domingo, 21 de fevereiro de 2010

Precious


Cheiro a lobby irrita-me. Logo que soube que quem produzia o Precious, um filme sobre negros, era a Oprah, depois da banalíssimo The Great Debaters ter chegado aos Óscares do ano passado, já me começou a custar a engolir. Eventualmente influenciado por esta visão, admito-o, porque acredito que haja quem a considere deslocada ou injusta, digo, visto o filme, que este Precious não é mesmo nada de especial. Não digo que seja um filme mau no que faz, na exploração duma violência física e psicológica atroz, ao ser um filme duro e escuro, de desprezo e desconsideração. O que acho é que não há criatividade no argumento. A única peculiaridade nas linhas da estória são as características físicas da protagonista (Gabourney Sidibe), que desempenham, bem, o papel de precipitar a dureza envolvente, mas até essas não têm nada a ver com qualidade interpretativa. À parte disso, é um filme sobre abusos e sobre a filha de um deus menor, que só gostava de ter um chance, o que soa bem comum, na minha opinião.

A única coisa realmente extraordinária de Precious é a performance de Mo'nique, que há de engolir o Óscar (Melhor Actriz Secundária) e atropelar sanguinariamente toda e qualquer opositora. O que ela faz é qualquer coisa de monumental, do alto duma personagem muito rica, senhora duma densidade psicológica perturbadora. Diria que os dois monólogos dela, o nervo e a convicção que ela lhes empresta, são, provavelmente, a performance mais intensa que já vi numa mulher em cinema.

Sem comentários: