domingo, 26 de junho de 2011

The Winter is Coming


Em ano recheado de grandes séries, destacar mais uma: Game of Thrones.

Descrita pelo criador como "Os Sopranos da Idade Média", esta é uma série de fantasia épica medievalista, baseada em "As Crónicas de Gelo e Fogo", do americano George R. R. Martin. Como obra de "high fantasy", a acção tem lugar num mundo inteiramente ficcional, mas enquadrado na nossa idade média, e segue as lutas entre as famílias nobres dos Sete Reinos de Westeros, pelo controlo do Trono de Ferro, três em particular: os protagonistas Stark, do Norte, liderados por Ned Stark (Sean Bean), um amigo fiel do rei Robert Baratheon; os Lannister, a família mais rica da federação, profundamente imiscuída na realeza, com a raínha e o chefe da guarda real; e os Targaryen, antiga família real, agora quase extinta.

A majestade da série é incontornável, e a riqueza e a criatividade da obra proporcionam uma larga variedade de pormenores. A história de cada Casa está sempre presente, e somos envolvidos por um passado cativante e realista. Ao mesmo tempo, a acção presente é fulgurante, violenta e visceral, com conspiração ao virar de cada esquina, e ainda há espaço para o desconhecido, com a civilização a ser limitada, a Norte, por uma grande Muralha, que a separa dos selvagens e, igualmente, dos semi-mitológicos Caminhantes Brancos, uma espécie de mortos-vivos que se acredita existirem nos longos períodos de Inverno.

Longos porque, temporalmente, é dado adquirido que "os Verões duram décadas e os Invernos podem durar uma vida", mergulhando a Terra na escuridão, e é sempre nesse limiar que se vive. Mais sóbria até agora do que O Senhor dos Anéis, por exemplo, a vertente "monstruosa" é alimentada pelas velhas histórias e pelo mistério, não sendo um dado adquirido.

O elenco é poderoso e cruzamo-nos com muitas caras que causam imponência só por estar: Sean Bean (o Boromir de O Senhor dos Anéis) é o protagonista, e senhor dos Stark; Iain Gle é escudeiro da desterrada princesa Targaryen; James Cosmo (Braveheart) é o chefe da Patrulha Nocturna, que vive na grande Muralha; e Charles Dance é o patriarca dos Lannister, por exemplo.

A estes juntam-se mais-valias como Lena Headey (raínha), Michelle Fairley (senhora dos Stark), Peter Dinklage (no melhor papel de anão que já vi, como filho mais novo do Lannister), Nikolaj Coster-Waldau (chefe da Guarda-Real e filho mais velho do Lannister) e Aidan Gillen (conselheiro real).

Os 10 episódios da 1ª temporada foram concluídos na semana passada e a renovação está garantida, com início marcado para Abril de 2012.

Ao lado


A existência da sequela era inevitável.

Hangover foi uma esmagadora lufada de ar fresco no género e tornou-se numa lenda, pelo que a única dúvida era saber de que forma é que seria possível manter o nível. No mínimo exigia-se que a coisa tivesse valor próprio, e a realidade é que o projecto começou a falhar exactamente desde o essencial: a equipa de argumentistas até cresceu de 2 para 5, onde se incluiu o próprio realizador Todd Phillips, mas o produto final foi uma cópia grosseira do primeiro filme, que, como era evidente, estava condenada a ficar a anos-luz desse.

Não era necessário reinventar a fórmula de sucesso: haveria ressaca, esquecimento, puzzle para reconstruir o que se passou, etc, mas era primitivo trazer uma abordagem nova ao jogo, e nunca refazer à letra tudo o que já se tinha feito. Hangover II acaba por ser só uma cópia barata do seu antecessor, sem novidade, criatividade e com muitíssimo menos piada.

A comédia não é tempo perdido porque continuam a haver gags razoavelmente bons, e que são suficientes para arrancar mais gargalhadas do que a larga maioria dos filmes do género, com destaque novamente para a performance de Galifianakis. Mas a auto-imposta colagem ao original banaliza tudo.

Com a terceira parte confirmada só há uma saída, que é fazer a trama levar uma cambalhota. Caso contrário veremos uma marca icónica sair de cena pela porta dos fundos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Special One, part two


Era capaz de ter apostado que, fosse qual fosse o interessado, Villas Boas não ia embora neste Verão. Com um ano de carreira a sério e um verdadeiro tractor futebolístico montado era de esperar o assédio de muita gente, mas a vertigem mourinhesca da Liga dos Campeões parecia apetitosa demais.

A realidade é que, pese o que foi o FC Porto este ano, a Champions é outro mundo. Villas Boas estaria seguro das suas capacidades, e a equipa teria condições para fazer uma excelente figura, mas, como sempre salientou conscientemente, Mourinho só há um, e é quase impossível escrever a mesma história duas vezes. Ainda que, ironicamente, lhe continue a decalcar as pisadas.

O puto maravilha ainda resistiu ao Inter mas, tal como há sete anos, Abramovich chegou, viu e venceu. Custará bastante aos portistas, mas há que compreender: além de quintuplicar o salário, o Chelsea é daqueles clubes que provavelmente não bateria à porta segunda vez e, na conjuntura europeia actual, é um dos poucos que tem hipóteses reais de ganhar tudo. Mais do que isso, se olharmos para o banco dos outros, vemos Guardiola, Mourinho e Ferguson.

Com a bomba de mercado, o campeonato português leva uma cambalhota. O Porto não deixa de ser favorito - principalmente quando o rival se prepara para iniciar a época com mais de... 40 jogadores -, mas perde claramente a margem olímpica de avanço com que se preparava para arrancar, o que vai tornar tudo mais interessante. Até porque o Sporting está a trilhar bem o seu caminho... isto, claro, se não houver um terramoto ainda maior que faça Domingos regressar a casa, o que, confirmando-se não existir nenhuma cláusula de rescisão, não parece exequível.

Em relação à sucessão, e ao ror de nomes que já foi avançado, salientar dois: Rui Faria e Jorge Costa. O primeiro da mesma "escola" de Villas Boas e o segundo um homem da casa, ambos, na minha opinião, com perfil para encaixar e dar um seguimento fácil ao trabalho que foi feito no ano passado. Ainda não vejo Rui Vitória e Leonardo Jardim com estofo para aguentar o barco, e Peseiro ou Queiroz só se fosse para assumir a luta pelo 3º lugar...


(actualizado)

Com a escolha de Vítor Pereira, o Porto mostra inteligência e tacto: o momento pedia estabilidade, e dificilmente alguma solução protegeria melhor o balneário do que esta. Com a proverbial estrutura do clube a seu lado, restará saber se o ex-adjunto de Villas Boas tem nível para o desafio. Assim como quantas peças-chave irá perder.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Não tão nobre quanto isso



"Fernando Nobre afastou-se hoje da corrida para a presidência da Assembleia de República, depois de duas votações falhadas."

Passos Coelho ainda não tomou posse e já teve de dar a primeira facada. É um início que lhe fica mal e do qual é o único responsável, mercê de uma opção que foi ridícula desde o primeiro momento.

Ainda assim não sou hipócrita. Passos tem uma derrota política ainda no aquecimento, mas só porque não foi orgulhoso, e isso, apesar da maneira feia como aconteceu, foi o mais correcto que poderia ter feito. Ter a total inexperiência de Nobre na Assembleia ter-lhe-ia custado caro a médio prazo, sem falar do grosseiro vazio que é este hoje politicamente.

Com Catroga fora do Executivo, é um início bem mais encorajador do que seria de esperar.

"Nuno Gomes, o homem que fez jogar um país"


"O ponta de lança de Amarante foi dez vezes mais jogador do que a opinião pública sabe, ou pensa que sabe. Nuno foi o avançado perfeito na selecção portuguesa. Com ele, Luis Figo, João Pinto e Rui Costa brilharam. Com uma compreensão fantástica do que é o jogo, Gomes está na mais encantadora selecção portuguesa a que a memória recente nos permite chegar. E muito do encanto da equipa que disputou o Euro 2000 estava precisamente no seu ponta de lança. A ganhar espaços, a tabelar, e nesse Europeu até a finalizar. Tudo girava em seu torno. À sua volta, os seus colegas pareciam ainda mais galácticos."

roubado ao Lateral Esquerdo

Pauleta é o melhor marcador da história e Postiga sempre teve a estrelinha, mas nenhum era tão jogador como ele. Para a lenda fica esse arrepiante Euro-2000, e o futebol que espantou a Europa. Sou um defensor inequívoco de tudo o que Scolari conseguiu, mas essa performance na Holanda e na Bélgica é o maior legado de sempre de uma Selecção Nacional em tempos modernos. E Nuno Gomes, então com 23 anos, foi uma peça ímpar.

Sempre defendi que o lugar devia ser dele. Pauleta era um gregário, com números extraordinários nas fases de qualificação, e justamente idolatrado de Bordéus a Paris, mas nunca teve dimensão para as grandes competições e, acima de tudo, tamanha compreensão do jogo. Depois do Euro, Nuno Gomes não voltaria a ser dono do lugar. Respondeu como os grandes no Euro-2004, com o golpe de asa à Espanha, e ainda picou o ponto na Alemanha, em 2006, mas desvaneceu.

Ao contrário do que agora pode parecer, nunca foi um bem-amado. Da Selecção ao Benfica, Nuno Gomes roçou sempre uma certa desconsideração, e carregou uma injusta imagem de fardo por não ser um puro matador, apesar de tudo o que conseguiu, em números e golos inclusive. É dessa forma absolutamente imerecida que sairá do seu clube de sempre, pela porta dos fundos.

O Benfica continua sem aprender nada com o maior rival, e continua a ter uma extrema dificuldade em lidar com as suas, poucas, referências. Se fosse benfiquista, ficava envergonhado pela maneira como o clube tratou um jogador como Nuno Gomes.

Nuno foi, como citei, "dez vez mais jogador do que a opinião pública pensa que sabe." Para onde quer que vá, merece um último ano de carreira feliz e, porque não, alimentar o mito que fez soprar este ano. A sua despedida é a saída de cena do melhor ponta-de-lança português da minha geração.

domingo, 19 de junho de 2011

The Killing


Em ano de Boardwalk Empire, Walking Dead e Game of Thrones, não pude deixar de espreitar outro dos nomeados para Série do Ano, numa temporada de tão boa colheita. Confesso que The Killing não parecia tão prometedora como as restantes à partida: até ver sem conspirações nem grandes tramas, era a história de uma investigação ao homicídio de uma rapariga normal. Pelos traços simples, teria sempre de ser muito bem trabalhada noutros aspectos, e isso tende a ser razoavelmente complicado de conseguir.

A verdade é que o piloto deixou, de facto, boa impressão, e por alguma razão a série tem recolhido boas críticas. Muito bem filmada, The Killing faz-se valer de uma maturidade notável a nível emocional, e de uma grande intensidade fílmica, em situações que já vimos reproduzidas muitas vezes. A série é muito pessoalizada, e o que seria a investigação normal de um caso de homicídio normal, acaba por exalar um sofrimento enorme, com o espectador a não ter remédio a não ser compadecer-se da família enlutada, e desejar respostas. A dor é muitíssimo bem retratada, e até os polícias não são um corpo estranho, como muitas vezes acontece, percebendo-se a dureza da gestão que têm de fazer, e a violência daquilo com que têm de lidar todos os dias.

Numa primeira impressão, Mireille Enos não me convenceu, mas Joel Kinnaman parece ser um claro ás de trunfo, no papel de polícia muito pouco by the book. São eles os protagonistas, como dupla de investigação, sendo bem secundados por Michelle Forbes e Brent Sexton (pais da rapariga assassinada), e por Bill Campbell, candidato à câmara municipal e foco político da acção.

A temporada acaba hoje nos Estados Unidos, com o 13º episódio, e já garantiu a renovação. Para seguir.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Imagine the Impossibilities



Tem sido o vício dos últimos tempos. Fringe foi inventada, entre outros, por uma lenda chamada J.J. Abrams, o criador de A Vingadora e de Perdidos, e segue uma divisão do FBI que se encarrega de investigar uma série de crimes perturbadores, relacionados com o avanço galopante da ciência e do conhecimento humano.

Como em Lost, o sustento da história é indelével. Não posso garantir se tem alguma ligação, mesmo que ténue, à realidade científica, mas, ao longo dos episódios, são-nos apresentadas inúmeras teorias, que abordam uma verdadeira infinidade de campos científicos, como sugere o genérico, e que são de um deslumbre inegável. Há alturas em que as questões são a mais, e ao fim dos 20 episódios não podemos dizer que não ficaram muitas pontas soltas, mas Fringe aborda o desconhecido de forma elegante, subtil e, definitivamente, cativante.

O elenco ajuda. Anna Torv é a protagonista e, como principal investigadora, consegue ter uma intensidade notável. Além disso, apesar do seu papel não ser sedutor por definição, a australiana é de uma beleza quase hipnótica.

Joshua Jackson é o escape do clima habitual de tensão, num perfil de galã que lhe assenta bem. Interpreta um sobredotado que se vê envolvido na Divisão por ser o único elo de ligação com outro verdadeiro génio e peça central da acção, no caso, o seu pai.

John Noble (o Denethor de O Senhor dos Anéis) é uma verdadeira sumidade científica, profundamente envolvida em experiências secretas de ponta no final dos anos 70. Começa a série retido há 17 anos num hospital psiquiátrico, e num limite de demência, sendo resgatado porque os eventos que começam a acontecer estão directamente ligados às investigações a que deu início, mais de 20 anos antes. O filho é o garante da sua estabilidade mental e seu assistente. O Dr. Walter Bishop é, indubitavelmente, a personagem mais transcendente e poderosa de Fringe, carregando consigo um misticismo genuíno de génio assombrado.

Lance Reddick (The Wire), como responsável máximo pelo departamento, e Kirk Acevedo, o chefe de operações, são outras personagens indispensáveis.

Acabei de ver a primeira das três temporadas realizadas até agora, e a quarta já foi garantida pela FOX. Para quem quiser mergulhar na ficção científica, Fringe é irrecusável.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

domingo, 5 de junho de 2011

O relato do 31




roubados ao 31 da Armada

A derrota da esquerda

"Sócrates saiu de cena, como lhe competia e de modo ilustre, pela porta grande. Agora veremos o que vem a seguir. Já estive mais otimista. No vórtice que terminou hoje (outro começa, é verdade), houve duas coisas que me impressionaram. A primeira foi a forma pessoal, quase "coisificada", como tudo isto foi canalizado para um único homem, como se não houvesse um PS, um governo, um grupo parlamentar minorítário na Assembleia, uma oposição unida, uma classe política, uma conjuntura, uma troika, uma campanha, um aperto financeiro, uma crise social, um país vulnerável, uma Europa à deriva. Nada disso importava, só Sócrates. A crise de Sócrates, por culpa de Sócrates, imputada repetidamente a Sócrates até à náusea. O desfecho previsível: uma derrota eleitoral clamorosa. É a derrota dele. La bête noire sai de cena por força do voto. Muito bem. Cá estaremos para ver o que se segue. Mas palpita-me que muitos dos dentes arreganhados irão ter saudades dele, mais cedo do que pensam e gostariam de admitir.

A segunda é uma sensação de profundo desconcerto com a chamada esquerda, aquela que perdeu a única possibilidade de chegar ao poder num horizonte previsível; a forma autista, cega e irresponsável como se auto-excluiu do processo de compromisso com os credores internacionais, retirando-lhe qualquer credibilidade de uma possível participação governativa.

(...)
Tivessem Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã a dignidade do mesmo Sócrates que ajudaram a derrubar e seguir-lhe-iam o exemplo. Seria, pelo menos, uma forma digna de reconhecer a derrota."

Paulo Pinto, no Aventar

Um presidente, um governo, uma maioria

Espero, sinceramente, que quem contribuiu para uma derrota tão expressiva da esquerda esteja certo.

A derrota do PS era um cenário expectável, mas não por estes números. Perder por cem ou por mil, neste caso, não é o mesmo, e se as coisas tivessem ficado mais equilibradas, pelos 30 vs. 35% de que se falou na última semana, o governo de direita teria de estar em sentido desde o início. Essa não foi a vontade dos portugueses e, agora, teremos todos quatro anos para ver se a direita eufórica que sai destas eleições será ou não a solução de que o país precisa. Mesmo descrente e derrotado, só posso esperar que seja. Em nome do nosso futuro, oxalá o próximo aparelho governativo, que consuma pela primeira vez o tal sonho histórico de Sá Carneiro - um presidente, um governo, uma maioria -, não seja a falha mais grosseira da história da nossa democracia.

Uma palavra para o admirável discurso de derrota de Sócrates. Como disse Sousa Tavares na SIC, são bem mais difíceis de fazer do que os de vitória, e o ex-primeiro-ministro teve o mérito de saber sair com um discurso digno e próprio de um governante.

No resto, derrota séria para Francisco Louçã, e para um BE que um dia foi um partido fresco, e, felizmente, vitória amarga para o CDS, com um resultado significativo mas francamente distante dos números retumbantes que se anunciavam. Portas será governo mas, do mal ao menos, não chegará a São Bento como senhor do mundo.

A nível pessoal, mencionar que, tal como em 2009, o PSD não chegou aos 50% na Madeira, o que é sempre reconfortante e, neste contexto sócio-económico, tanto mais importante e semeador de esperança para as Regionais de Outubro.

Isso e, desta vez, o sempre especial Postiga versão internacional

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Um voto difícil

Não tapei a cara quando votei, como um dia sugeriu Cunhal, mas saliento a analogia. Sou um esquerdista moderado, mas reconheço que Sócrates é, hoje, um primeiro-ministro bastante desgastado. Não é "o culpado" da crise, como tentam impingir, mas também é responsável pelo estado a que se chegou. Além disso, nunca fui de vestir a camisola: simpatizo com ele mas reconheço-lhe as insuficiências e, em diversos momentos, já elogiei Passos, Louçã e até Portas. Em circunstâncias normais, seria eu a defender que é hora de outros, e não duvidem que se achasse que as alternativas eram melhores do que ele, não teria hesitado.

Hoje é evidente que não são. Mistifique-se ou não, acho que faz sentido falar em voto útil, daí que PC, BE e CDS fiquem comprometidos. Não gosto de governos providenciais nem sou fã de maiorias absolutas, mas acho legítimo que, neste momento da nossa vida política, se alimente a dicotomia PS ou PSD: um deles governará. E, sinceramente, não podem haver dúvidas entre os dois, porque esta é uma altura que não admite condescendências. Sócrates tem 6 anos nas costas e, mesmo num momento tão crítico quanto este, bate-se de igual com Passos Coelho. O líder do PSD não precisava de ter feito rigorosamente nada para ganhar estas eleições mas, campanha finda, não foi capaz de sequer disfarçar a sua tamanha desorientação. A tal que seguiria sempre com ele para São Bento, caso vencesse no Domingo.

Passos Coelho fez a campanha mais absolutamente sofrível que me lembro de ver, com bombas nos pés dia sim, dia sim senhor, expondo com uma crueza violenta a sua grosseira falta de preparação para o cargo. Passos aparece bem na televisão, bateu-se notavelmente com Sócrates e tem ar de boa pessoa, mas mostrou, na nudez da campanha, que ainda é uma mera mascote dum partido sequioso por voltar ao poder, e que o rodeou como hienas, a salivar à volta da sua inexperiência.

Não é isso que o país precisa. Goste-se ou não, a realidade é que Sócrates já lá está e é ele quem tem a reputação em causa; Passos, pelo contrário, na linha da sua postura de sempre, é o homem da oportunidade: nunca esteve e "merece" a chance. Tal como se falhar, falhou. Passos diz e desdiz-se, desdiz-se e explica-se, e nisto esfuma-se a responsabilidade: se emendar a mão será um grande estadista; se falhar, nunca poderia ter feito melhor.

A juntar a isto, imagine-se o que seria Cavaco na presidência, Nobre na Assembleia, Passos no Governo e Portas e Catroga nos ministérios. Um aparelho à direita de uma ponta à outra, numa amálgama de anti-carisma, oportunismo, falta de preparação e extremismo, tudo no momento em que o Estado Social fica mais e mais esganado todos os dias, e por contraponto à necessidade de estabilidade das pessoas.

Votar PS é difícil, repito. Mas, depois da espiral de ódio que tanto se instigou, por alguma razão tanta gente o ponderará.

quinta-feira, 2 de junho de 2011