quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Crowe a ser jornalista = obrigatório

Um bom filme não tem, necessariamente, de ser denso a nível psicológico, nem tem de ter uma grande mensagem subliminar, e este State of Play é um óptimo exemplo disso. O filme vive de uma candência incrível, dum ritmo perfeitamente fantástico, e essa capacidade para explorar a dimensão e as potencialidades do cinema, para nos deixar boquiabertos e expectantes, faz dele, sem dúvida, um trabalho muito bom. Para quem gosta de thrillers então, é um absoluto must. Longe de exagerar na acção, como poderia ser tentado a, é um filme que triunfa pelo facto de ter uma escrita muito, muito boa, co-autoria dum senhor chamado Tony Gilroy, que um dia criou um dos melhores argumentos que já vi em cinema, esse portento chamado Michael Clayton. É uma escrita, se quisermos, "cinematográfica", no sentido em que, como já disse, o impacto que caracteriza a indústria, o poder, está todo lá. O que está longe de ser uma coisinha fácil. E, imagine-se, até dá para sentir o perfume de redacção no ar.

O elenco assusta, só de o ler. E a verdade é que corresponde, com o enorme Russel Crowe à cabeça. É o regresso duma referência, depois dos fraquinhos American Gangster e Body of Lies, na pele dum jornalista-velho-caminhante, que lhe assenta como tudo. O Crowe tem carisma, tem estilo, e o papel é aquilo, só pode. É muito bom tê-lo de volta. A Helen Mirren ganhou a minha admiração. Fui dos que nunca chegou a ver A Raínha, infelizmente talvez, mas facto é que a senhora é um vulto, um colosso. A Rachel McAdams, sem brilhar, e com um início um tanto ou quanto deslocado, consegue acabar muito bem, a fazer um contraponto giro, e não podia deixar de falar na Robin Wright Pen, muito bem encaixada, pese o papel ter sido pouco explorado, que é linda, do alto dos seus 43 anos. Só não consegui gostar do Affleck. Pode ser mania minha, mas, para mim, ele continua a valer pouco, a ser inconsistente, muito menino bonito e pouco actor. Além de que não está muito para colega de faculdade do Crowe, definitivamente.

O filme só fraqueja nas ideias-chave. Algures entre o cliché e o previsível, são elas que borram a pintura, que não honram uma escrita que merecia melhores acabamentos, um nadinha de maior inspiração. Não era preciso ter feito a coisa à volta duma grande conspiração, muito menos jogar tanto com coincidências, nem pôr o jornalista e o congressista a serem amigos desde sempre, etc. Felizmente, mesmo rodeado de certas linhas fracas, e mesmo a roçar o previsível, o fim acaba por elevar a fasquia, e o filme conclui-se de uma forma poeticamente inglória, que o sela com chave de ouro. Para quem goste duma coisa ritmada, com um grande elenco, uma boa história e um cheiro a jornalismo, é vivamente recomendável.

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