quarta-feira, 30 de novembro de 2011

(o fenomenal) The Walking Dead, midseason


The Walking Dead supera as minhas expectativas desde o primeiríssimo dia. Muita gente deve pensar que é uma série de zombies; puro engano. É uma série sobre vida, família, amor e fé, uma série, acima de tudo, sobre instintos, sobre o que nos move quando não temos praticamente mais nada a perder, sobre decisões que não deviam ter de ser tomadas, sobre sacrifício, perda e sobrevivência... que por acaso também tem zombies.

Tem uma variedade de dualidades apaixonantes, de pontos de vista legítimos e completamente diferentes, incentiva à discussão, às vezes quase a que nos questionemos a nós próprios. Tem personagens muito boas, relações riquíssimas, racionalidade e reactividade na acção, arrojo em abordar temáticas difíceis, ou mesmo questões que nem nos passariam pela cabeça: é indiscutível abater mortos-vivos quando eles são todas as pessoas que amávamos, por exemplo?

Depois de uma epidemia de zombies, a série segue a história de um grupo de sobreviventes que se fez à estrada. Rick Grimes (Andrew Lincoln), antigo polícia, é o seu chefe moral. O homem das decisões difíceis, racional, íntegro, capaz de abordar eticamente qualquer disputa, respeitando todos e salvaguardando sempre o grupo. Shane Walsh (Jon Bernthal) é o seu parceiro de sempre, apesar de ser absolutamente diferente. É intempestivo, cru, nada lírico, capaz de sacrificar o que seja e quem seja preciso para proteger os seus. A série vive no limite entre as percepções destes dois enormes protagonistas, que formam ainda um visceral triângulo amoroso. Andrea (Laurie Holden), revoltada com a vida e consumida pelo que o mundo se tornou, e Daryl (Norman Reedus), um solitário agressivo mas de bom fundo, são os secundários mais incontornáveis.

A season 2 chegou esta semana à sua paragem de meio de temporada. Só volta em Fevereiro. Este último episódio foi o melhor "fim" que alguma vez vi numa série. O melhor, sem comparação possível. Intenso, imparável, com doses impróprias de adrenalina e um choque puro. Deu para ficar os 30 segundos que se seguiram a olhar embasbacado para o ecrã preto do computador. Perturbadoramente genial.

Se nunca viram, mesmo que não gostem de zombies ou de ficção científica ou do que seja, dêem-lhe uma oportunidade. Duvido mesmo que se arrependam.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Hiddink e Trapattoni, decadência e intemporalidade


"Giovanni Trapattoni vai renovar o contrato que o liga à selecção irlandesa, nesta semana. O treinador italiano garantiu o apuramento da Irlanda para o Europeu 2012 e agora foi brindado com a prolongação do vínculo até à fase final de qualificação do Mundial 2014, no Brasil."

A decadência é tão amarga na vida como no futebol, com a diferença de que no futebol basta saber sair. O adeus será o momento mais dramático da vida de qualquer protagonista, seja jogador ou treinador. Para os jogadores está mais estilizado, acontece-lhes sempre pela mesma idade; para os treinadores é bem mais difícil, a ausência de uma barreira muda tudo. E é tanto mais irónico porque, ao contrário de um jogador, um treinador pode continuar a ser muito bom sempre. A idade avança, há anos que podem correr mal, mas a carreira de nenhum treinador depende do que as pernas podem correr. Qualquer um pode alimentar a ideia legítima de ainda poder fazer a diferença.

Lembrei-me disto por causa dos play-offs de acesso ao Euro-2012. Das oito selecções, duas lendas emergiam claramente dos bancos: Hiddink e Trapattoni. O tipo de homens que deve inspirar qualquer um em campo só por saber que eles estão lá. Meros 7 anos de diferença, muita coisa ganha entre os dois, mas sortes diferentes desta vez.

Depois das melhores performances da história da Coreia do Sul, da Austrália e da Rússia do pós-União Soviética, Hiddink, o milagreiro das selecções, falhou com a Turquia o apuramento que já falhara com a Rússia há dois anos. Sem aviso prévio, parece ter perdido o mojo algures no caminho, e já se fala numa aventura milionária de pré-reforma no Anzhi. Talvez seja um diagnóstico prematuro, mas Hiddink parece começar a esboçar um adeus às grandes coisas de que fez carreira.

Ao mesmo tempo, e do alto dos seus 72 anos, Trapattoni continua imune ao tempo. A Velha Raposa ganhou o seu primeiro título em 1977, tinha Mourinho 14 anos... E na última década, mesmo na sombra dos grandes palcos, foi campeão em Portugal (interrompendo o hiato benfiquista de 10 anos) e na Áustria. Agora, sem estrelas que se vejam, qualificou a Irlanda para um Europeu 24 anos depois. E é bom lembrar que só não esteve na África do Sul por causa da mão de Henry no Stade de France.

Il Trap é um predestinado, e há qualquer coisa de muito inspirador em vermos uma lenda do jogo parecer intemporal. Melhor é saber que ainda é senhor para ir ao Brasil.

The Ides of March


Bom drama político.

The Ides of March celebra a premissa de que não há fuga possível ao poder que corrompe e, não sendo nenhum groundbreaker, alicerça-se numa trama bem montada, bem realizada e bem interpretada. Stephen Meyers (Gosling) é um talentoso assessor de imprensa de um runner-up do Partido Democrata às Presidenciais americanas (Clooney), homem que segue por pura convicção, acreditando que a mudança que ele materializa é o suficiente para levá-lo à Casa Branca e fazer a diferença. A realidade onde vai mergulhar mostra-lhe, contudo, a crueza e a violência da política, fazendo-o perceber que, num meio onde só se joga sujo, tudo se resume a uma questão de sobrevivência.

A realização de Clooney foi uma boa surpresa. Tem classe e uma certa imponência que a distingue, evitando que passe despercebida, o que proporciona uma mão de sequências realmente boas. Num filme que não vive de uma grande criatividade, é uma clara mais-valia.

Muito interessante também a performance de Gosling. É consistente, cativante e tem uma luz particular. O londrino teve um ano em cheio, de afirmação: pior em Drive, mas muito bem aqui e em Crazy Stupid Love. Com Clooney mais discreto no seu mar de funções (produziu, escreveu, realizou e protagonizou), estão ainda num nível alto dois enormes secundários: Paul Giamatti e Philip Seymour Hoffman respiram carisma, fulgor e experiência, com destaque para o segundo.

Vale o bilhete.

7/10

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

The Tree of Life


Uma obra-prima. The Tree of Life é o melhor filme do ano, um dos filmes da década e seguramente um dos mais incríveis filmes que já vi.

É uma absoluta obra de arte. Vê-lo banaliza de uma forma atroz a esmagadora maioria do resto que vemos em cinema. É de um campeonato tão à parte que diria quase não ter termo de comparação: é um exercício artístico genial, com uma beleza visual e sonora tão arrebatadoras que o tornam praticamente inenarrável.

É supremo. Terrence Malick escreveu e realizou aqui o filme de uma vida. Pela não-linearidade e pelo experimentalismo não é um tipo de obra que me costume cativar, mas em The Tree of Life o fascínio é um dado mais do que adquirido. O argumento, de uma profundidade avassaladora, é ao mesmo tempo incrivelmente subtil, sussurrado. Fazer um filme destes com tão poucas linhas é outro dos toques de génio, porque ninguém se ressente do pouco texto, está tudo lá. Mas é, acima de tudo, uma realização estratosférica, um perfeito rasgo de criatividade difícil de descrever. São mais de 2 horas de um realizador possuído pela inspiração de uma visão, capaz de criar num delírio ilimitado, capaz de canalizar toda a beleza do mundo, dos elementos, do espaço e de tudo o que nos rodeia numa infinidade de planos condenados a deixar-nos boquiabertos.

The Tree of Life é um bocado de vida, um retrato da vida, como se a vida fosse qualquer entidade que podemos agarrar, abrir e explorar. Se pudéssemos filmar a vida, filmar as suas facetas, The Tree of Life seria esse filme. A primeira hora - sobre as origens do mundo - é de pura abstracção, quase nem diálogo tem; depois fala-se de amor, família, fé, perda e morte, das experiências que fazem de nós o que somos e, acima de tudo, do que é crescer, através das memórias de infância de um homem de meia-idade. Brad Pitt está muito bem numa figura venerável de pai autoritário, Jessica Chastain tem uma delicadeza de presença que assenta no papel, mas é incontornável que este não é um filme de performances individuais, mas um show de criação e de realização.

Como se não bastasse, tem pura e simplesmente a melhor banda sonora que alguma vez ouvi, da autoria de Alexandre Desplat. Um arraso autêntico, num registo clássico monumental, presente de forma constante em pelo menos 2/3 do filme.

The Tree of Life é majestoso. Já ganhou a Palma de Ouro, merece muito mais, mas merece sobretudo ser visto. Para um filme destes os prémios são só uma formalidade: o que não pode deixar de ter é a oportunidade de nos arrebatar a todos.

9/10

domingo, 27 de novembro de 2011

Derby, digno desse nome


O toque do Benfica contra a reactividade do Sporting, muitas bolas de golo para ambos os lados, um jogo que poderia ter caído para qualquer dos dois. Diz-se dos derbies muitas vezes que tendem a ser feios, tácticos, amarrados; o Benfica-Sporting, pelo menos, foi uma apologia de bom futebol e de espectáculo, e faz muito mais sentido quando é assim.

Do Benfica destacar Artur, Maxi, Witsel mas, acima de todos, Aimar. É um sobredotado, um génio à solta. Aos 32 anos, e num ocaso muitíssimo maior do que merecia, continua a ser um dos jogadores com mais classe da Europa. Vê-lo a abrir um jogo com a exigência do de ontem, a seu bel-prazer, valeria por si só o bilhete.

No Sporting houve Patrício, Elias e um puto-maravilha que tem de ser titular: o pique, a explosão e a maneira como torna a progressão e a finta tão fáceis não enganam em relação a Carrillo. Por 1,25M€ foi um dos melhores negócios da história leonina.

O Sporting provou ter a melhor equipa do clube em muitos anos, e não merecia ter perdido; mas no futebol mérito vale tanto quanto experiência, e no fim valeu a maioridade do Benfica, capaz de gelar o jogo no limite da perfeição quando teve de o fazer. Não há dúvidas de que Domingos está no bom caminho; mas há coisas que só vêm com o tempo.


P.S. 1 - A expulsão de Cardozo é uma aberração. Um árbitro que desfaz um derby por causa de um protesto nem sequer espalhafatoso não percebe nada de futebol.

P.S. 2 - É pena que "a Luz a arder" tenha engolido um jogo que teve tudo para ser um orgulhoso cartaz do futebol português. Não perco tempo com isso, mas fica a nota de que a culpa não é nem da Juve Leo nem dos No Name: a culpa é da classe dirigente que instiga sucessivamente comportamentos como este com as suas acções tristes.

O melhor empate da minha vida


Maritimistas não festejam empates com o nacional, porque empatar com o nacional é sempre uma derrota, seja em que cenário for. Ontem estava escrito que íamos ganhar na choupana pela primeira vez sem eu estar na bancada: com 14 anos estive lá com mestre Cajuda no banco e o golo de Alan; em 2007, no meio da neblina gelada, vi Lazaroni ser grande e Makukula ser ainda maior. Este Marítimo merecia esse rol, e o Baba fez questão de abrir o caminho para a galeria de ilustres. Estava escrito. Acontece que o futebol é uma merda tramada; e o excesso de vontade de um lateral que andou comigo no Liceu, um amigo de grandes amigos meus, custou uma segunda-parte a jogar em inferioridade e uma impensável reviravolta. Mas o futebol é uma merda tramada; e ao fim de quase uma hora de sofrimento a jogar um derby fora de casa com 10, e depois de ter levado o 2-1 ao minuto 89!, um milagre emergiu do mais puro vazio: o pior árbitro português marcou-nos um penalty ao minuto... 95.

Todas as regras têm excepções. Ontem, afogueado, agoniado e a tremer enquanto o Heldon respirava fundo antes de partir para a bola, eu descobri a minha.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Depois desta ainda gosto mais de ti pá


"Fiz a minha votação porque sou obrigado, não porque tenha um gosto especial em fazê-lo. É algo que não deviam ser os seleccionadores a fazer, muito menos o que se fez agora, de seleccionadores poderem votar em jogadores que são seus. Quem escolhe 10 treinadores para depois se escolher três, e 25 jogadores para depois se escolher igualmente três, também podia escolher esses três."

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Kung Fu Panda 2


Muito pobre.

Depois de ter ido aos Óscares do ano passado com o melhor filme que já fez (How to train your Dragon), a Dreamworks voltou a perder a mão. Kung Fu Panda 2 é só um filme de encomenda, com muita confusão, muito espalhafato, muita acção e muita palhaçada, mas pouco sumo. Foram-se desencantar as misteriosas origens de Po e, apesar dessa linha ser a única coisa razoável do filme, ela própria deixa a desejar, fazendo dele quase um Harry Potter. Visualmente o filme ainda por cima é pesado e, no essencial, tenta fundir duas dimensões inconciliáveis: pretende que se leve a sério a descoberta de respostas como "quem sou?" ou "de onde vim?", mas em circunstância alguma deixa de asneirar, cortando um momento atrás do outro.

Em ano de sequelas, a Pixar vai na frente... como sempre.

5/10

"A portuguesa mais bonita de sempre"


Pela primeira vez uma portuguesa nas 10 finalistas da Miss Universo. Filha de venezuelanos e... neta de madeirenses. Trabalho engraçado do Público.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Dá graças pelo Hulk, Vítor


Jogo absolutamente atípico em Donetsk. O Porto em crise, vindo de uma eliminação humilhante, a entrar em campo sem ponta-de-lança, mais Djalma e Maicon; o Shakhtar em casa, com uma oportunidade única para potenciar o talento a rodos que tem no plantel e safar a continuidade na Europa. O 0-2 final não é resultado de uma transformação do Porto nem nada que se pareça; a equipa foi só esforçada quase a tempo inteiro, continua sem ter colectivo e as opções de Vítor Pereira foram novamente discutíveis. Mas o Porto teve o mérito de nunca ser inferior e, mesmo com as duas bolas aos postes de Helton, manter a compostura para agarrar a felicidade que teve depois.

E se o fez, foi devido a Hulk, acima de todos. O Incrível foi tudo o que o Porto precisava e, mesmo abandonado na posição 9, inventou praticamente todos os lances de perigo da equipa. Mereceu absolutamente o golo. Com muita gente num momento difícil, de Hulk pelo menos não se pode dizer que tenha deixado de ser a candeia que alumia o caminho, a referência que, mesmo quando tudo corre mal, continua a poder mudar a sorte de qualquer jogo. Também Álvaro foi enorme, e não sabe ser de outra maneira. Cala em todos os jogos quem diz que é um dos líderes da rebelião do balneário.

Nos próximos dois jogos o Porto tem possibilidade de ser líder isolado da Liga e até de ganhar o seu grupo da Champions. Custa-me, no entanto, a crer que esta vitória em Donetsk tenha mudado alguma coisa. Vítor Pereira perdeu a equipa há muito, e a experiência diz que esse é quase sempre um caminho sem retorno.

"1 deputado do PSD pode votar por 25 na Madeira"


"Que o partido do Alberto João tem um entendimento peculiar da democracia, já sabíamos. Que a população se está a borrifar para esse entendimento ou qualquer outro, desde que dê túneis e subsídios, também sabíamos. Agora, que democracia é um deputado votar por todos, ainda não sabíamos. Lá se vai, de uma assentada, o conceito de representatividade por listas eleitas, o conceito de fiscalização por heterogeneidade, o voto de consciência, a liberdade de voto, a diversidade de ideias e argumentos, a necessidade de debate."
Pedro Correia, no Aventar

"Alberto João Jardim e os esbirros adjacentes escavaram mais um bocado do buraco onde, há muito, enterraram a Democracia na Madeira: agora, um deputado pode corresponder a todos os votos de uma bancada, o que, se não for inconstitucional, andará lá perto. (...) Esta decisão vai permitir que os deputados da maioria se possam dedicar, calmamente, aos negócios que fazem à sombra dos dinheiros regionais. Num futuro próximo, nem será permitida a entrada de deputados da oposição e faltará pouco para que se acabe com as eleições, essa maçada."
António Fernando Nabais, idem

Parabéns a todos os que votaram nele. Devem estar mesmo orgulhosos agora. Somos uma nova Atenas, com a diferença de que parimos conceitos de Democracia muito melhores. Pensávamos que já era degradante que a nossa Assembleia fosse um circo onde a bancada maioritária faz chacota e reprime a da oposição, onde não há uma lei de incompatibilidades ou onde o chefe de governo se recusa terminantemente a dar explicações há décadas; afinal não sabíamos nada, que meninos. Agora é possível que numa sessão da Assembleia em que estejam presentes 1 deputado do PSD e os 23 da oposição, seja esse ÚNICO deputado do PSD a determinar o resultado de uma qualquer moção.

Já sabíamos que debater nunca foi o forte do PSD; então para quê esconder?? Agora, além de Jardim, 96% dos deputados da bancada parlamentar, pagos para serem deputados - esse pormenor -, têm liberdade para ir fazer qualquer coisa de útil da vida, sem terem de se preocupar com essas chatices da Democracia. Basta ter lá um meirinho a tempo inteiro.

Se havia uma réstia de vergonha na cara, foi-se. Mas para quê ainda preocupar-se com isto? A maioria dos madeirenses aplaude e a República vai lembrar o respeito pela Autonomia, enquanto, mais ou menos às claras, vai-lhe perdoar a dívida toda outra vez. E dar-lhe mais uns trocos para gastar, claro, seguidos de um terno cafuné. Tudo vai bem no reino da Dinamarca.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Eu show Nani


Grande noite europeia do Benfica. Houve qualidade, maturidade e, acima de tudo, o equilíbrio das grandes equipas, coroado com um apuramento notável no Teatro dos Sonhos. Ainda assim, o homem do jogo foi quem cresceu ao ponto de ser hoje, a par de David Silva, o melhor jogador da Premier League. Que espectáculo, Nani!

Cars 2


Cars não é um dos meus favoritos da Pixar, pelo que as expectativas para a sequela não eram grandes. Facto é que foi uma bela surpresa. Entenda-se que não é da craveira do que se fez nos últimos 5 anos (Up!, Wall-E e Ratatouille à cabeça), mas quando a Pixar vai a jogo com o seu avassalador portefólio estético, é difícil que o resultado não seja bom. Em Cars 2, com mais ou menos profundidade na história, a riqueza visual pelo menos não se discute: há um manancial de lugares e cenários e cidades tão vivo e deslumbrante que nos faz babar como se fôssemos uma criança de 5 anos.

Depois o filme tem ângulo. Já vimos, de facto, a história do "herói improvável" muitas vezes, mas a verdade é que Cars 2 foi inteligente o suficiente para ter uma identidade, quando o mais fácil seria recriar de alguma maneira a figura de um protagonista tão evidente como Lightning McQueen. A narrativa à la James Bond também funciona surpreendentemente bem - com um boneco colossal trazido à vida pela voz de Sir Michael Caine! -, e a exaltação da amizade e da riqueza da individualidade compõem, ao fim de contas, um filme com nota claramente positiva.

Para já está entre os 18 pré-nomeados da Academia a melhor Animação do ano. Espero vê-lo na lista final.

7/10


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Caballo ganador


A lenda das segundas épocas de Mourinho cresce todos os dias.

Ontem, na segunda saída mais difícil da época, o Madrid mostrou que vai ser preciso muito para quebrar a equipa desta vez. Como acontece quase sempre que os grandes vão ao Mestalla houve um jogaço e, apesar de o Real ter agarrado a partida durante os primeiros 60 minutos, a última meia-hora foi um inferno vivo, com os che a venderem muito cara a derrota. Em Valência joga-se um dos melhores futebóis da Europa: rápido, vivo, ao primeiro toque, lembra-me sempre o da Alemanha de Löw. Emery é um treinador de grandíssimo nível e ir ao Mestalla é sempre uma violência, que o diga o Barça.

Mas o Real passou porque, à parte a maturidade competitiva, a capacidade de sofrimento e a definição extraordinária de Benzema ou Ronaldo, teve estrelinha. Não foi sorte, porque fez por merecer a vitória; foi daquelas coisas que não se explicam, o fruto de um estado mental fortíssimo, que às vezes parece pôr a vitória a salvo incondicionalmente.

Com o triunfo, Mourinho bateu o recorde de vitórias seguidas da carreira, igualou o de Guardiola e tornou-se no treinador com melhor média de pontos da história do clube. Hoje, parece que o Real pode tudo. Daqui a três semanas descobriremos se tudo é suficiente.

domingo, 20 de novembro de 2011

A inelutável ingratidão do futebol


Este Chelsea é uma equipa que se gosta de ver jogar. Futebol apoiado, técnico, uma ideia em campo, que se traduz num jogo positivo, atraente, com bolas mais do que suficientes para ganhar praticamente todas as semanas. Como na maior parte dos casos, no entanto, há outras coisas que só vão ao seu sítio com tempo ou com um contexto favorável. A disponibilidade mental, a capacidade de encaixe e de sacrifício, e a cultura de vitória são algumas. Noutro contexto, e com o que é capaz de jogar, este Chelsea teria sempre ganho hoje ao Liverpool, e estaria taco a taco na luta pela liderança. Contudo, depois de 2 derrotas nos últimos 3 jogos, e com a pressão de ver Manchester cada vez mais ao fundo no horizonte, correu tudo tão mal quanto poderia, com o balde de gelo a cair inclusive a três minutos do fim...

Infelizmente para Villas-Boas e para o Chelsea não existe tempo na Premier League mais exigente do pós-Mourinho. Ferguson lidera o United há um quarto de século, Mancini precisou de três anos para fazer do City um candidato ao título. A Villas-Boas exigia-se compostura e andamento num par de meses, e ainda por cima apanhou pela frente nada menos do que duas trituradoras made in Manchester.

Com a derrota de hoje é preciso mais do que um milagre para o Chelsea ser campeão. Abramovich queria o toque de Midas de um novo Mourinho, porque é assim que o russo funciona, mas Mourinho só há um; o que não invalida que AVB seja, de facto, um excelente treinador. Acredito que se Abramovich lhe der a oportunidade não se irá arrepender; mas Villas-Boas sabia ao que ia e sabia que no Chelsea, acima de todos, não teria tempo. Não foi feliz.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Prémio Puskas

Há monumentos de Messi, Neymar, Ibra e Rooney, mas para mim o golo do ano é de um portento mexicano a quem o destino tem roubado a carreira que merecia: Giovanni dos Santos, na final da Gold Cup.



Votar aqui.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

The Adjustment Bureau


Ficção científica da fraquinha.

The Adjustment Bureau especula com a pré-determinação do destino humano, concebendo uma realidade onde, inconscientemente, as pessoas estão obrigadas a respeitar um plano específico para as suas vidas. Para garantir que estas o cumprem, existe um séquito de meio-anjos-meio-humanos às ordens do Criador, que "ajusta" o dia-a-dia dos indivíduos. Como é bom de ver, nada como um romance proibido para dar uma cambalhota na coisa.

O filme é francamente pobre, mal feito e até inestético. Durante quase todo o tempo as coisas têm de ser de uma maneira porque sim, se não vai correr tudo mal porque sim, para no fim a bottom line estar ao nível de uma qualquer frase motivacional rasca da internet.

A única coisa verdadeiramente interessante é a performance da deslumbrante Emily Blunt.

5/10

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Killer Elite


Uma bagunça.

Acabamos o filme sem compreender a razão de partes substanciais da acção e o argumento parece um monte de blocos independentes metidos num saco, sem ponta de coesão. E ainda usa e abusa de clichés, sendo o assassino que "quer sair" mas o sistema não deixa obviamente o maior de todos.

Statham, Clive Owen e De Niro até nem passam vergonhas, e existem sequências de acção razoáveis, mas o facto da trama ser só uma grande papa contamina todo o resto.

5/10

A cara diz tudo

Mais do que qualquer outro, merecias uma noite destas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Hasta la vista, babies


Um Ronaldo enorme a mostrar o caminho. Mais o foguetão do Nani, os pezinhos do Moutinho, o bis sofrido do Postiga, a raça do Meireles, a melhor jogatana de sempre do Veloso, mais o Super-Pepe. Levamos com a horta, as provocações todas, e ainda sofremos hoje, mas tamanha qualidade não podia ficar fora de um Campeonato da Europa.

Acima de tudo, dar os parabéns ao Paulo Bento. Pegou num grupo todo comido pela pequenez e incompetência de outro, fez 7 vitórias em 9 jogos e levou-nos ao nosso lugar. Mais os 4-0 à Espanha. Com empatia, brilhantismo e alegria. Nos dias em que andamos na fossa, ao menos olhamos para eles e sentimo-nos dos melhores do mundo.

Euro, cá vamos nós outra vez.

Eusébio calado é poeta


"Alan é estúpido. Veio queixar-se que Javi chamou-o de preto. Ele é preto e devia ficar ofendido se o chamassem de branco. Além disso, ele até pode estar a inventar, só lá estavam os dois."

Até custa a crer que mais de uma semana depois Eusébio lembrou-se de vir falar, ainda por cima para dizer uma merda destas. Realmente não vale a pena dar às declarações importância que elas não têm - e Eusébio faz exactamente o contrário com o que diz... -, até porque toda a gente sabe que é o tipo de coisa banal dentro de um campo de futebol, na esmagadora maioria dos casos com o mero intuito de provocar. Agora Alan tem todo o direito de se sentir como bem entender e de o denunciar; já Eusébio não é ninguém para vir ofendê-lo na praça pública, e foi grosseiro e deplorável ao dizer coisas como "ofender era chamá-lo de branco" ou "se calhar até está a inventar".

Eusébio falou a pedido e fez uma figura absolutamente triste. Apesar de ser o Benfica quem lhe paga o salário, era de esperar que alguém admirado por toda a nação às vezes tivesse a decência de não vestir a camisola.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

«Espero que queiram que fique»


É provavelmente o mais extraordinário jogador que vi actuar em Portugal nestes anos todos. É sequer possível alguém não querer que Aimar continue por cá?

Crazy Stupid Love


Excelente.

Crazy Stupid Love é tanto comédia, como drama, como romance. É cada um deles separadamente, às vezes ao mesmo tempo, mas sempre bem. Como comédia é de um bom-humor extraordinariamente fresco: rouba-nos gargalhadas verdadeiras em situações não propícias, cada vez mais um luxo; como drama é genuíno para com a vida de um quarentão numa crise de meia idade, com as coisas que perdeu algures no caminho e com outras que acredita nunca poder vir a aceitar; e é finalmente um romance notável, bem explorado nas suas diversas facetas, puro e intenso, com um texto absolutamente rico a suportá-lo. O filme consegue ser cativante de fio a pavio, abordando a relação homem-mulher e, sobretudo, o amor: o primeiro, o verdadeiro, o recriado e os outros todos. E a sua maior qualidade é nunca se acomodar: a acção é recheada de desenlaces inesperados que condimentam a história e lhe dão uma cadência fantástica.

Carell está estupendo. É provavelmente o melhor papel que já o vi fazer. A sua piada natural define-o sempre, mas aqui é mais um recurso extra num homem introspectivo, seguro de si e verdadeiramente apaixonado. Gosling está bastante bem, sobretudo na fase hot guy from the bar. É extrovertido, impõe presença e sai-se bem fora da sua zona de conforto. Emma Stone, mesmo sem muita margem de manobra, sobressai sempre. Com aquela cara e tamanha personalidade chegará onde quiser.

O final, tanto da acção principal como das secundárias, não é imprevisível, mas também não é banal. Percebemos que não está lá só porque sim, e isso faz toda a diferença. Crazy Stupid Love é um dos filmes mais interessantes do ano e um absoluto recomendado.

8/10

domingo, 13 de novembro de 2011

Provavelmente a comédia do ano


Um dos achados de 2011.

The Guard é uma comédia negra focada no inortodoxo chefe da polícia de uma pequena vila irlandesa, que, juntamente com um agente do FBI destacado para o efeito, terá de resolver um caso graúdo de tráfico de droga.

Ao bom estilo britânico, é um verdadeiro must. Exala em todos os momentos aquele humor rude, agressivo e irresistível, é requintado na exploração das personagens, é sempre engraçado e criativo na recriação do senso comum e no exagero, e ainda por cima é magistralmente acabado. Brendan Gleeson carrega o filme com o seu farto carisma, dá vida ao grande texto que teve e, num fato absolutamente à sua medida, saca uma performance de todo o tamanho. Tanto pelo perfil ácido, pelas piadas que não se podem fazer e pela sua maneira de estar, como também num plano mais sentido e pessoal depois. Se houver justiça, Gleeson vai pelo menos aos Globos este ano.

Don Cheadle consegue ter uma presença muito interessante como secundário, numa excelente gestão da necessidade de ser racional, e Mark Strong nasceu para ser o bad guy, é todo ele um figurão nestas coisas. Note-se ainda a grande banda sonora que também compõe este prato cheio.

John Michael McDonagh não realizava há dez anos nem escrevia há oito, mas um regresso deve ser isto. Aliás, está na família, porque Martin, o irmão mais velho, foi o realizador-argumentista de outra pérola chamada In Bruges (também com Brendan Gleeson). The Guard já é o filme independente irlandês mais bem sucedido de sempre nas bilheteiras e merece o reconhecimento internacional: dificilmente haverá melhor comédia este ano.

8/10

sábado, 12 de novembro de 2011

Já devíamos estar fartos de ser os porcos

roubado ao Arrastão

"Ao aventar a hipótese de referendo Papandreous desencadeou um outro escrutínio: "A construção europeia tem algum pingo de respeito pela democracia?" À falta de referendo tivemos, pois, uma significativa eurosondagem em que o não à democracia demarcou com maior nitidez as fronteiras do seu império. No ostensivo esmagamento perpetrado pelo "Não ao referendo" está a dádiva de limpidez de Papandreous para toda uma geração de europeus."
Bruno Sena Martins, idem

"Perante o ato normal em qualquer democracia - referendar a perda de soberania e decisões com repercussões para gerações de cidadãos -, Sarkozy e Merkel falam com um Estado soberano como nunca aceitariam que algum estadista alguma vez se dirigisse a eles próprios. (...) A pergunta que sobra é esta: quem, mal saia desta crise, quererá ficar na União Europeia e ter de prestar vassalagem a alemães e franceses?"
Daniel Oliveira, também

A maneira como foi tratada a questão do referendo na Grécia foi a gota de água na casa dos horrores em que a Europa se tornou. 27 países, um mercado de 500 milhões de pessoas, uma moeda comum, mas franceses e alemães decidiram que a Democracia já não mora aqui.

Temos assistido nas últimas semanas, ainda por cima na condição de PIIGS, a dois chefes de estado não eleitos no âmbito da União a decidirem a solo o futuro de gerações de europeus, à boa maneira imperial. Mandam e desmandam, ordenam e até já ameaçam, única e exclusivamente na base do seu poderio. Todos os dias a Europa perde o respeito por si própria, por toda a sua tradição democrática e por todas as suas conquistas sociais do pós-Guerra. Todos os dias os países periféricos são humilhados porque alemães e franceses querem garantir que, antes de qualquer solução eventual, seremos chulados até ao tutano. Ignorando que a economia deles depende da nossa, e que a crise é tanto culpa deles como nossa, ou não tivessem sido eles os primeiros a desrespeitar o limite dos défices, ou não estivessem eles a congelar a renegociação da nossa dívida e a intervenção a sério do Banco Central Europeu.

E tudo isto até poderia ser distantemente suportável não fosse a sobranceria. Merkel e Sarkozy não foram eleitos por 500 milhões de europeus, não podem mandar em 500 milhões de europeus e, acima de tudo, não podem falar a 500 milhões de europeus como falaram com a Grécia. À mera possibilidade de um referendo, o eixo franco-alemão respondeu aos gregos com a porta da rua. Pois se calhar está mesmo na hora. Já é altura de mostrar a esses ditadorzinhos xenófobos de merda que o tempo de brincar aos Impérios acabou. Se é para isto pois que fiquem sozinhos, a ver qual é a solução das suas indústrias para o fim do mercado único que as tem feito viver estes anos todos.

Se dizer merda pagasse imposto,

Porra Otelo, estavas mais endividado do que o país.


"Não gosto de militares fardados a manifestarem-se na rua. Os militares têm um poder e não é em manifestações colectivas que devem exigir coisas. Para mim, ultrapassados os limites, a manifestação dos militares deve ser fazer uma operação militar e derrubar o Governo."

A origem dos macacos


Muito fraco.

Rise of the Planet of the Apes amassa grandes efeitos visuais, muita animação computorizada e uma boa banda sonora, mas a nível de história é um zero rotundo.

É absolutamente banal, linear e previsível. Sem uma rigorosa ponta de criatividade, não há um único desfecho surpreendente. É um argumento pura e simplesmente tarefeiro, escrito de olhos fechados para fazer um blockbuster de Verão e render uns trocos.

Certamente das coisas mais pobres que vi e vou ver este ano.

5/10

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Na Luz nem vão saber de que terra são


Um gigante.

Não houve Bósnia durante 2/3 do jogo em boa parte por culpa de Pepe, e quando houve ele resolveu. Um universo de diferença para o Rolando dos dois últimos jogos.

Os bósnios foram uma nulidade até lá terem ido em força no final, e Portugal teve tudo para pôr uma pedra no play-off, mas não foi feliz. Postiga falhou de baliza aberta e o pelado roubou um golo a Ronaldo, como tanto queriam, ainda que por ironia do destino também tenha acabado por levar outro a Ibisevic. No essencial, a Selecção sai de Zenica com um resultado bom e, sobretudo, com a certeza de que só uma catástrofe poderá causar a eliminação em Lisboa.

Relvado? Mas qual relvado?


Absolutamente inadmissível que hoje se vá jogar um play-off de qualificação para uma competição continental neste verdadeiro batatal. Pior, em campo estará uma selecção do top 10 da FIFA e uma mão de jogadores dos principais clubes do mundo, pagos a peso de ouro. A UEFA pegou na balança e achou que mais valia calar perante a extravagância dos bósnios, que quiseram jogar em Zenica para terem o ambiente mais infernal possível. Aparentemente não interessa que seja quase impossível jogar futebol neste campo minado terceiro-mundista; mais curioso será saber quais as consequências de ter Ronaldo, Nani ou Dzeko no estaleiro à conta desta brincadeira.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sentir o pulso à temporada


South Pacific é o melhor Survivor desde Heroes vs. Villains, e seguramente um dos melhores de sempre até agora. Voltou a adrenalina, a vontade de ir ver mal saia.

The Walking Dead acumula laivos de génio.

Boardwalk Empire recriou-se com a classe de sempre, mas tem de evoluir com ousadia.

The Big Bang Theory está no auge, é a coqueluche das comédias.

Modern Family continua bem. Mas também continua a faltar-lhe um je ne sais quoi.

How I Met Your Mother já não mascara a decadência que se começou a adivinhar durante a última temporada.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O caso Bosingwa...


1. Bosingwa é realmente o melhor lateral-direito português da actualidade e normalmente seria não só convocado como titular na Selecção Nacional.

2. Até esclarecimento em contrário, o jogador foi riscado da lista de seleccionáveis por pura implicação de Paulo Bento, que tem realmente um certo histórico de casos com jogadores.

3. Até esclarecimento em contrário, e opostamente ao que sucedeu com Ricardo Carvalho, parece-me que Paulo Bento está a ser injusto e a privar a equipa de um recurso importante.

4. Apesar de tudo isso, em circunstância alguma Bosingwa tem legitimidade para vir dizer o que disse hoje. O seleccionador escolhe quem quiser, segundo os critérios que bem entender, e se Bosingwa não calça tem mas é de estar calado e continuar a trabalhar. A única consequência do que disse é manchar uma ficha que era efectivamente exemplar até agora. Simples quanto isso.

Os sindicatos podem parar o país, nós devíamos poder parar os sindicatos


"No dia em que ficámos a saber que os transportes do Porto e de Lisboa têm um buraco equivalente a duas ou três Madeiras, os sindicatos optaram por uma demonstração de força. O timing não podia ser melhor. A demonstração de irrealismo não podia ser maior."
Henrique Raposo, no Expresso

"Repito: nas actuais circunstâncias, que qualquer classe bafejada com empregos vitalícios, independentes de mérito, eficácia ou rentabilidade, faça uma greve parece-me uma aviltante afronta para com os que a custo lutam pela sobrevivência. Uma imoralidade patrocinada pelos sindicatos que hoje se tornaram em forças cegas de conservadorismo na defesa dos interesses e privilégios de meia dúzia de castas e corporações."
João Távora, no Corta-Fitas

Gente mal tratada, sem dúvida. Maquinistas a ganhar 50 mil euros/ano, secretárias a ganhar 65 mil!, 30 dias úteis de férias, absentismo 5 ou 6 vezes superior ao normal, médias de 4 horas de trabalho diárias e o melhor de todos: subsídio por assiduidade! Depois o buraco é de 10 mil milhões, alguém vai ter de pagar, mas estão lá os sindicatos para garantir que não são eles. E pára-se o país, uma coisa sempre gira de fazer quanto mais vezes melhor neste momento de prosperidade.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

É verde-rubro o sonho


Não é todos os dias que se é a equipa-sensação da Liga.

Este ano então é quase como andar sobre as nuvens. Disse, mais do que uma vez, que este era um dos piores plantéis do Marítimo que me lembrava de ver, e estava absolutamente consciencializado para uma época de sacrifício e sofrimento. A equipa passou ao lado da última Liga, ficando na segunda metade da tabela e, como se não bastasse, perdeu 5 titulares, entre eles Boeck, Djalma e Kléber, os melhores do plantel. Em crise financeira, o orçamento foi reduzido num terço e a capacidade negocial esfumou-se. Sem dinheiro e com a habitual dificuldade em mover-se no mercado, Carlos Pereira deu uma verdadeira salva de tiros nos pés, novela que teve o seu auge às portas do início do campeonato, com a dispensa de três "reforços".

No onze que começou a Liga, e que se sedimentou até agora, não há ninguém estranho à casa. Olberdam é o único "reforço", mas só porque estava emprestado. Jogam 5 titulares do ano passado, 3 dos suplentes e 2 miúdos desse projecto excelente que tem sido a equipa B. No ano passado, por esta altura, estávamos em 13º, com 1 vitória em 10 jogos... e um plantel indiscutivelmente mais rico. Hoje estamos isolados em 4º e acabámos de bater o recorde do clube de jogos oficiais seguidos sem perder (10), depois de uma razia e sem um único reforço. Mais do que isso, a equipa joga um futebol farto e contagiante, tem uma confiança e uma saúde incríveis, e parece imparável nos dias que correm.

Num grupo extraordinariamente humilde e solidário, há o virtuosismo do tropical trio de ataque (Sami, Danilo e Baba, um guineense, um brasileiro e um senegalês), e os golos deste último claro, o único anel que sobrou. Mas os louros são forçosamente de um homem em particular: Pedro Martins.

Resgatado à equipa B no início da época passada, e sem experiência prévia de relevo, o antigo médio do Sporting teve um ano difícil. Um bom plantel sim, mas que era ao mesmo tempo uma bomba-relógio, especialmente pela corte do Porto às duas estrelas da equipa, que teve efeitos desastrosos no balneário e no campo. Percebia-se o futebol positivo, os bons princípios, mas era complicado saber se Pedro Martins poderia mesmo fazer a diferença. Em ano de austeridade, ficou. E inventou um equipão do nada.

Ninguém dava nada por este Marítimo. O treinador não era consagrado, os jogadores foram só o grupo possível, mas hoje, em campo, parecem uns campeões. Este Marítimo joga para ganhar em todo o lado, tem fome de bola e gosta de levar tudo à frente. Ao mesmo tempo é uma equipa unida e solidária, que sabe sofrer, e que assenta numa prodigiosa capacidade de superação.

Os jogadores desfazem-se em elogios a Pedro Martins - Danilo, Baba, Olberdam - e, nós, de fora, rebentamos de orgulho. Esta equipa é um exemplo. É a prova de que é sempre possível, e de que toda a gente pode conseguir. Durante a nossa História tivemos de lutar contra todo o tipo de estigmas. E chegámos ao campeonato nacional, à final da Taça e à Europa, e afirmámo-nos como clube de referência no país. Hoje, sem estrelas, sem dinheiro e sem esperança, voltámos à nossa essência. Voltámos a lutar, e estamos a conseguir.

Este é o meu Marítimo. Quem é um de um grande nunca vai perceber o gozo que isto dá.

Um homem singular


Costuma dizer-se que os homens passam mas os clubes ficam. Com o United não será obviamente a mesma coisa. Nos dias de hoje ficar 10 anos no banco do mesmo clube seria sensacional; num dos maiores do mundo, metade disso já o seria. Sir Alex Ferguson está há um quarto de século num dos verdadeiros gigantes.

Poderia descrevê-lo de muitas maneiras. 12 vezes campeão inglês, bicampeão europeu (com mais duas finais perdidas), fez o United ultrapassar o mítico Liverpool como clube inglês mais titulado de sempre, e tornou-se no treinador britânico mais bem sucedido da História. Pelo meio foi o verdadeiro criador de alguns dos mais notáveis futebolistas mundiais dos últimos 25 anos: Beckham, Scholes, Giggs e, claro, Ronaldo. Mais o que fez de Cantona, Van Nistelrooy, Rooney, Roy Keane, Rio Ferdinand, Vidic, Evra, Schmeichel, Andy Cole ou Dwight Yorke.

Em todo este tempo teve a lucidez de nunca se acomodar, a inteligência de aprender com os erros e querer sempre mudar para melhor. Não ganhou nada nos primeiros sete anos em que esteve no banco, ganhou um único título entre 2001 e 2006, no auge de Wenger e Mourinho. Mas recriou-se uma e outra vez, e voltou a ganhar.

A unanimidade esmagadora de que goza fala por si, mas o que sempre me impressionou mais em Fergie foi o entusiasmo. O jeito incontido e contagiante como vive todos os jogos do United, ali a cheirar a relva, à boa maneira britânica. À beira dos 70 anos ainda tem as ganas de um miúdo. É o futebol em estado puro, tudo o que ele devia ser.

Ainda assim o maior elogio que lhe posso fazer é tão simplesmente constatar o que ainda vale. Ganhou 4 das últimas 5 Premier Leagues, esteve em 3 das últimas 4 finais da Liga dos Campeões. Um quarto de século depois continua a fazer parte da selecta lista dos 3 ou 4 melhores treinadores do mundo.

É por isso que não percebo tamanha insistência em especular sobre a sua sucessão. Se olhas para Ferguson e pensas que ele não vai treinar o United para sempre, então não percebes nada de futebol.

domingo, 6 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Não tens tomates, borras-te com Mourinho"

pretty much it.

A neverending story da Bola de Ouro


Nunca deve ter havido uma lista de candidatos a Melhor do Mundo que não tivesse um bom terço de nomes a não fazerem sentido nenhum. Obviamente não está em causa a qualidade, mas no prémio individual mais significativo do futebol mundial devia ter de haver um bocadinho mais de tacto e de critério. Evitar, acima de tudo, espetar de cruz um mero monte de nomes graúdos, em prejuízo de quem efectivamente esteve em evidência pela performance pessoal e colectiva. Pela tradição da FIFA, parte determinante dos votos pertencem a seleccionadores e capitães nacionais, e não deviam. É que se é para ser um voto associativo, se calhar não faz muito sentido darem-se ao trabalho de fazer uma lista com 23 nomes.

Por exemplo, cabe na cabeça que estejam Piqué e Abidal, que passaram boa parte da época lesionados (e o francês nem titular era!), e que no próprio Barça fique de fora Pedrito Rodríguez?

O Real não ganhou nada mas inclui 5 jogadores, ao passo que o United, campeão inglês e vice-campeão europeu, mete 2? O Bayern põe 2 jogadores... e acabou o campeonato alemão em terceiro; o Borussia foi um campeão total e o Schalke chegou às meias-finais da Liga dos Campeões, mas nem 1...

Benzema passou meia temporada como caso perdido e Etoo esteve num Inter que passou ao lado da época, reformando-se da alta competição no Verão, mas são mais elegíveis do que Chicharrito e Cavani, os avançados-revelação do ano? Do que Falcão, que ganhou uma Liga Europa quase sozinho e estabeleceu um novo recorde de golos em provas da UEFA? Do que Mario Goméz, que marcou 30 golos na Bundesliga e mais uma mão deles na qualificação para o Euro? Até do que Ibrahimovic e Alexandre Pato, figuras maiores do Milan campeão italiano?

Até admito que Xabi Alonso esteja na lista, mas nunca em prejuízo de David Silva, o génio por detrás de um City que tudo o que fez foi crescer no último ano. E comparando com Fàbregas até dói: o filho pródigo da Catalunha deve ter vindo da época mais pobre da carreira. E mesmo assim...

Do meio-campo, além de Fàbregas, estão Schweinsteiger, Müller e a sombra do Sneijder que foi o Bola de Ouro moral do ano passado. Mas não cabem Nuri Sahin ou Eden Hazard, melhores jogadores da Bundesliga e da Ligue 1, respectivamente, dois miúdos endeusados em todo o lado.

Enfim... Messi ganhará natural e justamente, mas espero ver Ronaldo entre os três finalistas. O pódio só com barcelonistas já foi número que chegue no ano passado.


Para o que valha, ficam aqui os meus 23:

Barça - Dani Alves, Xavi, Iniesta, Messi, Pedro, Villa
Real - Casillas, Özil, Ronaldo
United - Nani, Rooney, Chicharrito
City - Silva
Milan - Ibrahimovic
Nápoles - Cavani
Argentina - Agüero
Uruguai - Suárez, Forlán
Santos - Neymar
Porto - Falcão
Bayern - Mario Gómez
Borussia - Nuri Sahin
Lille - Eden Hazard

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Se o novo Braga tivesse cara, só podia ser uma


Lembro-me de vê-lo começar nos Barreiros fazem agora 10 anos. Desde aí cresceu muito, mas no essencial mantém-se igual: um jogador de extremo rendimento. Talvez pudesse ter ido mais longe, tinha certamente nível para isso, mas a carreira não engana. Campeão pelo Porto, ainda foi à Europa com Marítimo, Guimarães e Braga. Nos rivais do Minho conseguiu a melhor classificação da história de ambos. Em Braga chegou mesmo a uma final europeia. Até no Porto foi essencial no título de Adriaanse.

Com a idade ficou cada vez mais requintado. Hoje é muito mais do que o desequilibrador que já foi: é o criador-mor do Braga que se tornou admirado por todos, e o seu líder indiscutível em campo. Merece-o mais do que ninguém.

Um senhor.