sábado, 5 de março de 2011

83ª - Balanço (late late)

O senhor estágio anda obviamente a limitar a produção por cá. Vai daí um balanço assim tardio.


- O Público abriu o dia a dizer que este era o ano em que a crítica ia perder o Óscar e foi mesmo. A noite foi de O Discurso do Rei, esmagadoramente, e mais do que tinha sido, no ano passado, de Estado de Guerra. O filme de Tom Hooper levou para casa 4 estatuetas e varreu quase tudo o que era peixe graúdo: Filme, Realizador, Actor e Argumento Original. Tivesse Actriz (Bonham Carter estava nomeada, mas para Secundária) e tinha-se tornado no 4.º filme da História a levar os Big Five, depois de Uma Noite Aconteceu, Voando sobre um Ninho de Cucos e Silêncio dos Inocentes. Para a noite ter sido ainda mais arrasadora, só faltaram as vitórias de Geoffrey Rush e de Bonham Carter, nos Secundários, em aberto até ao fim. Preferências à parte, é uma vitória justa dum grande filme, fortíssimo a todos os níveis, senhor dum bom argumento, de grandes interpretações e duma realização magnífica.


- Nas interpretações, nenhuma surpresa e um balanço pleno de justiça. Torci pelo Jeff Bridges para Melhor Actor mas, como escrevi logo que vi O Discurso, é impossível pôr em causa um Óscar para quem tem uma performance do nível da de Colin Firth. A Natalie, que continua a ser linda grávida, passeou intocável e há de provar, mais cedo ou mais tarde, que este não foi um deslocado papel de uma vida. Melissa Leo e Chris Bale salvaram The Fighter, depois de ter chegado a ser questionável que ganhassem os dois, e fizeram-no com integral mérito porque foram mesmo os melhores Secundários.


- A apresentação foi a pior que alguma vez vi e espero que seja lembrada durante muito tempo como um falhanço colossal. Que pelo menos previna, para o próximo ano, quaisquer teorias ridículas sobre apresentadores jovens para cativar jovens ou o que seja. Há uma certa paranóia nos Óscares em relação às insuficiências de quem apresenta, portanto, mesmo com pé e meio atrás, resolvi dar o benefício da dúvida, porque também não vi com bons olhos Jackman e a dupla Martin-Baldwin, nos dois anos anteriores.

Facto é que o show de Franco bateu mesmo muito baixo. Das graças falhadas até ao alheamento total, passando por ganzado ou autista, como lhe chamaram, foi toda uma espiral auto-destrutiva que há de fazer a Academia pensar duas vezes durante bastante tempo. Hathaway não esteve tão mal porque também era difícil, mas esteve muito longe de ter sequer emendado a mão à coisa. Foi um espectáculo triste e deslocado de todas as dimensões em que aquilo poderia funcionar, da satírica (Jon Stewart) à bonacheirona (Martin-Baldwin) e à glamorosa (Jackman). Muito mau para ser verdade e a toda a linha. Ver a classe dos 10 minutos de Billy Crystal só tornou tudo mais penoso.


- À excepção da Rede Social como flop, as minhas pequenas vitórias foram-se todas, e até um banalíssimo Randy Newman, ladeado pela voragem da marca Toy Story, conseguiu levar para casa Melhor Música, secando a magnífica If I Rise, de 127 Horas. Pese a vénia à qualidade de O Discurso do Rei, não era esse o meu vencedor, e já me acostumei, há de demorar até que eu seja um vencedor nos Óscares. Sobre o caso Inception (e eu já só pedia Argumento...), e a saída de cena com 4 Óscares técnicos, não vale a pena insistir mais do que já insisti. Fecho apenas com uma linha do Nuno, que não podia resumir melhor a questão: "Reduzir Inception a quatro prémios técnicos é uma violência e uma das maiores injustiças da História dos Óscares. Ponto."

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