Foi, por assim dizer, O início. A Queima é, para qualquer caloiro, mesmo para aqueles a quem a praxe já não diz nada, uma espécie de mito. Um mito que ficamos a conhecer muito antes de cá chegar, do qual ouvimos tudo e para o qual criamos todo o tipo de expectativas. A Queima é a Faculdade, é a essência e o significado de estar aqui. Faltou o traje, é verdade, faltou-me a mim, pelo menos, mas o espírito esteve todo lá. No jantar, num restaurante que respira universidade por todos poros, começou a nossa noite, onde, passe a escandaleira inicial, foi inevitável fazer grandes amigos de ocasião. Sempre disse que é bêbados que fazemos alguns dos grandes amigos da nossa vida e aqueles, mesmo que não os vá ver mais no resto da vida, já nunca os vou esquecer. Estiveram lá, no meu dia. Não me lembro das caras, mas lembro-me deles, de terem estado. Um bem haja. Com o passar do tempo, é inevitável que a sensação de novidade nos assalte, que nos entusiasmemos e nos projectemos do jantar para a Serenata, consumidos no balanço e na expectativa. Antes uma conversa, daquelas que sabem bem, daquelas em que estamos todos juntos, daquelas em que percebemos que estamos a viver coisas que, de facto, só podemos viver aqui, na Faculdade. É por isso que ela é tão única. E claro, num passo, a Serenata, enfim. Tinha visto, ainda ontem, a Monumental, em Coimbra, gabado-lhe o charme e o perfume, a maneira como a cidade parece ter sido desenhada para receber aquele mar de estudantes. Talvez nunca vá matar a mágoa de não ter estudado lá, talvez nunca sufoque a curiosidade de saber como é que teria sido lá, mas, se há coisas que se aprendem nestes momentos, é que melhor do que a nossa não há nenhuma. Aos pés dos Clérigos, espraiados por todo o lado, todo, estavam milhares e milhares. Caloiros daqui, finalistas dali, perfeitos estranhos, novos, velhos, família, desconhecidos. Todos a quererem tirar um pedacinho daqueles momentos, digo eu, nem todos a conseguirem. Porque só se percebe o que se joga ali, se estivermos com os nossos, com todos aqueles que, nestes meses de caloiros, se tornaram quase numa segunda família, que nos fizeram perceber de que é que aquilo se trata. Só foi grande porque estivemos com eles. Da Serenata ouvimos pouco, mas, lá está, a Serenata não é o que se canta. Nem de perto. A Serenata são as pessoas, o calor humano, a passagem de testemunho. Os que acabam e os que começam, o traçar da capa, mesmo para quem ainda nem a tem. Mas que sente aquilo tudo, porque isso é o mais importante. É, aliás, a única coisa importante. Ontem, não trocava o Porto por nada. A Queima é linda porra.
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