quarta-feira, 3 de julho de 2013

Mundial U20: O triste fado


Portugal - Gana, 2-3

Quem perde como Portugal perdeu hoje, dificilmente não o mereceria. Uma tão promissora geração de jogadores sucumbiu a não mais do que à própria fatalidade que tem nos genes e ao risco estúpido em que nunca soube deixar de viver, fruto de uma impreparação tão grotesca, que só lhe podia mesmo ter ceifado todas as esperanças. Esta selecção de sub20 é uma das piores equipas que alguma vez vi defender. Não é uma questão de agressividade, nem sequer de talento que, admito, possa não abundar no sector; o cancro foi a total falta da noção mais primária do que é defender em conjunto, fazer pressing, ocupar espaços ou compensar. O melhor ataque do Mundial conseguiu perder 5 vantagens e encaixar 7 golos, sem ter chegado a defrontar nenhum grande. Tacticamente, o trabalho de Edgar Borges não foi pobre; foi muito pior do que amador. Felizmente, há de continuar glorificado nos quadros de luxo da Federação.

Hoje até não houve felicidade no 0-1 inaugural, ficando Portugal pela primeira vez em desvantagem na competição, mas custava a crer que o Gana, que chegou aos oitavos com duas derrotas em três jogos, fosse mesmo um adversário que chegue. E nunca foi, verdadeiramente. Antes do primeiro minuto, Bruma já tinha oferecido dois golos de baliza aberta a Aladje (aquela aos 12 segundos vai persegui-lo até ao fim da vida). Estava todo um salão de festas decorado e, no entanto, um balde de água fria foi quanto bastou para uma hipotermia colectiva. A equipa afogou-se na sua imaturidade, adensada pela horrível falta de mentalidade competitiva, e estilaçou-se numa crise existencial. Sem Bruma e sem ninguém, Portugal passou a hora seguinte a quase não jogar. Iríamos embora assim, incapazes de dobrar uma contrariedade, mortificados pelo nosso estúpido fado... até que, do céu, uma equipa que se fartou de brilhar com a bola corrida, viu chegarem dois golos de canto em dois minutos, e voltou a ter, com essa aparição, a própria sorte nas mãos. Hoje não merecíamos, mas a estrelinha apareceu a dizer que, pelo talento, desta passava. Puro engano: é que nem da sorte soubemos estar à altura.

O Gana, que enquanto deu, só fez um jogo de tranca atrás e raides bacocos, lá teve, então, de ir ver o que se passava à frente. Foi assim que, pouco depois, em plena pequena-área, no meio de 3 defesas portugueses, um avançado conseguiu receber, rodar, rematar... e deixar recarga para outro. Como não era mau que chegasse, nuns 10 minutos finais brilhantes, o golpe de misericórdia veio num livre lateral... que passou a meio da barreira. Muito mais do que descomprometidos com a equipa, o que aqueles jogadores nunca tiveram foi noção do que fazer. O que nunca tiveram foi um treinador digno desse nome, que não os pusesse em campo com a bagagem táctica e o nervo competitivo de um jogo de solteiros contra casados. A imaturidade e a falta de qualidade podem explicar algumas coisas, mas não explicam a eliminação. Este Portugal era uma das 4 melhores selecções do Mundial. Bruma, agora uma vaga lembrança para a História do torneio, era o seu melhor jogador. Fomos eliminados porque quem não tem um líder, não tem nada.

EQUIPA - Na despedida, o reconhecimento à atitude de André Gomes. Não sou fã das suas qualidades futebolísticas, e já o tinha criticado duramente neste Mundial, mas o médio do Benfica foi um adulto entre miúdos abandonados. Foi intenso e constante, chegou-se sempre à frente e arrastou a equipa. Nunca será um médio enorme, mas tem carácter, e isso há de lhe contar para muitas coisas.

Depois da glória no jogo de estreia, José Sá, guarda-redes do Marítimo, voltou a ser um bastião. Fez, pelo menos, duas enormes defesas, uma das quais na jogada surreal do 2-2. Foi uma referência da equipa para todas as horas, e não merecia que a sua última imagem tivesse sido aquele livre a passar a meio de uma barreira.

O maior crime de todos é que Bruma tenha de ficar por aqui. Por uma vez não foi o extraterrestre que uma equipa tão suicida como a portuguesa precisava, e pagou ingratamente por essa anormalidade. Mesmo em ocaso, podia ter decidido o jogo: aos 12 segundos!, já tinha passado por toda a gente e metido a bola no pé de Aladje, a um metro de uma baliza deserta. Melhor é que, ainda antes do primeiro minuto, voltou a fazer uma igual. Consumido no jogo mau da equipa, apareceu para um tiraço ao poste, já depois do 2-1, que teria garantido os quartos-de-final que ele tanto merecia. Por um défice alheio à qualidade desta geração de jogadores, o que Portugal perdeu foi uma oportunidade histórica.

Sem comentários: