto (buésda criativo, eu sei) o qual, no seu processo para ser visto como um rapaz supostamente normal antes de explodir com qualquer coisa, passou um par de anos na faculdade, a fazer amigos. Quando ele lá decidiu abalar para ir explodir as tais coisas, e acharam de ir atrás dele, toda a gente procurou uma foto e pumba!, o bandalho escapava em todas. Estava sempre tapado, de costas, na sombra, ou seja, pura e simplesmente nunca tinha existido na faculdade. Devo dizer que me sinto, nestes dias, um quase Traveller. Não por ser um agente secreto (e até posso realmente ser, sublinho), mas porque a minha existência na faculdade foi ferida de morte. Outra vez. Na infinitesimal probabilidade de acontecer, eu, que não sou gajo de andar a saltar em cima dos meus computadores, muito menos de andar a lhes pegar fogo, consegui queimar dois discos rígidos, de dois computadores diferentes, nos últimos 5 meses. Isto quer simplesmente dizer que, dado os 70 euros dos discos externos sempre me terem posto a olhar para os bichinhos de longe, eu perdi toda a merda de apontamentos e de trabalhos que fiz no meu bendito ano e meio de faculdade. Pois que caralho. Ok que já está tudo apresentado, que, nos apontamentos então, provavelmente nunca mais ponho a vista em cima, mas por amor de deus, havia necessidade? Agora é ver-me andar aí, feito um triste, a catar trabalhos de grupo, a pensar em digitalizar merdices impressas que já estão fartas de arrotar pó em cima do vestuário, só para salvar uma réstia de dignidade, perdidos que estão, ad eternum, um montão de individuais. Os do Milan, ainda por cima, que foram os que deram mais gozo, e mesmo uns portefólios para a Tininha que, do alto dum rol de impossibilidades, até correram bem. Isto não se faz.

domingo, 22 de novembro de 2009

A great artist can come from anywhere

Menosprezei, durante muito tempo, os filmes de animação, e, portanto, fui perdendo, pelo caminho, muitos filmes que não deveria ter perdido. É por isso que só ontem, alguns 2 anos e 3 meses depois da estreia, depois de um Óscar e de outra nomeação na bagagem, é que acabei por ver uma pequena pérola chamada Ratatouille. Espantou-me, de facto. Como sempre. Não a capacidade indizível da Pixar para fazer bonecos inesquecíveis, mas o seu talento ÚNICO para contar histórias. Na Pixar, é possível fazer argumentos incríveis sobre tudo, sem qualquer ponta de exagero. De super-heróis até peixes balão longe de casa, de robôs apaixonados até casas que voam com balões. De tudo, até de um rato que pode ser o melhor de todos, no país dos cozinheiros.

Vendo bem, dizê-lo assim é redutor, e não traduz a verdadeira dimensão do que está, aqui, em causa: não há nada nem ninguém que mereça tanto um Óscar de melhor argumento como a Pixar. Ninguém. Ratatouille não é um filme para crianças, é só um filme que qualquer criança, e qualquer outra pessoa, de qualquer idade, devia ser posta a ver. Não é, sequer, um filme sobre ratos, é um filme sobre humildade e paixão por uma causa, um filme que ensina a toda a gente que o talento pode estar em qualquer lado e pode aparecer a qualquer altura. Sem limites, sem excepções, sem impossíveis. É claro que, depois, a cor da Pixar e a riqueza das personagens, dum ícónico chefe Gusteau ao altivo vulto de Anton Ego, fazem o resto. Até o pequeno Remy é lindamente esgalhado, e é só um rato. Dos feios, por definição. É bonito que a história se passe em Paris, é bonita a exaltação da cidade no contexto do filme, e o argumento ainda tem o dom de ser muito fluido, fruto de uma edição superior.

O fim condiz. O filme acaba, simplesmente, com um monólogo desse monstro chamado Peter O'Toole, um ancião e uma referência, a emprestar, ao bom romance, uma daquelas vozes que respeitamos mal a ouvimos sibilar. Um dia, gostava de fazer coisas assim.

sábado, 21 de novembro de 2009

Toda a Monarquia tem a sua Família Real

"Os centros de vacinação da Região estão a ministrar a vacina contra a Gripe A aos titulares de cargos públicos de acordo com listas enviadas pelas próprias entidades (...) O certo é que nos últimos dias, no Centro de Saúde de Santo António, familiares de governantes foram tratados como grupo de risco e vacinados.

Esse foi, pelo menos, o caso da família do vice-presidente do Governo Regional que recebeu a vacina em Santo António na última quarta-feira. (...)

Estas vacinas foram ministradas sem a apresentação de uma credencial. (...) A única justificação apresentada foi de que a "ordem veio de cima"."

in Diário de Notícias da Madeira

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ensaio sobre a Cegueira

"Os velhos do Restelo devem guardar o veneno para outras núpcias. Aqui, hoje, agora, temos de ser claros: Carlos Queiroz, a Selecção Nacional e a FPF estão de parabéns.

(...)
Os instrumentos de tortura verbal, os espartilhos da confiança e as penas crivadas de saudosismo bacoco têm de se submeter a um recolher obrigatório. Sem santinhas, sem mezinhas, sem agressões a atletas adversários, sem exemplos de arrogância e malcriadez para com a comunicação social (quem não se sente não é filho de boa gente), Portugal está no Campeonato do Mundo.

(...)
Carlos Queiroz trouxe organização, trouxe método, trouxe seriedade. Estas valências não podem ser colocadas em causa por alguns jogos menos conseguidos.

(...)
Sem ter uma geração de ouro à sua disposição (Figo, Rui Costa, Sérgio Conceição, Fernando Couto, Pauleta, por exemplo), Queiroz soube edificar o conceito de equipa. Retirou o conjunto dos escombros da desconfiança, sustentou-o e entregou-o à vitória."
Pedro Jorge da Cunha, in maisfutebol

Passámos em Zenica como gente grande. Com qualidade, conscientes do que valíamos, como uma equipa a sério. Não chegou a haver um único momento, um único, em que a Bósnia tivesse conseguido pôr em causa o nosso controlo do jogo, e isso é fantástico, por toda a instabilidade que rodeou esta Selecção e por toda a motivação que rodeava os bósnios. Esta Selecção não tremeu na fase do tudo por tudo, e essa presença de espírito, essa capacidade competitiva, retrata uma evolução clara da equipa como equipa. Isto será, talvez, o aspecto mais constituinte duma Selecção e, neste âmbito, concordo que podemos acreditar que o futuro tem tudo para ser mais risonho.

Agora, o facto de nos termos realmente qualificado, depois de eu e muitos outros já não o acreditarem, não torna tudo num mar de rosas, como uns quantos chicos-espertos querem fazer passar. Não é por estarmos finalmente lá, com uma selecção que tem melhores do mundo e que tinha a obrigação de ganhar um grupo onde era infinitamente melhor, que se legitima a versão destes anedóticos ceguinhos pró-Queiroz de que tudo está bem quando acaba bem. Dizem eles que, ok que a Selecção não joga um caralho, ok que anda com o coração nas mãos, jogo sim, jogo sim senhor, mas agora tem método e seriedade, e isso é que interessa! Por favor, defender isto é demente, tão demente como atacar o Scolari, num vómito declarado, ressuscitando o soco a um sérvio e a lenga-lenga da geração de ouro, para recusar a dimensão extraordinária de tudo o que ele conseguiu cá. Teve tudo a ver, imagine-se, com as mézinhas e as santinhas daquele imbecil, que só nos tornou em vice-campeões da Europa e em quartos melhores do Mundo com uma geração de ouro, não com coxos como um Bosingwa, um Ricardo Carvalho, um Pepe, um Bruno Alves, um Deco, um Ronaldo, um Simão, um Tiago, um Meireles ou um Nani. Com estes, só um milagreiro como o Queiroz podia resultar!

Enfim, estamos lá, e isso ninguém lhe tira. O Queiroz cumpriu um objectivo, numa carreira de quases e de insucessos, teve mérito, e, isso, dou-lhe de palmatória. Agora, não esperem é que eu engula convocatórias desiquilibradas, uma gelante falta de espírito de balneário, os bloqueios tácticos e a total falta de postura no banco, só porque ele cumpriu o que qualquer um de nós tinha o direito de lhe exigir, mas com o triplo do sofrimento. É bom que o Queiroz tenha consciência disto e, sobretudo, que tenha a humildade de querer mudar algumas das suas formas de estar. É que se lhe faltar a lucidez que falta a muitos dos que o defendem, perde ele, e vamos perder todos nós.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Eles não têm excesso de confiança, Dr. Merdaíl, eles só querem ser violados

Não gostei. Anda um gajo chateado por não ter computador e por o Queiroz ser uma besta, naquela chateação em que queremos que a Selecção se qualifique mas queremos odiar o Queiroz à mesma, e os cabrões dos bósnios recebem-nos desta maneira. Deu para nos empurrar e cuspir no aeroporto, para nos deixarem sem autocarro, para meterem gente a fazer barulho à porta do nosso Hotel e para o nojento do treinador deles vir dizer que nos vai pôr de joelhos, enquanto eles nos saltam em cima como lobos. A Bósnia anda a dizer isto, a BÓSNIA. Mas que caralho é este??? Amanhã vamos àquele fim de mundo humilhá-los, sem eles sequer perceberem o que lhes passou por cima. O Queiroz vai acertar na táctica e vamos marcar os golos que falhamos na qualificação toda. Eles vão pensar que estão a ser bombardeados outra vez (não resisti). Bring it on, motherfuckers.

sábado, 14 de novembro de 2009

Vou evitar fazer piadas que envolvam sermos bombardeados em Sarajevo

Dizer 500 vezes que o Queiroz, afinal, não é um pé frio, é uma forma bastante irritante de pôr as coisas, mas tem a ver com isso, sim. É que até deu para o pessoal fazer as piadinhas com a senhora do caravaggio quando o bruno alves marcou nos descontos na albânia e quando o liedson marcou nos descontos na dinamarca, mas esta coisa dos bósnios acertarem, nos descontos, duas vezes nos postes, em 5 segundos, já veio tornar tudo muito esquisito. Agora, um gajo quer é acreditar que vamos brincar à Bósnia antes de reservar as passagens para a África do Sul, porque, com esta leiteira descomunal do professor, qual mago mais poderoso do que o sacana que empacotou o Ronaldo nos últimos 2 meses, nada de mal nos há de acontecer, mas toda a gente sabe da probabilidade elevadíssima da própria sorte se fartar de fazer cafunés em burros de merda e, esse dado neste contexto, é muito problemático para nós. Vá lá, vendo bem, também podíamos ter despachado os bósnios mais cedo e, se já lhes tivéssemos enfiado 3, ninguém ia estar amanhã a fazer graçolas sobre postes e o rabinho do Queiroz. Mas toda a gente tem idiossincrasias, e as nossas idiossincrasias (gostei, repeti, problemas?) são falhar golos à frente da baliza, critério, acredito eu, suficiente para naturalizar jogadores, como o bom liedson o ilustrou eloquentemente hoje, e, contra essas, ninguém pode fazer mesmo nada. Bem, se calhar até há o banco e as substituições e a táctica e a convocatória mas, por azar (AZAR, VÊM???) nenhum destes é o forte do Queiroz. Portanto, o que resta dizer é: apesar do mister ter metido na gaveta um losango que tinha vulgarizado a Dinamarca, apesar dele continuar a ignorar o Makukula, o único ponta-de-lança português que tem aquela merda de hábito de marcar golos, e dele levar o Coentrão como única alternativa aos nossos extremos (porque um gajo que ande pelas reservas do Inter deixa de ter necessáriamente qualidade, ou então o Assis, visto que não me lembrei de nenhuma metáfora para ele como a que usei para o Quaresma) e dele ficar satisfeito com um 1-0 em casa, numa eliminatória, até ao minuto 85, isto continua a ser um Portugal-Bósnia e nós somos melhores que eles. A escolher, preferia que o Queiroz tivesse, na 4ª feira, outro porradão de sorte (sabem, não confio muito nele). Mas, se os bósnios não acharem de passar mais 90 minutos a fazer tiro ao poste, e, sobretudo, se entrarem em campo num ambiente enlouquecedor e diabólico, típico de qualquer república ex-soviética (e toda a gente sabe que os ex-soviéticos são loucos e diabólicos), então era fofinho que o Queiroz não fizesse de espantalho outra vez o jogo todo. É que, depois, ficam a faltar 7 meses, nós esquecemo-nos todos desta merda e, em Junho, já somos todos amigos outra vez. Vá lá, professor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

The Illusionist (na medida em que enganei a gripe A duas vezes)

Já tive duas gripes desde que o Inverno começou. A primeira era só para me provocar, que eu já não as conheço, e espetei-lhe logo com um boost de benurons (que é um nome bué parecido ao do primeiro ministro de israel na fórmula de deus do rodrigues dos santos) e claritines, que acabaram com ela nem em 3 dias. Para repararem na qualidade da minha intervenção, nem me chegou nada à garganta. Parecia um pro, eu. Vai e tal, um gajo tenta enganar-se. Fui um gajo problemático que aos 8 aninhos teve de arrancar as amigdalas cá para fora, e que desde aí, apesar de ter deixado de correr o risco de sufocar a dormir, as gripes passaram a achar ainda mais piada em vir falar comigo. Mas um gajo tenta enganar-se, e pensa que, apesar de ter arrotado com uma gripe logo no início de outubro, não era assim tão impossível que a sacana fosse a última. Pois claro que não era. Num assomo de revolta das gripes, aposto que por ter arruinado com uma nos tais três dias, como orgulhosamente já vos fiz passar acima, e na linha do tumor que me assolou o lábio inferior em pleno verão e em plena semana dos meus 19 aninhos, sou atacado por uma outra gripe na semana do primeiro jantar de curso cá da faculdade. Os sintomas começam quase com uma semana de antecedência, mas não estamos aqui a falar de nenhum patinho, e eu decido abrir as hostilidades com uma rajada de benurons (os tais parecidos ao primeiro ministro de israel no livro do outro), porque os jabasulides fazem mal ao fígado. O resultado não foi tão efectivo, mas, pensava eu, do alto da minha experiência a enfiar merdinhas de comprimidos, que estava contido. Afinal fui forçado a perceber que não. E o que é que um gajo acaba por associar logo a isto tudo? Ora eu vivo no Porto, que é gelado como tudo, já tive uma gripe este inverno e a sacana da gripe A, tipo a raínha das gripes, anda por aí a abater toda a gente. Raisparta que desta vez fui eu. De qualquer maneira, nada de alarme, ia tentar resolver por mim mesmo. Tinha ali o assassino do claritine mesmo à mão, mas disseram-me que não, que a aposta certa era o jabasulide. Tomei. E tomei outro. Isto num espaço de 12 horas que senão o fígado ainda me saltava pela boca. E não melhorei. Faltei a uma aula e a mais outra até que acabei por medir a minha linda temperatura. Vale a pena fazer um parentesis aqui para dizer que eu nunca tenho febre. Tenho gripes como o raio, já tive uma úlcera, que ainda não sei se curei de vez, um tumor, benigno vá, mas febre nunca tenho. Deve ser porque em miúdo eu alucinava, de olhos abertos (woohooo, hehehe) com 40 de febre, e então deixem-me disso. Daí que o momento de medir a temperatura tenha sido iconográfico. Trinta e oito e meio. Foda-seeeeeeeeeeeeee, a sacana da gripe A apanhou-me. Resignado, conformei-me com a ida ao centro de saúde. Já derrotado, ainda tive de ouvir que, com gripe A, tinha de ligar primeiro para a linha e não devia sair de casa. Liguei no limite da depressão e reencaminharam-me para um centro de saúde com um spot para quarentena, com avisos de "não use transportes públicos e leve uma máscara". God, parecia a fase do Heroes em que o vírus se espalhou pelo mundo. Só que comigo e em pior! Lá fui, sem máscara, porque sou uma pessoa muito anti-segregacionismo, e entrei logo no quarentena spot, mal cheguei. Uma máscara, álcool pelas mãos abaixo, reencaminhado para uma sala isolada. Weird. Iam fazer o quê a seguir? Vestir-me uma bata branca, trancar-me num quarto e dizer que era preciso esperar pela cura?? Afinal não. Era só uma inflamação de garganta. Já não as tinha há uns tempos valentes, e a cabrona então aproveitou-se da história da gripe A para me vir meter medo. Haha, i was born ready! Acabei por evitar uma fila de todo o tamanho porque tinha gripe A, e por garantir um atestado para a semana toda, para evitar o frio do Porto, que é gelado como tudo. Não vou à mesma ao jantar de curso e tenho a garganta a arder, mas acho que ganhei. Tenho é um ror de trabalho e só me apetece jogar manager. Mas que se lixe, foi melhor que nada. E que fique claro que eu já sobrevivi à possibilidade de ter gripe A duas vezes. Beat that, motherfuckers! Bah, agora vou escrever qualquer coisa sobre o saramago.

sábado, 7 de novembro de 2009

Querido, eles mudaram a nossa despensa e a nossa vida mudou para sempre

A ideia é gira. Ah e tal arranja-se uns patrocínios, recebem-se candidaturas, e depois vai-se a casa das pessoas remodelar uma divisão. Isto com uma apresentadora de olho azul, uma designer com jeitinho e um mestre falador, e um gajo até fica a pensar que a coisa só pode ter piada. Só há um problema. É que o objectivo não é ter piada. Isso de piada é para coisas sem importância, e as pessoas não gostam disso, não vale nada. Ainda por cima o programa é num canal para mulheres, e toda a gente sabe que piada é uma coisa javardona só para homens. Vai daí, qual poderia ser a solução para o dito programa? Torná-lo dramático, ÓBVIO! Aqui, impõe-se uma paragem, porque é indispensável dar uma achega a toda a gente (pelo menos a toda a gente que não vê outros programas para gajas como eu): num canal chamado people + arts (reparem na paneleiragem que é o "+"), existe um programa chamado extreme makeover, produzido pela ABC. Nesse programa também se arranjaram patrocínios, uma malta que aparece muito bem em TV, uma equipa de mão-de-obra, uma designer catita, e também se recebem candidaturas para ir a casa das pessoas trabalhar. A diferença, coisa pequenita, é que estes malucos vão a casa das pessoas para deitá-las abaixo e construí-las de raiz, do bom e do melhor. Isto significa, na maior parte das vezes, tirar gente miseravelmente pobre de roullottes, e construír-lhes uma mansão. Quando um gajo ouve isto, pensa o quê? Eh pá, eles mudam a vida das pessoas! Nem mais. Tirar uma família de 10 pessoas duma roullotte, para dar um quarto a cada uma, medicamentos se forem doentes, e carros se der pela certa, é efectivamente mudar a vida das pessoas. Ponto. É aqui que o círculo acabou de se fechar.

Ontem, depois de reformular a cozinha duma senhora cuja maior aflição na vida era achar que não era mesmo fixe fazer o comerzito ali, a apresentadora, de olhinhos azuis, saíu-se com um "mudámos a vida de mais uma pessoa". Foda-se... Pintar de fresco e decorar uma cozinha (destaque para os tampos novos, super finos!), numa casa evidente de classe média, passou a ser, a partir de ontem, mudar a vida de uma pessoa. E não fazem ideia dos nervos que aquilo foi, porque o João (esse personagem impagável, misto de pateta alegre e jogral dos nossos tempos) mesmo no fim, furou um cano de gás e ele e o seu amigo careca tiveram de ligar a milhares de senhores que consertam canos de gás (mesmo com o João a ser brincalhão e a dizer que não foi ele) até se acabar o trabalho. E isto com a apresentadora dos olhos azuis e a designer com jeitinho a proporcionarem momentos kodak únicos, Oscar-worthies, de desespero e consternação (só para quem não sabe, os americanos malucos fazem isto, meio a sério, quando têm de mudar de cidade e ainda não acabaram uma casa). Eu, por mim, só gostava de saber uma coisa: quem foi o gajo que um dia se lembrou dum "vamos fazer um extreme makeover com aquele drama todo... mas a remodelar salas de estar!". Imaginem outras ideias que ele pode ter!

P.S. - Vejam nem que seja um episódio desta saga, pelo João. Ele é mesmo mesmo mesmooooooo engraçado! :')

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Times they are a-changin'

"Daqui a pouco temos de mudar a matemática, porque o sinal mais é uma cruz"
via SIC

Tal como li um dia, sou dos que acredita em Deus, não nas igrejas. Cresci, como dizia o Saramago há tempos, empapado em valores cristãos, e à conta deles engoli 12 anos de catequese, algo cujo único resultado palpável foi um violento e radical universo de anticorpos em relação à religião. Apesar disso, e apesar de não resistir a puxar pelo passado aberrante da igreja católica, da inquisição ao fascismo, relevo sempre um ponto, que me parece incontornável: o facto da igreja ter feito coisas absurdas, não valida que todos os que a ela estejam ligados sejam lixo. A igreja católica assenta em bons valores e, acima de tudo, teve a sorte de ter a gravitar à sua volta pessoas genuínamente boas, que a marcaram e, felizmente, marcaram muitas outras, e isso não pode ser posto em causa. O que não significa que se deva esquecer o resto.

Ontem, o tribunal europeu dos direitos humanos determinou que é proibida a afixação de símbolos católicos nas escolas, na linha do que já há muito se fazia. O tempo, no entanto, passa, mas o eco é sempre o mesmo. Ouviu-se de tudo, do atentado à matriz católica da Europa, à imposição de caprichos de uma minoria. Caprichos de uma minoria, imagine-se. A igreja católica acha que as outras religiões todas são uma minoria caprichosa. Tudo isto repugna-me, sinceramente. Não porque ache que crucifixos na parede influenciem as crianças a enveredar pelo que quer que seja, nem sequer por achar que judeus ou muçulmanos se sintam mais ou menos marginalizados por terem de levar com esta ou aquela figura. O que me dá uma volta ao estômago é o caciquismo, a rudeza de ideias, a paragem no tempo. Irrita-me que, ao fim deste tempo todo, a igreja católica continue a achar que tem um palavra a dizer, continue a agir como se ainda tivesse autoridade. Mesmo enquanto estrebucha, moribunda, não é capaz de uma concessão, de uma mão na consciência. E é pena, de facto. É pena que a igreja católica opte por morrer como sempre viveu. Autista.

"Para fazer crítica cinematográfica, é preciso ter conhecimentos de semiótica fílmica"

Se eu algum dia tiver conhecimentos da coisa, cinema vai-se tornar algo chato. Mas mesmo chato chato chato. Oxalá nunca tenha. (estou a fazer por isso).

terça-feira, 3 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009