"I have no choice but to direct my energies toward the acquisiton of fame and fortune. Frankly, I have no taste for either poverty or honest labor, so writing is the only recourse left for me." Hunter S. Thompson
terça-feira, 21 de maio de 2019
A jornada foi a recompensa
No fim de contas, talvez fosse impossível cumprir as expectativas.
Não era só uma das maiores séries da História; era Game of Thrones, e isso significa que já tínhamos visto tudo, menos impossíveis. Essa foi, porventura, a sua última perversão: falhar-nos justamente no adeus, onde havia de doer mais, quando estávamos preparados para qualquer surpresa, mas nunca para uma desilusão. Com a sua falência, GoT provou afinal, na última partida, também a sua humanidade, dando-nos não o fim com que sonhámos, mas a derradeira angústia entre o adeus ao que fomos, e acima de tudo, o adeus àquilo que talvez nunca voltaremos a ser.
Tínhamos demasiadas expectativas, e a última temporada lembrou-nos que Game of Thrones sempre foi, afinal, um exercício de perda para todos. E mesmo assim, nesta última hora, teríamos perdoado tudo, e voltado e recuperado tudo, e nem o pior argumento teria custado mais do que o adeus. Uma década são muitos anos, muitas vidas. A minha começou na Faculdade, incrédulo com o Pestana a ver os episódios segunda à tarde, com as cortinas da sala corridas nas Águas Férreas, como se aquilo fosse uma máquina do tempo ou o nosso próprio teletransporte. Estivemos lá. Aquela mística, as lições e as memórias vão connosco para sempre. Crescemos com aquelas personagens, ganhámos e perdemos, viajámos e lutámos, vivemos e morremos com aquelas personagens, e nenhum argumento me poderia tirar o nó no coração de me despedir de cada uma delas uma última vez naquela última hora.
A jornada foi a recompensa. O auge foi o que vivemos ao longo de tantos anos, arrebatados, esmagados, tantas vezes aterrados e sem palavras para dizer, ou para agradecer. Consolados com a dignidade das pequenas vitórias, deslumbrados com o rasgo das maiores derrotas, sem nunca sair do lugar. Uma série pode ser isto. Um lugar aonde vivemos dentro, um lugar que nos desafiou, impressionou e nos cumpriu plenamente. No fim, estivemos, afinal, longe do auge, como era suposto se pensarmos bem, o que só prova que as nossas memórias foram realmente boas demais para hoje serem verdade. O auge foi tudo o que vivemos desde que éramos pequenos em Winterfell. Ontem, às 3 da manhã, a cumprir aquela última humilde homenagem, era essa a imagem que não me saía dos olhos, todos juntos com crias de lobo ao colo no Norte profundo, como a imagem dos pais a olharem para os filhos, sempre pequenos em tamanho, e muito grandes em recordações. Game of Thrones será sempre do tamanho que nos lembrarmos deles. Foi tudo verdade, o privilégio foi tão enorme.
No fim de contas, talvez fosse impossível cumprir as expectativas para a despedida. Fico-lhes grato por, mesmo numa temporada em que se permitiram falhar, termos podido despedir-nos à altura no episódio que faltava. Talvez o que nunca esperei foi poder fazer o luto em paz.
Etiquetas:
Drama,
Game of Thrones,
Séries,
Televisão
Subscrever:
Mensagens (Atom)