quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não te menosprezes, Zé

«Acho que sou um treinador com sorte»


O Campeonato e a UEFA perdidas na mesma semana, e o apuramento para o Mundial falhado num último minuto, não foram sorte. Foram mérito teu, pá!

Even though I walk through the valley of the shadow of death, i fear no evil


The Book of Eli parece-me um filme injustamente underrated. Não era fácil de fazer, partindo do homem solitário no futuro pós-apocalíptico, e nem se dá muito a explicações estruturais, ou a tentar marcar pela diferença um contexto tão comum como esse, mas é um filme sempre despretensioso que, sem querer ser criativo nos cenários ou na cor, e mesmo a ser exagerado aqui ou ali, tem um fundo simples, cativante e interessante de seguir. A sensação que fica é que não tem maestrias na realização, que até é apressado em certas alturas, mas que é um filme sobretudo bem escrito, e dotado duma expressividade religiosa não tão comum quanto isso.

Depois, ao nível do cast, as coisas acertaram. O Denzel é uma segurança quase a toda a prova, e faz um papel francamente bom, de um homem de fé, com um mundo às costas, que se fez a caminhar, mas que nunca, apesar dalguma acção incentivar a isso, se apresenta como um super-herói. O Gary Oldman também se enquadra bem, como sempre, mesmo que não se exija muito dele, tal como o Ray Stevenson aparece sólido como secundário. A conjugação é feliz ao ponto de até a Mila Kunis, apesar da muito deslocada ponta final, conseguir vingar, surgindo com uma pureza já madura no grande ecrã. Recomendado.

domingo, 25 de julho de 2010

Quando o poster é, a boa distância, a melhor coisa presente


Não tenho nada contra blockbusters, pelo contrário. Ao invés das pessoas que acham que os orçamentos milionários nunca rendem filmes decentes, acredito nos bons blockbusters e, sobretudo, acredito que estes podem ser filmes realmente de notar. Aliás, pese todo o dinheiro envolvido, será tão ou mais difícil fazer um filme comercial que não seja descerebrado, do que fazer um bom drama independente. Que ninguém duvide que é um talento, e temos aí os Batmans do Nolan, ou o primeiro Transformers do Michael Bay, para o provar. Um bom blockbuster é um filme que dá gosto ver, e, especialmente, que cumpre uma vertente que está nas entranhas do cinema: entreter, impressionar e alhear pelos efeitos e pela acção.

2012 não é, no entanto, nada disto. É, simplesmente, uma brincadeira de mau gosto que, acabada, só dá a sensação de que poderia ter sido feita por qualquer pessoa, tal é a falta de argumento, de ideias, e de um pingo de consideração estética. Não era preciso ter sido Rolland Emmerich que, no género, até já fez coisas decentes como The Day After Tomorrow, para torrar os 200 milhões do orçamento. Talvez até seja deslocado criticar um filme que não foi feito com quaisquer propósitos à excepção de ser javardão e molhar a sopa a toda a gente, e que portanto não teve de arriscar uma unha que fosse, e pôde ser feito duma ponta à outra em piloto automático, by the book, e com todos os clichés, e momentos populachos, e tontices típicas de qualquer filme rasca para arrancar uma gargalhadazita. Mas, mesmo que já tenha quadriplicado o investimento, pelo menos para quem tem alguma consideração pelos filmes comerciais, é triste ainda saírem coisas assim.

No meio de todos os efeitos especiais abrutalhados, e da estória do pai-divorciado-com-problemas-com-o-filho-cujo-padrasto-é-rico-mas-a-mãe-não-ama-mesmo-a-sério, chegou-se ao cúmulo de, em 2 horas e meia de filme, 2 HORAS E MEIA, só se ter mencionado 2 vezes o mito Maia do fim do mundo que supostamente inspirou a acção, uma através duma espécie de animação em cartoon, outra com um sibilar "Mayas knew it all". 2012 é qualquer coisa entre cinema rasca e prostituição intelectual.

Nolan, sempre o maior de todos


Inception é um filme difícil de abordar por muitas razões. Desde logo porque é de Christopher Nolan, e porque se criou uma expectativa imensa à sua volta, ou não tivesse Nolan deslumbrado com todos os seus 5 filmes, e não fosse o último uma obra-prima chamada The Dark Knight. Mas será difícil de abordar, sobretudo, pela incrível densidade do argumento, não necessariamente ao nível da emotividade ou da reflexão moral, mas da própria acção. Inception é um filme sobre a realidade e sobre a percepção que temos dela, com a diferença de que Nolan ignorou quaisquer ângulos ao nível da loucura ou das psicopatias, para o elevar a um pico de ficção científica, numa recriação portentosa do que alguma vez se entendeu por lavagem cerebral, ao que ainda juntou a manipulação de sonhos e os truqes do nosso inconsciente, a desorientação mental pura, e as questões sobre a própria noção da realidade. O filme é totalmente poderoso, absolutamente cativante ao espectador, e tem a capacidade de se passear sempre como que um passo à nossa frente, insinuante, como se fosse impossível acompanhá-lo. Isto é arte, e Nolan, que não só realizou, como, principalmente, escreveu sozinho todo o filme, já nem precisava deste monstro para se afirmar como o melhor criador de cinema da actualidade.

Mesmo assim, e mesmo sendo um sacrilégio querer criticar coisas deste nível, não posso deixar de dizer que estava à espera de algo mais. O filme é fantástico, sublinhe-se, mas a Nolan temos de exigir sempre um pouco mais do que isso. Não digo que faltem morais de fundo, ou quaisquer coisas francamente reflexivas, porque Nolan é muito mais de criatividade do que de morais, mas a sensação que ficou foi que, a dada altura, o próprio Nolan acabou por se perder no hermetismo do filme, e não o conseguiu depois fechar com a maestria de sempre. O fim não é desadequado, fraco, e nem sequer assenta mal, mas é previsível, sobretudo um tanto ou quanto fácil, e isso tem pouco a ver com Chris Nolan.

Ao nível das interpretações, e ao contrário do que seria de esperar, Di Caprio não conseguiu ter o poder de ecrã dos últimos tempos. Mesmo com as especificidades do personagem, acabou por ficar estranhamente distante do ícone que cada vez mais tinha habituado a ser, num papel perturbado, escuro, e pouco intenso. Sem ninguém brilhar muito alto, merecem a nota Gordon-Levitt e Tom Hardy, bons secundários. Marion Cotillard, sem tirar o fôlego, assentou bem ao papel. Ellen Page não é para estas coisas.

Inception será, por certo, o argumento com mais potencial do ano, e definitivamente o mais criativo. Mas faltou maior emotividade à acção, maior propósito para o crime em que tudo aquilo assenta, e, sobretudo, um acabamento de outro campeonato, no fundo, o campeonato de Chris Nolan. E não, ao contrário do que pelo menos o imdb parece fazer crer, este não é, claramente, o melhor filme do génio londrino.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um gajo percebe que isto é grave, quando é o AJJ quem tem de vir chamar à razão

"Alberto João Jardim declarou esta terça-feira estar «frontalmente contra» a proposta de revisão constitucional do PSD e disse que o partido fazia um favor se o expulsasse.

«Esta não é a ideologia do meu PSD. Estou frontalmente contra e estou no direito de estar contra. Expulsem-me, que é um favor que me fazem», disse o líder do PSD-Madeira aos jornalistas, em S. Vicente.

(...)
Jardim declarou rejeitar «o despedimento sem justa causa», incluído na proposta de revisão constitucional do PSD.

Entre as razões para discordar do projecto do PSD, defendeu que «o Estado tem que ter responsabilidades para com as classe mais desfavorecidas, nos domínios da saúde da e educação» e referiu entender que «qualquer mudança de governo tem que estar sujeita ao povo português»."

Bom entretenimento, boa televisão e, acima de tudo, profissionais de quem se gosta


domingo, 18 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Só faltou o Helton, o Rolando, o Hulk, o Falcão, o Moutinho e um "o último a sair que apague a luz"

"Dizem que querem sair, mas são jogadores que sentem o Porto como ninguém. O Bruno, o Raúl, o Fucile... o Beto... e o Álvaro."

Villas-Boas a dizer mais ou menos isto, na SIC Notícias

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ah miúdo


Cada vez mais, nos últimos tempos, dava-me para olhar para o Sérgio Paulinho de lado, com um certo despeito. Medalha de Prata em Atenas, e desde cedo na alta roda, até sob a asa dum monstro como Armstrong, os últimos anos não fizeram muito por ele. Com equipas suspensas por escândalos de doping que lhe eram alheios, e, em competição, com responsabilidades de trabalho permanentes para com os seus líderes, sempre candidatos à vitória final, o que me custava não era que ele não andasse a ganhar coisas ou a lutar pelo top 10, era vê-lo, vez sobre vez, a ficar para trás na montanha, sempre numa espécie de poupança para etapas que nunca chegavam. Mesmo neste Tour, nunca o tínhamos visto de peito ao vento na montanha, nem sequer a espreitar nas etapas médias, em que ele, ao estilo das Clássicas, tem, por natureza, potencial para brilhar.

Hoje, confesso que não pude acompanhar o fim da etapa em directo (já vi a repetição, com o desconcertante nó na garganta de Paulo Martins, na Eurosport), mas fiquei imensamente orgulhoso. Imensamente. Porque o vi, aos 13 anos, ao fim de 4 horas em directo, arrancar do nada uma Medalha de Prata nuns Jogos Olímpicos, e porque, mesmo com a lenda do Agostinho e as campanhas de sacrifício do José Azevedo à parte, nunca tinha visto (e não imaginava ver tão cedo) um português a ganhar no Tour. A última vitória tinha sido em 1989, há uns incríveis 21 anos. É verdade que é uma etapa solta, que o Sérgio continua perdido na Geral, e que tudo isto pode parecer redutor, mas este é um resultado que não pode ser menosprezado. Quem conhece a dimensão do Tour, percebe o que isto foi, e como isto orgulha o ciclismo e o desporto portugueses. Aos 30 anos, oxalá ele ainda vá a tempo de fazer mais 2 ou 3 anos destas coisas.

terça-feira, 13 de julho de 2010

África do Sul 2010 - Como Foi

As vuvuzelas. O golo 1 de Tshabalala. O polvo Paul. Maradona. O ketchup de Ronaldo. A hecatombe francesa. A Mannschaft. Sneijder e Muller e Forlán e Villa e Iniesta e Ozil e Suárez. Os 3 empates da Nova Zelândia. O beijo na boca de Casillas. Larissa Riquelme. O Gana e o que é a alegria a jogar futebol. O México e o 3-4-3. Honda e o Japão. Os Estados Unidos e o golo de Donovan que valeu os oitavos no último sopro. O 1-0 da Suíça à Espanha. Os nossos 7-0. Os 4 da Mannschaft à Inglaterra. E à Austrália. E à Argentina. O Holanda-Uruguai até ao último segundo. A louca Argentina de 1 médio e 5 avançados. O Uruguai-Gana do penalty de Gyan. Foi um grande Mundial.

As Desilusões

Da França não esperava nada, o mesmo já não posso dizer da Inglaterra. Por Capello, sobretudo. Com ele, Rooney depois da melhor época da carreira, e a enorma equipa de sempre, a Selecção dos Três Leões não podia ter passado tão vergonhosamente pela África do Sul. Nem cinismo, nem segurança, nem inteligência, nem individualidades, nem frieza no último terço. Nada à Capello. A equipa foi banal, ridícula a construir, constrangedora a finalizar, teve frangos, não teve um destaque individual, e saíu goleada. Fala por si.

À medida que o Mundial se aproximava, perdi alguma fé na Itália. Maus resultados na preparação, pouca segurança, e, especialmente, uma imagem de gasto que, apesar do regresso de Lippi, não pensava que se fosse instalar. O tombo italiano só pode ser considerado menor do que o inglês por essa perda de fulgor que se percebeu no pré-Mundial (e porque se esperava muito da Inglaterra), mas ainda assim a performance foi má de mais para ser verdade: a um empate de se qualificar no último jogo, a Azzurra ficou em último, sem vitórias, no grupo mais fácil do Mundial. Depois de 4 anos a falhar muito mais do que poderia, ao recém-chegado Prandelli sobrará muito que fazer nos próximos 2 anos.

Também esperava mais do Brasil. A selecção de Dunga não passou vergonhas como as duas anteriores, caíu dalguma maneira de pé, como disse, na altura, sem ter sido inferior nesse jogo com a Holanda, mas facto é que o Brasil tinha estrutura e tinha equipa, como sempre, para não ter ficado, pelo segundo Mundial seguido, nuns quartos-de-final. Talvez até fosse perdoável a muitos "grandes", não o é à Canarinha.

Os Melhores

Indiscutivelmente, o melhor futebol do Mundial foi o da Alemanha. Disse, e mantenho, que a Espanha é a melhor selecção do Mundo, mas isso, sem pôr em causa a qualidade do futebol jogado, vai muito para além dele. Na intensidade dos 90 minutos, permaneço fã incondicional do jogo alemão. Antevi que, ao contrário de quem os desvalorizava, os alemães fossem aparecer fortes, (como sempre, no fundo), mas nunca pensei que a este nível. Os 4 golos a ingleses e a argentinos entram para a História dos Mundiais, e a potência do seu ataque ficará na memória durante bons anos, como mais uma selecção fantástica que não foi capaz de ganhar. Será ousado dizer isto, na indiscutível Era espanhola, e depois da Roja não ter deixado dúvidas sobre quem é superior, nas meias, mas, entre os dois, eu pagava bilhete para ver a Mannschaft.

A Argentina. Disse que não acreditava numa grande campanha, e a equipa caíu goleada nos quartos. No entanto, ponho-a entre as melhores. Por convicção. Porque gosto de Maradona, e porque ele foi, sempre, uma das figuras da competição. Um ícone enquanto esteve, o incontornável que se espera que ele seja sempre. Enquanto se pôde divertir, a Alviceleste foi marcando golos atrás de golos, teve Messi no seu bailado eterno, teve Higuaín e os mísseis de Tevéz, e teve um coração do tamanho do Mundo. Quando chegou a Alemanha, perdeu por 4, num jogo em que só tinha um médio. É pela pureza, por essa crença infinita no talento dos seus jogadores, que Maradona e a Argentina foram uns dos melhores. Destroçado na despedida, El Pibe disse que esta equipa devolveu o futebol argentino "às suas raízes". Futebol é isto, o resultado é outra coisa qualquer.

Falar ainda daquele que foi, para mim, um quarteto de luxo, senhores do futebol mais entusiasmante para além da Mannschaft: México, Japão, Estados Unidos e Gana. Os três primeiros ficaram todos nos oitavos, mas deixaram muito que contar na África do Sul. Os mexicanos foram uma das selecções mais fortes da primeira fase, assentes num delicioso ataque a três, e numa equipa imensamente cativante de trás à frente, em 3-4-3. Terão sido a equipa com mais revelações individuais, de Juárez a Chicharrito, passando por Barrera ou Guardado, a que se juntaram os mais consagrados Marquéz, Salcido ou Giovanni dos Santos. Tivessem empatado o jogo com o Uruguai, e ganho o grupo, e a história do Mundial podia ter sido diferente.

O Japão foi uma lufada de ar fresco. Tão equilibrados e disciplinados como os sul-coreanos, que também passaram, ao Japão nunca faltou, no entanto, a alegria de jogar e o improviso, assentes numa das maiores revelações do Torneio: o extraordinário Keisuke Honda. Perder para o sequíssimo Paraguai, nos penalties, foi criminoso.

Ainda os Estados Unidos. Os norte-americanos eram, destas 4, a selecção mais modesta individualmente. E isso só reforça, de facto, o mérito do trabalho de Bob Bradley. Os Estados Unidos foram uma selecção fresca, muito bem armada, que jogou surpreendentemente bem com o que tinha, e que juntou a isso potes de emoção, da recuperação extraordinária contra a Eslovénia (2-2, a perder por 0-2), ao apuramento para os oitavos no último minuto do jogo (Donovan, contra a Argélia). Nos oitavos, felizmente perdeu para alguém que merecia, num dos grandes jogos do Torneio.

Por fim, o Gana, e os píncaros do seu drama. Para mim, foram o 2º melhor futebol do Mundial, ao transportarem, em cada célula, a extrema alegria de jogar africana. Não foram a primeira equipa do Continente a chegar a uma meia-final porque falharam um penalty no último minuto do prolongamento, o que diz muito sobre a beleza do jogo. Ainda assim, o trabalho de Rajevac perdurará, numa geração que já tinha dado de si em 2006, que foi campeã do Mundo sub20 em 2009, e que não será esquecida por todos quantos acompanharam o África do Sul 2010. Ayew, Asamoah e o extraordinário Gyan, num ataque fantástico, mais Kingston, Mensah e Boateng. Longa vida ao coração africano.

As Surpresas

Admito que, para mim, a Espanha foi uma surpresa. Não era discutível que a Roja tinha um potencial imenso, e chegava como Campeã da Europa, depois de ganhar todos os jogos da qualificação, mas os espanhóis tinham um passado derrotista pesado demais. Apostava, sim, nesse triunfo da História, na sua queda tradicional antes das meias, como já lhes tínhamos visto cair tantas vezes em Campeonatos do Mundo. Mais por essa convicção realmente, por esse entendimento histórico-cultural, do que por não gostar de espanhóis, diga-se. Sobre o que fez esta Espanha, já disse quase tudo nos últimos tempos. Sobra reforçar que consolidaram anteontem, definitivamente, uma nova Era no futebol mundial. A ver que dimensão a farão adquirir.

Na antevisão do Mundial, disse que esperava uma Holanda de futebol bonito, uma Holanda que comprometesse algum favorito, mas que não estivesse na África do Sul para ganhar nada. A velha Holanda, portanto. A verdade é que aconteceu quase todo o contrário, uma Holanda dura e fria, impenetrável, que discutiu a final do Campeonato do Mundo até aos últimos 5 minutos do prolongamento. Também já disse quase tudo o que tinha a dizer sobre a Holanda, no essencial, a tristeza pela Laranja ter sacrificado o seu apaixonante estilo, mas era absurdo não reconhecer o mérito do trabalho de Van Marwijk. 32 anos passados da geração de Cruijff, Neskeens, Rep e Resenbrink, a Laranja voltou a jogar uma final. Muito longe do mesmo brilhantismo, mas uma final.

Por fim, obviamente o Uruguai. Muita gente olhará para este Mundial, e falará sobre um Uruguai dum futebol louco a apaixonante. No essencial, isso não foi verdade. Tal como insisti especialmente até aos quartos-de-final, este Uruguai teve muitos predicados, desde a táctica, ao sacrifício e à disciplina, até à transbordante qualidade individual no ataque, mas esteticamente, ao nível da construção, a equipa nunca foi capaz de jogar bonito. A partir dos quartos, a Celeste acabou por passar do auto-controlo para a componente emocional, e é isso o que lembrarei com mais gosto desta impensável caminhada uruguaia. Disso, e de Suárez e de Forlán, um velho caminhante que saíu do United pela porta pequena, mas que acabou 2010 como melhor jogador da Liga Europa e Melhor Jogador do Campeonato do Mundo. És dos que merece, Diego.

Resta esperar por 2014 e conservar o entusiasmo. Para quem gosta, o Mundial é sempre uma realidade à parte.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O golo

Podia ter sido este, mas a Itália não merecia.

O pequeno balanço antes da reflexão


Sem uma linha que seja a atacar a vitória de Forlán, que a merece do fundo da alma, para mim, o Melhor Jogador do Mundial foi Wesley Sneijder. O Pequeno Genial foi a luz da inesperadíssima caminhada da Laranja até à final, o único fora de série da equipa e, individualmente, foi o jogador mais determinante dentre todos os que subiram hoje ao relvado do Soccer Stadium. Depois de ganhar a Serie A, a Taça de Itália e a Liga dos Campeões, onde foi o melhor jogador, Sneijder sai como melhor marcador do Mundial, e, sobretudo, como figura maior duma Holanda finalista 32 anos depois. Na era de Messi, Ronaldo, Xavi e Iniesta, a FIFA cometerá uma barbaridade se não o escolher a ele, em Janeiro, como o melhor de 2010.

O 11:

GR: Neuer (Ale); D: Sérgio Ramos (Esp), Puyol (Esp), Juan (Bra) e Coentrão (Por); M: Muller (Ale), Schweinsteiger (Ale), Sneijder (Hol) e Iniesta (Esp); A: Villa (Esp) e Forlán (Uru).

Os 12 suplentes:

GR: Casillas (Esp), Stekelenburg (Hol); D: Lahm (Ale), Rafa Márquez (Mex), Salcido (Mex); M: Bommel (Hol), Xavi (Esp), Messi (Arg), Ozil (Ale), Robben (Hol); A: Suárez (Uru), Gyan (Gan).

Os underdogs:

GR: Kingston (Gan), Enyeama (Nig); D: Tanaka (Jap), Belahdj (Arg); M: Ríos (Uru), Juárez (Mex), Boateng (Gan), Vera (Par), Honda (Jap), Kwadwo Asamoah (Gan), Beausejour (Chi), Donovan (EUA); A: Krasic (Ser), Giovanni dos Santos (Mex), Tshabalala (Afr), Jovanovic (Ser), Ayew (Gan), Gervinho (Gan), Chicharrito Hernández (Mex), Lucas Barrios (Par).

domingo, 11 de julho de 2010

Porque ninguém terá sido tão individualmente importante como ele


Forlán, o Melhor Jogador do África do Sul 2010.

Foi Assim Que Aconteceu #25 - FINAL

Holanda - Espanha, 0-1

A Holanda foi melhor do que eu esperava. Mesmo sufocados no início das partes e no prolongamento, os holandeses não abdicaram do jogo, não foram afogados como os alemães e, mesmo que às vezes por linhas tortas, e sem espaço para abrirem no sobredotado trio de ataque, fizeram o seu jogo, contrariaram a Espanha no possível e, justamente, tiveram bolas instrumentais para mudar o rumo do jogo, Mathijsen e Robben, sobretudo, que o digam. Contudo, desde o início, disse que esta não era a Holanda dos velhos tempos, apaixonada e apaixonante, e para mim, sem o estilo, incaracterística, era difícil acreditar nela campeã. Entendeu o destino que a Laranja há de sê-lo, mas realmente não assim.

A Espanha é a melhor selecção do Mundo. Não foi a que jogou melhor, talvez nem a 2ª ou a 3ª, não foi a mais entusiasmante, e é uma selecção menos inspiradora do que a de 2008, com menos vertigem nos últimos 20 metros, menos Barça, mas se aos holandeses falta estilo, filosofia própria, os espanhóis são dum mundo à parte. O tiki taka foi esticado e posto à prova, podia ter caído (Del Bosque é, curiosamente, bem mais conservador do que era Aragonés), mas estes são, definitivamente, novos tempos para o futebol mundial. Mourinho impediu, há uns meses, que a equipa da década fosse a primeira da história a bisar uma Liga dos Campeões, mas esta Espanha, campeã da Europa e campeã do Mundo, o 3º país a consegui-lo, consolidou a filosofia deste século XXI: o carrossel (tão ironicamente cruijffiano na essência), e, acima de tudo, a extrema inteligência em jogo.

À espera da geração Barça, que juntou hoje o Campeonato do Mundo ao Campeonato da Europa, à Liga dos Campeões, ao Campeonato do Mundo de Clubes, à Supertaça Europeia, à Liga espanhola, à Supertaça Espanhola e à Taça do Rei, estará um admirável mundo novo nos próximos 4 anos. Por mais que me custe a admiti-lo, e custa, o caminho para esta Espanha, tão jovem, inacomodada, confiante, e a jogar pela sua cabeça, é o do futuro. Até ao Rio de Janeiro, em 2014, escrever-se-á se cabe mesmo a esta Espanha passar da História para outro lugar qualquer. Acima.

Dont stop believin

Holanda - Espanha, 2-1

sábado, 10 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #24 - 3º LUGAR

Alemanha - Uruguai, 3-2

Não acho que o jogo de 3º e 4º lugares faça sentido. Depois duma meia-final, é absurdo obrigar equipas a picar o ponto, só para a FIFA ter o seu calendário pré-final preenchido. É sempre um jogo difícil de se gostar e difícil de interessar, porque praticamente já não se joga para nada, depois duma competição intensa, e bem fez a UEFA em acabar com isto nos Europeus.

Ainda assim, isso não invalida que Uruguai e Alemanha tenham dado de si mais uma vez, e contribuído para o espectáculo. Houve gente a ter oportunidades, houve pouco de táctica e menos de rigor, e jogou-se pelo gozo, mas isso rendeu muitos golos, abriu espaço para a técnica e para as individualidades, gerou duas reviravoltas e, grand finale, uma bola à trave no último segundo do jogo, que valeria um prolongamento. Foi o último momento dum grande Uruguai neste Mundial, obra e graça desse extraordinário jogador chamado Diego Forlán, que merecia ter marcado esse último golo, e merece acabar como melhor marcador, ao lado, curiosamente, daqueles que são, para mim, os 3 melhores do Mundial: Sneijder, Villa e Muller.

O Uruguai despede-se como a maior surpresa, a Alemanha como o melhor futebol. Ambos marcaram, de maneira indelével, o África do Sul 2010.

Pelos vistos o pessoal não interpretou "estrutura amadora" da maneira correcta

"O selecionador nacional, Carlos Queiroz, admitiu, em declarações a Record, poder ter utilizado a expressão "estrutura amadora" na entrevista concedida ao semanário "Sol" que tanta polémica provocou nas últimas horas. No entanto, o técnico repudia aquilo que considera ter sido "uma manipulação clara" (...)"

A Nike e os outros

sexta-feira, 9 de julho de 2010

E um treinador a sério, não?

"Estamos sempre interessados em bons jogadores. (...) Se o Inter decidir vender [Balotelli], nós estaremos lá. (...) Dzeko é mais do que um interesse."

Tevéz, Adebayor, Santa Cruz, Mwaruwari, mais o Robinho na sombra. Faltam claramente avançados ao City.

Quem sabe nunca esquece

Muller

"A Espanha é a equipa com mais jogadores entre os 10 candidatos à «Golden Ball» (Bola de Ouro), o troféu para o melhor jogador do Mundial 2010.

Os nomeados são Diego Forlán (Uruguai), Asamoah Gyan (Gana), Andrés Iniesta (Espanha), Lionel Messi (Argentina), Mesut Ozil (Alemanha), Arjen Robben (Holanda), Bastian Schweinsteiger (Alemanha), Wesley Sneijder (Holanda), David Villa (Espanha) e Xavi (Espanha)."

Ao contrário do que às vezes se vê a FIFA fazer, esta é uma lista com muito de justiça. Todos os nomes presentes estão entre os 15 melhores do Torneio, portanto houve aqui lucidez e ponderação (a que possivelmente vai faltar aqui ou ali na lista final dos 23 melhores). Contudo, parece-me um erro de palmatória ter preterido Thomas Muller destes 10 candidatos. É verdade que, estando no trio de candidatos a Jogador Jovem, é quase garantido que o extremo do Bayern vai levar um prémio para casa, o prémio que não ia ganhar nesta categoria, mas acho que não faz sentido que ele não figure nas duas listas. Depois de Sneijder e Villa (e destes dois ganhará a Bola quem for campeão do Mundo), Muller foi, para mim, o 3º melhor jogador do Mundial. É ridículo afastá-lo dos 10 melhores por simples nomenclaturas.

Uma última nota também para dizer que, pese a dimensão dos nomes, e pese terem brilhado a dada altura, Xavi e Robben merecem muito menos estar nesta lista do que Luis Suárez.

Uma pessoa com muito tempo livre

1 - Chow Chow
2 - English Bulldog
3 - Basset Hound
4 - Golden Retriever
5 - Sharpei
6 - English Mastiff
7 - Beagle
8 - Border Collie
9 - Grand Danois
10 - Serra da Estrela

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Diferendo significante-interpretativo sobre "falha chocante"

"A última capa de edição portuguesa da Playboy, onde está representada a imagem de Jesus ao lado de uma modelo em topless, provocou a ira da casa-mãe da publicação. A Playboy Entertainment anunciou o fim da revista em Portugal.

Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy Enterprises, disse ao site norte-americano “Gawker” que a capa da edição de Julho, que pretendia ser uma homenagem ao livro “Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago, “não foi aprovada” pela empresa norte-americana, como estaria acordado.

“É uma falha chocante dos nossos critérios e não a teríamos aprovado se a tivéssemos visto antes de ser publicada”, disse ainda a responsável pela área de comunicação da Playboy."

A Playboy podia querer acabar com a revista em Portugal por 13874 razões. Aí num ano e meio, a Playboy do burgo não teve mais do que 2 ou 3 edições decentes. Além disso, conseguiu fazer ensaios tão deprimentes como o da velhota dos Malucos do Riso, cometeu a proeza de publicar ensaios piores do que os das revistas soft, e ninguém lhe tira, para todo o sempre, o ónus das capas mais constrangedoramente más da história das revistas de gajos, desde a Maya ter podido dizer legitimamente que fazia uma capa melhor que o desastre-Mónica no nº1, até esta de não-vamos-arranjar-uma-gaja-que-toda-a-gente-queira-ver-nua-mas-sim-apaneleirar-o-evangelho-do-saramago, mais o auge que foi pôr esse vulcão de sensualidade que é o Araújo Pereira numa capa. Mas não, com tudo isso a Playboy Enterprises e a Sra. Theresa Hennessey estiveram na boa. Com tudo, até à falha chocante que foi a revista mais historicamente iconográfica da gaja boa nua fazer umas maluquices para com a nação católica. Ser uma merda podia. Agora o recato e o pudor da Playboy que ninguém ponha em causa.

Rolla


RocknRolla é um filme despreocupado. Como Tarantino faz as suas coisas mais para ele do que para o público, Guy Ritchie também tem alguma tradição em explorar argumentos quase de gozo, com muita acção e um certo foco nas personagens. Foi isso que vimos em Snatch, e foi em parte o que vimos em Sherlock Holmes. Só em parte, e acontece que Sherlock Holmes foi o melhor filme que vi de Ritchie. O melhor talvez porque foi o que tinha uma linha de narrativa mais definida, o que potenciou todas as outras características tradicionais dos seus filmes (o cinzento gasto de Londres, os protagonistas poderosos, a acção, etc).

RocknRolla acaba por ser algo confuso. Nota-se que foi feito com muito gosto, de maneira a que todos os envolvidos tivessem gostado de o fazer, mas é sempre curto, no sentido em que não é verdadeiramente bom em nada em particular. A premissa de fundo é só o Smokin Aces em mau, e, dentro da abordagem, o chorrilho de acção não chega ao nível dum Shoot 'Em Up, nem tem o seu quê de novidade como o teve em Snatch. É um filme sobre os meandros do submundo londrino, nas ligações entre a espécie de máfia e o poder político, com a nuance dum bando de personagens entre o bandido romântico e a anarquia, filmado no bom tom britânico de sempre, que se vê bem, admito, que tem bons momentos de humor para o género, mas que é pouco mais do que isso.

Individualmente, o melhor é Mark Strong. Vi-o pela primeira vez no Sherlock Holmes e, depois do Robin Hood e deste RocknRolla, cada vez gosto mais dele. Ainda não terá tido uma prova forte a nível interpretativo, mas pelo menos a figura poderosa no ecrã está lá. Gerard Butler não teve todo o espaço que era de esperar mas, mesmo sem brilhar, é um papel que lhe assenta muito melhor do que as dúzias de comédias românticas que anda por aí a fazer. Tom Wilkinson, depois da monstruosidade em Michael Clayton, e do papel em Valkyrie, foi uma pequena desilusão aqui.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #23 - MEIAS

Espanha - Alemanha, 1-0

Vendo agora, era um contra-senso esta Alemanha ser Campeã do Mundo. Porque foi a melhor equipa, a que teve melhores individualidades, a que, indiscutivelmente, mais e melhor jogou, a que mais marcou e a que arrancou os jogos mais memoráveis deste Campeonato do Mundo. Esta Alemanha era muito dada ao jogo, e, percebeu-se hoje, muito pura para ganhar o que quer que fosse. Quem ganha não pode ter tanto espírito, e tanta fidelidade para com o jogo e para com o espectáculo. Foram assim a Hungria em 54, a Holanda em 74 ou o Brasil em 82. Como esses, mesmo que só acabe em 3º ou 4º, é a Alemanha a selecção de quem todos se vão lembrar depois da África do Sul. Estará aí a beleza do jogo.

Essa Alemanha do bom futebol já não esteve hoje em campo. Sem Muller, que provou, ausente, que era o jogador mais determinante e mais insubstituível da equipa, e contra uma selecção tão violenta tacticamente como a espanhola, não houve nada a fazer. Podia falar duma primeira parte equilibrada ou dalguma reactividade alemã, materializada em 2 ou 3 oportunidades, mas não faria sentido. A verdadeira Alemanha não esteve em jogo hoje, e, sejamos justos, mais por mérito espanhol do que por demérito próprio. A Espanha fez o seu melhor jogo até agora e, pela sobriedade na abordagem e pela maneira como resolveu, parecia que os papéis históricos estavam trocados, dum lado futebol mais alegre a ir embora, do outro o cinismo a seguir em frente. A Espanha, pese a extrema segurança de si (confirmou-se hoje, de vez, uma nova era no futebol espanhol), além de ter sido sempre a melhor equipa, também foi a que melhor jogou. Na retina os primeiros 25 minutos da 2ª parte, dum futebol enorme, ao nível de 2008, coroados legitimamente com o golo de Puyol.

Para o fim-de-semana, a Mannschaft merece o pódio. A Espanha é favorita na final.

Jogadores:
Espanha - No jogo mais denso e exigente até agora, Iniesta. O hiato na 2ª metade da época fê-lo chegar fresco à África do Sul, e ainda por cima foi em crescendo. Instrumental hoje, foi sempre irrepreensível a pegar no jogo, e foi a base do tiki taka. Xavi tem andado mais discreto, mas hoje apareceu muito bem no último toque, ligeiro. Também a defesa espanhola merece menção, com destaque para Capdevilla e Puyol que, na fase de bombeamento alemão, foi muito importante (é no futebol mais intenso que Puyol se sente melhor).

Alemanha - Num jogo para defender, Neuer assinou, para mim, a prova de que é o melhor guarda-redes do Mundial. Altivo, sem espalhafato e sem jogar para a fotografia, é jogador duma segurança a toda a prova, muito bom na ocupação na baliza. Boateng, adaptado à esquerda, fez uma excelente primeira-parte, poderosíssimo que é. E, no jogo em que faltaram Ozil e Podolski, esteve até à última Schweinsteiger, um comboio, que, depois do que fez no Bayern e na África do Sul, merecia sair para as grandes ligas.

Editar a Classic Netherlands lembra destas coisas

terça-feira, 6 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #22 - MEIAS

Holanda - Uruguai, 3-2

Ao contrário do que vou lendo aqui e ali, acho que este tem sido um grande Mundial. Grandes jogos, grandes jogadores, várias surpresas, muitas filosofias diferentes e, sobretudo, muita emoção. Por mais redutor que isso possa parecer, falar do Holanda - Uruguai é falar de emoção. Da emoção dos últimos 4 minutos, sempre, mas, em muito também, do coração do jogo uruguaio, que hoje, sem Suárez, com 4 trincos, e perante a imperturbável Holanda, pareceu finalmente uma equipa verdadeiramente humana. Muito mais do que o cinismo das eliminatórias, hoje esteve em campo a raça uruguaia, que deu para resistir durante muito tempo à evidente maior qualidade holandesa, deu para empatar e, cúmulo, deu para lutar até ao último segundo do jogo, depois de, ao minuto 90, estar a perder por dois golos. Até para mim, que gostava muito mais de ter visto nesta fase um México, um Gana ou uns Estados Unidos, é impossível não admirar o trabalho de Tabárez. É bonito ver estas equipas chegarem até aqui, e é bonito vê-las sair duma maneira que se gosta, de cabeça erguida.

A Holanda ganhou com mérito, e é uma justa finalista. O ataque é apaixonante, e a equipa jogou mais hoje, foi melhor, e concluíu a sua extraordinária caminhada até à final com 25 vitórias seguidas em jogos oficiais, mérito, mais ou menos resultadista, de Van Maarwick, o homem que pôs a velha Holanda a ganhar a sério. Só não posso deixar de reforçar, nunca, que é pena que não tenha chegado cá uma Holanda como a de 2008, por exemplo.

Jogadores:
Holanda - Para mim, o MVP foi Van Bommel. O trinco foi a fonte do equilíbrio de toda a equipa, mesmo sem De Jong na primeira parte (com De Zeeuw), e sozinho na 2ª. Incrível como conseguiu segurar quase sempre o meio-campo por si, a bater sempre com a cabeça nos dois ou três momentos seguintes. De resto, a defesa e o apoio do meio-campo não brilharam. Sobraram Sneijder, todos os dias mais próximo de ser o Jogador do Ano, mais Kuyt, Robben (hoje muito forte outra vez) e Van Persie, que fez o seu melhor jogo até agora na competição.

Uruguai - Na "despedida", a certeza de que Forlán merece estar no 11 do Torneio. Orfão de Suaréz no ataque, Forlán aguentou ideologicamente sozinho o jogo da equipa, inventou o 1-1, como inventou já tantos momentos neste Mundial, recuou no apoio, e fez tudo o que pôde. Merecia ter jogado a meia-final até ao último minuto.

Por Dios, Um Mundo à Parte, Fé deve ser isto ou Diego não te vás




"«Diego não te vás», era o que mais entoavam as cerca de 20 mil pessoas que aguardavam Messi e Companhia à chegada a Buenos Aires, depois da queda da Selecção nos quartos-de-final do Mundial 2010. «Que se teria passado se a Argentina fosse campeã 24 anos depois?» é a pergunta que o diário argentino Olé deixa no ar."
via Relvado.com

"Não se cumpriu o sonho, mas encontrou-se o caminho para respeitar o futebol argentino de tocar a bola, de ir para a frente, de voltar às raízes. (...) Este é o futebol que as pessoas gostam de ver. (...) O meu ciclo terminou"
Maradona

domingo, 4 de julho de 2010

Em Busca de um Mundo Melhor


"Larissa Riquelme, a rainha do Mundial. Assim foi baptizada a paraguaia que acompanhou de perto a selecção do país, na África do Sul. A modelo tinha prometido despir-se, caso a «Albirroja» chegasse às meias-finais. O que não aconteceu. No entanto, Larissa Riquelme revelou que vai mesmo despir-se.

A paraguaia argumenta que o desempenho dos jogadores merece ser reconhecido e, por isso, vai posar nua. «Será um prémio para os futebolistas e para que todo o povo paraguaio possa desfrutar depois do esforço deles, que deixaram tudo em campo», disse Larissa Riquelme, em declarações ao «Diario Popular»."


Numa sociedade em que escasseiam o reconhecimento, a justiça e a fraternidade, é reconfortante saber que ainda há gente disposta a sacrificar tudo por um bem maior. Fossem todas como tu, Larissa.

sábado, 3 de julho de 2010

Foi Assim Que Aconteceu #21

Alemanha - Argentina, 4-0

Se dúvidas houvesse, a Mannschaft é a melhor Selecção do Mundial. Vinga não pela consistência brasileira, não pelo cinismo holandês, não pela teia espanhola, nem pela paixão ofensiva argentina. Ganha porque é, a milhas talvez, a selecção mais incrivelmente completa, porque joga, a milhas, o melhor futebol do Campeonato, e porque faz isso conjugando tudo, da defesa à táctica e aos equilíbrios. Esta Alemanha ressuscitada por Klinsmann em 2006, na altura com Low como adjunto, e que esteve na final em 2008, é um projecto de futebol fantástico, com uma maturidade quase inalcançável ao nível do futebol de selecções. A Mannschaft tem a segurança dos grandes e a alegria dos mais pequenos, e nunca contemporiza, nunca pára, nunca circula: a regra é sempre o ataque, abrangente, rápido, assassino.

Para Maradona e para a Alviceleste, acabou o sonho. Podia ter sido, mas ter Maradona no banco não foi suficiente para repetir 86, nem chegar às meias a que os argentinos não chegam desde 90. A realidade crua e dura diz que, ao primeiro adversário verdadeiramente duro, a Alviceleste caíu, e caíu sem apelo nem agravo, sem nunca ter sequer chegado a discutir o jogo. Valheu-lhe a alma que nunca podia ter faltado, o coração e a crença, que, até ao 2-0, pareceu tornar possível outro resultado. Mas era pura ilusão. Mesmo assim, goste-se ou não, critique-se ou não o fundo como treinador, o Mundial fica mais pobre sem Diego. Vê-lo na sala de imprensa tão genuinamente triste, é ver futebol da cabeça aos pés, personificado num homem.

Jogadores:
Alemanha - Os elogios repetem-se, mas não há nada a fazer. Pelo jogo de hoje, mais o que fez contra a Inglaterra, mais tudo o resto, Muller é, neste momento, o Melhor Jogador do Torneio. Classe, classe e mais classe. Lê sempre bem, chega primeiro, é rápido, tem técnica, é inteligentíssimo, e assiste até quando está no chão e tem 3 adversários à volta. Palavras para quê? Depois Schweinsteiger, um comboio permanente, certamente o melhor box-to-box da competição, e alguém que, com formação de extremo, parece que nasceu ali. E a jogada do 3-0, deus. Podolski mais Ozil a bom nível, com mais Podolski hoje, e Klose claro, a garantir que metade das bolas que lhe caem ali acabam na baliza. Viva a Mannschaft.

Argentina - Despediu-se Messi sem glória. Não tinha marcado, mas andava a jogar muito futebol. Faltava-lhe o nirvana, e o nirvana não chegou. Uma sentença dura este Mundial para todos os grandes da actualidade, com Ronaldo, Kaká e Rooney, ainda que Messi tenha jogado mais que qualquer deles. Maxi Rodriguez, meio médio direito, meio médio centro, terá sido o jogador mais acertivo da equipa, num meio-campo com um único jogador fixo. Por último, Tevéz que devia ser titular para a vida.

Espanha - Paraguai, 1-0

Depois do jogo, sinceramente, fica a frustração por Portugal ter caído aos pés duma Espanha tão distante do que fez em 2008. Sim, a qualidade individual continua lá, os princípios continuam lá, mas esta Espanha já não é acutilante, já não joga sozinha em campo, e é francamente vulnerável ao que lhe aparece na defesa. Mesmo um Paraguai desfalcado, que nunca deslumbrou ao longo da prova, foi capaz de evitar o domínio espanhol, de deixar a equipa de Del Bosque nervosa, e teve um momento crucial para marcar, que teria largado no espaço o jogo espanhol. Cardozo falhou o penalty, como falhou sob pressão muito mais do que devia ao longo da época, e o Paraguai, mesmo com a estrelinha que foi a Espanha falhar também ela um penalty no minuto seguinte, viu a sua janela no jogo desaparecer aí. Mesmo por linhas tortas, mesmo no sofrimento, os espanhóis foram crescendo no jogo, a par do recuo paraguaio, e, com Iniesta a pensar quase a solo, como o tem feito quase sempre, foi Villa Villa Maravilla a arrumar o jogo outra vez. Ainda assim, a Roja vai precisar duma espécie de milagre para sobreviver à Alemanha.

Jogadores:
Espanha - Se dúvidas houvesse, é ele o melhor jogador espanhol da actualidade, e o melhor avançado da prova. A Espanha anda a jogar muito menos, mas com Villa pode sempre contar, a qualquer altura. Iniesta, outra vez mais do que Xavi, tem feito o resto.

Foi Assim Que Aconteceu #20

Brasil - Holanda, 1-2

Para mim é uma surpresa imensa, ao nível de ver a Itália ser eliminada quando só precisava dum empate para se qualificar. O Brasil parecia-me, à partida para os quartos-de-final, a equipa mais dura, mais consistente e, tal como disse, a maior candidata à vitória final. É verdade que se havia uma Holanda capaz de derrotar a Canarinha era esta, escura e cínica, mas muito mais madura e competitiva, mas mesmo assim custava-me a crer. Até porque o Brasil tinha pouco de desiquilíbrio e, apesar do talento no ataque ser comparável, no resto os brasileiros eram superiores.

Não vi o jogo todo, mas, do que vi, é um resultado um pouco ingrato para Dunga. O Brasil foi bem melhor na primeira parte, marcou e até podia ter posto uma pedra no jogo, mas, até assim, nada fazia crer numa reentrada da Holanda, até ao frango do Júlio César. Logo ele, depois duma época monstra, a sair daquela maneira. Depois, admito, a Holanda pôs em campo um nível que nunca lhe foi habitual, não de qualidade de jogo (só mais visível com o Brasil totalmente descompensado, à medida que o jogo ia para o fim), mas justamente a nível de competitividade, que prendeu o Brasil, e cresceu progressivamente no jogo. Depois do 2-1 de laboratório e da expulsão de Felipe Melo (custa a ver um jogador que tão bem lê o jogo ter o cérebro do tamanho duma ervilha), consumou-se a surpresa. Com o Uruguai nas meias, a Laranja está mais perto do que nunca duma final inatingível à partida.

Jogadores:
Brasil - sem nunca terem sido verdadeiramente estratosféricos, Kaká e Robinho são dois dos jogadores do Torneio. Mesmo sem um Brasil de futebol espectáculo, mesmo a ficar nos quartos, ambos corresponderam ao estatuto que têm hoje em dia. Fica a expectativa para o que fará Kaká nas mãos de Mourinho, e o desejo dum regresso imediato de Robinho à Europa.

Holanda - Depois de ter sido o MVP da Champions deste ano, Sneijder tem escancaradas as portas da final e da Gala Anual da FIFA. Dele, dizer apenas que decidiu o jogo com golos de pé esquerdo e de cabeça, do alto do seu 1,70m. Van Bommel é um imprescindível, sobretudo nestes jogos, Stekelenburg fez-se maior do que é, e Kuyt, quando Van Persie anda apagado e Robben a levar porrada, é sempre imparável. Como já disse, o jogador mais útil da equipa, seja em que circunstâncias forem.

Uruguai - Gana, 1-1 (4-2 a.p.)

Emocionalmente, o jogo mais violento do Mundial. A eliminação do Gana, a falhar um penalty no último segundo do prolongamento, fica para a história como um momento no limite da poesia, o apontamento dum destino que os ganeses não podiam cumprir. O Gana seria a primeira equipa africana a chegar a umas meias-finais, foi a 3ª ou 4ª equipa com melhor futebol da prova, mas, quando só dependia de si, dum gesto, do seu melhor jogador, falhou. Não nasceram para isso. O Gana foi para jogar, para entusiasmar e para ter muitos, como eu, a torcerem por eles. Para ganhar a valer, ficou o Uruguai, qualificado da maneira mais espelhável possível do seu jogo, a impedir, no ilícito, sorrateiramente e na sombra, a alegria e a vitória adversária. É assim o futebol.

Não o mereciam, concerteza, Rajevac (extraordinariamente a esta distância das meias finais, depois de ter sido finalista na CAN) e, ainda menos, Gyan que, dentre tudo o que já fez neste Mundial, não merecia estar a dizer no fim do jogo que "Suárez é que é agora um herói no seu país".

Jogadores:
Uruguai - Suárez sairá do Mundial com tudo. Já tinha a comprovação do talento, transcendendo até o que de melhor se poderia esperar dele, agora sai com a aura e o mito à sua volta. É isso, no fundo, o que o porá na história. Ah e Forlán, claro, sempre porque sim.

Gana - Bem-vindo Muntari à titularidade. Intenso, foi muito importante no jogo do Gana, apesar de menos criativo do que Ayew. Boateng, uma das grandes surpresas deste Mundial, sai como um dos melhores 8 da prova. E Gyan não merecia o que lhe aconteceu. Só isso.

Slap Bet #21

Alemanha - Argentina, 2-1

Espanha - Paraguai, 2-0

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Slap Bet #20

Brasil - Holanda, 1-0

Uruguai - Gana, 1-2

Perguntem ao Queiroz

"Que Ronaldo não tem perfil para capitão, como prova a expiação que intentou no final da partida, é das evidências menos contestáveis deste princípio de século marcado pelas convulsões não debilitantes da égide neoliberal. Adiante. Também dou de barato: ao se achar tão melhor que os demais colegas de selecção, Ronaldo acaba por ser minado pela incapacidade para acreditar - participando - no jogo colectivo; não é excesso de crença nas suas capacidades, é um desespero que ele magnificou ao absurdo fundado na arrogância de um qualquer emigrante incapaz de imaginar flores a nascer nos baldios da sua adolescência. Ao tentar resolver sempre em individualismos cheios de boas intenções, Ronaldo reduz a preparação da equipa adversária adversária a menos de 3 diapositivos com menos de duas linhas cada.

Ainda assim, por desconcertante que seja, cabe reconhecê-lo: à vista da substituição mais inepta que já vi em futebol profissional (quer dizer, mesmo quando joguei nos distritais pelo montemorense estive longe de vislumbrar algo tão patético), são de Ronaldo as palavras mais memoráveis na revisitação da viagem portuguesa à Àfrica do Sul. "Assim não ganhamos, Carlos!" O anelo de Carlos Queiroz ao powerpoint encontrou no desespero egocêntrico de Ronaldo o mais expedito acusador. Nem ao maluco da aldeia se retira ao mérito de dizer umas verdades no tempo certo."

Bruno Sena Martins, em Avatares de um Desejo

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Individualmente,

O melhor jogador português na África do Sul foi Coentrão. Tal como disse ao longo da prova, mesmo para quem o viu crescer este ano no Benfica, era difícil imaginar que Coentrão saísse do Mundial como o melhor lateral esquerdo da competição. É qualquer coisa de imenso para um miúdo que, há um ano, jogava para não descer no Rio Ave, e não sonhava com mais do que uns toques no sub21. É tanto mais assustador se pensarmos como, até há tempos, parecia imbatível o nosso vazio histórico na lateral esquerda. Insisto que estamos a falar de 4 jogos imensos, a defender e a atacar, que o colocam, aos 22 anos, e depois da única grande época na carreira, no lote de melhores do Mundo.

Depois, Eduardo. Ele e Coentrão foram as improváveis figuras maiores da 3ª Selecção do ranking FIFA neste Mundial, logo eles, um lateral esquerdo e um guarda-redes, dois dos nossos crónicos casos perdidos. Se houver justiça, ele estará entre os 3 melhores guarda-redes da prova, no Plantel da competição. Eduardo é um daqueles jogadores de quem é fácil gostar. Olha-se para ele, e, por mais lírico que isto possa parecer, vê-se que é boa pessoa. Depois, cresceu com calma, a fazer boas opções, e ao abrigo dum projecto único ao nível dos clubes médios em Portugal. Chegou até aqui sem a associação doentia a nenhum dos grandes, sem anúncios de prodígio, sem manchetes e sem cobiça internacional. Agora, merece toda a sorte do mundo. Em especial, o lugar numa grande Liga, onde possa ser titular. O jogo com a Espanha foi, para mim, a melhor exibição que já vi um guarda-redes fazer pela Selecção.

Também é justo que se fale de Ricardo Carvalho e de Tiago. O primeiro, o nosso capitão moral, entrou um pouco hesitante com a Costa do Marfim, mas depois não se afastou um milímetro do velho nível. Ricardo Carvalho, que mesmo que quisesse nunca conseguiria jogar mal, é um filósofo no mundo dos centrais, e ainda se dará ao luxo de, com 32 anos, estar entre os 4 ou 5 melhores do Mundo. Acredito que ainda o teremos na Ucrânia em 2012. O Tiago que passou na África do Sul, mesmo que irregular, foi um jogador que chegou ao nível do Deco dos bons tempos, e esse será o maior elogio que lhe posso fazer. Com espaço para ser titular daqui para a frente, a sua capacidade para se afirmar como "jogador de Selecção" será um dos vectores da dimensão portuguesa nos próximos anos. Moutinho ou Micael são bons, mas não são do seu nível.

Por último, uma pequena menção a Meireles e a Hugo Almeida, que também saem de cara lavada da África do Sul. Meireles contornou uma época muito pobre no Porto e, mesmo sem ter estado num nível altíssimo, é cada vez mais um jogador de rendimento certo, a lembrar Maniche. Em directo do grupo dos eternos questionáveis, Hugo Almeida arrisca-se a passar, por mérito próprio, para o 11 titular dos próximos anos. Mesmo frágil a muitos níveis, é um jogador em quem passei a acreditar e, acho, que passou a acreditar nele próprio. Quem sabe seja uma surpresa no apuramento rumo a 2012.