quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Aos anti-chauvinistas


Boa noite,

Era para pedir desculpa pelo enfado que neste momento aflige esta importante fracção da nossa nata intelectual. Já tivemos todos a honra de a conhecer e hoje sinto-me culpado. Desculpem-me essas pessoas mais superiores que não se dão às minudências da plebe e que passaram a última década devotas a um grande desígnio agregador: o de explicar que o Ronaldo é uma merda e que toda a alma que gosta dele e, pior, que o apoia com barulho, deve sentir-se irreprimivelmente estúpida por isso.

Desculpe-me essa gente que passou anos no rosário de que o vendido do Ronaldo se está a cagar para a Selecção. De que é um arrogantezinho sem berço que merece cair em todas as fossas da vida. Essas pessoas que festejaram com um sorriso balão cada uma das suas pequenas derrotas. Essa gente que nunca defendeu um melhor do mundo, mas sempre o pior. Essas pesssoas que estão fartas de ouvir, e que sabem que um português que tem carinho por ele, e que fala dele com o coração na boca, é um português parolo, um nacionalista bacoco com palas na vista, que só é digno da sua pena. Claro que o Ronaldo não merece Bolas de Ouro, que pare o povão ignorante de tratá-lo todas as semanas como tal. Que nojo, que pequeninos que nós somos.

Desculpem lá a nossa javardice hoje. O Ronaldo é um brutamontes de tal ordem que às vezes até os vossos 'argumentos' deixa debaixo da debulhadora. Maldito, não queremos bestas dessas por cá, mas ele anda impossível. E pronto, nós que somos uns chulos por um ou dois golinhos fáceis, lá fomos ser panascas outra vez e ainda vos vamos irritar o resto da semana contentes. Ainda por cima, a coisa já parecia meio morta, e lá faz ele esta sacanice de assinar a melhor exibição nacional que vimos na vida, leva a solo esta terriola a um Campeonato do Mundo e ainda avia em Zurique um terramoto que faria inveja ao Richter, que a noite ainda não acabou, e o Blatter já veio dizer que ele é fantástico e que se lixem os prazos de votações, porque à FIFA apetecia não ser um circo para variar. Gabo o vosso esforço para tentar remediar a coisa, nas declamações providenciais de que falar de prémios hoje é feio, de que ele não joga sozinho, de que finalmente está a fazer o seu dever, de que ele é o símbolo dos papa bolos que já nem se lembram da crise do país... mas hoje é esquecer. O gajo abusou.

Desculpem lá, mas para nós, os intelectualmente modestos, ser chauvinistas de segunda é mais forte do que podemos controlar. Não temos gostos educados o suficiente para saber que a virtude do mundo brota do 'estrangeiro' e que embandeirar a ralé de casa é a chatice dos saloios. Hoje, no dia 20 de Novembro do ano do Senhor de 2013, não fazemos a vénia ao Ronaldo porque ele é efectiva e inequivocamente o melhor futebolista que pisa o planeta Terra, mas por um capricho de ignorantes, que insistem em idolatrar aquele bicho banal, que marca golos piores do que o Ibra, tem menos peso do que o Ribéry e não vale uma madeixa do cabelo casto daquele rapazinho que passou um terço do ano lesionado.

Desculpem lá, mas se esta noite não têm um orgulho estupidamente descomunal no que fez o extraterrestre que nasceu no mesmo país do que vocês, é possível que vocês sejam o problema. Sabem, há um ano atrás, achei que era o limite. Que era fisicamente impossível fazer melhor do que aquilo, enquanto se leva com tamanha quantidade de merda na cara. Estava enganado. Ao contrário, enquanto o resto do mundo se permitiu a ser humano, ele continuou a ir ser outra coisa qualquer. Já tinha sido o melhor individualmente e perdeu. Já fora o melhor colectivamente e também perdeu. Hoje, limita-se a ser tão cruamente maior do que os outros, que nós, os pobres de espírito, já só podemos ter vergonha alheia. Aos anti-chauvinistas que andam por aí: desculpem lá, mas vão para a puta que vos pariu.

1 comentário:

Raquel disse...

É difícil dizer melhor que isto. Muito bom.