quarta-feira, 30 de maio de 2012

Séries 11-12: Raio-X


The Walking Dead 2, parte 2
Teve um único pecado: ter querido ser hollywoodesca no penúltimo episódio. Depois da monumentalidade de fim da primeira parte da temporada, a bitola estava alta, e a série correspondeu com mais uma fortíssima mão de episódios. Se dúvidas houvesse, The Walking Dead é mesmo a melhor série da actualidade. Só falhou, realmente, o excesso de espectáculo do clímax, ainda que o desenlace do season finale tenha sido bom, e aberto grandes perspectivas para o que está para vir. Sensacionais os desempenhos de Andrew Lincoln e Jon Bernthal.

Game of Thrones 2
Mais uma temporada de nível alto, como era de prever. A série respira grandiosidade e uma indiscutível capacidade para cativar, e, individualmente, a temporada foi colossal para o soberbo Peter Dinklage, e para o venerável Charles Dance. Ficam, contudo, em espera algumas linhas fortes da primeira temporada, e esta denota alguma dificuldade em concretizar um ou outro episódio. Também ao contrário da season 1, o tradicional episódio-clímax desiludiu um pouco, fruto de uma realização sofrível, na primeira grande batalha. As expectativas seguem, porém, muito altas.

Downton Abbey 2
Teve algumas dores de crescimento como sequela, isto é, não foi tão natural como a primeira temporada, tão bem pensada e ponteada, e algumas narrativas perderam-se aqui ou ali. O resultado global, no entanto, continuou a ser muito bom, com a reverência do romance que lhe é tão característica a ter os horrores da guerra como pano de fundo. Temporada magnífica para Michelle Dockery, muito bem secundada pelos veteranos Jim Carter e Maggie Smith.

How I Met Your Mother 7
As últimas duas temporadas foram uma desilusão. A série perdeu a frescura, a simplicidade, quis ser muitas coisas grandes ao mesmo tempo, e gastou-se. Sobrava alguma expectativa para perceber as nuances do fim da season 7, mas manteve-se a redundância, a insistência em narrativas que já vimos vezes de mais. HIMYM é a melhor sitcom que já vi, foi o meu Friends, mas, como House, não soube sair.

Modern Family 3 e The Big Bang Theory 5
Grande temporada para ambas. Estão bem e recomendam-se. Acho que Modern Family ganhou os prémios antes de os merecer, mas hoje é uma comédia de fino quilate, com uma identidade própria, que dá gosto ver. Sem presunção nem grandes malabarismos, afirmou o seu espaço plenamente (ainda que o fim de temporada tenha sido um pouco recheado de mais). A Big Bang há que reconhecer o mérito de manter a chama, e continuar a estender-se imperturbável no tempo. A história evoluiu, mas de uma forma inteligente e subtil, sem exageros, e, no fim da season 5 (muito bem conseguido) conserva-se no auge, ainda com muito para dar.

The Amazing Race 20 e Survivor 24
Opostos. Não acabei Amazing Race, não por peculiaridades da temporada, mas porque a série tem uma durabilidade reduzida, e acaba por maçar. Tinha visto duas temporadas antes, e foi inevitável a sensação de mais do mesmo. Survivor, pelo contrário, é um vício inapagável. Depois da brilhante season 23, mais uma temporada ligada à máquina, com excelentes personagens e um óptimo jogo. Não há reality-tv que se lhe compare.

Os melhores da temporada 11/12

1 - The Walking Dead
4 - Game of Thrones
5 - Downton Abbey
6 - Modern Family
7 - The Big Bang Theory
8 - Boss

O mais unânime do pódio é quem cai


Chocante a rescisão do Braga com o melhor treinador do campeonato.

Sondagens do Porto, enquanto se cozinha a saída de Vítor Pereira? As decisões que parecem abruptas costumam ser muito mais do que isso, e se Jardim estava receptivo ao Porto para essa eventualidade, é legítimo que Salvador não tenha querido continuar a preparar a época com quem pode vir a não contar em breve. Neste momento, contudo, esse é um cenário com tanto de conspiratório como outra conspiração qualquer.

Quanto ao que é público: no início da semana, a notícia era que Salvador não teria ficado agradado com o facto de Leonardo Jardim ter dito que a relação de ambos era "profissional". A polémica pareceu bacoca, mas este pode muito bem tratar-se de um caso de falta de empatia.

Aliás, a primeira sensação segura que fica é que António Salvador deixa cair um treinador de alto nível - que fez do Braga a equipa mais equilibrada do campeonato, a espaços com o melhor futebol, uma série de jogadores valorizados, um título disputado até à última, e uma qualificação para a Liga dos Campeões -, por uma certa falta de carisma e de imagem. Jardim não é um treinador da moda, não é polémico, não é uma marca, e essa esterilidade parece chocar com a imagem que o presidente do Braga deseja que o clube projecte. Nesta lógica, por exemplo, faz todo o sentido que se insista no nome de Sérgio Conceição.

Leonardo Jardim provou o que tinha a provar. É verdade que lhe faltou estaleca para jogar o título com os maiores, mas o nível táctico, a valorização de jogadores e a produtividade garantem-lhe um lugar no banco de um grande no espaço de dois anos.

Conceição fez um trabalho muito bom em Olhão - melhor, aliás, do que Jardim tinha feito em Aveiro -, e não espantará ninguém se for uma aposta bem sucedida. O problema é que mudar de treinador não é como mudar de camisa, e este é o tipo de decisões que afecta uma equipa, muito mais do que a costuma beneficiar.

sábado, 26 de maio de 2012

Um capitão


Lesionado, exigiu que fosse Xavi a levantar a Taça do Rei. Na Catalunha, Puyol será sempre o meu favorito.


sexta-feira, 25 de maio de 2012

O futebol que merecemos


O que aconteceu no Dragão Caixa não tem desculpa. É intolerável sob qualquer ponto de vista, é o tipo de acontecimento terceiro-mundista que rouba as pessoas ao espectáculo, e só contribui para fazer do nosso desporto cada vez mais pequeno. Justificá-lo com as provocações do treinador do Benfica é uma falta de seriedade, uma piada de mau gosto. O Porto devia ter vergonha do que aconteceu. Se não tem a hombridade de se distanciar, não é melhor do que aquilo.

Ao mesmo tempo, não há como descrever a irresponsabilidade brutal do show de Vieira. Perante um acontecimento grave, o presidente do Benfica só se preocupou em continuar a mascarar mais um ano de fracasso desportivo. O futebol português afunda-se num estado de sítio, mas a prioridade do presidente do nosso maior clube é salvar a própria pele, enquanto vomita discursos aberrantes, incendeia tolos, e leva o ódio aos limites.

O dia chegará em que as pessoas se vão arrepender disto. É bom que não esqueçam quem foram os culpados.

We do believe in angies

Band of Brothers (2001)


"Grandpa, were you a hero in the war? 
No. But I served in a company of heroes"

Não esperava que, ao fim de tanto tempo, ainda pudesse ficar tão esmagado com um retrato da 2ª Guerra Mundial. Certo é que Band of Brothers entra directamente para a lista de absolutos obrigatórios, onde já ponteavam outras obras de arte de Spielberg como A Lista de Schindler ou O Resgate do Soldado Ryan. O maior elogio que posso fazer a Band of Brothers é reconhecer que está à altura dessas.

O retrato da guerra, em si, é avassalador, e é, possivelmente, o mais cru que já vi. Averso aos lirismos que costumam ser tão caros aos contadores destas histórias, agride-nos com uma brutalidade total. Fala da guerra aleatória, perversa, que não poupa ninguém, que não escolhe, que pode sacrificar qualquer um, em qualquer momento, e de qualquer forma. Mostra o sofrimento profundo de homens normais, não heróis, mas homens como qualquer um de nós, o tudo que se dão a perder, e os pequenos nadas a que se podem agarrar para subsistir, quando vêem todos os dias os seus irmãos de armas a morrer sem avisar.

A guerra pode ter razão de ser, pode merecer muita coisa, mas não tem um fio de beleza, e Band of Brothers é puro nesse tormento. A única coisa que se leva da guerra é a camaradagem, os amigos para a vida, porque quem arrisca tanto, quem põe tanto em causa, não tem alternativa a não ser confiar incondicionalmente. Ali, com tudo a perder de uma maneira tão estupidamente fácil, o que sobra é serem todos tão extraordinariamente iguais. Quando não há alternativa a não ser ir ao limite, o único consolo é não ir sozinho. Band of Brothers é o retrato ímpar dessa irmandade feita de sangue.

A mini-série (10 episódios) baseia-se num livro de Stephen Ambrose, historiador e biógrafo de Eisenhower e Nixon, e é inspirada pela história verídica. Aliás, na introdução de cada episódio, falam os próprios veteranos (cuja identidade só é revelada no fim), com cada capítulo a desenvolver a acção do ponto de vista de um personagem.

No centro da acção, que começa no Dia D, está a Companhia Easy, de paraquedistas, um grupo imensamente coeso e bem treinado, que vai cruzar, de forma inapelável, momentos incontornáveis da 2ª Guerra, como Carentan, Eindhoven, Bastogne, ou Foy. Num trabalho magnífico de realização, vive-se a guerra, autenticamente. Band of Brothers tem as melhores sequências de combate que já vi, o desespero, o frio, o sofrimento, a espera, "nossa" e deles, pequenas vitórias e grandes derrotas, e vice-versa, e a morte, brutal até onde é concebível, ao virar de cada esquina. Tem igualmente episódios, por si só, de outro mundo, como o do cerco a Bastogne, o auge do massacre, ou o do Campo de Concentração de Landsberg, que nos deixa sem reacção, com um verdadeiro nó na garganta, esmagados.

É uma mini-série de personagens fenomenais, ainda que o que sobressaia seja o coração colectivo. A figura central indiscutível é o Major Winters (o fantástico Damien Lewis, de Homeland), um homem inteligente e carismático, que é obrigado pela guerra a tornar-se num verdadeiro líder. Grande performance de Lewis, mais uma, numa assimilação perfeita do homem normal, que se transcende porque é isso que as circunstâncias lhe exigem. O verdadeiro Major Winters faleceu no início de 2011, e foi o último dos comandantes da Easy a morrer.

Há outros nomes de referência, como o irascível Capitão Speirs (Matthew Settle), o pacífico Tenente Lipton (Donnie Wahlberg) ou o confiável Sargento Malarkey (Scott Grimes), mas a série faz valer, acima de tudo, o arrepiante espírito de grupo, que se materializa num conjunto de 15 ou 20 caras todas com história, e que, no fundo, se tornam todas muito próximas e familiares.

Só quando acaba é que percebemos verdadeiramente a consideração e a reverência que ganhámos por aqueles homens. No fim, mesmo na simplicidade da nossa percepção, conseguimos perceber o que aquilo custou, conseguimos imaginar a inimaginável provação a que aquela gente de carne e osso foi sujeita, e compadecemo-nos. Lembramos com nostalgia o seu percurso, e, no episódio final, não há como não nos emocionarmos.

Band of Brothers ganhou, em 2002, o Emmy e o Globo de Ouro para Melhor Mini-série, e ainda o Emmy para melhor cast. Para mim, é uma obra-prima.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

Briosa


Houve um tempo em que tinha a certeza de que ia fazer a Universidade a Coimbra. Também tinha a certeza de que a Briosa ia ser o meu segundo clube. Nunca aconteceu, e sou capaz de nunca me perdoar. Já a simpatia pela Briosa ficou, e a vitória de hoje também é minha, é de todos os não grandes. A vitória de hoje é a essência da Taça consumada, é a celebração de um futebol português maior e melhor do que os grandes, mais saudável, que pode fazer a festa e ser feliz de Braga ao Funchal, de Coimbra a Setúbal.

Parabéns Briosa, foi bonito.

"A vida é fantástica"


Um tipo especial. Ninguém merecia mais do que ele, de facto.

sábado, 19 de maio de 2012

Claro que ganhou o Chelsea


Claro que ganhou o Chelsea. Éramos tolos se duvidássemos. Os deuses andaram 300 minutos a gozar-nos na cara, desde que o Barça entrou em Stamford Bridge a fazer contas ao jogo de hoje com o Real. Claro que ganhou o Chelsea. O Barça meteu quatro bolas no barrote, o Bayern outra, o Messi falhou um penalty, o Robben falhou outro, estava tudo perdido ao intervalo no Camp Nou, tudo perdido ao minuto 90 da final, tudo perdido depois do penalty do Mata, qual quê, éramos tolos se duvidássemos. Claro que ganhou o Chelsea. O 6º classificado da Premier League é campeão europeu, com um adjunto a treinador, com 4 titulares castigados, a estrear na final um miúdo francês, e em casa do adversário, obviamente. Éramos tolos se duvidássemos. Esta era a Champions da ironia, do caos, estava assombrada, já todos devíamos saber. Passará à História como a Champions que toda a gente perdeu, o Barça, o Real, e o Bayern em casa, as três melhores equipas da Europa. O Universo decidiu que o 6º classificado da Liga Inglesa é que teria 7 vidas, e isso é quanto baste. Amo-te futebol.

10 anos, 900 milhões, 4 meias-finais e 1 final depois, Abramovich chega finalmente à sua Champions, com o seu pior Chelsea. Insondáveis são os caminhos do Senhor. Com ela despede-se, como não podia deixar de ser em 2012, mais uma geração extraordinária de jogadores. Outra das equipas da década. O futebol nem sempre é justo, e é provavelmente isso que dirão desta Champions um dia. Já para mim, no meio do caos, foi-o à sua maneira. Como mereciam ganhar aquilo Terry, Lampard e Drogba (e Cech, e Cole, e Essien...). Como mereciam sair assim.

Que ano memorável.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ruud


2012 foi um ano cabrão para a minha infância. De repente, parece que se querem ir todos embora. Raúl e Del Piero fartaram-se da alta competição. Foi-se o Milan. E, no último dia da época, e depois do Pippo, foi-se também o Ruud.

Sobre Inzaghi, já escrevi. Sobre Nistelrooy tenho obviamente de lembrar o gigante, a verdadeira máquina dos grandes palcos, eternamente celebrada pelo rasto brilhante que deixou no glamouroso eixo Manchester-Madrid. Como Inzaghi, também não era um jogador estético, também não teve esse dom de ser bonito de ver, só aquele sobre-humano cheiro a golo. Raúl e Del Piero exalavam classe, pareciam de outro campeonato, Ruud era mais simples, uma massa humana em forma de seguro de vida, que só precisava da pequena área para viver. Um colosso. Esteve no United entre títulos europeus, e no Madrid pós-Del Bosque. Faltou-lhe essa Champions. No resto, é a Champions que vai sentir falta dele, ainda hoje o seu segundo melhor marcador de sempre. Irónico que se despeça logo no ano em que ajudou o Málaga a lá chegar pela primeira vez.

Como Inzaghi, sai na alta roda. Ainda gosto mais deles por causa isso. Ano cabrão, 2012. Levou-me o meu par de noves.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Também tu, Manel


Bruta ironia, as duas surpresas virem de Braga, haver uma para o meio-campo, e Hugo Viana ficar na mesma a ver pela televisão.

Miguel Lopes em vez de Nélson, claro, o que não o torna exactamente convocável. Se o terceiro lateral tinha de jogar nos dois lados, Sílvio é de outro nível. A verdade é que está na lista Ricardo Costa, que joga onde for, e o melhor dos "laterais suplentes" (e o que fez uma melhor época, e a um nível mais alto) é Eliseu.

Custódio fez uma época tremenda. É um jogador inteligente, um grande trinco, que pode valer muito como pêndulo defensivo. O que se estranha é que Bento só o chame agora, quando Custódio é claramente um jogador "para ser titular", e o trinco foi Meireles neste tempo todo. Abdicar de Manuel Fernandes para ter Custódio no banco não faz sentido.

Na verdade, abdicar de Manuel Fernandes não faz sentido em nenhuma equação. Desde logo, porque também ele arrancou na Turquia a sua melhor época em bastante tempo. Depois, e principalmente, porque é um jogador de uma rotação só comparável a Meireles e a Moutinho, muito melhor fisicamente do que qualquer um dos outros três, mais polivalente, mais disponível, e sem lhes ficar a dever nada técnica ou ofensivamente. Não vai Viana, e agora também não vai o terceiro melhor médio do núcleo duro.

Como dizia o outro, agora é ir para a selva, no matter what, mas Paulo Bento e o meio-campo é uma coisa que não me assiste.

"Médios que têm vindo adaptam-se mais ao nosso jogo"


"Não tem sido opção. Não pelo seu valor, não pelo rendimento - que tem sido bom -, mas porque entendemos que os médios que têm vindo à selecção preenchem uma série de características que vão mais de encontro à nossa forma de jogar. Quer do ponto de vista ofensivo, quer do defensivo."

Paulo Bento à TVI, há dois meses

Hugo Viana ficará, com toda a probabilidade, fora do Europeu. Mesmo assim, pelo melhor médio do campeonato, não deixa de valer a pena esperar até ao fim.

Paulo Bento nunca foi um treinador fácil. É um general por natureza, de pavio curto, sempre um tanto ou quanto distante dos jogadores. Mesmo assim, conservou um perfil empático. Com ele é pouco provável lidar-se com mal entendidos, toda a gente joga com as cartas em cima da mesa, sabe com o que contar. É justo que se debata até que ponto uma postura tão susceptível ao choque é rentável em alta competição, mas a verdade é que Bento tem cumprido sempre, e em locais tão delicados como um Sporting mendicante, e uma Selecção em polvorosa, que ao segundo jogo da qualificação já via o Euro muito negro.

Se a Selecção estava melhor com Bosingwa e Ricardo Carvalho? Estava. Mas, com tudo o que foi exposto, sou capaz de dizer que Bento tem provavelmente razão em ambos os casos, o que é bem melhor do que Queiroz com Deco-Pepe-Nani, ou mesmo do que com Scolari e Baía. Hoje, não discuto Bosingwa e Ricardo Carvalho. Hugo Viana, pelo contrário, é coisa que me ultrapassa. Ele e Bento chegaram a ser, imagine-se, colegas de equipa. Mais tarde, diz-se que foi Bento a vetar o seu possível regresso a Alvalade. Não sei se há ou não passado, ou se a decisão de Bento é mesmo meramente técnica, mas o resultado é criminoso, seja qual for a causa. Viana tem inteligência, leitura, classe, experiência, e um perfil cordato, fora o pormenor que é aquele prodigioso pé esquerdo. Em cima disso, tem uma época excepcional, que devia dispensar explicações. Em que universo não reúne ele as características que vão de encontro à nossa forma de jogar? Como é que pode ficar ele de fora em benefício de Veloso, Micael ou Carlos Martins, quando esses, além de lhe serem inferiores em quase tudo, fizeram épocas tão discutíveis?

Viana não só cabe nos 23, como seria titular de caras. Deixá-lo de fora é o tipo de luxo a que não nos devíamos poder dar.

P.S. - Na defesa, espero Sílvio ou Eliseu, em vez de Nélson. No ataque, a confirmação de Nélson Oliveira. Hélder Barbosa por Varela, pela disparidade de épocas, mereceria consideração.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

O fim do meu Milan


 "Sandro, Rino, Pippo, Clarence: compagni e/o avversari, ma nemici mai. Felice di aver giocato con e contro di voi. Vi stimo, ragazzi. Ale"
Del Piero

Despedem-se estes dias do Milan, não um, não dois, mas quatro históricos. Quatro verdadeiramente grandes: Nesta, Gattuso, Seedorf e Inzaghi. Com eles despede-se, por fim, uma das mais extraordinárias equipas com quem cresci, uma das inesquecíveis: o monumental Milan europeu de Ancelotti. Já tinham ido o eterno Maldini, Dida, Kaladze, Sheva e Rui Costa, há menos tempo Kaká e Pirlo, desta vez celebra-se definitivamente o fim da história. Que jogadores.

Nesta foi, a par de Ricardo Carvalho, o melhor central que vi jogar. Jogava de pantufas, antes dos outros, sem bater. Passeava-se numa zona feia do campo, onde parecia sempre não pertencer. Tinha classe até a andar.

Gattuso era o contrário. Jogava com o coração nas mãos, sempre no limite, sempre ligado à máquina, disposto a correr quando já mais ninguém corria. Disse uma vez que, ao ver Rui Costa e Kaká, não sabia como podia ser jogador de futebol. Falava como jogava, sempre de coração aberto.

Seedorf era o senhor. Parecia jogar num andar acima do campo, sempre paciente e filosofal, a ver o que os outros não viam, a encaminhá-los. Aos 36 anos, era o único dos quatro ainda titular. A pensar, dura-se mais tempo.

E, finalmente, Pippo, com Nistelrooy, o 9 que mais idolatrei, uma ave de rapina em forma de homem, capaz de aparecer nas costas de qualquer defesa, ou de um exército que fosse, e de decidir qualquer jogo.

Com eles, acaba uma das razões porque isto pareceu valer tanto a pena para um miúdo de 12 anos. Ainda verei muito futebol, mas as lendas com quem cresci nunca serão menos do que isso. Que equipa.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Vítor Pereira e Jesus: deviam ir embora, mas faz sentido que fiquem


Ainda é cedo para dizer com certeza, mas é, pelo menos, bastante provável que Porto e Benfica mantenham os seus treinadores. Em Portugal, é surpreendente. Os portistas odeiam Vítor Pereira, porque o título foram miúdos, e não pagou a humilhação no resto e o futebol sofrível; os benfiquistas fartaram-se de Jesus, e não lhe perdoam mais um ano de derrotas, egomania, e incapacidade para aprender com os erros. Se a decisão fosse dos adeptos, nenhum deles ficava, e não posso dizer que os adeptos não tenham razão.

Já aqui disse várias vezes que Jesus é o melhor treinador que vi no Benfica. O problema é tudo o que acabou por se perder nestes dois anos, este último desmoronamento em especial. Jesus voltou a perder porque foi incapaz de evitar que a equipa se voltasse a desfazer mentalmente na hora H, e, no global, porque foi arrogante, ostracizou quem não devia, e porque voltou a não ser inteligente ao abordar os adversários. Jesus foi, de longe, o grande artífice de tudo o que de bom o Benfica alcançou nestes três anos. Infelizmente para ele, e para o Benfica, é também o maior culpado pelos fracassos. Como li há tempos no Lateral Esquerdo, Jesus tem capacidade para ser campeão as vezes que quiser. Mas se continua a não aprender com os próprios erros, então o mais provável é que continue a perder.

Vítor Pereira é só fraco. Deve orgulhar-se da forma como a equipa se transcendeu nos jogos grandes que lhe salvaram a época, mas o título é muito mais da estrutura do que seu. Numa prova de regularidade, a máquina Porto será sempre competitiva, e, no fim, é indiscutível admitir que também usufruiu do demérito adversário. No resto, foi uma época desgastante, com um futebol desencantado, jogadores aquém da forma, casos, e saídas penosas de todas as Taças. Pior, ficou a sensação de que, este ano, qualquer um teria ganho naquela cadeira. É irónico que Vítor Pereira seja o campeão e se discuta a sua competência, e que, do outro lado, esteja um Jesus que perdeu duas vezes, mas cuja qualidade não está em causa. Porém, é essa a realidade.

Tanto Porto como Benfica podiam fazer melhor se mudassem, mas, ainda assim, faz sentido que não mudem. É bom não esquecer que a mudança é delicada, e que há coisas a perder. No Benfica, porque se conseguiu muito com Jesus, e coisas que o clube já não estava habituado a ter. Com todas as falências, há uma excelente equipa criada, que, para o ano, começará em pé de igualdade com o rival. Não é pacífico mexer nisso, nem arranjar outro que o garanta. No Porto, porque é assim que se funciona. Toda a gente pediu a cabeça de Vítor Pereira, mas, no fim, a postura inabalável de Pinto da Costa e dos pares entregou mais um título. No Porto não se decide da rua, e essa estabilidade paga. Despedir um treinador campeão era pôr tudo isso em causa.

Saberemos em breve. A minha aposta é que o risco não vá compensar.

ZON Sagres 11/12: Os melhores do ano


1. Viana
2. Hulk
3. Aimar

Artur; Maxi, Maicon, Garay, Insúa; Witsel, Viana, Aimar; Hulk, Danilo Dias, Lima.

Rui Patrício, Douglão, Moutinho, Schaars, Bruno César, James, Baba. 

Treinador: Leonardo Jardim

Equipa-revelação: 
Facchini; Caiçara, Ewerthon, Neto, Rubén; Nolito, André Cunha, André Martins, Hélder Barbosa; Rodrigo, Melgarejo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Façam-lhe uma estátua


Não há nenhuma forma verdadeiramente justa para descrever a magnitude da final de Falcão. Não lhe chega a tonelagem do que marca, a omnipresença nos momentos-chave ou a capacidade para fazer da equipa 2 ou 3 vezes melhor do que é: os golos d'El Tigre têm de ser extraterrestres. Golos valem todos o mesmo, e haverá mais uma dezena de jogadores que garantam 40 por época. Marcar, muitas vezes, terá a ver com apuro, treino, objectividade. Para Falcão, porém, é arte. Haverá algo de muito errado se no Verão já não estiver num colosso europeu.

O Atleti foi senhorial, e o mérito evidente é de Simeone. Claro que ter Falcão perverte qualquer análise, mas é uma grande vitória de El Cholo, que, é bom lembrar, só chegou no Natal, e com o barco encaminhado para mais um falhanço. O Atleti foi inteligente, adulto e, sobretudo, despretensioso. Esta era a Liga Europa do romantismo basco, e projectou-se uma imagem de favoritismo que, na prática, não tinha assim tanta razão de ser. Mesmo assim, Simeone teve o mérito de reconhecer o talento, e de jogar em função do adversário. Sem risco, a condicionar a vertigem ofensiva basca, e a contar com a eficácia da frente. A qualidade da leitura só foi superada pela da execução: a equipa pareceu imbatível, e deu uma verdadeira lição de maioridade a um adversário cheio de talento e de coração, mas quase condenado, quando não está do outro lado um onze que jogue o jogo pelo jogo. É esse o pecado que atormenta a carreira de Bielsa: as suas equipas esbanjam espectáculo e carisma, mas não têm o nervo dos vencedores.

Sou pelo Atleti há muito tempo, hoje confesso que estava dividido, mas El Tigre é quem manda. Hoje, porventura pela última vez, a Fonte de Neptuno terá sotaque colombiano.

18 tributos dos árbitros em 20 anos


A campanha do Benfica na última semana é só cortina de fumo? Podia ser. O problema, para o Benfica, é que se calhar não é: quem ganha duas vezes em vinte anos, e acaba de ficar a seco nas duas épocas mais caras desses vinte anos, é capaz de estar mesmo a fazer qualquer coisa mal. O Benfica teve o melhor plantel da Liga, uma vantagem de 5 pontos, e o pior treinador adversário da década, e, mesmo assim, fez a proeza de perder mais um campeonato. Se a resposta é "um dos mais ferozes ataques à arbitragem", com o cão-raivoso-shit-for-brains João Gabriel como "imagem do sentimento de ira", então o mais provável é que aquela gente não tenha mesmo a mais pequena ideia do porquê de continuar a perder tão espectacularmente. Se isto é o Benfica, os benfiquistas deviam estar, pelo menos, envergonhados, enquanto se preparam para perder outra vez para o ano.

Sobre o broche d'A Bola: não faz sentido ser separatista em relação a capas de desportivos, porque desportivos têm frequentemente menos de notícias e mais de negócio, são um mundo à parte. Se o Benfica vende mais, as capas são do Benfica, fácil quanto isso. Apesar de tudo, não deixam de ser jornais, e, como tal, não podem viver sem se dar ao respeito. Se passam atestados de estupidez e assinam de cruz em propaganda, são lixo, e o lixo acaba sempre no seu lugar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

E se o país fosse como Mourinho e Ronaldo?


O David Borges disse agora, na SIC-Notícias, que ser campeão no Real é normal. Deve ter vivido num buraco nos últimos 4 anos. Também não deve saber que este foi só o terceiro título da década.

O Grand Slam de Mourinho também deve ser normal.

Para ser perfeito, falta que Ronaldo seja igualmente normal, e recupere a Bota de Ouro que tem de ser sua, nos dois jogos que faltam.

Hoje, na Cibelles, comemora-se o topo do mundo. O que não é normal é que o topo do mundo seja português.

Passionate love, for always


À sua própria escala, este American Reunion também era o movie event of a generation. Acho que vi o primeiro com 12 anos, estava a entrar no segundo ciclo do básico. O terceiro já vi no cinema. Se a minha adolescência teve uma saga, chamou-se American Pie. Nenhuma outra teve tanto carisma, tanta omnipresença: todos os filmes teen que se fizeram na década seguinte foram avaliados à sua imagem. Era o American Pie e os outros, houve o antes e o depois. Crescer, estar no secundário, namorar, ir para a faculdade, era assim, aquela história, aquele ícone. Custa a acreditar que passaram 13 anos desde a primeira vez. Já todos bateram os 30, alguns avistam os 40. Custa a acreditar.

Por alguma razão, pareceu que esta reunion nunca fosse acontecer. Deixou-se arrefecer o entusiasmo, fizeram-se miseráveis spin-offs, e parecia irrealista resgatar a lenda do tempo. Mas aconteceu. Isto não é, portanto, nenhuma crítica, até porque, em consciência, nunca poderia criticar um American Pie, da maneira como não se ajuízam aquelas boas velhas memórias que fazem parte da nossa história. Aqui fala-se de reverência, o resto é pormenor.

Até pode faltar a este get together a alma de outros tempos, a novidade, a pureza e a frescura das piadas, até pode faltar alguma densidade, mas voltam todos ao East Great Falls de sempre, no fim-de-semana para descobrirem o que lhes aconteceu, e vive a nostalgia. O Jim, o Finchie, o Kevin, o Stifler, o regresso do Oz, mais o Pai do Jim, a Michelle, e a Vicky e a Heather, até o Sherminator, a Jessica e o MILF Guy. 13 anos depois, voltaram a estar todos lá. É como ser miúdo outra vez, como ter envelhecido com eles. Melhor ou pior, o que não pode é ser avaliado à parte do mito. Melhor ou pior, claro que resultaria sempre.

terça-feira, 1 de maio de 2012

The Intouchables


É tão bom como se dizia. The Intouchables é um filme delicioso, que retrata a cumplicidade com o gozo que lhe é próprio, e que só por isso já seria uma pérola, ou não costumassem os filmes ser quase sempre líricos demais para apanhar uma essência como essa. Não aqui. Em The Intouchables ri-se de tudo, especialmente de um homem que é tetraplégico e também especialista a rir dele mesmo, ri-se com vontade, ri-se como, no fundo, só os grandes amigos são capazes de rir de si próprios. É um filme arriscado, no sentido em que as pessoas, no geral, não costumam receber bem este tipo de textos. Acredito, até, que muita gente tenha ficado absolutamente chocada por se passarem ali duas horas a fazer piadas de um deficiente. A crítica quase unânime celebra, contudo, o argumento notável dos realizadores-argumentistas franceses Olivier Nakache e Eric Toledano, que alcançaram um sucesso transversal com um tipo de filme susceptível, à partida, a todos os anticorpos. A vida é aquilo, independente às circunstâncias. Morremos no dia em que já não pudermos rir de nós próprios.

Como quase sempre, o filme também funciona porque tem dois grandes protagonistas. Magnífica a expressividade de François Cluzet. Só podia mexer a cabeça, não tinha muito com o que jogar, mas é tudo o que se lhe podia pedir. É, por definição, um papel fácil de gostar, mas Cluzet encontra o equilíbrio perfeito entre sobriedade, um certo tormento e aquele esgar sorridente que só sai bem lá do fundo da alma. Omar Sy (que ganhou o César de Melhor Actor - o prémio da Academia Francesa - a Dujardin!) é o coração do filme. O gigante fora do seu mundo, que vem dar a pedrada no charco, inconsciente para alguns, mas só na medida em que sabia distinguir o que era realmente indispensável. A dada altura, há um diálogo que o acusa de ser irresponsável e desadequado, de não se preocupar o suficiente, e Cluzet responde que era exactamente essa aparente indiferença o que o tornava especial, o que fazia a diferença. Ser tetraplégico era um pormenor. Ser multimilionário era um pormenor. Iguais não se tratam com pudores e, quando estavam os dois, eram sempre iguais.

Não é à toa que o filme é considerado o 2º melhor de 2011 pelo imdb, e que foi eleito evento cultural do ano em França. The Intouchables tem o dom, ainda por cima, de acabar com uma classe imensa, sem desfechos épicos nem novelescos. Limita-se a deixar-nos a sorrir, o que é mais do que suficiente, e diz quase tudo.

8/10