terça-feira, 30 de junho de 2009

In the Face! In the Faaaaace!


O Hangover é monstruoso. Desde que vi o póster numa estação de metro, desprezando-o logo ali como mais uma comédia para encher, até ter visto o assombroso 8.4 desta coisinha no IMDB, com o trailer pelo meio, foram um par de semanas de suspense, a acreditar que podia estar na forja qualquer coisa muito para lá do normal. E o sacana do filme não desilude.

O contexto é, por assim dizer, o da geração seguinte ao American Pie. Não são miúdos a descobrir mulheres e sexo, a acabar o liceu ou a viver os primeiros anos de faculdade, são quatro amigalhaços (3+1, vá), com a vida encaminhada mas com o espírito ainda todo lá, que se juntam para comemorar o casamento do último do trio, com uma despedida de solteiro em... Las Vegas. Entre o brinde no telhado do hotel, a anteceder a noite, e a manhã do dia seguinte, envolta numa inebriante ressaca, não passam mais do que uns segundos, porque o argumento não se deixou levar facilmente. Era fácil fazer um filme sobre a borga em directo, mas o que este Hangover se predispõe a fazer é descobrir o que aconteceu durante a bendita noite, quando nenhum deles se lembra. E quando o noivo está desaparecido.

O argumento é uma verdadeira lufada de ar fresco, uma pequena pérola arquitecturada por Jon Lucas e Scott Moore (que não é perfeita, vê-se isso pelo fim, que podia realmente ter sido bem mais trabalhado, mas que, ainda assim, é MUITO melhor do que quase tudo o que se vê por aí, no género), que resulta, e é impossível não referir isso, também pelo óptimo cast, com Zach Galifianakis à cabeça, que, porventura num estreia a este nível, tem uma prestação que é qualquer coisa de memorável. Oxalá se lembrem dele nos Globos.

Em suma, este Hangover é para ser revisto. E em breve.

Crime Passional

Bruno Paixão foi ontem promovido, pela UEFA, a árbitro de Primeira Categoria internacional, segundo nível na hierarquia do organismo. Bruno Paixão e promovido, na mesma frase. Será possível que, em pleno século XXI, a UEFA continue a promover gajos sem ver a puta dum jogo que estes arbitrem? É que, no caso deste, era mesmo ver só um jogo. Ao acaso. O shotôr responsável por esta coisa das nomeações, nunca voltaria a querer sair dum buraco.


P.S. - O outro árbitro português, neste escalão, é Lucílio Baptista. Há coisas fantásticas, não há?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O beija-mão

Há 3 ou 4 dias, A BOLA espetou na capa a extraordinária teoria da conspiração de que a eventual candidatura de José Eduardo Moniz à presidência do Benfica era justificada pelo facto de espanhóis estarem a tentar tomar de assalto o clube (ao menos estava lá o Vieirinha para proteger!). Hoje, diz que o Benfica está balançado para contratar um dos melhores avançados da ACTUALIDADE... o colombiano Falcão que, com ano e meio de lesões nos joelhos ainda bem presentes, é pouco mais do que um mito de FM. Enfim, não é que a coisa seja novidade, mas, ainda por cima para quem A BOLA sempre costumou ser o jornal de casa, a baboseira ao Benfica (e à administração actual) especialmente na pré-época, não deixa de meter o seu nojinho.

iMPRESSIONADO

Soube do "i" bastante por alto, por ter lido algures que ia haver mais um jornal, e depois, com mais algum pormenor, por, numa aula de imprensa, ter visto que a redacção deles ia ser qualquer coisa a puxar para o inovador. Como futuro jornalista, um jornal novo, ainda por cima em tempo de crise, é sempre uma boa notícia mas quando o dito saíu, não fui muita à bola com as primeiras páginas, e acabei por não lhe seguir o rasto. À conta desse início às apalpadelas, acabei por, noutra aula de imprensa, perceber que o "i", além de ser um projecto em tempo de crise e num tempo em que os jornais estão a passar de moda, não era um jornal para qualquer um. Era um jornal para jovens. Respeito, pelo menos, era impossível que não lhe tivesse. Ainda assim, continuei sem lhe prestar nenhuma atenção em particular. Contudo, a pouco e pouco, a coisa começou-me a parecer bem. Uma entrevista aqui, um artigo ali e comecei a ser cliente um tanto ou quanto frequente da página. E devo dizer que, entrando em contacto, o conceito é realmente muito bom. O "i", mais do que atractivo a nível de temáticas, é um jornal interessante, o que é cada vez mais difícil. Estará, correndo o risco de estar a dizer alguma barbaridade, algures entre um jornal e uma revista, por conseguir conciliar temas leves numa perspectiva noticiosa, sem cair para o cor-de-rosa. É para jovens e sente-se isso. Vive de entrevistas e de contextualizações, mas, muito especialmente, da abordagem a assuntos que mais ninguém trata. Esta semana, por exemplo, duas ou três capas seguidas sobre o Twitter. É que mais nenhum mesmo. Sinceramente, acho que vale a pena prová-lo. Eu, pelo menos, vou-me manter por perto nos próximos tempos.

Para acabar, uma entrevista do Jel, a cara dos "Vai tudo abaixo" da Radical (um daqueles programas que eu gostava de ter visto, algo bastante típico por estes lados), que mostra um pouco do que estive a dizer. Enfim, não sei distinguir se a entrevista é muito bem feita ou se é só competente, mas o conceito e a abordagem estão todos lá. E o Jel é provavelmente o primeiro gajo de sempre a não evitar uma pergunta que seja. Mesmo muito bom.

http://www.ionline.pt/conteudo/9896-jel-o-humorista-que-mete-medo-socrates

Democracia, disse o Ayetollah


No Irão - Coreia do Sul de há uma semana, relativo à última jornada de qualificação para o Mundial 2010, sete titulares iranianos entraram em campo com uma pulseira verde, símbolo do apoio a Hossain Mousavi, candidato oficialmente derrotado por Ahmadinejad nas últimas eleições presidenciais. Entre eles estavam Karimi e Mahdavikia, as duas maiores figuras do futebol do país. Hoje, um orgão pró-governamental iraniano anunciou que ambos, de 31 e 32 anos, respectivamente, "se reformaram", no que à Selecção diz respeito. Já nem se disfarça...

sábado, 20 de junho de 2009

On the streets of Rio only the elite survive


"- Quem matou esse cara? Quem matou?
- Eu não sei!
- Sabe sim quem matou! Pode falar!
- Foi um de vocês aí.
- Um de vocês, o caralho! Quem matou esse cara foi você. É você que financia essa merda aqui, maconheiro de merda!"

Decidi ver este Tropa de Elite com um pé atrás. É que, nos tempos em que ainda comprava DVD's a ver se eram bons, não resisti um dia a juntar à colecção um tal de Cidade de Deus, fenónemo de popularidade, com um avassalador 8.8 do IMDB, e nomeações para Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado... e a coisa não me saíu pela certa. Não é que o filme seja mau mas, para as expectativas que tinha, roçou-me a desilusão. É um filme que se foca na favela, mas que não consegue ir muito para além disso, que, apesar do bom retrato, e de no fundo cumprir aquilo a que se propõe, me pareceu um filme limitado para aquilo que podia ter sido. Além de que não consegue ter cadência para ser interessante e nos prender a tempo inteiro. A associação com o Tropa de Elite, a última pérola do cinema brasileiro, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, foi, então, inevitável. De qualquer maneira, verdade é que a desconfiança não durou muito.

Este Tropa de Elite é um filme sobre a criminalidade no Rio, sim. E sobre a favela, também. Mas é muito mais que isso. Desde logo, porque se propõe a abordar a questão do lado da polícia. Em vez de quase só constatar, de observar, é um filme que se propõe a reflectir. Sobre o sistema e sobre o porquê da situação ter chegado onde chegou. E sobre os que escapam ao polvo. Ou, pelo menos, sobre os que tentam. Sobre a BOPE, a tal Elite, grupo criado com o único propósito de agir na favela, que desenvolve um trabalho monstruoso que é reconhecido a nível mundial, mas que, como se descreve no próprio filme, é olhado com desconfiança e desprezo, até, pelos próprios brasileiros. É um filme sobre violência sem ser violento, desenhado à volta dum muito consistente drama pessoal e com um prestação muito muito forte de Wagner Moura, um velho conhecido das coisas da Globo que nos vão chegando. Francamente recomendado.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

I Love You, Man

Um gajo muito bem sucedido com as mulheres mas que não tem amigos, e que se envolve numa curiosa série de "man dates" para encontrar "aquele" buddy, altura em que começa a provar o sabor da javardice. É esta a premissa na essência deste muito bem esgalhado "I Love You, Man". É uma comédia bem escrita, inteligente, com bom conceito e com boas piadas. Sem nunca ser apalhaçada, o que é cada vez mais difícil. E hoje em dia acertar numa comédia já começa a ser uma grande coisa... Venha "A Ressaca".

terça-feira, 16 de junho de 2009

"I am Shiva, the God of Death"

Revi ontem o Michael Clayton, e tenho três notas a fazer.

1 - O filme é uma obra-de-arte a nível de escrita e é MUITO melhor do que o No Country for Old Men, para quem perdeu o Óscar no ano passado.

2 - O Tom Wilkinson é um monstro e, apesar do leque de luxo para Actor Secundário em 2008, merecia ter sido reconhecido. Faz um trabalho de outro mundo.

3 - O monólogo inicial é das coisas mais geniais que já vi em cinema.

sábado, 13 de junho de 2009

Humildade, o caralho.


Aos 24 anos, o Ronaldo tornou-se no futebolista mais caro da história do futebol. No mais bem pago de sempre, também. E tudo isto enquanto é o Melhor Jogador do Mundo, em título. Talvez nem vá renovar a coisa este ano, mas ninguém liga muito a isso. Afinal, por estes dias, os Messis deste mundo são bem pequeninos. Não é deles que se fala, em todos os jornais, em todo o lado. Já o Ronaldo, enquanto era transferido, passeava-se por Los Angeles. Declarações? Na hora. Que se sentia orgulhoso por estarem a negociá-lo os dois maiores clubes do mundo. Mas que, agora, estava em Hollywood. Um pé em Beverly Hills, outro em casa dos Hilton. Muitas festas, muito champagne, muitos flashes. No topo do mundo. É assim que ele é. Despudorado, sem vergonha de viver, de respirar glamour, de ser falado. Mas, por estes dias, ser o melhor do mundo, o mais caro e o mais bem pago de sempre, não são coisa suficiente.

Logo numa altura em que seria tão fácil fazer-lhe a vénia, são muitos os que o olham de lado. Porque é arrogante, cheio de si e porque acha que é o melhor. Porque não é humilde. Eu digo que se foda a humildade. Muitos humildes, mesmo muitos, que gostam de ser humildes e gostam de mostrar a toda a gente que são humildes, e gostam que se diga muitas vezes que são humildes, e que não têm acidentes com carros caríssimos nem gastam fortunas em festas nem andam com as mulheres mais bonitas do mundo porque isso não é coisa de gente humilde, e que não dizem que são bons e que são os melhores porque isso também é muito pouco humilde, todos esses humildes dariam hoje qualquer coisa para ser o Cristiano Ronaldo. Um miúdo que veio do nada, que, aos 12 anos, na única oportunidade que a vida lhe deu, teve de sair de casa, para ir para bem longe, para poder sonhar com o futuro, contra TUDO o que a vida supostamente lhe tinha reservado, e teve um sucesso para lá do imaginável, não pode viver, não pode dizer que é o melhor, porque isso não é humilde. Pois que se foda a humildade.

Podia dizer que, a correr mal a aventura no Real, saltariam todos num ápice, quais abutres, a engoli-lo vivo. Não digo, porque não vai correr. O Ronaldo não vai falhar porque isso, para ele, nunca foi opção, porque ele nunca se pôde dar a esse luxo. Porque soube sempre que se falhasse, morria. É por isso que chegou onde chegou. E é por isso que vai ser cada vez melhor. Humildade é para quem não teve a vida dele.

Para acabar, um texto do 'maradona', n'A Causa Foi Modificada, aquando da Grande Entrevista do 'iletrado' Ronaldo, na RTP1. É disto que estou a falar.

"Vou tentar acalmar-me, mas aposto que, com o decorrer do post, tal situação de equilibrio não vai ser possível de manter, dado eu ser uma pessoa sem ABS. Na Madeira, um miúdo de 12 anos, com pai alcoolico e tal, mãe não sei a fazer o quê e irmãos por onde se imagina, aposta tudo no futebol e chega a melhor do mundo talvez na única abertura que a vida lhe deu, mas parece que, para a sensibilidade caga cesare paveses da professora doutora Sofia Bragança Buchholz, aos 23 anos Cristiano Ronaldo também tem que demonstrar um "raciocinio claro" numa entrevista na televisão com a Judite de Sousa em horário nobre, o mesmo local e a mesma entrevistadora onde os primeiros-ministros se explicam à nação antes das eleições. Não é a Judite de Sousa que tem que pensar quem é que convida ou não para aquele espaço, ou, se queria mesmo muito falar com o Cristiano Ronaldo, não é a Judite de Sousa que teria que imaginar o ambiente que melhor se adequaria ao entrevistado. Não, o Cristiano Ronaldo é que teria que dizer ao filho da puta que congemina a programação da RTP que se calhar era melhor fazerem uma entrevista onde se falasse de futebol, talvez até com pessoas que percebam alguma coisa do único universo que o convidado conhece. Cristiano Ronaldo, que traçou um caminho em idade que a menina Sofia Bragança Buchholz se calhar ainda nem pintava, e que desde aí nunca se distraiu um milímetro que fosse para longe da perfeição, teria que, a acrescer a isso, chegar aos 23 anos e também apresentar um, e passo a citar, "mínimo de eloquência", isto para que a frustração mija-cultura uns quantos energúmenos não tenham "pena do rapaz". "Pena do rapaz".... foda-se, caralhos ma'fodam se eu não puxo fogo ao simaozinho. O Cristiano Ronaldo, que com 17 anos ganhava 3 mil contos por mês numa cidade a 900 quilómetros de mar da sua casa, que com 19 anos ganhava 1 milhão de contos por ano na ilha que ofereceu a globalização ao mundo e onde qualquer gaja juntava de bom grado dois salários mínimos para lhe poder fazer um broche (já para não falar na paneleiragem), e que apesar de profícuo em "iliteracia" chega não só vivo e saudável à idade onde quase ninguém ainda acabou os cursos universitários, mas também motivado para continuar a melhorar na sua profissão, um local onde muitos, infinitamente mais incompetentes, já estariam a dormir descansados em louros que imaginam alcançados. Este post de Sofia Bragança Buchholz representa muito (talvez tudo) do que há de escarrável no micro-intelectualismo idiota nacional (e internacional, suponho), perito em transformar a cultura, a literacia e restantes instâncias de civilização não em objectos que se utilizam para se ter uma vida melhor (que Ronaldo conseguiu com estapafúrdio sucesso não só para ele e para os seus, mas também para meio mundo que gosta e paga para o ver jogar) e se ser uma pessoa decente (não conheço ninguém da idade dele que seja muito melhor que ele), mas num projecto de bricolage social destinado a que cada um seja colocado no seu lugar devido apenas com um olhar de longe. A Buchholz acaba o seu merda-fragmento perguntando "E se é assim em português, pergunto-me como será em inglês?!" Abrem-se aqui várias avenidas, mas se calhar é melhor não nos irritarmos mais. Vamos aproveitar o tempo para encomendar, se possivel em inglês, um livro qualquer do Polga. Perdão, do Polgar, que disse, a propósito da maneira como, aparentemente, funcionam os filamentos da Sofia Bragança Buchholz: "She knows exactly what she's saying: she just can't imagine it".

domingo, 7 de junho de 2009

O dia do Bloco

Não votei nas primeiras eleições em que o podia ter feito, porque, neste país, votar longe de casa ainda é inconcebivelmente difícil, e fico consternado com isso. Não sei se vou ser sempre assim, mas, pelo menos agora, quando ia começar a experimentar a coisa, estava todo na onda. Paciência. Certo é que, se tivesse votado, tinha votado BE. Não por ter uma qualquer ideologia política definida, mas por admirar as pessoas envolvidas. Acho que tanto o Louçã como o Miguel Portas emanam uma imagem de seriedade cada vez menos comum, alicerçada numa grande base de apoio jovem e em posições sustentadas. Talvez, como partido, roçem a tal extrema-esquerda, e talvez noutras circunstâncias estivesse inclinado para o PS, por recusar o sentimento anti-governo da praxe e por achar que, no fundo, o trabalho que se tem feito é de valor, mas numas eleições como as de hoje, tinha sido BE, por uma questão de reconhecimento. Teria ponderado CDS, por causa do Nuno Melo, não a CDU (porque comunismo puro acho-o esquisito e porque a Ilda Figueiredo é tudo menos carisma), em circunstância alguma PSD, porque 18 anos de jardinismo tornaram a recusa dessa opção uma questão de decência intelectual.

De qualquer maneira, mesmo sem o meu voto, facto é que as coisas não lhes podiam ter corrido melhor. Terceira força do país, três vezes mais deputados europeus. Quem diria. Estão mesmo a crescer, e desconfio que não seja por acaso. Quem sabe em Setembro não ficam a contar com o voto que lhes fiquei a dever.

sábado, 6 de junho de 2009

A Senhora do Caravaggio, em nome dos velhos tempos

Foi preciso um milagre para ganhar na Albânia. Há Bosingwa, Pepe, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Deco, Simão, Nani, Ronaldo, mas continua a não haver equipa, nem nada que se pareça, seja contra quem for. A nível de processos e pior, muito pior, a nível de cabeça. O projecto de futebol de luxo já se foi há muito tempo, e o que agora entra em campo não é mais do que um 11 sem um pingo de confiança, que acredita na sorte muito mais do que em si próprio. A equipa não tem espírito, não pressiona, não tem um pingo de mentalidade. Eles são bons, vê-se, como se fosse preciso, nas arrancadas do Ronaldo ou do Bosingwa, nos passes do Deco ou do Meireles, mas isso não chega. Andaram-nos tanto tempo a pregar que quem tem destes jogadores tem de jogar bem, que menos que isso é um insulto à nossa inteligência. Agora, além de não jogar, esta equipa vagueia.

Se calhar nem tenho grande moral para falar porque fui dos que, Scolari perdido, mais se entusiasmou com a vinda do Queiroz. Hoje, mesmo sem gostar de alinhar em ondas, acredito que foi um erro. O Queiroz é um pensador, um grande metódico, mas não é um líder. Pode ser um génio a desenhar equipas, e está aí o United a falar por ele, como o próprio Ferguson reconhece, mas não é e provavelmente já não vai a tempo de ser um número um. É um professor, um filósofo do bom futebol, alguém que conseguiu fazer dos nossos miúdos bicampeões do Mundo e que pôs o Real a jogar, nas palavras de Valdano, o melhor futebol da década, mas que está condenado a não ser um vencedor. Falta-lhe o instinto, a sagacidade. Falta-lhe o nervo para ser um condutor de homens e isso, infelizmente, não se aprende.

Apesar de tudo, continuo a ter esperança que a selecção esteja na África do Sul e continuo a ter esperança que o Queiroz se supere e me contradiga. Toda a esperança do mundo. Porque futebol é futebol, porque as pessoas se transcendem, e porque acho que o Queiroz o merecia, como poucos. E porque não sou derrotista e não sou obcecado por demonstrar o meu ponto de vista. Oxalá que, no início da próxima época, com o balão ganho hoje, esta equipa se faça grande na Dinamarca e na Hungria, e que ponhamos os dois pés na África do Sul. Tenho esperança, sim, mas, depois de hoje, custa-me a acreditar. Porque esta equipa parece derrotada há muito tempo, e porque, no fundo, o que aconteceu hoje é um contra-senso. Porque não é suposto que equipas desenhadas como esta, planeadas como esta, ganhem assim. E a Senhora do Caravaggio, mesmo que ainda se lembre de nós de vez em quando, já não mora aqui.