segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A Olimpíada que recomeça


Acabam os Jogos, e o Verão fica irremediavelmente mais pobre. Não há forma mais cristalina de os definir do que este sentimento universal de perda quando eles acabam. Tanta gente não gostará de desporto, muitos mais não os seguirão de papel e caneta, mas não pode haver ninguém que não goste dos Jogos.

As transmissões de manhã à noite, o banho democrático que são as dezenas de modalidades, as provas de manhã antes de ir para a praia, e as finais à noite, depois do jantar, descobrir, numa tarde quente ao sofá, que o ténis de mesa desfaz os nervos, ficar a ver o concurso de ginástica em que tropeçámos, e electrizar com os únicos jogos de vólei, e provas de natação e corridas de atletismo que veremos em 4 anos, com a devoção de um verdadeiro aficionado. Que se seja indiferente ao desporto, claro. Que se fique indiferente a esta universalidade dos Olímpicos, à adrenalina das medalhas nas esquinas mais escusas, à possibilidade do nosso hino, ao Phelps e ao Bolt, à História a escrever-se, tudo 24 sobre 24 horas, como se estivéssemos todos em Londres a viver isto ao mesmo tempo, impossível.

Para nós foram amargos, os piores desde Barcelona, há 20 anos, mas, mesmo assim, deu para medalhar, e pela 5ª vez seguida, prolongando a nossa melhor série de sempre. E ter vibrado como um esganado, às 10 da manhã e ainda de olhos turvos, com a primeira tirada de canoagem que vi na vida, valeu pelo resto.

Se não fossem monumentais, não seriam Jogos Olímpicos, e é sempre um bocado redundante querer achar o que os distinguem. Mesmo assim, arrisco que Londres 2012 lembrarei pela ocidentalidade, por ter sido uma coisa muito próxima, muito europeia nossa, a esbanjar cultura comum. Mas também pelo enorme ambiente, próprio de um sítio senhorial, à medida destas coisas, e pela competência, pelo gosto em estar à altura. E, tão fresca que está na memória, a matriz é mesmo a brutal cerimónia de encerramento, tão genuína e tão fiel a esse património imaterial da Humanidade que é a música britânica. Os nomes, os concertos, o desenho do espectáculo, o Mercury, por deus, a pedir odes ao público, não havia ali nada de mau gosto, tudo o que havia eram razões para pagar bilhete.

Como se não bastasse, o círculo completou-se com a água que fica na boca para daqui a 4 anos, numa miragem tremente de excitação. A juntar à Copa do Mundo, em 2014, o Brasil, e a Cidade Maravilhosa em particular, é a próxima casa dos Jogos, e não há ninguém que, hoje, não tenha sonhado acordado com o Rio de Janeiro que está para vir. Serão os primeiros na América Latina... e, muito especialmente, os primeiros na lusofonia. Os próximos Jogos vão respirar português por todos os poros, vão-nos ter entranhados na pele, e vão fazer parte de nós. Vão ser em casa. No calor, no samba, na cor e no apelo de um Brasil palpitante, que, pura e simplesmente, não se pode recusar. 

É que uns Jogos Olímpicos no Rio não se vão ver; vão-se viver.

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