"Sócrates saiu de cena, como lhe competia e de modo ilustre, pela porta grande. Agora veremos o que vem a seguir. Já estive mais otimista. No vórtice que terminou hoje (outro começa, é verdade), houve duas coisas que me impressionaram. A primeira foi a forma pessoal, quase "coisificada", como tudo isto foi canalizado para um único homem, como se não houvesse um PS, um governo, um grupo parlamentar minorítário na Assembleia, uma oposição unida, uma classe política, uma conjuntura, uma troika, uma campanha, um aperto financeiro, uma crise social, um país vulnerável, uma Europa à deriva. Nada disso importava, só Sócrates. A crise de Sócrates, por culpa de Sócrates, imputada repetidamente a Sócrates até à náusea. O desfecho previsível: uma derrota eleitoral clamorosa. É a derrota dele. La bête noire sai de cena por força do voto. Muito bem. Cá estaremos para ver o que se segue. Mas palpita-me que muitos dos dentes arreganhados irão ter saudades dele, mais cedo do que pensam e gostariam de admitir.
A segunda é uma sensação de profundo desconcerto com a chamada esquerda, aquela que perdeu a única possibilidade de chegar ao poder num horizonte previsível; a forma autista, cega e irresponsável como se auto-excluiu do processo de compromisso com os credores internacionais, retirando-lhe qualquer credibilidade de uma possível participação governativa.
(...)
Tivessem Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã a dignidade do mesmo Sócrates que ajudaram a derrubar e seguir-lhe-iam o exemplo. Seria, pelo menos, uma forma digna de reconhecer a derrota."
A segunda é uma sensação de profundo desconcerto com a chamada esquerda, aquela que perdeu a única possibilidade de chegar ao poder num horizonte previsível; a forma autista, cega e irresponsável como se auto-excluiu do processo de compromisso com os credores internacionais, retirando-lhe qualquer credibilidade de uma possível participação governativa.
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Tivessem Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã a dignidade do mesmo Sócrates que ajudaram a derrubar e seguir-lhe-iam o exemplo. Seria, pelo menos, uma forma digna de reconhecer a derrota."
Paulo Pinto, no Aventar
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