Ao ver a transmissão em directo da chegada de Ronaldo ao estádio do Real Madrid pudemos aprofundar o receio de que as sociedades avançadas estão empenhadamente a caminho da imbecilização. A veneração dos ídolos criada pelo marketing e pela devoção futebolística justifica tudo (...)
O dia de hoje é a prova de acefalia das televisões que vêem nesse negócio uma forma de lucrarem à custa da alarve disponibilidade das multidões para perderem minutos, horas, das suas vidas a seguir de perto qualquer banalidade (...)
Já ninguém pensa em remunerar com fama os cientistas, ou os músicos, até num país, como o nosso, que tem entre as suas poucas glórias o facto de eleger um poeta como símbolo do seu dia nacional (...)
Quem tem, afinal, culpa é a cultura dominante que cada vez mais relativiza o essencial e se deleita com a imbecilidade (...)
Quem tem, afinal, culpa é a cultura dominante que cada vez mais relativiza o essencial e se deleita com a imbecilidade (...)
"O Triunfo da Imbecilidade", Manuel Carvalho, in Público
Tal como já disse aqui um dia a respeito do Mourinho, acho, sinceramente, que este país não merece o Cristiano. Desde logo, porque não têm nada a ver um com o outro. O Cristiano não é um coitadinho, um falhado, e isso irrita muita gente. Sobretudo num país onde proliferam, como porventura em mais nenhum, frustrados e pseudo-intelectuais. No dia em que um português levou 80 mil pessoas a um estádio só para o ver acenar, batendo todos os recordes e pondo um planeta a olhar para ele, são outros portugueses quem encontra motivos para se preocupar. Ou seja, enquanto está o mundo todo a lhe fazer uma vénia, porque ele é o melhor e o mais bem pago de sempre na história do maior desporto do planeta, somos nós, cá dentro, que devíamos estar orgulhosos como a porra, a arranjar matéria para reflectir. Porque, no dia em que o Cristiano fez mais por este país do que qualquer um destes pseudo-intelectuais vai algum dia estar perto de fazer, é uma imbecilidade que esteja toda a gente a dar o braço a torcer à grandiosidade do que ele conseguiu, em vez de estar a bater palminhas a músicos e a pintores, esses sim, a puta da razão porque este país metido no cu da Europa é falado em qualquer parte do Mundo, seja ela qual for. O que se viu anteontem é, então, a mais pura banalidade, coisas dos pobres não-iluminados no seu caminho para a imbecilização. Enfim, no fundo, não posso discordar de tudo. É que, se somos alguma coisa, então só pode ser mesmo um país de imbecis.
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