Cresci a ouvir falar do fantasma das cheias de 1993, em que, além da destruição do Funchal, morreram qualquer coisa como uma dezena de pessoas, numa brutalidade tão grande quanto ser arrastado por uma ribeira em fúria o pode conceber. Cresci, também, a ouvir, Inverno sobre Inverno, o quão imperioso era limpar as ribeiras, o quão imperioso era não construir nas ribeiras, atrofiando-lhes o leito, porque, se uma situação como aquela se repetisse, as consequências seriam novamente violentíssimas. Hoje, 16 anos e uns meses depois, o Funchal voltou a ser inundado. E desta vez não morreram nem 5, nem 10 pessoas, morreram 32, e a contagem ainda não acabou. Sinceramente, acredito que quem tinha responsabilidade, podia ter feito mais. Apesar de já ter ouvido uma fonte do Instituto Nacional de Metereologia, a dizer que nunca tinha visto níveis de precipitação assim, e que o que aconteceu na Madeira foi um evento mesmo muito raro, acredito que era possível ter exigido mais nas operações de limpeza dos leitos, e que era possível ter sido bem mais rigoroso a licenciar construções dentro das ribeiras. Deve haver espaço para todo esse tipo de considerações, e haverá, concerteza, num futuro muito próximo. Mas não devia haver hoje. NUNCA hoje. Ter a oposição a falar, em primeira mão, para dizer que "a culpa é do Governo Regional" é muito mais do que despropositado. É animal e é vomitável, próprio de abutres que são um zero político e que, infelizmente, não estão hoje, nem estarão, tão cedo, preparados para governar.
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