Aos 24 anos, o Ronaldo tornou-se no futebolista mais caro da história do futebol. No mais bem pago de sempre, também. E tudo isto enquanto é o Melhor Jogador do Mundo, em título. Talvez nem vá renovar a coisa este ano, mas ninguém liga muito a isso. Afinal, por estes dias, os Messis deste mundo são bem pequeninos. Não é deles que se fala, em todos os jornais, em todo o lado. Já o Ronaldo, enquanto era transferido, passeava-se por Los Angeles. Declarações? Na hora. Que se sentia orgulhoso por estarem a negociá-lo os dois maiores clubes do mundo. Mas que, agora, estava em Hollywood. Um pé em Beverly Hills, outro em casa dos Hilton. Muitas festas, muito champagne, muitos flashes. No topo do mundo. É assim que ele é. Despudorado, sem vergonha de viver, de respirar glamour, de ser falado. Mas, por estes dias, ser o melhor do mundo, o mais caro e o mais bem pago de sempre, não são coisa suficiente.
Logo numa altura em que seria tão fácil fazer-lhe a vénia, são muitos os que o olham de lado. Porque é arrogante, cheio de si e porque acha que é o melhor. Porque não é humilde. Eu digo que se foda a humildade. Muitos humildes, mesmo muitos, que gostam de ser humildes e gostam de mostrar a toda a gente que são humildes, e gostam que se diga muitas vezes que são humildes, e que não têm acidentes com carros caríssimos nem gastam fortunas em festas nem andam com as mulheres mais bonitas do mundo porque isso não é coisa de gente humilde, e que não dizem que são bons e que são os melhores porque isso também é muito pouco humilde, todos esses humildes dariam hoje qualquer coisa para ser o Cristiano Ronaldo. Um miúdo que veio do nada, que, aos 12 anos, na única oportunidade que a vida lhe deu, teve de sair de casa, para ir para bem longe, para poder sonhar com o futuro, contra TUDO o que a vida supostamente lhe tinha reservado, e teve um sucesso para lá do imaginável, não pode viver, não pode dizer que é o melhor, porque isso não é humilde. Pois que se foda a humildade.
Podia dizer que, a correr mal a aventura no Real, saltariam todos num ápice, quais abutres, a engoli-lo vivo. Não digo, porque não vai correr. O Ronaldo não vai falhar porque isso, para ele, nunca foi opção, porque ele nunca se pôde dar a esse luxo. Porque soube sempre que se falhasse, morria. É por isso que chegou onde chegou. E é por isso que vai ser cada vez melhor. Humildade é para quem não teve a vida dele.
Para acabar, um texto do 'maradona', n'A Causa Foi Modificada, aquando da Grande Entrevista do 'iletrado' Ronaldo, na RTP1. É disto que estou a falar.
"Vou tentar acalmar-me, mas aposto que, com o decorrer do post, tal situação de equilibrio não vai ser possível de manter, dado eu ser uma pessoa sem ABS. Na Madeira, um miúdo de 12 anos, com pai alcoolico e tal, mãe não sei a fazer o quê e irmãos por onde se imagina, aposta tudo no futebol e chega a melhor do mundo talvez na única abertura que a vida lhe deu, mas parece que, para a sensibilidade caga cesare paveses da professora doutora Sofia Bragança Buchholz, aos 23 anos Cristiano Ronaldo também tem que demonstrar um "raciocinio claro" numa entrevista na televisão com a Judite de Sousa em horário nobre, o mesmo local e a mesma entrevistadora onde os primeiros-ministros se explicam à nação antes das eleições. Não é a Judite de Sousa que tem que pensar quem é que convida ou não para aquele espaço, ou, se queria mesmo muito falar com o Cristiano Ronaldo, não é a Judite de Sousa que teria que imaginar o ambiente que melhor se adequaria ao entrevistado. Não, o Cristiano Ronaldo é que teria que dizer ao filho da puta que congemina a programação da RTP que se calhar era melhor fazerem uma entrevista onde se falasse de futebol, talvez até com pessoas que percebam alguma coisa do único universo que o convidado conhece. Cristiano Ronaldo, que traçou um caminho em idade que a menina Sofia Bragança Buchholz se calhar ainda nem pintava, e que desde aí nunca se distraiu um milímetro que fosse para longe da perfeição, teria que, a acrescer a isso, chegar aos 23 anos e também apresentar um, e passo a citar, "mínimo de eloquência", isto para que a frustração mija-cultura uns quantos energúmenos não tenham "pena do rapaz". "Pena do rapaz".... foda-se, caralhos ma'fodam se eu não puxo fogo ao simaozinho. O Cristiano Ronaldo, que com 17 anos ganhava 3 mil contos por mês numa cidade a 900 quilómetros de mar da sua casa, que com 19 anos ganhava 1 milhão de contos por ano na ilha que ofereceu a globalização ao mundo e onde qualquer gaja juntava de bom grado dois salários mínimos para lhe poder fazer um broche (já para não falar na paneleiragem), e que apesar de profícuo em "iliteracia" chega não só vivo e saudável à idade onde quase ninguém ainda acabou os cursos universitários, mas também motivado para continuar a melhorar na sua profissão, um local onde muitos, infinitamente mais incompetentes, já estariam a dormir descansados em louros que imaginam alcançados. Este post de Sofia Bragança Buchholz representa muito (talvez tudo) do que há de escarrável no micro-intelectualismo idiota nacional (e internacional, suponho), perito em transformar a cultura, a literacia e restantes instâncias de civilização não em objectos que se utilizam para se ter uma vida melhor (que Ronaldo conseguiu com estapafúrdio sucesso não só para ele e para os seus, mas também para meio mundo que gosta e paga para o ver jogar) e se ser uma pessoa decente (não conheço ninguém da idade dele que seja muito melhor que ele), mas num projecto de bricolage social destinado a que cada um seja colocado no seu lugar devido apenas com um olhar de longe. A Buchholz acaba o seu merda-fragmento perguntando "E se é assim em português, pergunto-me como será em inglês?!" Abrem-se aqui várias avenidas, mas se calhar é melhor não nos irritarmos mais. Vamos aproveitar o tempo para encomendar, se possivel em inglês, um livro qualquer do Polga. Perdão, do Polgar, que disse, a propósito da maneira como, aparentemente, funcionam os filamentos da Sofia Bragança Buchholz: "She knows exactly what she's saying: she just can't imagine it".
1 comentário:
Ó Paulinho, tu não escreves com sotaque...
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