quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O que seria do futebol português com vergonha na cara?


"É verdade que em algumas situações os nossos concorrentes mais directos têm sido favorecidos. Não gosto de comentar o que não tem a ver com o Benfica, mas quando as equipas são ajudadas por terceiros, as coisas tornam-se mais fáceis"
Jorge Jesus

"Quero dar os parabéns ao Jorge Jesus, que conseguiu jogar em três campos. Houve uma clara influência da equipa de arbitragem. Parabéns a quem condicionou não apenas este, mas também o jogo do Sporting"
Paulo Fonseca

"Não sou como outros que falam quando são prejudicados mas depois são beneficiados e ficam calados. Os três grandes são normalmente mais beneficiados e seria uma hipocrisia estar a falar de arbitragens"
Leonardo Jardim

Uma jornada em que foram os três prejudicados é definitivamente a ideal para falar da histeria que se apoderou do burgo no fim-de-semana. Jesus parece que cheirou a borrasca e resolveu dar o mote: coitadinho e humilde, não quis deixar de responder a uma pergunta manhosa de um jornalista e lá disse, muito contrariado, que sim, que o Benfica tem sido o patinho feio da Liga e que tem visto os outros dois barões surripiarem os pontos todos pela porta do cavalo. No fundo, tudo o que Jesus fez foi reiterar a malfadada sorte dos grandes: quando não são prejudicados, há outros a beneficiarem mais do que eles. É sempre assim, sempre contra em caso de dúvida. Qualquer adepto de um sabe a rudeza da vida que tem. Pode haver quem diga que, se todos berram da mesma maneira, o mais provável é a acefalia ser transversal. Ninguém disse, porém, que vida de grande era fácil.

Aproveitando a deixa do chiclete, Paulo Fonseca conseguiu fazer ainda pior e comportou-se como um miúdo idiota e mimado, na primeiríssima vez em que viu fugir pontos enquanto treinador do Porto. Depois de um jogo em que foi banalizado por uma equipa com um orçamento mais de 10 vezes inferior, Fonseca fez tudo para que acreditemos que quem é pequenino, é para sempre, e disparou a parolice fácil sobre o maior adversário, numa flash-interview grotesca. Tal como Jesus, no entanto, foi recebido com alvíssaras pela maior parte do seu exército. Pondo de uma forma simples, é por isso que o futebol português é uma merda. Pela demência do jogo ser sempre secundário perante um clubismo retorcido e febril, ostensivamente tripolarizado, que faz com que a maioria da gente não consiga ver um palmo à frente das suas palas. Porque este tipo de discursos funciona, e porque treinadores cujo mínimo era que tivessem uma gota de brio profissional, se prestam a eles. E, como se não bastasse, pelo facto da comunicação social contribuir para esta estupidificação e dar-lhe o eco pornográfico que deu por estes dias.

Nisto, ouvi alguém sair da Caverna pela primeira vez e, a um trago, cometer a alucinação de produzir a afirmação mais digna da História do futebol português. Ninguém deve ter dito a Leonardo Jardim que o cargo vinha com grilhões, e que ele tinha de ficar de frente para a parede, como os outros prisioneiros, em vez de lhes vir dizer que há luz na rua. Pelo contrário, o treinador do Sporting, a quente de dois pontos perdidos com a não marcação de um penalty escandaloso, resolveu sair-se com uma barbaridade lesa-majestade: afinal parece que os grandes são cronicamente beneficiados e que só se não tiverem uma amostra de decência é que podem vir reclamar da sua condição na praça pública. Não sei quem é este louco, mas parece perigoso, e o melhor é que arranjem forma de devolvê-lo à Caverna o quanto antes. É que, se não, o que seria do futebol português sem a sua dialéctica terceiro-mundista? Comprometido com a excelência e nivelado por cima, em vez de confortável no fanatismo e na mediocridade? Sem adeptos descerebrados, treinadores provincianos e lixo mediático? O que seria do futebol português com vergonha na cara e um pouco de respeito por si próprio?

1 comentário:

Moutinho disse...

Excelente artigo! Parabéns!...