segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A boémia que vivemos


Os 20 minutos de recriação integral da performance dos Queen no Live Aid são uma das ideias mais simples e mais felizes que o cinema nos trouxe nos últimos anos.

A antecâmara do filme foi feita de um misto entre a antecipação sufocante, própria da enormidade que era proposta, e o temor por uma romantização demasiado esterilizada do que foram, afinal, os Queen. Talvez nunca saibamos como foram, afinal, os Queen, mas Bohemian Rhapsody é uma oportunidade extraordinária de nos lembrarmos de tudo o que já fomos com eles nalgum momento da nossa vida, como ao ouvir o Don't Stop Me Now nos créditos, e pensar que foi exactamente assim que eu, a Susana e a Andreia nos despedimos da Faculdade, há muito muito tempo, no saudoso anfiteatro de Jornalismo, na Coronel Pacheco.

Não vivemos a mesma vida, nós e o Mercury, mas já vivemos juntos muitas outras, e é essa intemporalidade que o filme nos restitui, numa vertigem do mais puro entretenimento, e do fascínio fulgurante que sempre os acompanhou. Há biografias melhores e piores, mas nunca tinha visto nenhuma com gente a cantar na sala dos 20 aos 60 anos, a reclamar propriedade dos ídolos e do tempo em que havia ídolos, de olhos a sorrirem para o ecrã, tão orgulhosos como se tivessem estado lá, se calhar porque, um dia, já todos estivemos com eles em Wembley, de uma forma ou de outra.

sábado, 10 de novembro de 2018

O casino ganha sempre


Parabéns a quem decidiu que era preciso perder na Choupana para despedir o treinador. Aconteceu o que toda a gente estava a ver que ia acontecer, depois de oito jogos seguidos sem ganhar, que incluiram ser humilhados pelo Guimarães nos Barreiros, ser varridos da Taça da Liga, e não marcar golos a Belenenses, Moreirense e, já agora, a uma equipa alentejana da 3a divisão, que teve de falhar três penalties para perder connosco no desempate. O Cláudio Braga tem a confiança, a coerência e a capacidade técnica de um pré-adolescente: chegou cheio de força, para jogar à holandesa com 4 avançados, e na semana passada perdeu contra o Porto, a jogar com 5 defesas e 3 trincos. Com mais de quatro meses de trabalho vanguardista, somos o pior ataque da liga, mudamos a equipa ao deus dará e não temos a mais ínfima noção do que estamos a fazer em campo. Deve ser uma liberdade à holandesa: não treinar nada durante a semana, tentar descobrir a pólvora com um novo esquema a cada jogo, não preparar o adversário, ter como única estratégia o corpo presente, e ora jogar com 4 avançados, ora jogar com 5 defesas, como a malta jogava em criança no recreio.

Parabéns a quem decidiu que era preciso perder na Choupana para despedir o treinador. A quem decidiu que era preciso nos sujeitarmos a esta espectacular humilhação de ser inferiores ao lanterna vermelha recém-promovido, que era a pior defesa da liga e o pior ataque em casa. Estamos todos muito mais leves agora que, em vez de jogarmos para ganhar, estamos a jogar para ver se o Presidente tem razão. O mesmo Presidente que, em fevereiro, injuriou, sabotou e despediu um treinador que lhe fez 100 pontos em duas épocas, porque ele falava muito. Estamos muito melhores assim, com um treinador de playstation e sem ninguém para levantar a voz a esta mediocridade total. Amanhã despedimos o Cláudio Braga porque ele perdeu na Choupana, não porque toda a gente sabia que ele ia perder na Choupana. Hoje passámos todos esta vergonha, menos o Presidente, que não podia admitir que estava errado até subir a serra. Hoje perdemos nós, mas felizmente há quem nunca perca na roleta. Amanhã é só mais um dia para brincar aos treinadores.