The Hurt Locker é um filme sobre limites. Sobre ter de viver em cima da linha, mas também mais do que isso, sobre gostar de o fazer. Foca-se no Iraque, e não é novo a esse respeito, exala violência física e, sobretudo, psicológica, o que, apesar da competência, também não será a sua maior qualidade. O forte do filme é a adrenalina, a pressão e o nervo dum desactivador de bombas e da sua equipa, que sai, todos os dias, à procura da morte (um paradoxo giro, num filme de guerra). Mais do que isso, o melhor do filme é a personagem principal. Da arrogância inicial desfecho, Jeremy Renner está em permanente crescendo, entre a habilidade extraordinária para fazer o seu trabalho, e o homem atormentado pelo seu passado e pela sua obsessão, capaz de fazer tudo o que for preciso para alimentar um vício. Um homem obcecado com a caça, incapaz de viver fora do limbo.
Apesar desses focos de interesse, não acho, sinceramente, que este seja um filme para ficar na memória, nem que mereça significativamente as nomeações que teve para os Óscares, já depois dos Globos de Ouro. Porque nem o contexto (Iraque) nem o argumento (a premissa toca no majestoso Heat, por exemplo) são originais o suficiente, porque a realização, apesar de trabalhar bem o suspense, não introduz nada que espante, nada inesperado, e porque acho que a banda sonora, a envolvência a esse nível, é muito mais pobre do que deveria, apesar das nomeações para Mistura de Som, Edição de Som e inclusive Melhor Banda Sonora chocarem a toda a linha com esta visão. Diria que, das 4 nomeações que teve (filme, realizador, actor principal e argumento original), fora as categorias técnicas, só a performance de Jeremy Renner é verdadeiramente oscarizável. De resto, parece-me que o contexto e a dureza psicológica retratados, e que vão sendo cada vez mais familiares aos americanos, contaram mais do que deveriam.