sábado, 30 de julho de 2011

O que é um líder


«O Adebayor pediu permissão para visitar-nos e dissemos logo que sim. Esteve no balneário, contou anedotas, enfim. É um amigo. Não sei onde jogará no próximo ano, se no Real Madrid, no City ou noutro lado, mas aconteça o que acontecer será sempre um dos nossos»

Mourinho, depois da vitória (2-1) sobre o Leicester


É fácil perceber porque é que todos os jogadores que já treinou lhe devotam tamanha estima.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Seguro e a história da vida dos jotinhas


"António José Seguro é o novo secretário-geral do Partido Socialista, depois de uma campanha eleitoral interna praticamente invisível para o exterior do partido. A sua vitória era previsível, já que trabalhou para isso nos últimos seis anos, ao contrário do seu adversário, Francisco Assis, um candidato inverosímil que se concentrou, durante esse tempo, em assumir a cara parlamentar do governo socialista. Com esta eleição, os dois maiores partidos são agora dirigidos pelos responsáveis das juventudes partidárias dos anos 90.

Não tem nada de mal, naturalmente. A não ser o facto de, um e outro, terem chegado aqui através de um percurso silencioso feito pela conquista das estruturas partidárias. Nem um nem outro se distinguiram pelas suas qualidades executivas, nem na governação, nem na gestão empresarial. Nem um nem outro se distinguiram por produzirem qualquer pensamento sistematizado, uma ideia inovadora ou uma estratégia política para o futuro. Moldados desde muito jovens na lógica da luta pelo poder que caracteriza os aparelhos partidários, envolveram-se mais na gestão de afectos, na palmadinha nas costas e no telefonema ao camarada, para um, ou ao companheiro, para o outro, em dia de aniversário. O resto foi feito pela habilidade de construir meticulosamente uma imagem politicamente correcta, em função do objectivo a alcançar: ser primeiro-ministro.

Atravessamos um tempo em que ninguém espera reconhecimento pelas suas convicções e pelo seu pensamento político; em que ninguém parte a loiça, no interior dos seus partidos, como Mário Soares ou Sá Carneiro fizeram no passado. Agora espera-se. Espera-se pelo momento oportuno, como quem espera que lhe saia o euromilhões. Mas, sejamos claros: se Pedro Passos Coelho é presidente do PSD e primeiro-ministro, António José Seguro está bem como secretário-geral do PS, líder do maior partido da oposição e, quem sabe, futuro primeiro-ministro."

Tomás Vasques, no Conquilhas


As juventudes partidárias sempre foram um ódio pessoal. Entendo que a política devia ser o espaço de todos quantos se destacam na causa pública, dos que se distinguem na sua área e podem, depois, pôr as suas competências ao serviço da comunidade; ou dos que têm ideias, convicções e, acima de tudo, vontade e capacidade de contribuir, nunca de servir-se. As juventudes são o oposto. São um ninho de vícios onde se inculcam doutrinas partidárias e, sobretudo, onde prolifera o culto cego do chefe e das cores, e isso enjoa-me profundamente. Claro que existirão excepções, mas escasseia-lhes o debate, e quem lá está, está porque isso lhe há de render qualquer coisa mais cedo ou mais tarde. Estar nas juventudes é um desincentivo à reflexão crítica, e isso desvirtua tudo o que a política devia ser.

Hoje dá que pensar o facto de Passos Coelho e Seguro serem os líderes dos dois maiores partidos portugueses. Somos governados por gente que passou a vida só a ser político, seja lá o que isso for, e pior, isso é a coisa mais normal do mundo. Portugal precisa de líderes como de pão para a boca, mas a gente que podia fazer a diferença preferiu fugir à política. Mais do que nunca esta era a altura desses se chegarem à frente; em vez disso temos dois sofríveis, com passado de jotinhas-cães-de-caça, paridos das entranhas escarráveis dos aparelhos partidários.

Dizem que a primeira imagem é a que fica, e a de Seguro foi cristalina. Com o cadáver de Sócrates ainda quente, foi vê-lo em modo barata tonta, em pleno hotel Altis, a dizer que não falava, para depois anunciar que falava e não falar outra vez, enquanto gaguejava e tremelicava, num retrato profundamente penoso e patético. Seguro é anti-carismático, frouxo e discreto, tem um discurso pobre e desinteressante, e é a imagem crua de uma geração que é política de profissão, absolutamente alheia ao conceito de meritocracia.

Mais ou menos previsível, a sua vitória foi uma desilusão. Porque o PS perde tempo - e aposto que Seguro não vai durar até às próximas Legislativas -, e porque não devia ser tão natural ver um mero carreirista chegar à liderança do maior partido de esquerda em Portugal.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Do orgulho charrúa


O Uruguai também ganhou.

Estava ali tão a jeito que cheguei a duvidar, ainda por cima frente àquele exército paraguaio dos 5 empates, mas os homens de Tabárez fizeram o pós-Argentina ao ritmo de campeões.

O eterno Uruguai, o monstro adormecido da América do Sul, é hoje, como já sancionou o próprio Mourinho, a melhor selecção do continente: colectivismo, força mental, inteligência, a sua tão tradicional agressividade e centelha de génio no ataque.

Num ano, o 4º lugar no Mundial e a vitória na Copa América. Com ela, os uruguaios tornaram-se na selecção sul-americana com mais Copas (15), e mais importante, na selecção mais titulada a nível mundial (20). Com o gigante de volta à ribalta à laia de conto de fadas, até houve espaço para uma daquelas histórias apaixonantes: Dieguito Forlán foi só o terceiro da família a levantar o troféu. Antes dele, pai e... avô já o tinham feito. Legado deve ser isto.

Mérito, acima de todos, do velho Tabárez, e de um projecto de futebol que é seu de ponta a ponta. Em campo, Suárez e Forlán são a cara (8 anos de diferença entre os dois e parece que jogaram juntos toda a vida), mas é impossível dissociar Muslera, Maxi, Lugano, Cáceres, Rios, Pérez e Álvaro. O que, ao fim e ao cabo, fala por si. Pena ainda faltarem três anos para o Rio de Janeiro.

Pessoas que merecem


E Evans ganhou mesmo. O eterno segundo (duas vezes no Tour, quatro no Dauphiné!) chegou finalmente ao céu, num contra-relógio de último fôlego verdadeiramente extraordinário, saído do fundo da sua alma. Apesar de ser especialista na disciplina, confiava na moral com que Andy Schleck correria em Grenoble, consciente de que estava a uma unha negra de vencer finalmente, depois da incessante sombra de Contador nas duas últimas edições. O minuto com que entrou na última etapa não esteve, contudo, sequer perto de ser suficiente para conservar a amarela conquistada nos Alpes, e, aos 26 anos, o Schleck mais novo comete a proeza de ficar em segundo pela... terceira vez. Nos últimos anos tinha sido ele o único a dar luta a Contador. Desta vez, com o caminho livre, não esteve ao nível das responsabilidades, e, nos próximos anos, terá de bater o estigma abissal que criou.

Para Evans é uma vitória extraordinária, por tudo. Porque a conseguiu na última etapa, porque já tinha 34 anos (foi o terceiro vencedor mais velho de sempre!) e, sobretudo, porque o destino nunca pareceu querer nada com ele. Como li na Marca, os próprios Schleck preocuparam-se sempre mais com Contador porque, no fundo, estava toda a gente à espera que lhe acontecesse alguma coisa, como de costume.

Afinal, o homem que até já foi bicampeão mundial de mountain-bike e campeão do mundo de estrada teve finalmente a única vitória com que sempre sonhou. No Inverno já o garantia: "Ainda tenho uma palavra a dizer: com ou sem Contador sou candidato à vitória." E sabia-o bem. Nunca fui seu fã, mas o australiano fez um Tour belíssimo, e é um daqueles tipos que merecem: sem ser espectacular, deixou a alma toda na estrada, e, na última oportunidade que teria para ganhar, fintou o destino. É daquelas histórias de que se gosta.

Contador ainda lá esteve a dar espectáculo nos Alpes, e em parelha com Samuel Sanchéz - imagine-se o espectáculo! -, mas não foi suficiente, como se esperava. Ainda assim, o melhor do mundo caiu como um campeão, na primeira grande Volta em que competiu mas não venceu, desde 2007. Para o ano estará lá, como novo.

Thomas Voeckler é o herói desta Volta e, apesar de ter falhado o pódio, vai no coração de toda a gente, como nenhum outro francês em anos e anos; Samuel Sanchéz foi tão monumental como sempre, e, além de um brilhante 6º lugar, sai como rei da Montanha, uma camisola feita à sua medida. E lembrar ainda Cavendish, a locomotiva que cresce em lenda de ano para ano. Mais 5 vitórias, uns números impensáveis. Há 7 ou 8 anos, quando comecei a ver ciclismo, nunca pensei ver algum sprinter melhor que McEwen...

Um grande Tour, indiscutivelmente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Visca el Barça

COPA AMÉRICA 2011: Argentina 1-1 Uruguai (4-5 a.g.p.)


Ficará na memória como o melhor jogo desta Copa América.

O mítico clássico do Rio da Prata foi tão intenso e emocionante como poderia ser. Houve quase tudo - 2 golos, 2 expulsões, 3 bolas aos postes, tanta técnica quanto dureza, um ror de jogadas de perigo eminente e muitas fases diferentes -, e podia ter pendido para qualquer um dos lados, mas no fim seguiu em frente quem era colectiva e mentalmente superior. Para os uruguaios o desfecho é tanto mais místico pelo dia em que aconteceu: a 16 de Julho de 1950 a Celeste sagrou-se Campeã do Mundo no Maracanã, derrotando o anfitrião Brasil na final, num dos jogos mais lendários da História do futebol. 61 anos depois do Maracanazo, foi a Argentina a sentir na pele o que é ser eliminada em casa.

Acima de tudo, esta foi uma derrota sua a todos os níveis. A passagem do Uruguai não é surpreendente, porque toda a gente sabia o valor dos homens de Tabárez, mas os argentinos jogavam em casa e tinham, de longe, o mais luxuoso plantel da competição. Para cúmulo, foram eliminados depois de 50 minutos em superioridade numérica, o que fala por si.

Curiosamente a expulsão de Diego Pérez foi nociva para o futebol argentino. O Uruguai marcou muito cedo, mas a Argentina empatou com facilidade, e acabou por dominar toda a primeira parte, com Gago, Messi e Higuaín em destaque. Diminuídos, os uruguaios recorreram a um autêntico festival de pancadaria e, apesar de terem acertado duas vezes na trave (benditas bolas paradas de Forlán), a cambalhota argentina parecia uma questão de tempo, ainda mais aquando da expulsão. Contudo, em vez do cheque-mate... a Argentina assustou-se.

O Uruguai voltou dos balneários refeito do golpe e confiante na sua prodigiosa força mental, e o futebol de Messi e companhia perdeu quase todo o rasgo. Lugano, Rios e Álvaro Pereira fizeram grandes exibições, mas é obrigatório destacar o jogo extraordinário de Forlán e Suárez: a maneira como, em inferioridade, moeram a defesa argentina não estaria ao alcance de muito mais duplas por esse mundo fora.

Ainda que tarde, Batista apercebeu-se da falta de clarividência na construção e lançou Pastore muito bem, acertando também na entrada de Tévez para abanar com o ataque. O último quarto-de-hora viria a ser verdadeiramente infernal, com a Argentina a criar muitas oportunidades, e a fazer emergir Fernando Muslera como figura da noite, enquanto defendia possíveis e impossíveis. A bola não entrou, o Uruguai respondeu e Mascherano acabou expulso em cima da hora, aniquilando as últimas réstias de moral argentina.

A Alviceleste até dominou o prolongamento, mas cedo se adivinharam os penalties, tal como quem sairia deles vencedor. O esgar de Batista quando o arbitrou apitou o fim dos 120 minutos disse tudo.

A Argentina saiu pela porta dos fundos e reafirmou a sua incapacidade para arranjar um treinador que capitalize tamanho talento individual; Messi prossegue a via sacra com a Selecção; e, com a sangria que foram os quartos-de-final, os uruguaios tornaram-se nos grandes favoritos ao título. Até pode nem sempre gostar-se do seu futebol, mas é impossível não ficar rendidos à sua alma.

domingo, 17 de julho de 2011

Tour 2011: Os Pirinéus


Se há coisa que ficou clara é que este não é o Tour de Contador. O melhor do mundo sobreviveu aos Pirinéus e até pode chegar aos Campos Elísios de amarelo, mas sofreu a bom sofrer, e o facto de ter acompanhado os rivais não mascara a situação: um Contador em forma teria sempre atacado, e nos Pirinéus só se defendeu, ainda por cima com 2 minutos de atraso. A falta de confiança do Pistolero no seu primeiro grande teste é um indício bastante desencorajador, ainda que siga vivo e tenha prolongado a discussão até aos Alpes.

A grande figura da campanha acabou por ser o improvável Thomas Voeckler. Não é novidade que o francês esbanja resistência e disposição, e que sempre foi competente nas montanhas, mas ninguém esperaria, por certo, que cruzasse os Pirinéus de camisola amarela a responder a todos os ataques, e ainda por cima num grupo absolutamente restrito de 8 ciclistas, com todos os grandes líderes, que terão de fazer bem melhor do que até agora para recuperar os 2 minutos que perderam para ele.

Samuel Sanchéz foi a outra estrela. O basco ganhou uma das duas grandes etapas da cordilheira, e fez segundo na outra, e é o mais espectacular dos grandes nomes do Tour: fortíssimo na alta montanha, ataca sempre e não tem pejo em ir embora sozinho. Por ter perdido tempo nos primeiros dias tem gozado de uma certa desconsideração por parte dos adversários mais directos, mas já vai no 6º lugar e, na forma em que está, há de dar muitas dores de cabeça nos Alpes.

Sem menosprezar Contador, os maiores favoritos ao pódio não mexeram com a corrida, passando pelos Pirinéus incólumes, e reservando a decisão para os Alpes. Dos três, quem esteve melhor foi Frank Schleck, que continua a demonstrar maior personalidade do que o irmão, e também por isso está 30 segundos à sua frente. Com Contador a correr por fora, Andy Schleck tem sentido a responsabilidade, e parece bem menos pujante do que nos últimos anos. Já Cadel Evans, depois de um início forte, limitou-se a passar tranquilo, e, mesmo com 15 segundos de atraso para Frank, sabe que é o mais forte dos três no contra-relógio.

Reconhecer também a bela prova dos italianos, que desvalorizei: o experiente Ivan Basso, depois de tempos turvos, tem demonstrado um grande coração e até tem liderado subidas, ao passo que Cunego, aos 29 anos, mostra finalmente maturidade e, mesmo sem grande capacidade para incomodar, não deixará fugir o primeiro top10 no Tour da sua carreira. Kloden, pelo contrário, já foi embora, pondo o ponto final na Volta da Radioshack (sobram Paulinho, Zubeldia e Leipheimer para alguma fuga), e Gesink e Tony Martin não existiram.

Seguem-se agora cinco dias calmos (com um de descanso pelo meio), antes dos três que decidem o Tour: Galibier, Alpe-d'Huez e contra-relógio em Grenoble. Claro que não consigo deixar de esperar por Contador, e que simpatizo sobretudo com Sanchéz, mas a apostar seria em Cadel Evans. E torço para que apareça Paulinho.

sábado, 16 de julho de 2011

Tivessem sido os pentelhos o pior


Eduardo Catroga, provavelmente o maior ideólogo do actual PSD, está a ter hoje uma visibilidade gulosa, porque ontem à noite, na SIC-Notícias, disse que o PS "em vez de andar a discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, anda a discutir pentelhos."

A grande maioria das pessoas, que não terá visto a entrevista, além de achar piada, é capaz de achar o soundbyte especialmente bem conseguido. Um daqueles engraçadotes-brejeiros que fica no ouvido, e mais uma pedrinha para atirar ao PS.

Quem assistiu, pelo contrário, sabe o quão degradante aquilo foi. Catroga não poderia ter sido mais vazio, demagógico e balofo, ou ter tido um discurso mais ridículo e incapaz de explicar as suas supostas medidas milagrosas. Foi uma fraude tão absoluta que só pode mesmo enganar quem não viu a entrevista, no seu penoso e permanente agitar de agressões ao adversário político. Catroga teve o azar de apanhar pela frente José Gomes Ferreira, provavelmente o mais sagaz e corajoso entrevistador da nossa praça, e foi nada menos do que engolido vivo, expondo-se, de uma vez por todas, como um homem anedótico, que espuma tanto por voltar ao poder, quanto é incapaz de sequer mascarar a sua total falta de soluções. O PSD decidiu atacar o melaço com uma voragem e um despudor tão grandes, que já nem se dá ao trabalho de ter vergonha na cara.

Admito, como já disse aqui uma vez, que tenho uma certa consideração por Passos Coelho. A História, contudo, não foi justa para com ele. Feliz ou infelizmente, o bando de abutres que o rodeia, e que saliva à volta da sua inexperiência, fá-lo-á perder as próximas Legislativas.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

COPA AMÉRICA 2011: Brasil 4-2 Equador


A Canarinha é a equipa mais cativante da competição.

Os resultados andavam manhosos e desconfiava de Mano Menezes, mas este Brasil mantém o perfume e o brilho do seu futebol, sendo uma equipa poderosa e sustentada, à qual só falta maior concentração na defesa.

Assente num 4-2-3-1, as grandes figuras da equipa não estiveram na África do Sul: Pato, Ganso e Neymar (ainda que Robinho continue a ser importante). O genro de Berlusconi faz esquecer Fabiano, e finaliza como contribui para o carrossel ofensivo, enquanto é impossível não ficar rendido aos dois miúdos que, há um ano, eram só mais duas belas promessas da escola do Santos. Neymar, a partir da esquerda, ainda não é o que se diz dele, mas quando as coisas lhe saem bem é um festival de toca e foge por toda a frente de ataque, além de ter uma fantástica facilidade de remate. Ganso, pelo contrário, é elegante e cerebral. Ainda joga mais devagar do que se exigirá na Europa, mas, como número 10 puro, tem um pé esquerdo que ilumina todo o campo à sua frente.

Um factor decisivo no jogo colectivo brasileiro, e que o superioriza ao argentino, por exemplo, é o poderio conferido pelos laterais: Maicon, claro, mas também André Santos são uma presença constante na frente, acelerando o jogo e criando o equilíbrio perfeito com o futebol técnico do ataque. Ontem cada um fez uma assistência monumental para golo.

Ramires parece um peixe fora de água no duplo pivot defensivo (é claramente um médio interior) mas, com Lucas, há qualidade no primeiro momento de construção, ainda que falte, depois, agressividade mais perto da defesa (Felipe Melo, por exemplo, seria sempre titular).

Com a segunda pior defesa de entre os oito qualificados, falta claramente aos brasileiros maior disciplina sem bola, e maior agressividade nos seus elementos defensivos. Ontem, pese os dois frangos de Júlio César, houve liberdade a mais para rematar. De resto, o melhor ataque da competição é capaz de dominar qualquer adversário, e, mais importante, joga bonito.

Palavra para o Equador. Os homens de Reinaldo Rueda tiveram alguma sorte nas duas recuperações, mas foram sempre uma equipa voluntariosa e reactiva, e o trio de ataque esteve em evidência. Ayovi (31 anos, Monterrey), à esquerda, é um extremo recto e musculado, capaz de carrilhar muito jogo, enquanto Arroyo (24 anos, San Luis) aposta nas diagonais a partir da direita, e foi uma bela revelação. Felipe Caicedo, na linha da grande temporada no Levante, é hoje um jogador a anos-luz do que esteve no Sporting, e fica para a história com o bis, no seu misto de confiança e remate pronto.

«Só quero tirar um momento do meu dia para te convidar para o Baile dos Fuzileiros Navais no dia 18 de Novembro em Greenville, na Carolina do Norte.»

quarta-feira, 13 de julho de 2011

COPA AMÉRICA 2011: Uruguai 1-0 México


Na mesma situação de Argentina e Brasil à entrada para a última jornada da fase de grupos - dois empates em dois jogos -, também os uruguaios precisavam de ganhar para seguir em frente, e também eles o fizeram frente a mais uma equipa de sub22, como a Argentina, na véspera.

Um ano depois, a equipa de Tabárez continua a ser muito parecida: esperançada no virtuosismo da frente mas, sobretudo, disciplinada, fria e relativamente eficaz. Os uruguaios arriscam pouco, e não são criativos em posse, mas o veneno do seu jogo continua a dar resultados, ainda que isso acabe por tornar as suas exibições um tanto ou quanto entediantes.

Em vez do 4-3-3 do costume, com um triplo-pivot no meio e o tridente ofensivo Cavani-Forlán-Suárez, desta vez Tabárez prescindiu de Cavani, desenhando a equipa em 4-4-2, com um discreto Álvaro González a cobrir a direita e o portista Rodríguez à esquerda.

O Cebola acabou por ser mesmo o melhor jogador em campo. Fresco e repentista, foi o mais entusiasta na frente de ataque, e o principal responsável pela maioria dos bons rasgos uruguaios. Com Álvaro Pereira, o outro portista, e os seus raides permanentes, formou um belo flanco esquerdo. Em dia de Forlán pouco inspirado, Suárez foi o outro foco de trabalhos, ainda que na toada contida que a equipa apresenta sempre. Ao intervalo a qualificação já estava no bolso e, do outro lado, só com o genial Giovanni dos Santos a fazer pela vida (como é que é possível não ser referência num grande europeu?), não houve muito mais com que se preocupar.

Nos quartos de final jogar-se-á o esperado Argentina-Uruguai. Os argentinos têm mais talento e jogam para ser muito mais espectaculares, mas o Uruguai é, como provou na África do Sul, um adversário de temível sangue frio, e não me surpreenderia se Batista não tivesse engenho para evitar a ratoeira de Tabárez.

terça-feira, 12 de julho de 2011

COPA AMÉRICA 2011: Argentina 3-0 Costa Rica


Sintomáticos os 45 minutos que a Argentina demorou a exorcizar o fantasma da eliminação, frente à equipa de sub22 da Costa Rica.

Com tamanho talento individual, que não tem paralelo na Copa América, torna-se ainda mais absurdo que a Alviceleste tenha chegado ao último jogo numa situação em que o empate não lhe chegava para passar aos quartos de final, ainda que se qualifiquem 8 das... 12 equipas em competição.

O jogo não teve história e é justo reconhecer que os argentinos poderiam ter inaugurado mais cedo o marcador, mas o cerne da questão é a equipa não ter confiança para obliterar um adversário semi-amador, jogando sobre brasas durante tanto tempo.

O jogo ofensivo da equipa é simples: Messi. No 4-2-2-2 um pouco confuso de Batista, tudo fica sobre as costas do Pequeno Genial que, se desiludiu das outras vezes (e custa-me a crer), ontem ganhou o jogo sozinho, mercê do seu extraterrestre entendimento do jogo.

Nota-se que a Argentina tenta valorizar o toque, como no Barça, mas apesar das doses industriais de qualidade na frente, faltam, pelo menos, Dani Alves, Xavi e Iniesta, o que faz, como é óbvio, toda a diferença. Assim resta a Messi jogar em todo o lado, e assegurar ele próprio, a solo, o primeiro momento de construção, as transições e o último passe. Pelo menos contra a Costa Rica pôde fazer tudo sozinho.

Agüero, com um bis, foi quem o secundou, sendo a alma de uma frente de ataque sem Tévez. Enquanto procura clube, Kun é o único outro imprescindível da equipa. Di María, meio médio meio extremo, passou ao lado do jogo, e Higuaín continua a ser o ponta-de-lança da alta roda europeia que mais golos falha.

No miolo, Gago é uma mais-valia, pese a falta de ritmo por praticamente não ter jogado durante a época. Falta, contudo, muito mais qualidade de posse, que será decisiva nos jogos a sério, e que poderia ser conferida, pelo menos, por Pastore, mais Cambiasso. Na defesa é um desperdício deslocar Zanetti para a esquerda, quando não existe nenhum outro bom lateral na convocatória.

Com uma Costa Rica a dada altura prostrada, até deu para a Argentina lamber as feridas, mas é indispensável lembrar que, ontem, quase não houve adversário. Para ganhar a Copa América Batista terá de fazer bem mais do que pôr em campo o seu grupo de bons rapazes.

Deste mundo e do outro


Só ele para fazer com que esta Argentina até pareça uma equipa a sério. E pensar que ainda o assobiam.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

"Ganhar aqui é diferente de tudo" - Tour' 2011!


Foi o grande momento até agora. Não vi, pelo segundo ano consecutivo, a vitória portuguesa no Tour, mas mal soube e foi um frenesim de orgulho. Para quem cresceu a ver um mito como a Volta à França, sermos nós a ganhar é uma coisa absolutamente imensa: pese a dimensão de José Azevedo, nunca pareceu realmente que fosse chegar a nossa vez, e ter não uma, mas duas vitórias consecutivas, é fantástico. Mérito de Rui Costa, em quem sinceramente não apostaria, que tem feito uma carreira sustentada, e que leva para casa logo a primeira etapa de montanha, triunfando com vultos como Philippe Gilbert e Cadel Evans a escassos metros da sua roda. Brilhante.

Tem sido um Tour um tanto ou quanto assustador: com nove dias de corrida já estão fora Vinokourov, Higgins, Horner, Brajkovic e Van den Broecke, com acidentes de todos os tipos e feitios (o abalroamento protagonizado pelo carro da televisão francesa é indizível...), e um Contador que já caiu... sete vezes. É normal que o Tour seja acidentado, mas este ano parece o fim do mundo.

Com isto, a prova ficou incrivelmente condicionada, e desde o absoluto primeiro dia. Com um acumulado de quase dois minutos para Schleck e Evans, Contador perdeu, num ápice, todo o largo favoritismo que trazia, mesmo com o peso de um Giro monumental nas pernas, que nenhum dos rivais correu. Mentalmente o Pistolero está num farrapo e, ainda que mantenha a postura admirável de sempre na estrada, nada lhe tem saído bem. Se conseguir ultrapassar a infinidade de quedas da primeira semana, os 2 minutos de atraso e o desprezo instalado do público, e vencer o seu 4º Tour, passará a estar, para mim, ao nível de Armstrong.

Cadel Evans tem sido uma agradável surpresa. O australiano está com a corda toda, crê nitidamente que este pode ser o seu ano, e tem estado quase sempre em evidência. A etapa que ganha a Contador fala por ele, e demonstra o grande Evans que chegou a França este ano. Já Schleck não levanta ondas: escapou a todas as quedas, não se chega à frente e, pelas circunstâncias de corrida, ainda viu a sua concorrência reduzida praticamente a Evans, numa galopada de eternos segundos. O luxemburguês é o favorito e tem um dream team a trabalhar para si, o que não acontece com o rival, mas não tem feito uma época boa e não poderá continuar a ser discreto por muito mais tempo. E reforço: contra tudo e contra todos, Contador está sempre lá para ganhar.

Van den Broecke, Higgins e, principalmente, o velho Vino são baixas de vulto, restando saber até que ponto Gilbert, Tony Martin, Nicolas Roche, Gesink e Samuel Sanchez vão conseguir estar à altura. Basso, Cunego e Kloden também ainda lá andam mas não me cheira.

A RadioShack é, aliás, um case study de como sai sempre tudo mal... Com o plantel mais caro e mais sonante, a equipa chegou, como de costume, sem um candidato, e, dos "quatro chefes", já viu Brajkovic e Horner irem à vida, enquanto Leipheimer está a 5 minutos da frente, e Kloden esteve ontem no hospital... Nisto tudo haja Sérgio Paulinho que, pelas circunstâncias, poderá muito bem ter liberdade para atacar em breve, como no ano passado.

No fim da semana chegam os Pirinéus e muita coisa começará a ser respondida. Quinta-feira e Sábado, etapas imperdíveis.

O estadista de sempre

"Confrontado com declarações antigas, em que afirmava não valer a pena "recriminar as agências de rating", Cavaco Silva, do alto da sua esfíngica arrogância, pediu aos jornalistas mais estudo. O mundo mudou, é isso? Pois isso foi o que o anterior Governo repetiu não sei quantas vezes seguidas. Curiosamente, esse Governo foi mandado embora, e agora está lá outro. Serão os jornalistas que precisarão de mais "estudo" ou será Cavaco a necessitar de menos cara-de-pau?"

Sérgio Lavos, no Arrastão

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Lights will guide you home


Só a Fix You e era capaz de ter chegado.

11 horas de autocarro em 18, costas a arderem e pernas a falharem, mas foi fechar os olhos por um momento no meio da multidão e perceber como valeu tanto a pena.

Grande espectáculo também a Viva la Vida e, pessoalmente, sempre, The Scientist. Um arrepio no meio de 50 mil pessoas, para nunca esquecer.

Ficaram muitas por ouvir, e, invariavelmente, a expectativa por mais 20 minutos, mas estaria lá outra vez. Lá no meio, a ouvir as músicas da nossa vida toda, chega a parecer que não é de verdade, e isso é o que levamos para daqui a muitos anos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O deplorável espectáculo do não-político

"Helmut Kohl, depois de ter sido o chanceler da Alemanha que protagonizou a reunificação alemã, foi deputado. Mário Soares, depois de ter sido presidente da República durante 10 anos, foi deputado europeu. Fernando Nobre, ao renunciar ao mandato de deputado dois dias depois de tomar posse revelou uma escandalosa falta de humildade democrática. Quem o escolheu para encabeçar a lista de Lisboa também tem responsabilidades."

A obsessão Coentrão


Mourinho é Deus mas não compreendo a obsessão.

Não que o valor de Coentrão esteja em causa: para mim é, hoje, um dos 5 melhores laterais esquerdos do Mundo; o único problema é que o melhor joga no clube que o acabou de contratar. Coentrão também jogaria a ala, sim: mas à frente de Marcelo joga... Ronaldo. E mesmo que Mourinho passasse a jogar em losango, com Ronaldo na frente, haveria... Di María.

Claro que Di María é canhoto e fez a época na ala direita, e que, ao fim e ao cabo, Coentrão passará a ser o primeiro suplente para três posições diferentes - defesa-esquerdo, ala-esquerdo, até ala-direito -, mas 30 milhões de euros (mesmo que seja, como é provável, 22 + Garay) por um suplente faz-me confusão. Até para Coentrão a opção é duvidosa, principalmente se virmos um Barcelona, por exemplo, cujo único ponto fraco é... a lateral-esquerda.

Enfim, Mourinho lá saberá, o Benfica fez um excelente negócio e Coentrão sai quando queria, e para o maior clube do Mundo. Resta saber se, na prática, também foi a melhor opção para todos.

Dark of the Moon


Continua a valer o bilhete.

As críticas não têm sido meigas para Dark of the Moon, mas são exageradas: talvez se pudesse exigir frescura à história, mas o argumento é mais consistente do que Revenge of the Fallen, e rende um filme melhor do que o antecessor, além de que, no resto, Michael Bay continua a dar o espectáculo de sempre. Aqui encontramos um Sam Witwicky desempregado e numa crise de identidade pós-faculdade, sempre menosprezado na sua relação com os Autobots, e com uma nova namorada francamente bem sucedida, e a primeira parte do filme valoriza a performance de LaBeouf, engrandecendo a saga.

Depois entramos então na fase de espalhar magia à la Bay e o espectáculo visual é total, temperado por mais uma enorme banda sonora de Steve Jablonsky. Transformers é a Liga dos Campeões dos efeitos especiais, e Michael Bay continua a conseguir explorá-los de uma forma esmagadora.

Shia LaBeouf tem crescido a olhos vistos. Aos 25 anos libertou-se da aura de miúdo e, mesmo pouco experimentado noutros registos (Disturbia ou Eagle Eye têm a mesma vertigem de adrenalina), evidencia cada vez mais pujança. O carisma de pequeno Pacino que empresta ao papel é incontornável.

Rosie Huntington-Whiteley foi uma grande surpresa. A expectativa era baixa, mas a curvilínea modelo britânica pulverizou o fantasma de Megan Fox, graças a uma naturalidade notável, e logo na estreia como actriz. Josh Duhamel, John Turturro e Tyrese Gibson já são da casa, mas Patrick Dempsey e John Malkovich foram erros de casting, o primeiro pela manifesta falta de traquejo e o segundo por ser desnecessário.

Com o quarto filme anunciado saber-se-ia muito do que esperar, caso não tivessem sido já manifestadas duas ausências pura e simplesmente basilares: LaBeouf disse que não volta e Michael Bay tem recusado encarar o 4º episódio num futuro próximo. Sem a espinha dorsal da saga, tem-se especulado que Spielberg, actual produtor-executivo, poderá avançar para a realização, mas o projecto está num vazio, apesar de Dark of the Moon continuar a render como pão quente.

Transformers chegou à trilogia e, para mim, mantém o fôlego. Sem ambos, contudo, seria estranho continuar.

domingo, 3 de julho de 2011

Para arrepiar


U2 e Coldplay, em nove meses. Bom demais.

The Killing, review


Grande primeira temporada.

Mantenho tudo o que escrevi sobre o piloto. Visualmente a série é muito poderosa, para o que contribui o negrume quase poético de uma Seattle sempre escura e chuvosa; e a intensidade emocional é magnífica a todos os níveis, deixando-nos tensos não com situações de perigo, mas de puro choque a nível pessoal, entre os que são próximos e vêem a vida virar-se do avesso. Neste aspecto, salientar Michelle Forbes e Brent Sexton, os pais da rapariga assassinada, que retratam de forma brilhante e crua aquilo de magoar deliberadamente quem nos é mais querido, só porque não estamos preparados para lidar com determinadas situações.

A série não tem episódios desnecessários e reinventa-se progressivamente, o que é decisivo, dada a linearidade de uma história sobre o homicídio de uma miúda normal. Joel Kinnaman (dupla policial) confirmou as expectativas e é uma indiscutível mais-valia - um daqueles personagens sem nada de banal -, ainda que Mireille Enos seja, de longe, quem mais cresce. Não é fácil gostar da franco-americana por uma certa impessoalidade da sua parte, mas a detective Sarah Linden é a personagem mais notável da série, pela sua densidade, e Enos encarna-a com uma facilidade genuína.

Aos quatro já mencionados, acrescentar Billy Campbell, o candidato a presidente da Câmara, que, como era de esperar, ganha cada vez mais importância no desenrolar da acção, sendo uma figura intrinsecamente interessante, do passado assombrado à postura elegante e confiável.

A temporada chega ao fim com a questão do homicídio em aberto mas sem estarmos fartos, e isso é representativo. Absolutamente recomendado.