A ideia é gira. Ah e tal arranja-se uns patrocínios, recebem-se candidaturas, e depois vai-se a casa das pessoas remodelar uma divisão. Isto com uma apresentadora de olho azul, uma designer com jeitinho e um mestre falador, e um gajo até fica a pensar que a coisa só pode ter piada. Só há um problema. É que o objectivo não é ter piada. Isso de piada é para coisas sem importância, e as pessoas não gostam disso, não vale nada. Ainda por cima o programa é num canal para mulheres, e toda a gente sabe que piada é uma coisa javardona só para homens. Vai daí, qual poderia ser a solução para o dito programa? Torná-lo dramático, ÓBVIO! Aqui, impõe-se uma paragem, porque é indispensável dar uma achega a toda a gente (pelo menos a toda a gente que não vê outros programas para gajas como eu): num canal chamado people + arts (reparem na paneleiragem que é o "+"), existe um programa chamado extreme makeover, produzido pela ABC. Nesse programa também se arranjaram patrocínios, uma malta que aparece muito bem em TV, uma equipa de mão-de-obra, uma designer catita, e também se recebem candidaturas para ir a casa das pessoas trabalhar. A diferença, coisa pequenita, é que estes malucos vão a casa das pessoas para deitá-las abaixo e construí-las de raiz, do bom e do melhor. Isto significa, na maior parte das vezes, tirar gente miseravelmente pobre de roullottes, e construír-lhes uma mansão. Quando um gajo ouve isto, pensa o quê? Eh pá, eles mudam a vida das pessoas! Nem mais. Tirar uma família de 10 pessoas duma roullotte, para dar um quarto a cada uma, medicamentos se forem doentes, e carros se der pela certa, é efectivamente mudar a vida das pessoas. Ponto. É aqui que o círculo acabou de se fechar.
Ontem, depois de reformular a cozinha duma senhora cuja maior aflição na vida era achar que não era mesmo fixe fazer o comerzito ali, a apresentadora, de olhinhos azuis, saíu-se com um "mudámos a vida de mais uma pessoa". Foda-se... Pintar de fresco e decorar uma cozinha (destaque para os tampos novos, super finos!), numa casa evidente de classe média, passou a ser, a partir de ontem, mudar a vida de uma pessoa. E não fazem ideia dos nervos que aquilo foi, porque o João (esse personagem impagável, misto de pateta alegre e jogral dos nossos tempos) mesmo no fim, furou um cano de gás e ele e o seu amigo careca tiveram de ligar a milhares de senhores que consertam canos de gás (mesmo com o João a ser brincalhão e a dizer que não foi ele) até se acabar o trabalho. E isto com a apresentadora dos olhos azuis e a designer com jeitinho a proporcionarem momentos kodak únicos, Oscar-worthies, de desespero e consternação (só para quem não sabe, os americanos malucos fazem isto, meio a sério, quando têm de mudar de cidade e ainda não acabaram uma casa). Eu, por mim, só gostava de saber uma coisa: quem foi o gajo que um dia se lembrou dum "vamos fazer um extreme makeover com aquele drama todo... mas a remodelar salas de estar!". Imaginem outras ideias que ele pode ter!
P.S. - Vejam nem que seja um episódio desta saga, pelo João. Ele é mesmo mesmo mesmooooooo engraçado! :')
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