quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mr. Robot, temporada 1. Uma overdose de Revolução


É uma série transparente, no sentido de que ou fascina ou não se suporta. Simples quanto isso. E acho que essa é uma opção criativa que merece todo o respeito. Por um lado, porque cria uma audiência de culto, dando-se à liberdade de continuar fiel à sua visão e às suas peculiaridades; por outro, porque não engana à falsa fé quem lhe tenha dado uma primeira oportunidade. Não só tenho consideração por esse tipo de séries, como acredito que a individualidade é, quase sempre, o caminho para a excelência. Neste caso, infelizmente, caibo na segunda categoria.


Vi metade da temporada e foi positivamente suficiente para perceber que não era para mim. Mr. Robot versa ou, dalguma maneira, psicopatiza a respeito de um outcast, um vigilante hacker com depressão diagnosticada, ansiedade social gravosa e uma espécie de autismo mais ou menos tangível, que se vai descobrir mergulhado num autêntico turbilhão conspirativo, decalcado à imagem e semelhança duma mescla entre os Anonymous e a Wikileaks. A série investe, a braços largos, nesse maná moderno que é o cyber poder, instrumentalizando um peão com um talento fora do vulgar para uma suposta Revolução a borbulhar desde as catacumbas da clandestinidade. Nessa viagem, recrutam o peão, mas recrutam igualmente os seus infinitos demónios, criando uma mancha alucinogénica que vai contaminar toda a acção da série. O meu momento definidor, porque castrante, foi uma sequência, a meio do 4º episódio, em que o protagonista vive um delírio de mais de 5 minutos, motivado por abstinência. É ostensivo, é cansativo e é redundante. É o tipo de pincelada artística, de aluamento fora da caixa que, comigo, não funciona.


Na crítica férrea ao status quo, nos modos punk e no negrume da realização, a série assemelha-se constantemente a Fight Club, àquela agrura dolorosa da luta contra uma sociedade cega, hipócrita e corrompida. Quando o nível de ambição conceptual é esse, e para conduzir o espectador em tamanha jornada, tens de ser muito bom. Tens de ter mais uma carta na manga, mais uma ideia improvável, tens de ter particularmente um arquétipo dramático onde vás buscar alguma identificação. Mr. Robot é uma casa assombrada, um pesadelo em jeito de terapia de choque que te esgota, mas sem nunca encontrares a razão para continuar a ver. Admito, como é óbvio, que seja uma questão de gosto. Aliás, gabo a forma e a própria execução. Só não retiro qualquer prazer daquilo, daí que prosseguir fosse redundante. Não ali nada que me impressione, que me interesse e, no fim, que me inspire.


Não acabo, porém, sem salientar alguns créditos. Desde logo, e tal como já vim a mencionar, a realização, ou mais do que isso, a consistência conceptual de Sam Esmail (38 anos), que criou um produto muito agressivo, muito negro e afligido e de digestão muito forte que, sabiamente apelidado de thriller cyberpunk, será certamente um must para qualquer apreciador do género. Como disse à cabeça, é uma série de autor, que não se esforça por chegar a todos os públicos, sendo, por opção, um produto cuidadosamente trabalhado para satisfazer apreciadores. Mesmo nos casos em que não sou um deles, sei reconhecer a fidelidade. Depois, e inevitavelmente, elogiar a prestação devota de Rami Malek, tão metamórfica que quase nos dói a pele, num registo tantas vezes vítreo e siderado, assustado e perdido, que nos constrange mais do que apega. É um dos papéis mais relevantes do ano e, se não, o mais cáustico. Num registo global menos delirante, teria valido a pena seguir o veterano Christian Slater, o anarquista que recruta Malek para um grupo de hackers, e Martin Wallström, executivo jovem, ambicioso e hardcore da corporação que incorpora o mal. 

Quem gostar de Mr. Robot, vai gostar muito; quem não gostar, saberá disso ao 2º episódio. É um negócio justo.

5/10  

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