"Como o Bayern não há igual, que tem o equivalente a uma bazuca, mas nós temos um arco e flechas e, se apontarmos bem, podemos ser como o Robin dos Bosques e podemos fazer estragos"
Klopp, a lançar a época
Dia 1 da Bundesliga como miúda mais gira da escola. O ano passado já era que chegue, tal foi a instituição futebolística, mas a chegada de Guardiola e a manutenção de Klopp escreveram a negrito a equação de quanto toda a gente a vai querer ver. Na Alemanha passa a morar a equipa mais suprema do mundo em estatuto, a equipa que já tinha tudo e que já tinha ganho tudo, e que, à laia da sua plenipotência, foi buscar a única peça que faltava ao seu modelo perfeito, o treinador-filósofo mais codiciado do sistema-solar. Uma sinfonia idílica e prestada a ser uníssona, não fosse vizinha do projecto futebolístico mais sedutor dos dois hemisférios. O Bayern é viciante por ser uma alucinação de poder, o Borussia é irresistível por ser a provocação das possibilidades. O Bayern é majestoso porque é perfeito, o Borussia é apaixonante exactamente por não o ser.
Ao leme, dois homens tão diferentes quanto os seus clubes e o seu contexto. Guardiola criado na nata do futebol universal, nascido num berço de ouro para ser rei. No coração de um gigante, assinou a melhor equipa da História, para ancorar, agora, em novo Golias. Em Pep, tudo é pesado religiosamente para ser perfeito, cada palavra, cada acto, cada gesto. É difícil imaginá-lo a arriscar seja o que for, a não estar salvaguardado, a não ser, por um segundo, unânime. É um diagrama vivo do politicamente correcto, o tipo-ideal que parece sempre flutuar ligeiramente acima dos mortais. Klopp, pelo contrário, não poderia ser mais mundano. É um louco, um incendiário, um provocador. Brutalmente intenso e carismático, pratica tudo menos a celestialidade da aparência. Como ele próprio o diz, cresceu numa pequena vila da Floresta Negra, onde nem ele nem os seus jamais ousaram augurar que ele cá pudesse chegar. Fez carreira longe da ribalta e não deveria ter sido mais do que o treinador bem-disposto do seu Mainz, na segunda divisão. Não foi cultivado na alta roda e não faz para que alta roda se cultive nele. Se fossem livros, Guardiola era bibliografia obrigatória, mas Klopp é que nos contagiaria desde a primeira página. Um é o homem-modelo, mas o outro é a inspiração.
O Bayern foi campeão com 25 pontos à maior, e ainda ganhou a Champions e a Taça na relva. Foi tudo o que poderia ter sido... e acrescentou a isso o treinador mais simbólico do planeta. No primeiro round, porém, com o mundo a deitar-se a ver o zénite do seu plano, o Borussia abriu as hostilidades com uma chapa 4 e uma chuva de olés a pontear. No fim, é provável que volte a valer a lei do mais forte. Até lá, uma coisa é certa: se Guardiola saiu de Espanha porque estava farto de sujar as mãos, não foi exactamente para o sítio certo.
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