terça-feira, 24 de setembro de 2013

Emmys 2013: lembranças para todos, Homeland nas cordas e uma vitória nos descontos


Era uma cerimónia anormalmente aberta, com Homeland, na ressaca de uma super-temporada, a defender os anéis perante o groundbreaking House of Cards, a primeira série de sempre nomeada sem ser teletransmitida, e a vertiginosa season finale de Breaking Bad. Na 25ª hora, e depois de ter acumulado derrotas nas outras grandes categorias, foi mesmo a vez do drama de Walter White virar o jogo e reclamar, pela primeira vez, o emmy mais cobiçado da noite. É ingrato avaliar, porque pausei o Breaking Bad no fim da segunda temporada. O respeito mantém-se, é certo, e não tenho nenhuma dúvida de que continua a ser feito do material de que se ganham os prémios. O grande adversário, contudo, era mais do que isso: se tal existe, Homeland teve uma temporada perfeita. Não com um ou dois momentos icónicos, mas a ser psicoticamente bestial em cada um dos seus incríveis 12 episódios. Não dá para fazer melhor do que aquilo. Se no ano passado talvez tenha ganho antes de o merecer, não ter premiado a majestade em que se concretizou é um efeito colateral demasiado doloroso.

À jóia da Showtime só coube renovar metade das vitórias do ano passado (numa noite de vencedores baralhados, empatou a dois com Breaking Bad nas grandes categorias). A sensacional Claire Danes continua a fazer o pleno de prémios como Melhor Actriz e a merecê-lo em cada centímetro, sendo que Argumento também teve direito ao bis, por um episódio inesquecível ("Q & A", lembrado aqui), que bateu dois Breaking Bad e a mais propalada hora de televisão do ano: "Rains of Castamere". Não retiro uma palavra ao que escrevi sobre essa magnum opus de Game of Thrones, mas não consigo escrever nada que possa menosprezar a grandiosidade das linhas de Homeland. A agressão da noite veio com Melhor Actor: o bestial Damian Lewis conseguiu transcender a performance original, que lhe valeu a vitória no ano passado, e tinha nos calcanhares um Kevin Spacey que deslumbrou com House of Cards e ainda Bryan Cranston (Breaking Bad), aclamado triplo vencedor. A vitória, porém, caiu do céu no colo de... Jeff Daniels (The Newsroom), um daqueles casos perturbadores de um lead que consegue ser um a menos numa série em subrendimento. Tê-los visto aos quatro e ser possível votar Daniels é tão incompreensível que nem merece argumentação.

No campo das vitórias com estima, o mítico David Fincher, crónico derrotado dos Óscares e vencedor de um Globo de Ouro envergonhado com o sobrevalorizado Social Network, estreou-se a ganhar com um produto à sua altura, a realização do brilhante piloto de House of Cards. A mais inesperada de todas foi a vitória do irascível Bobby Cannavale, que levou às costas uma temporada inteira de Boardwalk Empire. Performance monumental e 2º emmy da carreira muito bem entregue, ainda que numa categoria especial - Jim Carter, Peter Dinklage, Aaron Paul, Mandy Patinkin... -, onde todos mereciam ter levado um para casa.

Em Comédia, Modern Family cumpriu o seu incrível 4º emmy seguido, mas não teve, pela primeira vez, qualquer vencedor individual, campo onde Veep (Actriz e Secundário) pôde brilhar. É um círculo que se tem gasto nos últimos anos e que não tem sabido lidar com a novidade. Incompreensível, por exemplo, a desconsideração por New Girl.

O hosting, finalmente, foi das coisas más da noite. Neil Patrick Harris, muito elogiado pela prestação nos Tonys deste ano, regressou aos Emmys sem sal e sem chama, numa sombra da sua áurea costumeira. Ainda foi buscar um bom número lá ao meio da cerimónia, mas não chegou para emendar um resultado verdadeiramente tépido e aquém das expectativas. Para grandes momentos, ficam o corte delicioso de Kevin Spacey na introdução, à laia de House of Cards, o in Memoriam a James Gandolfini, com uma Edie Falco vastamente emocionada, e a subida de irradiante boa disposição de Michael Douglas que, aos 68 anos, ganhou o primeiro emmy da carreira (Behind the Candelabra).

Assim abriu a temporada as cortinas, agora é aproveitar.

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