"I have no choice but to direct my energies toward the acquisiton of fame and fortune. Frankly, I have no taste for either poverty or honest labor, so writing is the only recourse left for me." Hunter S. Thompson
sexta-feira, 19 de julho de 2013
A humanidade dos super-homens
O dia em que fraquejou pela primeira vez é, possivelmente, o ideal para falar do melhor ciclista da actualidade e daquele que será o vencedor do Tour, a menos que aconteça um cataclismo bíblico qualquer. Chris Froome tem sido uma assombração. Com mais ou menos nuvens sobre o ciclismo, que, nos dias que correm, é como uma paixão que está farta de nos trair, mas à qual continuamos a dar oportunidades, o americano tem lembrado os bons velhos momentos. Depois de, no ano passado, ter ido a França nos espartilhos da disciplina de equipa, embrulhar a vitória de Bradley Wiggins, este ano não há verdadeiramente nada que o segure. Nem o défice de açúcar com que ia caindo hoje, nem a penalização de 20 segundos... ele que, mesmo assim, ainda ganhou mais de um minuto a quem vem atrás. Já venceu 3 etapas, Mont Ventoux e um contra-relógio incluídos!, e é seguro dizer que, mesmo que um ano atrasado, os Campos Elísios estão destinados a serem seus.
Froome ou, em onomatopeia, Froom-Froom-Frooooom, qual mota, tem deslumbrado de todas as vezes. Com a equipa ou sozinho, a escalar ou no cronómetro, os seus sprints curtos, quais séries de atletismo, a agressividade e a disponibilidade, têm subvertido todos os adversários. Responde a ataques a 100km da meta ou ataca ele próprio a 1000 metros do fim, tão brilhante quanto obstinado com a sua vitória prometida. Tudo isto, e, para mim, o seu momento mais marcante terá sido gripar hoje no Alpe D'Huez, na maior de todas. Froome, o plenipotenciário, não teve, por uma vez, estofo para ir atrás dos outros. Zonzeou, teve de tirar o pé, pediu ajuda e foi penalizado. Fraquejou, por fim. Naqueles minutos, foi só um de nós, mais, podia ter sido batido por qualquer um de nós. Cada um acredita no que quiser, mas sabe estranhamente bem ver provas de humanidade. O ciclismo já não se permite a super-heróis; que o melhor de todos sofra à nossa frente, é exactamente a sua prova como tal.
Porque é bestial até nos dias maus, porém, a etapa acidentada de hoje foi-lhe suficiente para dar o golpe de misericórdia em Contador e fechar de vez este Tour. Ainda faltam duas etapas terroristas nos Alpes, mas é tudo pesado demais para inversões. El Pistolero não tem as pernas. Falhou em todos os confrontos directos e, por cada ataque para recuperar o tempo que lhe fugia das mãos como areia, ficou a dever mais um e outro minuto. Na verdade, a sua própria prata está agora abertamente em jogo, ou a consequência da etapa-rainha não tivesse sido deixar o 2º e o 5º classificados separados por exíguos 47 segundos. É aí que reside o coração do que falta, com Contador a ter de defender-se de Quintana, Kreuziger e Rodriguez.
Do quarteto a lutar por dois lugares ao sol, o mais contagiante tem sido, sem sombra para dúvidas, um pequenito colombiano de 23 anos, que, aos 9, já fazia 15km de bicicleta para poder ir à escola, numa vila pobre do interior da Colômbia: em ano de estreia no Tour, Nairo Quintana tem sido sensacional. Como virtual número 3 da equipa, atrás de Rui Costa, e destinado a trabalhar para o líder Alejandro Valverde, Quintana sorveu os holofotes quando, na etapa 13 dos Pirinéus, Valverde furou, e o resto da Movistar ruiu à sua espera. Quintana foi o único a ficar na frente, de bastião - 1.66m e 57kg eram insuficientes para ajudar -, e isso acabou por convertê-lo a #1 da equipa. Desde aí, não tem feito por menos, e dedicou-se a ratificar o estatuto de único capaz de trepar qualquer montanha com o monstro Froome. Foi segundo para ele em duas etapas, bateu-o hoje e, nisto, chegou ao pódio que tão bem merece. É uma força da natureza, tem uma resiliência a toda a prova e é um daqueles ciclistas com história na cara, empático, um natural. Passará, garantidamente, como o mais acarinhado da edição 100 da Volta.
Froome já tem mão e meia na Amarela, mas o resto do pódio é uma história mais espectacular do que em muitos anos, e os Alpes prometem que não vão embora sem a contar como deve ser.
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1 comentário:
E o nosso Rui Costa ... também foi fenomenal, gostava que tivesses escrito algo sobre ele.
Adoro os teus textos, as tuas opiniões e críticas, Parabéns.
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