terça-feira, 1 de maio de 2012

The Intouchables


É tão bom como se dizia. The Intouchables é um filme delicioso, que retrata a cumplicidade com o gozo que lhe é próprio, e que só por isso já seria uma pérola, ou não costumassem os filmes ser quase sempre líricos demais para apanhar uma essência como essa. Não aqui. Em The Intouchables ri-se de tudo, especialmente de um homem que é tetraplégico e também especialista a rir dele mesmo, ri-se com vontade, ri-se como, no fundo, só os grandes amigos são capazes de rir de si próprios. É um filme arriscado, no sentido em que as pessoas, no geral, não costumam receber bem este tipo de textos. Acredito, até, que muita gente tenha ficado absolutamente chocada por se passarem ali duas horas a fazer piadas de um deficiente. A crítica quase unânime celebra, contudo, o argumento notável dos realizadores-argumentistas franceses Olivier Nakache e Eric Toledano, que alcançaram um sucesso transversal com um tipo de filme susceptível, à partida, a todos os anticorpos. A vida é aquilo, independente às circunstâncias. Morremos no dia em que já não pudermos rir de nós próprios.

Como quase sempre, o filme também funciona porque tem dois grandes protagonistas. Magnífica a expressividade de François Cluzet. Só podia mexer a cabeça, não tinha muito com o que jogar, mas é tudo o que se lhe podia pedir. É, por definição, um papel fácil de gostar, mas Cluzet encontra o equilíbrio perfeito entre sobriedade, um certo tormento e aquele esgar sorridente que só sai bem lá do fundo da alma. Omar Sy (que ganhou o César de Melhor Actor - o prémio da Academia Francesa - a Dujardin!) é o coração do filme. O gigante fora do seu mundo, que vem dar a pedrada no charco, inconsciente para alguns, mas só na medida em que sabia distinguir o que era realmente indispensável. A dada altura, há um diálogo que o acusa de ser irresponsável e desadequado, de não se preocupar o suficiente, e Cluzet responde que era exactamente essa aparente indiferença o que o tornava especial, o que fazia a diferença. Ser tetraplégico era um pormenor. Ser multimilionário era um pormenor. Iguais não se tratam com pudores e, quando estavam os dois, eram sempre iguais.

Não é à toa que o filme é considerado o 2º melhor de 2011 pelo imdb, e que foi eleito evento cultural do ano em França. The Intouchables tem o dom, ainda por cima, de acabar com uma classe imensa, sem desfechos épicos nem novelescos. Limita-se a deixar-nos a sorrir, o que é mais do que suficiente, e diz quase tudo.

8/10

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