domingo, 24 de janeiro de 2010

Começou a Oscar Season


E começou muito bem. Up in the air é um filme, tal como as nomeações várias e o Globo de Ouro já largamente sugeriam, de um argumento transbordante, criativo e de temática fora do comum, capaz de aliar a si próprio uma tremenda riqueza de personagens. Temos uma Anna Kendrick competente, estilizada no papel, uma Vera Farmiga sedutora, que prende ao ecrã mas, acima de todos, o Clooney a grande altura, em mais um papel, pós-Michael Clayton, duma densidade espantosa. A isso junta-lhe, cada vez mais, diria, uma espécie de assinatura, um charme e uma presença tão próprias no papel, que obriga a pensar que este Ryan Bingham só poderia mesmo ser feito por ele. Obrigatório é, também, falar aqui do senhor que deu vida a uma pequena pérola chamada Juno e que, agora, não só realizou, mas ainda escreveu este Up in the air. Jason Reitman, argumento divino à parte, criou uma obra muito bem filmada, composta de uma maneira calma e aversa ao despacho, cheia de cor e duma frescura que quase disfarça a dureza que carrega o próprio filme.

Up in the air é um filme sobre relações, sobre um homem cujo trabalho é lidar com pessoas num dos piores dias das suas vidas (Clooney é empregado duma empresa que dirige despedimentos de funcionários de anos), um homem com presença de espírito e sensibilidade suficientes para ser bem sucedido nesse trabalho, mas que é um eremita ele próprio, incapaz de estar com alguém, e protegido por uns perturbadores 300 dias de viagem por ano, na sua espiral de trabalho. É a estória dalguém sem um verdadeiro lar, cujo mais próximo que tinha disso eram as maratonas em aeroportos e no ar, os cartões de milhas e os hotéis, alguém que acreditava em estereótipos e mantinha as pessoas longe, porque já não sabia viver de outra maneira. A estória de alguém que, no entanto, acreditou que podia mudar.

Francamente recomendado.

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