terça-feira, 3 de julho de 2012

O nosso Euro, individual


Para o bem e para o mal, esta foi uma selecção "Scolarizada". Podem ter havido casos, uma relação difícil com as críticas (que, de resto, foram comuns em Queiróz, mas sem a parte boa), mas Paulo Bento reerigiu o grupo dos velhos tempos, com competitividade, disciplina, nervos de aço, mas uma imensa alegria de estar, uma saúde, uma vontade e uma solidariedade gigantes. Paulo Bento ressuscitou-nos, essa é a verdade, foi o homem perfeito para o lugar, e será, com todas as expectativas, e com todo o mérito, o homem do leme para 2014.

O melhor jogador português na Polónia e na Ucrânia foi Pepe. Foi-o desde o primeiro minuto do jogo com a Alemanha até ao penalty que marcou à Espanha. Mais de 500 minutos de uma imponência avassaladora própria de quem, aos 29 anos, é indiscutivelmente um dos 2 ou 3 melhores centrais do Mundo. Pode não ter o glamour espanhol, pode não ter imprensa nem boa parte da opinião pública, mas Pepe não é menos do que isso. Tem físico, tem técnica, tem carisma e chegou, finalmente, à maturidade que potencia tudo o resto. No Euro-2012, Pepe foi o mais próximo que me lembro de um jogador insuperável.

Ronaldo foi o mais espectacular, a posse de génio sem a qual não teria sido possível andar nestas cavalarias. Não fez um torneio para MVP do Euro, mas fez dois jogos próprios de um Melhor do Mundo, arrastou o underdog até às nossas proféticas meias-finais, e ainda acabou melhor marcador. Se calhar não foi glorificante, mas foi um Europeu altíssimo e crucial para Ronaldo. Provou-se na Selecção, provou-se para a Bola de Ouro, que, em consciência, tem de ganhar, e está mais perto do que alguma vez teve da unanimidade no país. A Selecção não é Ronaldo, mas sem o génio de Ronaldo este Euro não teria sido possível.

Moutinho foi o mais regular, a pedra angular. Grande caminho percorreu o nosso Pequeno Genial desde a ausência na convocatória para a África do Sul, até à titularidade absoluta no Euro. Moutinho até começou envergonhado, num meio-campo que não teve um início fácil, mas superou-se em cada jogo. Desde a Holanda, então, foi monumental, e só muito injustamente falha a equipa do torneio. Talvez não tenha a magia de Rui Costa, ou a criatividade de Deco, mas Moutinho é o melhor dos mundos, um jogador que enquadra o talento na fiabilidade, com que se pode sempre contar e que, mais importante, fará sempre a coisa certa. Se pode ser bem feito, seguramente que Moutinho o fará.

Coentrão é jogador de grandes torneios. Depois de uma época pouco feliz em Madrid, voltou a ser um F1 na nossa lateral-esquerda, a tal que, até há um par de anos, era a nossa lacuna histórica. Não foi irrepreensível a defender, mas o seu rasgo e a sua explosão a sair a jogar contagiaram a equipa, uma e outra vez. Quando está motivado, é um lateral possuído, que não limites.

Nani foi maduro. Ficará a imagem de que não cumpriu tudo o que sabemos que pode fazer, sobretudo nas eliminatórias, mas jogou como um senhor na fase de grupos, anulando-se muitas vezes pela equipa, e, mesmo assim, assinando duas assistências. Hoje, é um jogador adulto, que valoriza o que é preciso, e que é um trunfo tanto maior por causa disso. Talvez lhe fizesse bem sair do United.

Finalmente Veloso, uma revelação para mim, pelo que cresceu à pressão. Por mim não teria sido titular, e acho que os dois primeiros jogos foram transtornantes. Depois, contudo, Veloso ganhou confiança, ganhou estaleca, e tornou-se numa pedra de toque. Nunca será um jogador agressivo, ou ágil, mas é inteligente e, com estabilidade, é uma mais-valia na primeira fase de construção, numa equipa que valoriza a bola. Também ganhava em sair do Génova, mas não para a Ucrânia.

Sem demérito para os outros, foram eles os mais do Euro.

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