Na Madeira, existe um jornal diário, o Jornal da Madeira, que é financiado pelo Governo Regional em mais de 3,5 MILHÕES DE EUROS por ano. Não é na China, em Cuba, no Irão ou na Coreia, é na Madeira, Portugal. E não é um folhetimzeco qualquer, é um jornal, senhor das suas dezenas de páginas. É nesse jornal que escreve o todo poderoso Alberto João Jardim e é esse o jornal para o qual toda a sua corte fala em primeira mão, ou, muitas vezes, em exclusivo. Existe, nas palavras destes, para que se possa veicular o contraditório, uma vez que o concorrente, o Diário de Notícias da Madeira, é considerado ter como único objectivo perverter o executivo e, em especial, a figura do presidente regional. A partir do ano passado, por se considerar, talvez, que os 10 MIL EUROS POR DIA de apoio, PAGOS POR TODOS OS CONTRIBUINTES, não eram suficientes, o Jornal da Madeira passou a ser entregue de forma gratuita. Sim, um jornal diário, generalista, de 30 páginas, de graça, dado em tudo o que é canto. A democracia, em todo o seu esplendor. O Diário de Notícias já se queixou a todos e mais alguns, mas ninguém se parece importar muito com isto. Sai um parecer aqui, uma recomendação ali, experimenta-se uma queixa acolá, mas nada costuma produzir muito mais do que um bom gozo de Sua Majestade, e em público, como sempre. Consequências? Em tempo de crise, e já depois de se ter tentado, por todos os meios, reduzir custos, o DN despediu ontem 13 profissionais. Aqui o comunicado:
Devo dizer que, quer como futuro jornalista, quer, sobretudo, como madeirense, isto me envergonha para lá do que posso explicar. Quando chegamos ao Continente, as primeiras provocações que ouvimos são sobre o Alberto João, sobre os tiques de ditadura, mas sempre com uma certa condescendência, com um certo gozo, típico de quem vê de fora. É, pura e simplesmente, desconhecimento. Porque coisas como esta definem-se facilmente. Isto é um comportamento antidemocrático, repressivo e ditatorial. Sim, DITATORIAL, porque esta merda não acontece em mais nenhuma região de primeiro mundo. O governo não só está a meter lá MILHÕES por ano para pintar o quadro à sua maneira, como, ainda por cima, distribui o jornal de graça. Numa época em que cada vez há menos tempo e menos dinheiro para ler jornais, como é que se combate isto? E o pior é que toda a gente sabe, mas ninguém parece capaz de fazer alguma coisa. E assim se mata, às claras, a única voz independente desta terra. Se o maior jornal não é favorável, financia-se um igual para sair de graça. Se jornalistas são agredidos ao descobrirem podres de amiguinhos do governo, foi "porque mereceram". Isto foi dito pelo Alberto João, em pessoa. Se a RTP Madeira escapa um nadinha às patas do poder e faz um programa onde se fala com um mínimo de abertura, o governo regional ordena que o representante do Jornal da Madeira se retire, e mete o programa na Alta Autoridade da Concorrência, da qual este leva logo na cabeça. É assim que as coisas funcionam.
Mais do que a falta de pudor de quem o faz, o que choca é a naturalidade com que se assiste a isto. Esta aberração, na Madeira, já é normal. Quase ninguém parece achar que vale a pena se preocupar e, os que acham, são engolidos. Como é que foi possível chegarmos a isto?
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