domingo, 30 de outubro de 2011

O monumental golo da jornada não merecia uma espoliação ao minuto 97



Jogo entre os dois últimos no Afonso Henriques, que ia acabar empatado, não fosse uma piada de penalty marcado por Carlos Xistra no último minuto dos descontos, a salvar a vida a Rui Vitória. Sobreviveu o Guimarães, e safou-se o Sporting em Aveiro logo depois, nas mesmas condições. Há coisas que nunca mudam. A corda rebentar sempre do mesmo lado é uma delas.

Rango


É pouco convencional, pelo menos.

Mais para o fim Rango lá agarra umas linhas comuns para estruturar a acção, mas de resto é quase a tempo inteiro um exercício de um certo devaneio da parte dos seus criadores. Várias vezes com piada e "diferente", outras caótico e tragicómico demais,o resultado é o filme não parecer ter grande fundo durante boa parte do tempo. E, valendo a verdade, espremido, o argumento tem pouco para oferecer, o que torna um pouco oco todo o livre traço criativo, no fim de contas.

Rango é um lagarto de estimação que de repente se perde no deserto, acabando por ir parar a uma pequena civilização western à sua medida, onde se torna ídolo e xerife. É uma história sobre descobrir-se a si próprio, e Rango - teatral por natureza, para o que contribui enormemente a assinatura vocal do inconfundível Johnny Depp - vai encontrar forças que desconhecia ter, e lutar por quem aprendeu a gostar.

Com uma banda sonora muito interessante, onde se incluem as quadras do omnipresente quarteto de corujas mariachi que narra a acção, digamos que é um filme engraçado para se ver uma vez, mas, sinceramente, não mais do que isso.

6/10

sábado, 29 de outubro de 2011

Too big to fail


É um TV movie da HBO, inspirado no livro do jornalista Andrew Ross Sorkin, que conta os primeiros meses da crise financeira mundial que explodiu em 2008. A acção centra-se no Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, nas entidades reguladoras do país e nos maiores CEO's de Wall Street, e em tudo o que estes tiveram de fazer para sobreviver.

Num registo de crónica dos acontecimentos desse período - absolutamente distinto do ponto de vista exterior, e da acusação e acidez de Inside Job -, Sorkin, que é repórter e colunista do New York Times, recriou a crise vista por dentro, desde a altura em que esta não era levada a sério, até ao pico em que não parecia haver solução possível.

William Hurt é notável como Henry Paulson (então Secretário do Tesouro), sendo bem secundado por Paul Giamatti (Ben Bernanke, Presidente da Reserva Federal) e Billy Crudup (Timothy Geithner, Presidente do Banco Federal de Nova Iorque).

Bem realizado e com um elenco de relevo, Too Big To Fail é uma perspectiva complementar digna de registo.

7/10

Has André been sacked yet?


Vão negras as coisas para Villas-Boas no Chelsea. Depois de 3 meses a correr atrás das armadas de Manchester, acabou por ser um rival bem mais de perto a ligar os blues às máquinas. Na doentia Premier League deste ano, um Arsenal que perdeu praticamente todos os anéis - menos Van Persie, que hoje deu e sobrou - e se tem andado a arrastar, deu-se ao luxo de ir a Stamford Bridge chapar um incrível 3-5, e deixar o Chelsea a 9 pontos do fulgurante City. Villas-Boas perdeu os dois derbies que jogou (1-3 em Old Trafford) e a sua janela de oportunidade vai ficando mais pequena todos os dias. Se falhar um milímetro que seja até ao início de Dezembro - e tem uma dupla jornada com o Liverpool daqui a duas semanas... -, o Special Two pode já nem ficar para ver a recepção à azul-celeste.

Mesmo em contenção de esforços, o City não falhou esta tarde. Levou 3 anos, mas Mancini tem finalmente uma equipa à sua medida. Silva-Nasri-Aguero-Dzeko, mesmo num dia mau são bons demais. E ainda há no banco Adam Johnson, Milner, Balotelli e, mais tarde ou mais cedo, um tal de Tévez...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Super 8


Depois de ter produzido Cloverfield, J.J. Abrams fez-se à estrada e escreveu e realizou o seu próprio monster movie. Até chegarmos ao último terço e entrarmos no palco do monstro e de uma mini zona de guerra, o criador de Lost tinha em mãos um dos filmes do ano.

Durante o Verão de 1979, numa pequena cidade da "América profunda", Super 8 é a história de um grupo de amigos (por volta dos 14 anos) a tentar realizar um filme, e da maneira como a sua vida é afectada pelo descarrilamento de um misterioso comboio militar, numa das suas noites de filmagens. Super 8 apanha muito bem a essência desses anos idos, ilustrando-os com uma nostalgia cativante, e tem sempre os miúdos como personagens centrais, o que, podendo ter levado a uma infantilização da acção, contribuiu, pelo contrário, para um ângulo fresco, capaz de nos relembrar dos nossos sonhos e aventuras de crianças.

Nota-se que Abrams investiu muito nos seus miúdos. Investiu e escolheu muito bem: na verdade, Joel Courtney e Elle Fanning (irmã de Dakota, dez vezes melhor do que ela) são magníficas revelações e absolutas mais-valias para o filme. Sérios e profundos, chegam a parecer adultos presos no corpo de crianças, mais velhos do que a sua idade, pelas circunstâncias das suas vidas. A química da aproximação entre os dois é a cereja no topo do bolo. E ainda vale a pena mencionar Riley Griffiths, um pequeno realizador cheio de cor.

Pena que o livro da inspiração se tenha fechado para o resto. Abrams não conseguiu inventar um fim, e ficou-se por uma amálgama de coisas que já vimos em todo o lado - a maior parte sofríveis -, um bom par delas sacadas de caras a Spielberg, que produziu Super 8 e serviu claramente de inspiração. Com meio caminho tão bem feito, ficou a saber a pouco.

7/10

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

As enormidades que andas a jogar, Angelito


6 assistências nos últimos 3 jogos, até já deu para tirar o lugar ao genial Özil. Deixou de ser o velocista que ia sozinho contra o mundo; agora pára, pensa e faz magia. Soberbo.

As asas Capel-Carrillo, e o Sporting a voar


Parece que finalmente acertou.

Depois de tantas cabeçadas, de tantos anos de equívocos e miséria, de falta de projecto desportivo e de treinadores discutíveis, é capaz de ter sido desta. Lembro-me de, nas polémicas eleições do clube, ter simpatizado mais com Bruno de Carvalho do que com Godinho Lopes. O primeiro era mais novo, mais fresco e cortava mais com o passado. O Sporting precisava disso. Godinho, pelo contrário, mesmo conotado com o antigamente, tinha dois ases na mão: Carlos Freitas e, claro, um treinador a sério, quando a concorrência acenava com banha de cobra como Van Basten ou Rijkaard.

Os sportinguistas escolheram bem. Carlos Freitas, como sempre, veio professar que só há qualidade com qualidade. Que se o Sporting precisa de ganhar e de vender, tem primeiro de investir. E chegou a Alvalade um exército de jogadores que nem nos passaria pela cabeça ver por lá num passado recente, um misto de jovens promessas - Wolfswinkel, Carrillo, Jéffren, Rubio, Rinaudo, Boeck - e de gente com talento provado mas numa fase menos feliz da carreira - Onyewu, Insúa, Schaars, Elias, Capel, Bojinov.

Domingos pegou, misturou, abanou e, depois do tormento inicial e de ter de enfrentar todos os velhos fantasmas, já vai com 9 vitórias seguidas. O Sporting joga rápido, sufoca e esbanja soluções. O que impressiona mais é a voracidade, a alegria de jogar quase que com toda a pressa do mundo, como se aquilo pudesse não durar para sempre. Em 3 meses, mais do que a evidente qualidade em campo, Domingos deu-lhes cultura de vitória. Melhor era difícil.

Do bom momento geral, destacar dois. Primeiro Capel, um vertiginoso e irresistível extremo à moda antiga. Desce o flanco supersónico, sempre no limite a parecer que vai perder a bola, só até inventar um cruzamento perfeito da linha ou aparecer a finalizar. Já não se fazem deles assim. É um espectáculo para quem vê e o maior catalisador do entusiasmo à volta deste Sporting.

Mais discreto, mas a respirar o mesmo futebol, o miúdo Carrillo, 20 anos acabados de fazer. Tem perfume nas botas. É rápido mas não corre muito, tem técnica mas não adora driblar. Joga a compassos, um toque ali, um adversário batido, e de repente uma aceleração acolá, sempre a decidir bem, com uma naturalidade desconcertante em tornar as coisas fáceis. Junte-se-lhes o talento indiscutível de Elias e do "velho" Matías no miolo, e a equipa só pode continuar a crescer.

Sem a maturidade do Benfica nem a mentalidade do Porto, provavelmente o Sporting ainda não estará ao nível de qualquer um deles. A diferença é que este ano vale finalmente a pena tentar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Midnight in Paris


“How’s anyone ever going to come up with a book or a painting or a symphony or a sculpture that can compete with a great city? You can’t. Cause when you look around, every street, every boulevard is its own special art form. And when you think that in a cold, violent, meaningless universe, Paris exists, these lights... Come on, there's nothing happening on Jupiter or Neptune. But from way out of space you can see these lights, the cafes, people drinking and singing... i mean, for all we know, Paris is the hottest spot in the universe."


Woody Allen é um génio. Quem escreve e filma assim tem de ser. Midnight in Paris é mais um filme apaixonante do seu repertório, com todo o charme inimitável com que o nova-iorquino pinta as cidades que filma, aqui com toda a cor e todo o romance de uma Paris insinuante, palpitante e irresistível. A de agora e a dos "anos de ouro", que é retratada numa vénia despretensiosa à arte, à criatividade e ao talento que no fundo fizeram da cidade tudo o que ela é.

Gil Pender (Owen Wilson) é um argumentista tarefeiro de Hollywood com o sonho de ser um grande escritor, um homem fora do seu tempo, profundamente romântico e nostálgico de toda uma era que não viveu. Numa visita a Paris na companhia da noiva e dos sogros que o menosprezam, entretém-se a imaginar a cidade boémia e genial dos loucos anos 20, e, miraculosamente, é mesmo lá que vai parar depois de uma noite perdido, privando com uma legião de nomes incontornáveis do século XX, de Scott Fitzgerald a Hemingway.

A beleza dos filmes de Allen é que todo o devaneio caótico e alegórico é só mais uma camada da poesia da sua mensagem. Neste caso a da apologia da libertação absoluta, de seguirmos os nossos sonhos e de sermos completos, por mais líricos que sejamos. E de o fazermos no presente, porque não há nem passados nem futuros melhores, porque não há nada mais real do que hoje.

Owen Wilson é só razoável, naquele seu jeito incompleto, nunca muito intenso. Michael Sheen é um bom rival pedante, Corey Stoll é um Hemingway icónico, Adrien Brody um Dali quase tão fidedigno quanto possível e Kathy Bates uma muito venerável Gertrude Stein (uma proeminente poetisa e coleccionadora de arte americana que viveu na Paris dos anos 20). A melhor performance é, ainda assim, a de Marion Cotillard, num papel fugidio e cativante de uma daquelas figuras que estiveram lá mas não cabem na História. A francesa é, a espaços, arrebatadora.

Woody Allen é um génio, e cada filme seu é um prazer. Espero que se lembrem dele quando a época dos prémios começar.

8/10

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Drive


É um filme difícil por ser, acima de tudo, uma obra onde o realizador é o protagonista, tal é a forma como se evidencia. A estreia do dinamarquês Nicolas Refn a este nível rendeu um filme pouco ortodoxo, onde se arrisca bastante com a câmara, abusa-se da banda sonora e metem-se slow-motions, ao que ainda se junta uma acção bastante passiva e a quase ausência de diálogo. A parte final é críptica e surpreendente, mas mesmo assim não é suficiente para tornar mais pacífica a opinião global.

Não é fácil destacar alguém a nível de cast, porque não é um filme de grandes performances. Admito que por exigências de argumento, mas está muito longe de ser o melhor papel que já vi Gosling fazer: o londrino é catatónico quase a tempo inteiro. Carey Mulligan será a mais convincente, num papel que dá uso à sua boa presença mas que fica por aí.

A única coisa de nível verdadeiramente superior é a banda sonora, um recurso bastante recorrente e que o justifica em absoluto.

Suponho que seja o tipo de filme que ou se adora ou se odeia. Com maior predisposição artística ou experimentalista, será mais fácil ficar bem impressionado, e facto é que, além da excelente aceitação até agora, Nicolas Refn ganhou melhor Realizador em Cannes com ele. Mas eu, pelo menos, não fico fã.

6/10

domingo, 23 de outubro de 2011

Há noites assim


Depois da derrota em Levante e do empate em Santander, ficou-me atravessado que talvez esta fosse ser só mais uma época insuportável a correr atrás do Barça. Felizmente isto continua a ser o beautiful game e, à 6ª goleada seguida, o Madrid foi finalmente feliz. Se calhar na próxima jornada muda tudo outra vez, mas ontem Ronaldo voltou com um super hattrick onde até coube um golaço de sola e um novo festejo viral, enquanto Messi falhou o penalty anedótico com que iam espoliar o Sevilha no último minuto. O Madrid passou o Barça, passou a ser primeiro e Ronaldo passou a ser melhor marcador.

One day at a time, one game at a time. Mas se há noites perfeitas, ontem Ronaldo e o Real tiveram mesmo uma delas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que joga o Benfica e o que o Porto não joga


Aimar, Witsel, Gaitan, Nolito, Bruno César, Saviola, Rodrigo, Cardozo. Impressionante o leque de futebolistas ao dispor de Jorge Jesus. Mérito, contudo, acima de todos, para o treinador do Benfica. Com ele, e com Rui Costa claro, o clube deixou de ser a piada errática da década anterior e é hoje uma equipa que dá cartas em qualquer campo europeu, que exporta jogadores para os melhores do mundo e, sobretudo, que joga futebol a rodos. Jesus tem uma imagem e uma presença difíceis, tem problemas evidentes a comunicar, mas é um táctico verdadeiramente extraordinário. O requinte absoluto do futebol ofensivo do Benfica diz tudo o que há para dizer.

O Porto, como no pós-Mourinho, volta a atravessar um ano zero complicado. Como disse na altura, Vítor Pereira fazia sentido. Mas isso nem sempre chega e, mesmo na liderança da Liga e com a Champions em aberto, parece tudo uma questão de tempo, pela negativa. A acutilância, a inteligência e, especialmente, a senhoria de si da última campanha apanharam o mesmo avião para Londres de Villas Boas. Do onze titular "só" partiu Falcão mas, em campo, parece outra vida. A equipa esconde-se e não responde, e é cada vez mais difícil levar o treinador a sério. Para enganar as probabilidades, Vítor Pereira terá de fazer mais do que contar simplesmente com a proverbial estrutura do clube.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Boston Legal, o fim


Gosto tanto deles que nem sei o que diga. Sou capaz de achar que todas as minhas séries têm qualquer coisa de muito grande ou de muito especial. De Boston Legal não sei bem o que diga. Hoje sei que nunca vou ser advogado, mas um dia sonhei ser por causa deles. Comecei a ver no terceiro ciclo do Básico, acabei no primeiro ano de Mestrado. Hoje sei que nunca vou ser advogado, mas continuo a gostar de pensar que um dia vou ser como eles. É impressionante como havia ali tanto delírio, tanta comédia, tanto caos e, ao mesmo tempo, o texto mais profundo e notável que alguma vez vi em televisão.

5 minutos de conversa de varanda, mesmo depois do mais lunático dos episódios, tinham a sabedoria de um tratado. Meu deus, escrever assim... E claro, poder contar depois com extra-terrestres do nível de James Spader e William Shatner. Amar, perder, viver, envelhecer. O que tememos, o que nos fascina, o que desejamos e tudo aquilo em que acreditamos. Uma amizade maior do que isso tudo. A advocacia dos justos, das grandes questões, apaixonada e apaixonante. Um discurso do majestoso Alan Shore e quereres ser advogado para o resto da vida; um apontamento fugidio, muito mais subtil do que as suas tiradas, e seres esmagado pela dimensão do venerável Denny Crane.

Um dia ainda bebo um copo com eles. Boston Legal nunca devia acabar.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Clear Eyes, Full Hearts, CAN'T LOOSE


Friday Night Lights conta a história de uma pequena cidade do Texas que vive à volta da sua equipa de futebol americano do liceu - os Dillon Panthers -, sob o ângulo do treinador recém-contratado e dos jogadores, dos seus amigos e das suas famílias.

É uma série absolutamente dual, o que não é muito comum. Por um lado, é magistral ao nível das relações pessoais e da caracterização das personagens. É poderosa nos dramas dos protagonistas, e, tratando sobretudo menores de idade, é admirável no trato da proverbial "perda da inocência" tão americana. Puxa confrontos muito difíceis de ajuizar e nunca é linear, isto é, foge da situação típica de "o bom contra o mau" e dá diferentes perspectivas legítimas, expondo a complexidade da interacção entre casais, amigos, etc. Nesse aspecto é extraordinária. Isso mais uma grande banda sonora.

Por outro lado, é um desastre ao nível da história colectiva. Não tem rasgo nenhum, as perturbações que surgem são más e os desfechos são de uma previsibilidade constrangedora, como se no contrato estivessem estabelecidos um sem-número de finais felizes, depois de situações em que esses eram quase impossíveis, sendo conseguidos com uma jogada milagrosa nos últimos 5 segundos. Mau demais. Um aspecto que pode não ter pesado a favor é o facto da primeira temporada ter uns longos 22 episódios: do primeiro terço para o resto a qualidade cai claramente, apesar de alguns trunfos, novamente ao nível das personagens, na parte final.

A melhor personagem da série é Tim Riggins (Taylor Kitsch), o capitão moral da equipa, um defesa duro que cresceu assombrado pela ausência do pai, a viver só com o irmão. É um auto-destrutivo com queda para o álcool e para bater com a cabeça na parede, mas leal e imprescindível, e que é levado ao nível seguinte pelo carisma de Kitsch.

Depois Jason Street (Scott Porter), o golden-boy, um quarterback predestinado a quem o destino, contudo, prega uma partida. É a personagem mais trabalhada ao longo da trama e essa sua evolução, ou recriação, é um dos grandes focos de interesse. A sua amizade de irmãos e toda a relação com Riggins é possivelmente a chave da série.

Notar ainda o excelente nível do treinador Eric Taylor (Kyle Chandler), no fundo a personagem mais exposta e mais central, que assenta de uma maneira muito genuína como líder daqueles miúdos, como chefe de família e como responsável por um grupo que carrega as expectativas de uma cidade inteira.

Ao nível dos secundários, destacar pelo menos dois: a deslumbrante Tami Taylor (Connie Britton), a mulher do treinador, que com um toque maduro e maternal dá um equilíbrio perfeito ao casal e à série; e Herc (Kevin Rankin), um filósofo numa cadeira de rodas, de quem é impossível não gostar.

Fica a sensação de que para umas coisas contratou-se um argumentista craque, para outras o primeiro que apareceu. É pena. Com densidade na história de fundo Friday Night Lights seria uma obra-prima.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

The Walking Dead, season 2


Criativa, densa, arrojada, tensa, breath-taking. Está tudo lá. The Walking Dead não foi só a série revelação do ano passado. Regressou ainda melhor, e arrisca-se a ser a jóia da coroa da temporada. Brilhante.

Jon Stewart, os impostos e a luta de classes. Impagável

sábado, 15 de outubro de 2011

Bósnia 2.0


"Pepe e Ricardo Carvalho constituem a melhor dupla de defesas centrais do Mundo. Jogam e treinam todos os dias no campeonato mais competitivo do Mundo. Mas talvez para dar «exposição» para venda a outro ou outros jogadores ou, então, porque goste de reinventar a roda, Paulo Bento quer outra coisa. Por isso, a Selecção tem, em vez da melhor dupla de defesas centrais do Mundo, um buraco."

José Mendonça da Cruz, no Corta-Fitas

Futebol é fodido. Paulo Bento ganhou 6 dos seus 7 jogos oficiais à frente da Selecção, de resto uma média muito mais do que suficiente para nos qualificar directamente para o Euro, mas bastou uma derrota para assistirmos a todo um levantamento em relação ao estado da equipa.

De repente Bento só toma más opções. O mesmo João Pereira que trucidou o flanco esquerdo da Dinamarca no Dragão já não é jogador de futebol, e só joga porque Paulo Bento amuou com Bosingwa; o mesmo Postiga que resolveu o jogo contra à Noruega é agora uma opção inexplicável para o ataque; e claro, acima de tudo, Paulo Bento é o criminoso culpado pela ausência de Ricardo Carvalho. Pelos vistos não só é normal como aceitável que um dos jogadores mais experientes do grupo se comporte como uma criança, e abandone um estágio por saber que não vai ser titular; mais do que isso: parece que Paulo Bento deveria ter-lhe pedido desculpas de imediato, pela ousadia de querer escolher quem joga, e suplicar depois pelo seu regresso.

Enfim, o jogo em Copenhaga foi uma catástrofe e um balde de água gelada. Ronaldo estava lesionado, Postiga é irregular, Carlos Martins está muito pior do que há um ano, e evidentemente não é fácil pôr em campo uma defesa sem três habituais titulares, ainda por cima com uma Dinamarca hiper-moralizada pela última qualificação. Mas as coisas são como são, e tudo o que se conseguiu neste ciclo não morreu em 90 minutos. Não tenho dúvidas por isso de que, com maiores ou menores dificuldades, o play-off com a Bósnia será só uma formalidade. Há 12 anos que não falhamos grandes competições e, sobretudo, se Queiroz conseguiu, só podemos estar confiantes.

Queiroz, esse mesmo que, apesar de andar a marcar muitos golos no pré-histórico futebol do Médio Oriente, parece não conseguir esquecer-se de nós. O mesmo Queiroz "que já estaria na fase final" mas até teve de fazer um play-off da última vez, o tal que há um ano se despediu com a derrota na Noruega e esse notável 4-4 com Chipre que invalidaram tudo o que de bom se fez depois. E pensar que nem no Irão nos vemos livres dele.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O princípio


Não há vitórias morais. Esta era uma eleição perdida à partida que, objectivamente, só poderia ser minorada com a perda da maioria absoluta. Não aconteceu e o que fica para a história é uma despedida eleitoral de Jardim com a garantia de que o seu reinado ficará intocado até ao último dia. Definitivamente beliscado, mas imutável na génese do seu absolutismo. Na última oportunidade de "derrotá-lo" nas urnas, safou-se por menos de mil votos. Mas safou-se, e não há vitórias morais.

Ainda assim seria injusto ignorar os sinais. Pela primeira vez na história da democracia na Madeira, mais de metade das pessoas não votou PSD. Jardim perdeu 19 mil votos, 8 deputados e, na última vez que foi a jogo, teve a sua pior vitória de sempre. Não foi suficiente, e não vou estar aqui a embandeirar uma derrota, mas serviu para mostrar pelo menos uma coisa: que a Madeira não é o PSD. Esse seria sempre o princípio do fim.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Estejam à altura

Estou farto de ser condescendente. Estou farto de reconhecer que o Jardim um dia fez a sua parte, de admitir que nem todos os males do país são a região, de dizer que existem tantas outras dívidas ou o raio que parta. Não quero saber se a dívida disto é maior do que a da Madeira, se tem ou não muito peso no Orçamento, ou se viria a público se não fossem eleições. Em boa verdade, nem quero saber da dívida da Madeira, dou-vos isso.

No Domingo, podem usar a puta de desculpas que entenderem para votar nele. Não sei se vai ganhar com maioria ou sem maioria, sei que vai ganhar, e isso é em si a prova de 30 anos do mais puro cultivo da ignorância. Mas saibam que no Domingo não se vota a dívida, a legitimidade dela ou não, as desculpas, a suposta falta de solidariedade do país ou o ror de balelas que o jardinismo tem alimentado para encher a barriga aos tolos e garantir a vitória.

No Domingo vota-se um estado de coisas, o estado intelectual, social e moral em que qualquer cidadão madeirense quer viver. No Domingo vota-se entre o estado que afoga a democracia, persegue a oposição, esmaga a imprensa livre e é constituído por uma juventude partidária e um círculo de barões que fazem tudo girar promiscua e impunemente, e uma saída. Vota-se entre o estado absurdo que não tem uma arcaica lei de incompatibilidades, onde o presidente não põe os pés na Assembleia há 20 anos e nunca fez um debate, o estado dominado por um monstruoso lobby da construção civil, com a segunda taxa de analfabetismo do país, cegado por décadas de desinformação, e uma democracia a sério.

Chega de desculpas, de panos quentes, de condescendência. O poder para mudar o estado de coisas está no voto de cada um. Não há votos tristes, votos necessários, votos a medo. No momento de votar os madeirenses terão toda a liberdade do Mundo. E então reflictam, por amor de deus, porque no Domingo têm em mãos a possibilidade de se dissociarem disto. A resposta que querem dar, a maneira como querem que a Madeira seja vista, como querem ser vistos como cidadãos e como portugueses, cabe-vos só a vós. Chega de fecharem os olhos e de correrem contra o mundo, "orgulhosamente sós", porque não é o mundo que está errado. A Madeira merece mais do que isto. No Domingo, tudo o que precisam é de estar à altura.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Enjoy the ride


Acabou Entourage.

Nunca me viciei tanto em nada. Vi sete temporadas no Verão do ano passado, a tempo de ver a última neste. Descrevê-la é como ter de descrever uma mão de grandes amigos. Foram oito anos condensados em pouco mais de um, mas na realidade pareceram todos eles. Tudo em Entourage foi fascinante: o meio, o estilo de vida, a luxúria, os sonhos, mas sobretudo a irmandade, a lealdade, a família.

O coração do Vince galã, a ira do Ari, a bonacheirice do Turtle, o delírio do Drama, a cabeça do E. Mais o deslumbre da Sloan, o génio louco do Billy Walsh, a electricidade do Loyd, a classe de Mrs. Ari. Eles putos em Los Angeles, o Queens Boulevard, depois o Aquaman, Sundance, o Medellín, Cannes, os anos áureos e os sucessos, as festas, as excentricidades, os mil e um projectos quando tudo parecia possível, depois as desilusões e bater no fundo, até à maturidade e ao equilíbrio. Na essência, o tempo que passa, na carreira deles, na vida deles, e, ao mesmo tempo, na vida da série, condenada a ter um ponto final porque, tal como eles, não se pode viver assim para sempre.

Se tivesse de ajuizar, as primeiras 4 temporadas foram monumentais, as 4 seguintes a perder, mas ainda assim a fartura de carisma chegou para quase tudo. Esteve para não existir a season 8, existiu para o final feliz. Não houve aquele frenesim, aquela expectativa, mas só uma despedida de 8 episódios, a meio gás, quase como se nos estivéssemos a despedir de alguém que nos é querido de uma maneira melancólica, sem pontos altos, só pelo prazer de fazer tudo aquilo perdurar mais um pouco que seja. Não existem grandes fins para séries com a química de Entourage. "Tudo mudou e tudo ficou igual". Acabou como tinha de acabar.

Uma das taglines era "Enjoy the ride". We did. And damn, were gonna miss them.