quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Provavelmente, o melhor monólogo que já vi em Cinema

"Michael. Dear Michael. Of course it's you, who else could they send, who else could be trusted? I... I know it's a long way and you're ready to go to work... all I'm saying is wait, just wait, just-just-just... please hear me out because this is not an episode, relapse, fuck-up, it's... I'm begging you Michael. I'm begging you. Try and make believe this is not just madness because this is not just madness. Two weeks ago I came out of the building, okay, I'm running across Sixth Avenue, there's a car waiting, I got exactly 38 minutes to get to the airport and I'm dictating. There's this, this panicked associate sprinting along beside me, scribbling in a notepad, and suddenly she starts screaming, and I realize we're standing in the middle of the street, the light's changed, there's this wall of traffic, serious traffic speeding towards us, and I... I-I freeze, I can't move, and I'm suddenly consumed with the overwhelming sensation that I'm covered with some sort of film. It's in my hair, my face... it's like a glaze... like a... a coating, and... at first I thought, oh my god, I know what this is, this is some sort of amniotic - embryonic - fluid. I'm drenched in afterbirth, I've-I've breached the chrysalis, I've been reborn. But then the traffic, the stampede, the cars, the trucks, the horns, the screaming and I'm thinking no-no-no-no, reset, this is not rebirth, this is some kind of giddy illusion of renewal that happens in the final moment before death. And then I realize no-no-no, this is completely wrong because I look back at the building and I had the most stunning moment of clarity. I... I... I... I realized Michael, that I had emerged not from the doors of Kenner, Bach, and Ledeen, not through the portals of our vast and powerful law firm, but from the asshole of an organism whose sole function is to excrete the... the-the-the poison, the ammo, the defoliant necessary for other, larger, more powerful organisms to destroy the miracle of humanity. And that I had been coated in this patina of shit for the best part of my life. The stench of it and the stain of it would in all likelihood take the rest of my life to undo. And you know what I did? I took a deep cleansing breath and I set that notion aside. I tabled it. I said to myself as clear as this may be, as potent a feeling as this is, as true a thing as I believe that I have witnessed today, it must wait. It must stand the test of time. And Michael, the time is now."
Arthur Edens (Tom Wilkinson), in Michael Clayton

Fazendo uma análise idiossincrática sobre a situação política, social e ideológica do país, parece-me evidente que vamos morrer todos

Esteve a dar um programa qualquer sobre política, ideologia, filosofia e o futuro do país na SIC-N. Não é que me apeteça ver programas sobre política, ideologia, filosofia e o futuro do país agora à tarde, porque até está frio e eu estou agoniado por ter outras coisas para fazer e não as fazer por ser um pamonha, mas, na generalista, a Fátima Lopes anda a entrevistar pessoas para acabarem a chorar ela, a própria pessoa, o público e nós em casa, e essa merda de inspirar outras pessoas ao chorar muito e dizer que somos uns coitadinhos chateia um bocado. Vai daí, também por estar de barriga cheia, e aproveito para fazer a achega, a quem não sabe, de que eu tenho problemas de digestão que podem eventualmente perturbar o meu humor, acabei por parar na SIC-N. Confesso que não percebo um cu de política, pelo que achar que o que se diz para ali é uma merda, vale justamente zero, porque eles são espertos e eu é que sou o burro. Os que estão a falar sobre situacionismo e sobre procurarmos ajuda fora da União Europeia (hum?) não têm piada, pica só a tem um senhor professor de barbicha e tal, e ar muito sério, que falou lá para o meio. Disse o homem que o que está a acontecer agora aconteceu na primeira república (acredito), e que o nosso sistema político está esgotado e clientilizado (palavra nova, hehe) e que o Sócrates pode governar até ao fim do mandato, mas pode é já não ter país para governar. Lá está. Ia o meu dia nublado, e alguém apelou ao meu irreprimível fetiche de menções nos media à morte do país. Estava habituado a ver o António Barreto a falar numa noite eleitoral na SIC a dizer que o país ia acabar, depois a dar uma entrevista ao i a dizer que o país ia acabar, mas cheguei a pensar que era só ele que era tonto da cabeça e dizia estas merdas, mas hoje, ao ouvir este senhor professor, que diz que é Medeiros qualquer coisa, toda uma espiral de percepção irrompeu da minha cabeça, e eu compreendi. Vendo bem, agora toda a gente diz isto, que o país vai acabar, e diz em todo o lado. Quer-me parecer que, para os nossos intelectuais, isto está na moda. "Ah e tal, muito boa tarde, sobre o desemprego? Repare, para mim acho que o país vai acabar". Tem estilo, percebem? Não venham com mariquices sobre como é que vai acontecer ou o que é que quer dizer. Ah mas vamos explodir, vamos ser invadidos, vamos para uma guerra civil, porque é que estes filósofos do caralho nasceram todos aqui? Não interessa! Isto é filosofia, meu povo, intelectualidade pura. Aproveitai, que não há disto lá fora.

Assinado, Michael Bay


Há qualquer coisa nos blockbusters que me irrita. Sou dos que acha que há um espaço natural para as boas comédias e para os bons filmes de acção, por si só, longe do drama e do romance, e irrita-me que a maioria dos filmes de super-heróis não tenha a coragem de se afirmar, na verdadeira essência, pelo espectáculo visual e pelo ritmo, muito mais do que por argumentos que, devendo dar mais cor e mais profundidade ao filme, são mutilados pelos desejos comerciais, além de ocos por natureza, e acabam por se tornar numa papa barata de salvar o mundo e salvar o amor da vida, sem ponta de novidade. Este Transformers tem muito disso, de facto. Tem péssima comédia, tem uma estória de amor mal encaixada em momentos do filme, tem o salvar o mundo, e tem, até, algo porventura mais inglório do que um argumento pouco criativo: tem um que é muito mais ambicioso do que se poderia supor, até dada altura, mas que não se concretiza no fim, porque isto é uma saga e não podia ser, o que sabe a desilusão.

Ainda assim, Revenge of the Fallen tem quase tudo o que um verdadeiro filme de acção deve ter, ou não fosse obra e graça de Michael Bay. Para mim, é inferior ao primeiro (que me surpreendeu a toda a linha), muito pela péssima comédia, mas é impossível não gostar dele. Mais do que os efeitos, as personagens, a banda sonora, ou o que quer que seja, este é um filme de realizador, que vive do talento dele para percorrer os inebriantes caminhos da acção, numa cadência incrível, que quase nos deixa afogueados de seguir, algo superiormente combinado com os luxuosos bonecos de Mr. Bay. É que um filme não tem de ser suportado sempre por um argumento denso, extenso sequer, e este é um caso típico, extensível, diria mesmo, ao género Acção, em que, quanto mais curto for o argumento, melhor. Devem haver linhas gerais, contexto, algumas boas ideais, mas um bom filme de acção só pode viver do jogo de cintura e da condução do realizador, justamente da acção em si. O grande defeito de Revenge of the Fallen é, tão-só, a falta de confiança no estofo do género, essa vontade de trabalhar mais as coisas quando elas não deviam ser mais trabalhadas. A incapacidade para keep it simple, apesar de, repito, muita qualidade estar lá.

Para acabar, não seria honesto, para comigo próprio, não falar da Megan Fox. Como actriz, há ali muito pouco, de facto, e os momentos em que o enfoque está nela, têm uma aura de fragilidade permanente, como se ela não se sentisse bem à vontade com o que está a fazer, não tivesse jeito ou estivesse presa de movimentos. Já como personagem, acho que é difícil não admitir que ela é é um ícone de beleza muito maior do que qualquer Transformers poderia alguma vez aspirar. Cada qual terá a sua opinião, seja que ela é burra, vulgar ou que há muitas outras mais apaixonantes do que ela. Para mim, a valer o que vale, Miss Fox é, hoje, a mulher mais sensual do mundo.

domingo, 27 de dezembro de 2009

África do Sul, 24 anos depois

«Hombre, desfrutávamos mais nos treinos do que nos jogos. Você tem ideia do que ele fazia com a bola? Encostava-me a um poste, de braços cruzados e pensava para mim: isto não é humanamente possível (...)

Em 1986 ganhei quase tudo, mas era impossível sentir-me o melhor. Ainda hoje falo com o Ruggeri e o Enrique e fartamo-nos de rir. No fundo, limitámo-nos a aproveitar o talento excessivo que o Maradona tinha. Eu era apenas um bom guarda-redes»

Pumpido, guarda-redes da Argentina Campeã do Mundo em 1986, via maisfutebol

Oh happy days

Tive uma quantidade pornográfica de presentes, incluíndo uma preciosa Canon A380, quando eu já me preparava para juntar tostões e comprar uma Fujifilm A320, que, vendo bem, era melhor mas não era Canon, daí que não a vá trocar. Tenho comido como um bem apelidado leitão, pela madrugada fora, até ficar maldisposto, que é, como todos sabeis, o ponto de consciência que marca o fim da animalidade, e sem o qual nunca sabemos se fruímos o suficiente. Tenho a casa recheada de decorações, cortesia da mamã, o que a faz tornar mais pequena, uma vez que era impossível ter 30 presépios numa casa grande, todos uns ao pé dos outros, e, ao mesmo tempo, ainda mais acolhedora. Tenho lido O Hobbit, perfeito para estes dias, e que assimila, por si só, a ideia de que O Senhor dos Anéis é o filme mais natalício da história do cinema, ao ponto de, nos dias que correm, o Natal se situar entre a Noite do Mercado, em que miraculosamente não choveu este ano, depois de duas semanas a banhos, e o dia em que a SIC passa O Regresso do Rei, pelo que o meu Natal começou bem e acabou melhor, ontem, às cinco e meia da manhã. Hoje, já preparado para preparar a preparação do fim de ano, acordei na minha cama de 3 cobertores (luxos que um emigrado cuja cama foi recentemente destruída não tem), mas ainda com o In Dreams a tocar na minha cabeça (im a jukebox). Talvez o Tolkien, o Peter Jackson e o Howard Shore não soubessem, mas Natal só pode ser isto.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Surpreendente, de facto


O maior elogio que posso fazer ao District 9 é dizer que foi possivelmente o primeiro filme de ficção científica que vi, com quase nada que já tivesse visto noutro lugar qualquer. O filme distingue-se da larga generalidade por uma criatividade de abordagem verdadeiramente incomum, que nos apanha desde o primeiro minuto, e que atinge, depois, um ritmo duro o suficiente para nos manter colados até ao fim. Facto é que as explosões, as armas, a caracterização das personagens, tudo é dalguma maneira secundário ao pé do argumento em si, e isso é incrível, num filme deste género, obra dum desconhecido vulto chamado Neill Blomkamp, que não só escreveu como realizou o filme, sob a benção do mestre Peter Jackson. District 9 fala de sobrevivência, de fé e de transcendência, primeiro duma comunidade, de extra-terrestres sim, mas dos que não têm super-poderes nem condições para inverter o rumo das coisas, incapazes de voltar para casa, mesmo que em 20 anos nunca tenham deixado de acreditar que era possível, e tratados como lixo pelos humanos, numa metáfora admirável. Retrata, depois, a vontade de acreditar dum homem, um homem comum, de que era possível voltar à vida comum que sempre tivera, algo de que nunca abdica mesmo no limite (o fim do filme é de outro género que não ficção científica, sem dúvida). Neste papel de protagonista encontramos um senhor chamado Sharlto Copley, um sul-africano que assombra neste filme, por fazer parecer tudo aquilo tão sofrido e tão genuíno o que, como é bom de ver, é tanto mais difícil quanto mais ficcionado é o universo que o envolve. Não podia deixar ainda de mencionar a banda sonora, tanto mais magistral à medida que o filme se encaminha para o fim, a exploração incrível das possibilidades de uma personagem computadorizada como Christopher Johnson, o alien-protagonista (chega a ser arrepiante) e ainda a técnica de filmagem, à falta de nome mais técnico, de câmara na mão, ao que ainda se juntou um enquadramento da estória num estilo-documentário, do qual sou um confesso fã.

Pese a originalidade do filme, não devo, ainda assim, deixar de dizer que todos quantos não gostem por aí além de ficção científica, talvez não se apaixonem por ele, como eu também não absorvo plenamente o género, apesar de reconhecer a sua extrema qualidade, nem tanto pelos pontos fracos do filme, que também os houve (não acho que a interacção com os aliens funcione plenamente, mercenários ao barulho e o sogro boss e mauzão é mais do que batido, por exemplo). De qualquer maneira, mesmo para quem não é fã de efeitos especiais, que estão presentes, apesar de tudo, e duma certa dureza sanguinária, entre outras características, este é um filme altamente recomendado. A mim, pelo menos, mostrou o género com uma profundidade como eu nunca o tinha visto.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Because sometimes the truth isn't good enough

Revi o Dark Knight. Um ano depois, continua a exercer sobre mim o fascínio da primeira vez, o que é admirável, de facto. Ainda hoje, vomito o preconceito que se abateu sobre o filme desde o primeito minuto, no que a prémios diz respeito, possivelmente o episódio mais revoltante a que assisti, desde que vejo filmes como gente grande, qualquer coisa de um autismo tão sem paralelo, que acredito ainda viverei muitos anos para presenciar coisa parecida. O Dark Knight é uma obra de arte invulgarmente açambarcadora, dos efeitos às personagens (nem vale a pena tentar tipificar o que faz o Heath Ledger, mas veja-se o que fazem o Bale, o Aaron Eckhart ou o Michael Caine), da riqueza visual ao argumento, este, sublinhe-se, ao nível do que de melhor já se fez em drama e único, verdadeiramente NUNCA FEITO, no contexto de um filme como o Batman. Ainda assim, à excepção do mais do que obrigatório Óscar ao Ledger, infelizmente manchado pela sua morte, o Dark Knight só justificou outro Óscar, e para essa categoria retumbante que é melhor edição de som, à laia de esmola. Sinceramente, era melhor que não tivesse ganho nada. Numa cerimónia extraordinariamente anti-preconceituosa, que passou à história pelos prémios ao lobby dos pobrezinhos (melhor filme e realizador para o hiper-overrated Slumdog Millionaire) e ao lobby gay (melhor argumento original e melhor actor para o Milk, aqui com a aberração de atropelo ao papel de uma vida do Mickey Rourke), não deixa de ser irónico que não tenha havido espaço para estas coisas da acção, como sempre a viram, que só poderia, fosse qual fosse a circunstância, descredibilizar tão distinta cerimónia. Tão irónico como, um ano depois da perturbadora falta de coragem para nomear o Dark Knight, os Óscares deste ano se preparem para ter dez nomeados para melhor filme, justamente para não ser preciso voltar a decidir entre delicados The Readers, condenados crónicos ao esquecimento, e qualquer coisa como filmes para uma vida. É irónico. Sobretudo porque ficar à espera dos Dark Knights que devem aparecer todos os anos é continuar, um ano depois, sem perceber a verdadeira dimensão do que o génio do Chris Nolan conseguiu.

O dia em que o Porto perdeu um jogo do ano

Ganhou o Benfica. Não nego que tenha sido um tanto ou quanto superior a um Porto que, apesar do crescendo dos últimos jogos, está longe do tractor de outros tempos, nem que o empate seria desajustado, dada a pobreza do jogo, nem sequer que o Lucílio, dentro da aberração de presença que lhe conhecemos, conseguiu ser tão mau como poderia, e acabou por influenciar o decurso dos acontecimentos, não necessariamente em benefício de ninguém. Certo é que o que vale a pena sublinhar aqui, por mais la palissiano que isso o seja, é exclusivamente o resultado final. Derbies são jogos para ganhar, jogos para equipas saudáveis de cabeça e com uma capacidade competitiva distinta, jogos, no fundo, que, desde que aprendi a ver futebol, eram do Porto, por definição. A vitória do Benfica, não no acaso, mas no corolário dum campeonato de inverno absolutamente fantástico, traduz justamente, muito mais do que superioridade no campo, que esteve longe do indiscutível, como já disse, uma cultura de vitória desde há muitos anos invulgar ao clube, condenado crónico, vai para o quarto de século, a não mais do que à resignação e à derrota. É óbvio que a vitória de hoje não muda verdadeiramente seja o que for, porque falta jogar meio campeonato e, sobretudo, porque estofo de campeão não se compra na esquina, muito menos se adquire num par de meses. Mesmo assim, valendo o que valha, e à distância a que estamos, digo que estes são jogos que valem muito mais do que se pode fazer crer à primeira vista. E o Porto deve sabê-lo melhor que ninguém.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Angelito

Já li hoje todo o tipo de coisas em relação à letra do Di María. Que é um hino ao futebol, a razão que leva as pessoas aos estádios, mas também que não foi mais do que um fogacho egocêntrico, um pormenor displicente dum jogador que não estava a levar o jogo a sério e que, com este tipo de atitudes, nunca vai ser ninguém. Confesso que há merdas que não entendo. Desde que está no Benfica, pese os pormenores de talento que foi tendo, o Di María sempre me pareceu um jogador muito overrated, claramente o pior dos três miúdos-canhotos-problemáticos-maravilha dos grandes, atrás do Vukcevic e do Hulk. Um miúdo que teve um Mundial de sub20 e uns Jogos Olímpicos a fazerem muito pela sua imagem mas que, na dureza dum campeonato, pese o maravilhoso pé esquerdo, sempre mostrou, mais do que a imaturidade natural da idade, uma tendência preocupante para ter más decisões e uma incapacidade para sair da sombra durante tempo de mais (porque é melhor, para alguém com o potencial e com a idade dele, perder a bola depois de fintar dois jogadores, do que andar sempre longe dela). Este ano, o Di María está diferente, e, sem sequer entrar no campo da culpa do Jesus no sucedido, que nem me parece discutível, de tão evidente, e pese os problemas que continua a ter (ao nível do passe, sobretudo), a sua produção disparou. Sem o fantasma do banco ao virar da esquina, este é um Di María mais seguro, que arrisca muito e que, por isso, tem acertado muito mais. É um jogador, hoje, numa espiral de criatividade permanente, de quem se pode esperar, sempre, mais uma finta improvável, mais um remate de primeira, mais um chapéu. Ontem, foi mais uma letra. Marcar um golo de letra, arrisco a dizer, é a execução mais rara do mundo do futebol, que, deduzo, faça espantar, no limite da baba, qualquer verdadeiro adepto de futebol, como me fez a mim, que, sendo mais ou menos desconhecedor dos meandros mundiais da bola, só tinha visto alguém marcar um golo assim na playstation. Aquele foi um golo dos que não se esquecem para o resto da vida, um daqueles que é mais do que justificação para ir ao estádio, pagar bilhete, e contar aos amigos, aos filhos e ao raio que parta. Talvez o Di María ande egocêntrico, talvez não fizesse aquilo num jogo a valer e talvez nunca venha a ser um jogador de dimensão mundial, e se perca inapelavelmente, por um conjunto de razões que também não interessam abordar (e comuns a muitos outros, a maioria com menos talento do que ele). Mas é desonesto e de uma irritante pseudointelectualidade vir dizer que são gestos com a displicência do de ontem que o vão continuar a afastar do futuro prometido ao seu potencial. Golos como o de ontem traduzem um apetite pelo risco e uma vontade de experimentar tão incomuns, que são, eles próprios, a verdadeira razão pela qual vale a pena olhar para ele, cada vez mais, como um caso sério. É que marcar golos de letra nunca vai ser coisa de um miúdinho irresponsável. É coisa de um miúdinho genial.

Assombroso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Éveribrétitake

O Ídolos é giro. No meio de tanta merda que anda por aí, é das poucas coisas que ainda dá para se sentar a ver, e acho que a maioria concorda que aquilo resulta, além de que é sobre música e não tem canalha de 5 anos, nem famílias, esse conceito estratosférico que pretendia lançar para o mercado mundial, quiçá, dois parentes com um dom para a canção, mediante o critério científico-univeristário do "porque eles gostavam de ser famosos" (isto enquanto a Clara de Sousa se fazia ao filhote do senhor que lembra o Pai Tomás, da Cabana do Pai Tomás). Depois é um projecto recuperado pelo Nuno Santos, que é um gajo que merece ter sucesso porque é bom no que faz, entre o novo Daily Show dos Gatos e as paredes do Marco Horácio e da Diana, uma dupla arriscada, mais por ela, verdade, mas que foi o sucesso tutti frutti summer love que se sabe. O problema é que o maluco do Nuno não acerta sempre. Quando o programa é o M/F, o povo até esquece a papa que vertiam a Barbára e o Eduardo Madeira, porque, no fundo, aquilo foi tão mau e tão rápido que se calhar nem existiu mesmo; quando é o Ídolos, condenado a ir para a frente de qualquer maneira, a coisa fica mais negra. Ao Manzarra, embora o tenham chapado de cópia do Alvim, sempre achei piada. À Cláudia, digamos que também. Mas foda-se, o resultado dos dois é um filme de terror doente, onde o Manzarra, mesmo com a merdinha que faz, ainda salva a pele, tão miserável é o efeito coitadinha do outro lado. Conseguir perder uma hora de programa com "como é que te sentiste no palco?" e "gostaste de estar no palco?" e "achas que o público gostou de ti?" seguidos de "huuummm... bem" e "nem sei" e "não senti nada!" é tão coitadinho que deixa um gajo em casa com vontade de chorar, sem forças, sequer, para sentir pena dela, o que nem era tão difícil quanto isso. É que a Cláudia, apesar de linda e perfeita, não consegue articular duas frases seguidas com sentido, não vai ter piada em que circunstância for na sua, esperemos, longa vida, e vai passar à história do mundo da televisão como a quase-apresentadora com menor talento para falar em directo, e reparem, seja para dizer o que for, qualquer coisa mesmo, dum "bom dia" a um "every breath you take", cuja consequência lógica foi o Sting ter entrado, de imediato, numa espiral de pânico e de angústia de viver. Porquê Cláudia? Não bastava teres ido fazer porcalhices com o maricas do Teixeira? Tinhas de vir abrir a boca em horário nobre? Tinhas?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

À conta de gajos que dizem merdas como esta, eu vou para o desemprego

O Marítimo, maior clube do mundo como deveis saber, perdeu ontem em casa com o Rio Ave. Fora o facto de ter sido uma merda, porque podíamos ter ido para 4º isolados, dadas as derrotas do pequeno nacional e do sporting, adversários directos, e porque ainda não tínhamos perdido com o Mitchell, o grande momento do jogo foi o comentário final. O comentador da TSF Madeira, único lugar onde se pode ouvir o relato, disse que o resultado é justo, porque o Rio Ave foi mais eficaz. Perturba-me uma coisa, que não o facto do Rio Ave ter sido mais eficaz do que o Marítimo, ou do Marítimo ter sido menos eficaz que o Rio Ave: tendo em conta que, num jogo de futebol, se uma equipa ganha é porque foi mais eficaz do que a outra, SEMPRE, o que é que era suposto aquilo significar? Era que o Rio Ave ganhou porque marcou mais um golo? Será que ele recebe amendoins com o salário?

domingo, 13 de dezembro de 2009

No mundo animal, existe muita putaria

Ante-anteontem, quando acordei, estava alguém a amanhar varas de ferro com uma fúria assassina, à frente do meu prédio (tarefa, de resto, anormalmente comum por estes lados). Devo acrescentar que sou uma pessoa complicada a acordar e que já adormeci vezes de mais quando não era suposto, e, portanto, um gajo cria anticorpos, daí que os meus sejam acordar com um misto de ódio à sociedade e de angústia existencial, que exala tanta alegria de viver como a cena do Dumbledore depois de beber o litro de aguínha na caverna do Voldermort (só estou a meter nojo porque revi a coisa há pouco tempo). É complicado para a minha saúde mental, digamos, assim que, também por isso, resolvi substituir o baixito do alarme pré-definido do telemóvel, o único que me garantia que eu não ia ouvir uma música vezes sem conta até odiá-la de morte, como o first of the gang do morrissey, pelo mundo animal dos mamonas. O mundo animal dos mamonas é uma canção que, além de ser impossível odiar, mesmo que ela me acorde todos os dias, começa com um "vai começar a baixaria" e essa parece-me, como é bom de ver, uma forma adequada para começar um dia em que é preciso usar alarme para acordar. Ante-anteontem, eu, que sou um gajo que acorda mal e, ainda por cima, que tem um passado tenebroso no acto que consiste em carregar no "repetir" do alarme e não na merda do "parar", acordei em sentido, e, do admirável som dalguém a amanhar varas de ferro à frente do meu apartamento, algo, repito, incrivelmente normal, e que, por isso, deve fazer reflectir toda a gente que não vive nesta esquina e a quem falta, na vida, o sal do som de amanhar varas de ferro pela manhã, ouvi, clarinho, um indiscutível Eye of the Tiger, indo ao ponto de, ainda no estado meio catatónico de como se acorda, ter curtido o som das varas de ferro a bater, trauteando a louca da batida inicial do Rocky. A reflexão que se impõe é a seguinte: se eu, com umas bestas a amanharem varas de ferro mesmo à frente de casa, achei que era o Eye of the Tiger, como é que, com esta jukebox na cabeça, eu não estou nos Ídolos?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A profanação da santíssima trindade (porque este post tem o seu quê de religiosó-metafísico)

A Empire fez um top das 50 mulheres mais sexy do mundo do cinema (e vou omitir, a partir daqui, que fizeram a barbaridade de copiar a ideia para tudo o que é macho). O que é que é normal um gajo pensar? Ok, no top 10 vão estar de fora algumas senhoras absolutamente deslumbrantes e extraordinárias, por culpa da estupidez aleatória do responsável pelo dito top, mas a dignidade da coisa não há de ser posta em causa, porque, em 10, uns 8 nomes hão de ser indiscutíveis. Mais: na conjuntura políticó-económicó-cinematográfica do ano de deus de 2009, o top 3 tem de ser composto por três seres não necessáriamente do nosso pobre mundo terreno, que dão pelos nomes de Angelina, Scarlett e Megan, não necessáriamente por esta ordem, apesar desta ser a ordem que qualquer gajo de bem deve professar. Claro que a Eva Mendes, a Bellucci, a Keira, a Penélope e a Liv Tyler deviam estar naturalmente presentes a fechar o top, mas isso até é uma coisa que eu podia dar de palmatória se me tivessem arranjado mais nomes como o da Kristen Stewart ou da Portman, que eu não me teria lembrado de caras, e que realmente partem loiças, ou até dalguém chamado Mila Kunis, que continuo sem fazer ideia donde é que existe, mas da qual me tornei fã de carteirinha desde o vislumbre desse tal número 8 do top. O chavascal começa é no número seguinte. A nona mulher mais sensual de todas as mulheres sensuais do enlouquecedoramente sensual mundo do cinema é a Bellatrix. HÃ??? Sensual e Helen-Bonham-Carter-Lestrange na mesma frase é algo grave, produzido por alguém que deve estar a passar por um inenarrável sofrimento físico e psicológico, possivelmente alguém capaz de achar o Snape o 7º gajo mais sensual do mundo e que precisa do mais urgente apoio. Ajudem-no. Como uns sacanas desalmados, a cavalgada continuou com a sequinha da Winslet em 10º e com uma tal de Zoe Saldana (quem?), imagine-se, em 5º, a meter a Livy, à patroa, a alguns 36 lugares de distância. Jesus. Claro que a crème da estória é o top 3. É que, de facto, miss Megan e Miss Jolie são primeira e segunda (ordem que me custa a aceitar, pese o exército de canalha que rodeia, nos dias que correm, miss Jolie, assim como o mancebo repugnante a quem ela tão públicamente se anda a esfregar), mas o terceiro lugar não é da Scarlett. Por obra e graça da puta de tarado-potter freak que meteu as mãos neste top, o lugar é, nada mais, nada menos, do que da Hermione... Yap, a do Ron. Girinha? É sim. À frente da Scarlett? Um minuto de silêncio a pensar nesta merda.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Group G

"When the sun comes out in Africa, the fastest lion knows he has to run faster than the fastest antelope, if he wants to eat . When the sun comes out in Africa, the fastest antelope knows he has to run faster than the fastest lion, if he wants to survive. So, the bottom line, baby, is, when the sun comes out in Africa, you'd better start running"

Provérbio africano apanhado de ouvido, com possíveis erros, mas suficientemente ilustrativo

Brasil e Costa do Marfim. Um gajo até se esquece que, em 2006, também não éramos cabeças-de-série, e acabamos num grupo com o México, Angola e o Irão. O sacana do mojo do Scolari era mesmo bom, tão bom quanto é reles o do Queiroz. Ah e tal, isto é sorte e não tem nada a ver com o Queiroz. Errado. Se é sorte tem tudo a ver com o Queiroz porque, com ele por perto, é dado adquirido que a dita vai cagar em nós. Reparem que nem era preciso termos ficado no grupo de mortos da África do Sul, como os franceses, depois da puta de vergonha de como se qualificaram, e depois do castigozinho da FIFA de não serem cabeças-de-série, porque valia era o ranking de Outubro e não o do Novembro, algo que, extraordináriamente, acabou por nos foder também a nós, nem sequer no da Holanda, os nossos empacotáveis ad eternum, mas porra, os merdosos dos espanhóis e os italianos tinham as Honduras e a Nova Zelândia no lugar da Costa do Marfim, e nenhum desses tem o Drogba feito um cavalo sanguinário no ataque. Não que eu esteja a dizer que estávamos condenados a jogar para o segundo lugar, mas não compro as estórias de que, para ganharmos aquilo, temos de andar agoniados desde o primeiro minuto. Jogar com os outros monstros só é fixe depois da fase de grupos, quando é a eliminar e quando já a passámos como garantia de dignidade e com um par de vitórias que nos põem a pensar que somos os maiores. Ainda por cima agora, numa campanha em que termos sorte e andarmos motivados é directamente proporcional ao espírito de balneário do Queiroz.

Feito o choradinho, devo dizer que tenho fé num grande Mundial. É que nós, vendo bem (Queiroz à parte), somos uma cambada de loucos, e se, em 2000, comemos ao pequeno-almoço aquela coisa que nos saíu como grupo, este, às tantas, ainda o tornamos outra vez numa coisa de meninas. Além de que, se sobrevivermos, temos uma possibilidade substancial de apanhar espanhóis nos oitavos. E toda a gente sabe o que portugueses fazem a espanhóis.

P.S. - Da próxima vez que o Dunga disser "Vâmu jógá cóm u Brásiu B", acho que tinha mais piada o Queiroz chamá-los logo de colonos, do que dizer "se pensarmos nos antepassados que chegaram ao Brasil e passaram os nossos genes a esta geração de jogadores brasileiros, ou pelo menos a muitos deles, será um Portugal B contra um Brasil D ou E". Mas é só uma sugestão, Mister.