quinta-feira, 2 de agosto de 2012

The Great Gatsby


A capa descreve-o como um romance que "evidencia as contradições do «sonho americano», a glória e a decadência do self-made man, a ambição e a busca desenfreada do dinheiro, a corrida em direcção a um futuro tão prometedor como ilusório." Para mim, contudo, o Gatsby não plasma assim tanto do nirvana do sonho americano. O que não o diminui. Ambiente que é incontornável à parte, é, para mim, acima de tudo, uma tragédia intemporal, com trama e vivências e relações perfeitamente contemporâneas, adaptáveis aos nossos dias. A época em que se desenrola só define o tom.

A história central é a de um homem fascinante mas do qual nada se sabe, Jay Gatsby, que, no Verão de 1922, vem abalar a cena nova-iorquina, ao tornar a sua monumental mansão num salão de festas diário, virtualmente aberto a todos quantos o quisessem frequentar. A acção, por sua vez, é narrada por Nick Carraway, um simples magistrado de classe média, que, vindo de Chicago, se estabelecera havia pouco em Nova Iorque, passando a ser, por obra do acaso, o humilde vizinho de Gatsby, de quem se vai tornar amigo chegado. Todas as personagens principais são fortes, e estendem-se, ainda, a uma prima distante de Nick - Daisy -, ao seu marido - Tom Buchanan -, e à sua melhor amiga - Jordan Baker. Nenhuma delas é especialmente carismática, mas são todas densas, por serem tristes, desiludidas e mais ou menos assombradas.

O livro retrata esse Verão quente, à medida em que a amizade entre as duas figuras centrais cresce, e Gatsby se dá a conhecer. A aparente aleatoriedade das venturas e desventuras desses meses, e as relações nos círculos em que Gatsby e Carraway se movimentam, é, então, progressivamente varrida. Emerge o passado, vem à tona os propósitos, e, enquanto a vida amarga destila ironias, precipita-se o seu corolário impossível.

The Great Gatsby não é um livro palpitante mas, como a própria História já lhe fez jus, é uma obra paradigmática, escrita com o pleno requinte de um artista. No fundo, é a jóia de uma Época que teve tanto potencial como oportunidades perdidas, assinada, num tom amargurado, por um dos maiores rostos dessa tal "Geração Perdida" americana, frustrada com o seu mundo de fingir. Não é um livro absolutamente surpreendente, mas é sempre venerável. Saliento-lhe, ainda, o potencial imagético. Nem sequer ao nível das descrições, mas da recriação de ambientes, da recriação de um Tempo: as festas, as casas, as pessoas, os sentimentos, o ar, tudo é fácil de se nos entranhar.

A grandiosidade de Gatsby é cinema em potência, pelo que as expectativas para o filme que chega no fim do ano são significativas. Já falei dele nos destaques do ano: "O australiano Baz Luhrmann (criador de Moulin Rouge) realiza e adapta o argumento, mas é no cast que está o deslumbre: Di Caprio protagoniza, naquela que parece ser, claramente, a sua grande aposta para os Óscares, e é acompanhado pela brilhante Carey Mulligan. Como secundários, os nomes consistentes de Tobey Maguire e Joel Edgerton."

A cartada para os Óscares sai a 25 de Dezembro.

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