segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Prisoners. Facilmente um dos melhores do ano


Tem ambiente, personagens e, muito especialmente, o tipo de esquema argumentativo que, sendo concretizado com intensidade, inteligência e uma chispa de génio, é incapaz de falhar. Prisioners é, com propriedade, um dos filmes do ano.

Dois raptos, um pai disposto a correr até onde for preciso, um detective na posição nem sempre grata de fiel da balança e uma perversão de história não se sabe até que ponto funda compõem um cenário directamente saído de uma temporada de Criminal Minds. Na verdade, apesar de executado de forma irrepreensível, o argumento não tem nada de sobejamente novo. Mesmo assim, concretiza-se de uma forma senhorial, com fundações muito seguras, sem nunca inventar demais nem pôr os pés em ramos verdes. Prisoners tem, aliás, a característica particular de nunca guardar muitas cartas na mão. É um filme que se vai antecipando a si próprio e que joga habilmente com isso, dada a sua enorme competência em todos os outros vectores.

Os dias nublados, o frio e a chuva casam brilhantemente com o contexto, que depois também é rico a nível espacial, pejado de bosques, casas abandonadas, caves ou esconderijos que ainda disparam o seu apelo. Denis Villeneuve dominou o ambiente a seu bel-prazer e aproveitou-o ao máximo, num filme, qual policial, eminentemente cativante nesse campo, daqueles que preenchem o imaginário com facilidade e pedem energia, sombras e criatividade, coisa que o canadiano replica com distinção. Com uma história cativante, mas normal, e um ambiente atraente, mas comum, o filme, porém, dificilmente seria suficiente caso faltassem intensidade e performances. Como nos melhores, contudo, essas é que acabam por ser as suas chaves.

Prisoners tem uma capacidade fantástica de impor o ritmo e a sua força. De nos manter embrenhados, desconfiados, mas em dúvida, de nos envolver na corrida e de fazer-nos querer perceber, torcer por eles, torcer contra as probabilidades e contra o que vai acontecer. É uma escrita de primeiríssima água, exponenciada, obviamente, pelo nível do cast. Hugh Jackman deixou escancaradas as portas dos Óscares. Brutalmente aceso e mais emocional do que nunca, é visceral na sua maneira de estar, contagiante na sua corrida desesperada, capaz de nos fazer compadecer seja do que for que tem de fazer. Assina um tour de force majestoso que o coloca necessariamente na short list de melhores do ano. Jake Gyllenhaal, por seu lado, equilibra-o de forma apreciável. É forçado a ser mais contido e responsável, mas a sua performance escala em empatia e expressividade com o decorrer do filme e vem a completá-lo absolutamente.

Prisoners dura 2h30 mas nunca chegamos a dar por elas. É um thriller criminal de alto nível, com o dom, ainda por cima, de ter um daqueles corolários irresistíveis, com classe que abusa. No género, é difícil pedir melhor.

8/10

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