domingo, 22 de dezembro de 2013

The Spectacular Now. O pecado foi não ser ainda melhor


Mal vi o trailer foi amor à primeira vista. A correr por fora, as venturas e desventuras de um finalista de liceu à procura de si próprio insinuaram logo ali um indisfarçável síndrome de grandeza, uma distinção intrínseca que tornava The Spectacular Now num dos meus filmes mais esperados de fim de ano. A sensação que fica é agridoce. Este é, de facto, um filme especial em muitos aspectos, escrito com um talento pouco comum na caracterização da jornada e das personagens, e assente em prestações individuais tremendas. Ao mesmo tempo, não foi capaz de se concretizar com todo o génio que sustentou em muitos momentos, recorrendo a um par de balizas-comuns que acabaram por sabotar parte do seu alcance.

Começando pelo mais importante: Milles Teller e Shailene Woodley são magníficos. A ele não conhecia e é obrigatório reconhecer que Teller ganha o filme, num papel razoavelmente banalizado - o rebelde party animal de liceu - que ele soube agarrar com uma alma de todo o tamanho. É um tipo com uma empatia tremenda, um personagem muito bem escrito, que não é superficial nem forçado, e que ele potencia com uma das mais carismáticas prestações jovens de que me lembro. A sua relação paternalista com Shailene Woodley - não lhe chamaria química, mas antes a forma como se complementam, enaltecida por um excepcional triângulo amoroso - é outro evidente ponto alto. Ela, por sua vez, não é nenhuma surpresa. Há dois anos, já me apaixonara profundamente em The Descendants, ao ponto de ter defendido que mereceu o Óscar desse ano para melhor Secundária. Neste regresso ao grande ecrã, a lindíssima californiana de 22 anos volta a desarmar qualquer um com a sua doçura, num papel mais ingénuo, de quem tem poucas certezas, mas muitos sentimentos e sonhos ainda maiores. É um papel meninesco sem ser juvenil e vazio, e compõe o ramalhete romântico com uma pureza à prova de qualquer cinismo.
"Everybody just singin' and dancin', falling in love... I'm so happy. I mean, this night, this is our night. This is the youngest that we're ever gonna be. I love these people. I do, I love these people. I love you all! Come on. Dance with me. Come on."
O ambiente é o outro tom do filme a que é difícil resistir. Aborda esse fim de Secundário, esse princípio de adultez, com um coração larguíssimo, com as poucas certezas e as muitas dúvidas, com os amigos mais próximos e as paixões mais distantes, tudo numa mescla genuína, cativante, com a qual é fácil identificar-se. As idiossincrasias de Sutter (Miles Teller) são esse retrato acabado dos 18 anos e de todas as possibilidades do mundo. Ele é um gigante e, ao mesmo tempo, um peão, um símbolo para fora que é muito mal resolvido por dentro. The Spectacular Now brilha ao navegar entre a sua história e a componente envolvente, na vertigem dessa era em que não se sabe nada mas onde ainda se pode tudo.

O calcanhar de Aquiles surge no momento em que o filme tem de concretizar as suas 'grandes questões', nomeadamente a partir do drama do pai ausente. Ao forçar uma mensagem e uma moral que não foi capaz de construir com um engenho à sua altura, este não evitou banalizar-se num lirismo redundante e desnecessário, que lhe castrou uma parte importante da aura. Adaptado por Scott Neustadter e Michael H. Weber, argumentistas de 500 days of Summer, o desenlace tem uma componente auto-destrutiva brilhante, mas padece do facto de ter uma conclusão muito by the book, quando dificilmente elas são assim. Com várias cenas bonitas, também acho que a realização de James Ponsoldt, na sua terceira e mais significativa longa-metragem, podia ter deixado outra marca, num registo que oferecia todas as condições para isso.

The Spectacular Now é um filme de que se gosta naturalmente, que acredito vá ser bastante consensual. Só tenho pena que, depois das provas de cor, coração e carisma, lhe tenha faltado um quê de génio para fugir a lugares-comuns, porque era isso que o eternizaria noutro patamar.

7/10

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