terça-feira, 3 de julho de 2012

O nosso Euro, balanço


Ainda me lembro do golo do Nuno Gomes à Inglaterra, em 2000. Tinha 9 anos, e saí a correr porta fora com o meu vizinho, e fomos festejar até à estrada onde, por alguma convergência do destino, as pessoas acabaram por aparecer, eufóricas e incrédulas. Acho que foi nesse dia que tive a certeza que ia adorar o futebol para sempre. Em 2004, não sei se acreditava mesmo que um guarda-redes mais ou menos normal fosse decidir um desempate nos penalties com uma Inglaterra ainda mais glamourousa, mas o Ricardo tirou as luvas, defendeu o penalty do Vassel, e rematou o seguinte, electrizando o Estádio da Luz, o país e todos os sonhos do mundo que aquela selecção projectava. E, em 2006, raio de equipa da qual ninguém se via livre, fomos obrigados a entrar no jogo com mais cartões da História dos Campeonatos do Mundo, acabámos com 9 jogadores em campo, mas não havia Batalha de Nuremberga que nos deitasse abaixo.

É um privilégio ter crescido com as melhores selecções da História do Futebol Português, e ter formado esta identidade de selecção enquanto formava a minha identidade futebolística. Como dizia o tal artigo da SBN que se tornou viral por estes dias, nós somos uma impossibilidade, uma porra de um país de 10 milhões de habitantes, que anda há mais de uma década a inventar formas de ser uma das 4 ou 5 melhores selecções do mundo. Não faz sentido, nunca podia ter acontecido tantas vezes, mas nós continuamos aí, a abater potências como pardais, a bater as expectativas, e a espantar a Europa. Nunca teve a ver com o nosso tamanho, com as nossas estruturas, com as nossas probabilidades. O nosso novo século foi talento e vontade de superação, e, depois de duas campanhas menos entusiastas, este era o momento de voltar a provar-nos.

É provável que este Portugal não tenha sido o mais espectacular (2000), nem o mais arrepiante (2004), e se calhar faltou-lhe aquele momento sobrenatural de transcendência, mas a cultura de vitória deste grupo é do maior que já fomos. Este Portugal será lembrado pela estoicidade dos campeões. Pelo golo do Varela nos descontos, pelo KO ao vice-campeão do Mundo quando não havia alternativa, pelo golo à República Checa quando o tempo jogava contra nós. Este Portugal será lembrado como a equipa que sabia ganhar, que ia para ganhar. A equipa que teria discutido qualquer jogo com qualquer adversário, a equipa que levou a Selecção de todos os tempos aos penalties com naturalidade, a equipa que teria ganho isto com naturalidade, e que só não ganhou porque não calhou.

Nos dias em que somos um parente pobre do continente, como em tantas outras vezes, eles foram lá mostrar-nos o caminho, mostrar-nos que, às vezes, não há gigante para nós. Obrigado por termos podido vivê-lo outra vez.

Esta equipa atacará agora, orgulhosamente, o apaixonante Mundial em que o futebol regressa a casa, o Mundial em que também nós jogaremos em casa. Esta geração está à altura do romance e do misticismo de um Campeonato do Mundo no Brasil, um torneio cuja mera menção é entusiasmante. E até pode ser que ainda não seja dessa que "a melhor Selecção sem um grande torneio" se redima, mas, como sempre, é melhor pensarem duas vezes antes de apostar contra nós.

Venha o Mundial.

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