domingo, 4 de fevereiro de 2018

Call Me By Your Name: faz o que eu digo, não faças o que eu faço


É um dos filmes mais ambiciosos da temporada, pela forma nua e despojada como trata o exercício da descoberta sexual, no caso, quando esta rompe com os cânones estabelecidos da época, da cultura e da própria sociedade vigente. É um filme seguro e que exibe vários predicados, mas não é tão afirmativo quanto supõe, porque acaba por soçobrar no esforço em balizar uma história de amor, desejo e deslumbramento intrínseca, justificando-se demasiado, entristecendo-se demasiado e sofrendo demasiado.

Call Me By Your Name encara com descomplexo o retrato da homossexualidade tantas vezes subretratada, mas não resiste a que a narrativa lhe vá fugindo por entre os dedos dolorosamente. A proposta de responder com naturalidade a essa descoberta do primeiro amor vem, neste caso, torturar-se a si mesma, como que contrariando a própria mensagem de que o amor, em todas as suas formas de sexualidade, deve ser abraçado, explorado e orgulhado. Isso leva, no fim das contas, a que vivamos uma história temivelmente expectante, quase sempre desconfortável e agonizada (a metáfora do protagonista sempre a olhar para o relógio é, quanto a isso, sintomática), e exageradamente melancólica, que nem o remate final consegue resgatar.

A competência do filme nos mais diversos planos é, contudo, indiscutível, desde logo em termos de produção. Visualmente (norte italiano, anos 80) é idílico, com uma fotografia brilhante e uma realização, de Luca Guadagnino, deliciada na suavidade das cores e no carisma provinciano da bella Italia, impossível de recusar. A ambas, junta uma das melhores bandas sonoras do ano, cortesia de Sufjan Stevens (na corrida deste ano para Melhor Música Original), que o superiorizam, por isso, em termos estéticos (é um filme eminentemente contemplativo), por comparação à capacidade narrativa, ao timing ou à acção.

Individualmente, Timothée Chalamet é, sem dúvida, uma das revelações do ano, com chegada aos Óscares mais do que justificada. Com apenas 22 anos, assume uma interpretação poderosa, arrojada e visceral, que define o filme, mercê do compromisso e da entrega totais ao papel, e notavelmente projetadas. É ele quem reclama o palco, também porque Armie Hammer, na sua figura muito mais estilizada e previsível, não chega a surpreender, e não consegue impressionar. Por fim, nota obrigatória para Michael Stuhlbarg e para o seu monumental monólogo final. É um daqueles bocados de texto intemporais e invejáveis, que vai sempre redimir a memória que fica, especialmente para todos aqueles que não o guardem como inesquecível.

Call Me By Your Name é um filme tão honesto, quanto ousado, artisticamente comprometido e sensível, mas não resiste ao pecado capital de ter demasiada pena de si próprio, eternizando os seus próprios obstáculos e condenando-se à impossibilidade de encontrar a plenitude. Há quem diga que só o amor não cumprido pode ser romântico; esta é a história de quem refuta esse dogma, mas não o pratica o suficiente.

6/10

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