terça-feira, 18 de setembro de 2018

A viagem é a recompensa


Hoje, a tribo Ronaldo preparou-se para a estreia europeia da Juve, com o mesmo entusiasmo e a mesma ilusão da primeira vez.

Naqueles primeiros pontapés em Manchester, sobrava-nos a pureza de não poder perceber a eternidade que estava à nossa frente; hoje, no Mestalla, sobrando-nos a consciência do que é poder ver, provavelmente pela última vez, a eternidade a ficar para trás.

Tantas vidas depois, começámos juntos outra vez, com o mesmo nervo, a mesma expectativa, a mesma vertigem, a mesma comoção. Como se também fôssemos nós a estar à prova, como se também fosse a nossa vez de marcar, e a nossa responsabilidade. Porque era. Porque o legado do Ronaldo é exactamente esse: é toda esta viagem que fizemos juntos, e todas as noites e todos os golos, e todas as pequenas e grandes vitórias que ganhámos juntos, tantas vezes.

Hoje, na enésima vez em que o trataram como se fosse especial, porque ele é, destratando a história e o tempo com um insuportável ajuste de contas, já temos o dever de saber que uma das poucas coisas garantidas na vida, é que o Ronaldo volta, sempre. É essa ressurreição que nos deve confortar, tal como há de confortar quem o quis expulsar hoje.

O que custa não é, por isso, a alma em carne viva por lhe terem roubado este momento; o que custa, a crer, é o privilégio inenarrável que foram estes 15 anos.