sábado, 6 de janeiro de 2018

Molly's Game: o Mestre voltou para ficar


Um dos filmes mais cativantes da temporada, mais interessantes, eléctricos e curiosos de seguir.

Evidente que a isso não é estranho o facto de ter sido escrito pelo mago surpremo do diálogo televisivo, naquela que marcou, igualmente, a sua estreia absoluta na realização. Aaron Sorkin regressa dois anos depois, novamente com uma biografia em mãos, já com os tempos sombrios de Social Network completamente para trás. Molly's Game reflecte, não um crescimento sustentado, mas a afirmação cinéfila definitiva de Sorkin, depois de duas obras tão substanciais como Money Ball e Steve Jobs: o mestre está finalmente de volta ao palco, em grande forma, a jogar e a fazer jogar. Mesmo sem aparecer, é ele a maior estrela do filme, reclamando o estatuto enquanto um dos contadores de histórias mais brilhantes do nosso tempo, num regresso por demais saudado. Um regresso do melhor, depois de todas as partidas que a vida já lhe pregou, com uma candidatura assumida ao seu segundo Óscar.

No estilo falsamente ligeiro em que se sente mais confortável, a queimar linhas dramáticas com escapes de humor e fôlegos de ação, Sorkin faz-nos correr 2h30 atrás de puro perfume, num ecrã que nos mantém seduzidos pela sua história e pela sua protagonista, reiterando a capacidade para escrever personagens femininas que sempre o notabilizou. Jessica Chastain, apesar duma sensualidade impressionante, e mais do que nunca à flor da pele, acaba, contudo, por ficar à margem do que poderia ter feito, num filme que lhe estendia a passadeira e lhe dava um Óscar em bandeja de prata. Mais uma vez, é ela própria, porém, que demonstra falta de agressividade sobre o papel e uma incontornável incapacidade para explodir. Ficamos sempre à espera que chegue o seu momento, mas ela desvanece-se sem chegar a cumprir inteiramente o potencial da personagem, e é o próprio filme que perde estrutura com essa falta de intensidade. É um caso de estudo de uma actriz que tinha tudo para funcionar, mas que não consegue lá chegar.

Idris Elba, pelo contrário, numa rara oportunidade na época dos prémios, prova a personalidade e o rasgo que se lhe reconhecem, num filme que serviu até para ressuscitar Kevin Costner, com uma cena que começa por ser temivelmente forçada, mas que serve de invejável remate. Molly's Game é entretenimento a sério, uma maravilha na sala de cinema e um dos melhores bilhetes do ano.

7.5/10

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