terça-feira, 25 de outubro de 2011

Midnight in Paris


“How’s anyone ever going to come up with a book or a painting or a symphony or a sculpture that can compete with a great city? You can’t. Cause when you look around, every street, every boulevard is its own special art form. And when you think that in a cold, violent, meaningless universe, Paris exists, these lights... Come on, there's nothing happening on Jupiter or Neptune. But from way out of space you can see these lights, the cafes, people drinking and singing... i mean, for all we know, Paris is the hottest spot in the universe."


Woody Allen é um génio. Quem escreve e filma assim tem de ser. Midnight in Paris é mais um filme apaixonante do seu repertório, com todo o charme inimitável com que o nova-iorquino pinta as cidades que filma, aqui com toda a cor e todo o romance de uma Paris insinuante, palpitante e irresistível. A de agora e a dos "anos de ouro", que é retratada numa vénia despretensiosa à arte, à criatividade e ao talento que no fundo fizeram da cidade tudo o que ela é.

Gil Pender (Owen Wilson) é um argumentista tarefeiro de Hollywood com o sonho de ser um grande escritor, um homem fora do seu tempo, profundamente romântico e nostálgico de toda uma era que não viveu. Numa visita a Paris na companhia da noiva e dos sogros que o menosprezam, entretém-se a imaginar a cidade boémia e genial dos loucos anos 20, e, miraculosamente, é mesmo lá que vai parar depois de uma noite perdido, privando com uma legião de nomes incontornáveis do século XX, de Scott Fitzgerald a Hemingway.

A beleza dos filmes de Allen é que todo o devaneio caótico e alegórico é só mais uma camada da poesia da sua mensagem. Neste caso a da apologia da libertação absoluta, de seguirmos os nossos sonhos e de sermos completos, por mais líricos que sejamos. E de o fazermos no presente, porque não há nem passados nem futuros melhores, porque não há nada mais real do que hoje.

Owen Wilson é só razoável, naquele seu jeito incompleto, nunca muito intenso. Michael Sheen é um bom rival pedante, Corey Stoll é um Hemingway icónico, Adrien Brody um Dali quase tão fidedigno quanto possível e Kathy Bates uma muito venerável Gertrude Stein (uma proeminente poetisa e coleccionadora de arte americana que viveu na Paris dos anos 20). A melhor performance é, ainda assim, a de Marion Cotillard, num papel fugidio e cativante de uma daquelas figuras que estiveram lá mas não cabem na História. A francesa é, a espaços, arrebatadora.

Woody Allen é um génio, e cada filme seu é um prazer. Espero que se lembrem dele quando a época dos prémios começar.

8/10

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