sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Avatar


Não me lembro de nenhum outro filme ter gerado tanta expectativa. Desde os anos no intervalo do Titanic, ao Cameron a dizer que os cinemas não iam estar preparados para o seu próximo filme, desde a convicção de que ia mudar o mundo do cinema, até à estreia avassaladora, tudo contribuíu para a lenda. Na construção do meu próprio mito pessoal, contou também o facto de, pela primeira vez, ter ficado duas vezes à parte duma sessão, com um esgotado à minha frente. A expectativa só podia ser proporcional a tudo isto.

Vale a pena dizer, desde já, que, ao contrário do que já vi em muitos bons sítios, este não é o apelidado filme da década. Pese os muitos predicados, que os tem, o Avatar é um filme globalmente pobre a nível de argumento, pouco criativo e previsível até, nesse campo. Talvez o filme não tenha sido feito para vender pela estória, tal é a riqueza a outros níveis, e talvez o argumento seja tão leve, tão senso comum (cheirinho entre Pocahontas e O Último Samurai), de propósito, mas nenhum filme, por mais revolucionário que seja capaz de se apresentar, pode chegar a certos patamares a descurar o argumento. Só com os pés assentes nisto, é que há lucidez para analisar o resto.

Esse "resto", como espectáculo em si, é provavelmente a melhor experiência cinematográfica pela qual já passei. O que falta ao Cameron em densidade de trama, compensa-o ele em contexto e envolvência de ambiente, numa espiral de criatividade, essa sim, verdadeiramente fora do normal. Os bonecos são incríveis na sua componente emocional (a Neytiri, da Zoe Saldana, é expressivamente arrepiante), a abrangência do mundo idealizado é quase Tolkienesca, à sua dimensão, e observar, com óculos 3D, toda a profusão de efeitos especiais, banhados na floresta dum admirável mundo novo, chega a ser perturbador. Este Avatar é um filme imenso, muitas vezes de encher o peito, e um verdadeiro groundbraking no que aos efeitos especiais e à ficção científica diz respeito, que vai perdurar na cabeça das pessoas durante muito tempo, tanto como se tornará uma referência para todos quantos quiserem trabalhar no género. É, indubitavelmente, um dos filmes do ano, e teria de estar numa selecção da década, se esta existisse. Só não deu, e não sejamos injustos ao acreditar que isto é avaliá-lo por baixo, para chegar ao lugar onde vivem os melhores de sempre.

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