quarta-feira, 26 de outubro de 2011

As asas Capel-Carrillo, e o Sporting a voar


Parece que finalmente acertou.

Depois de tantas cabeçadas, de tantos anos de equívocos e miséria, de falta de projecto desportivo e de treinadores discutíveis, é capaz de ter sido desta. Lembro-me de, nas polémicas eleições do clube, ter simpatizado mais com Bruno de Carvalho do que com Godinho Lopes. O primeiro era mais novo, mais fresco e cortava mais com o passado. O Sporting precisava disso. Godinho, pelo contrário, mesmo conotado com o antigamente, tinha dois ases na mão: Carlos Freitas e, claro, um treinador a sério, quando a concorrência acenava com banha de cobra como Van Basten ou Rijkaard.

Os sportinguistas escolheram bem. Carlos Freitas, como sempre, veio professar que só há qualidade com qualidade. Que se o Sporting precisa de ganhar e de vender, tem primeiro de investir. E chegou a Alvalade um exército de jogadores que nem nos passaria pela cabeça ver por lá num passado recente, um misto de jovens promessas - Wolfswinkel, Carrillo, Jéffren, Rubio, Rinaudo, Boeck - e de gente com talento provado mas numa fase menos feliz da carreira - Onyewu, Insúa, Schaars, Elias, Capel, Bojinov.

Domingos pegou, misturou, abanou e, depois do tormento inicial e de ter de enfrentar todos os velhos fantasmas, já vai com 9 vitórias seguidas. O Sporting joga rápido, sufoca e esbanja soluções. O que impressiona mais é a voracidade, a alegria de jogar quase que com toda a pressa do mundo, como se aquilo pudesse não durar para sempre. Em 3 meses, mais do que a evidente qualidade em campo, Domingos deu-lhes cultura de vitória. Melhor era difícil.

Do bom momento geral, destacar dois. Primeiro Capel, um vertiginoso e irresistível extremo à moda antiga. Desce o flanco supersónico, sempre no limite a parecer que vai perder a bola, só até inventar um cruzamento perfeito da linha ou aparecer a finalizar. Já não se fazem deles assim. É um espectáculo para quem vê e o maior catalisador do entusiasmo à volta deste Sporting.

Mais discreto, mas a respirar o mesmo futebol, o miúdo Carrillo, 20 anos acabados de fazer. Tem perfume nas botas. É rápido mas não corre muito, tem técnica mas não adora driblar. Joga a compassos, um toque ali, um adversário batido, e de repente uma aceleração acolá, sempre a decidir bem, com uma naturalidade desconcertante em tornar as coisas fáceis. Junte-se-lhes o talento indiscutível de Elias e do "velho" Matías no miolo, e a equipa só pode continuar a crescer.

Sem a maturidade do Benfica nem a mentalidade do Porto, provavelmente o Sporting ainda não estará ao nível de qualquer um deles. A diferença é que este ano vale finalmente a pena tentar.

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