quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Flight


Drama consistente, com um excelente lead e uma bela realização.

Depois de uma última década dedicada ao motion capture e à Animação, Robert Zemeckis voltou à live action, 12 anos depois de Cast Away. E fê-lo com sucesso. Em Flight, o oscarizado realizador de Forrest Gump deixa a sua marca, tanto ao nível dos óptimos efeitos especiais (o decurso do acidente chega a ser abismal), quer, depois, pelo estilo atraente a filmar, recheado de boas chapas, com vida, swag e sem tempos mortos, sempre absolutamente exponenciados pelo extremo bom gosto da banda sonora, que inclui desde Rolling Stones e Red Hot Chili Peppers, a Joe Cocker, Bill Withers ou Marvin Gaye.

Sobre o argumento de John Gatins (carreira mais ou menos discreta, donde saliento o interessante Coach Carter), há mais reticências. Flight é uma boa história original sobre excessos, auto-destruição e expiação, mas, mesmo rendendo um filme de qualidade, parece ficar à margem do que poderia ter sido. Desde logo, a trama é adivinhável quase de princípio a fim, o que lhe tira brilho. Depois, o carácter do texto de alguns dos personagens, em determinadas situações, é mais ou menos delirante, acabando por trazer um certo ruído desnecessário, como se sem aquelas tiradas que nem fazem grande sentido, o filme não fosse intelectual o suficiente (a excepção são os 5 minutos geniais de monólogo de James Badge Dale, numa escadaria de hospital). Também é pena que a relação do protagonista com a ex-mulher e com o filho não tenha sido mais explorada, porque havia potencial (a cena com os três é brilhante); já o caso de ocasião entre viciados não funciona, por falta de química.

Denzel é muito bom, e depois de uns quantos filmes mais comerciais (este ano também já tinha brilhado em Safe House), escancara a sua candidatura à Academia, de cujas nomeações anda arredado, imagine-se, há nada menos do que uma década. Dele não há muito a dizer, a não ser que continua a estar na extrema elite de leads da actualidade. Em Flight, o seu Whip Whitaker alcoólico é verdadeiramente dormente, destrutivo, irremediável. Um papel duro, sem luz, sem feelgoodness, entre momentos de corpo sem vida e assomos de lucidez, que Denzel maneja consumido, com uma naturalidade desconcertante, típica de outro campeonato. Não sei se dá para ganhar o Óscar (pessoalmente, Day-Lewis está na frente), mas será um regresso inevitável à cerimónia, como os Globos já deixaram antever.

John Goodman assina mais um excelente papel, ele que é, possivelmente, o melhor secundário do mercado. Notável a competência, a áurea e, sobretudo, a quantidade de papéis sólidos em filmes de nomeada, ano após ano: em 2012, além de Flight, esteve em Argo e em Trouble with the Curve. Kelly Reilly, por sua vez, sendo lindíssima, foi insegura e insossa, e acrescentou pouco à acção.

Flight é um belo filme sob qualquer prisma. Deixa só a sensação de que poderia ter sido ainda melhor.

7/10

Sem comentários: