segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Blue Valentine


Merecia a nomeação para Melhor Filme nos últimos Óscares.

Blue Valentine é uma belíssima história de amor, contada com um realismo cru e impressionante. Não é banal e não tem pudor em retratar desgaste e desencanto, o que só aprimora a pureza do romance em si. O filme entrecorta o presente com o início da relação (com flashbacks e forwards), e é impossível não nos rendermos à mestria do argumento e das interpretações. Apreendemos a frescura e a doçura dos primeiros tempos tanto quanto sentimos depois a violência da realidade em que essas já não estão, numa obra triste mas de beleza intrínseca.

O filme fala de ambição e de evolução, do que nos faz felizes e do que chega para um mas pode não chegar para outro. Mostra paixão tal como as pequenas coisas que, a pouco e pouco, os separaram, qual mão invisível que nenhum dos dois poderia verdadeiramente deter.

Derek Cianfrance realizou e co-escreveu. A realização denota sensibilidade, mas é ofuscada por um argumento magistral a nível de diálogos e da caracterização da relação e das personagens. O filme é o retrato de sentimentos e da passagem do tempo, implicando mais maturidade do que criatividade, e é tanto mais difícil de escrever por causa disso. É um argumento sobre pessoas, e a materialização, do encanto à amargura, tanto em Ryan Gosling como em Michelle Williams, roça a perfeição.

Os dois são, claro, determinantes para o produto final. Só Michelle chegou aos Óscares, mas era justo que lá tivessem estado os dois. Pessoalmente até acho que o desempenho de Gosling foi superior: a tristeza que projecta é impagável e a sua impotência perante o descalabro da relação é devastadora; o descalabro para o qual ele, em consciência, nunca contribuiu directamente, pelo que não o poderia aceitar, como lembra quando diz que nunca a traiu, nunca a tratou mal, nunca foi mau pai. O papel de Michelle é diferente. É mais de desencanto, de fuga, na celebração da premissa que o filme lança a dada altura e que, no fundo, o define: que só os homens amam verdadeiramente. E que, de alguma maneira, precisam de menos para serem felizes.

Blue Valentine é um filme lindíssimo. Com tanto de delicado como de violento, tanto de encanto como de tristeza. Um pleno romance.

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