A Europa sempre foi o nirvana do maritimismo.
Troféus são outros campeonatos. Ainda sonhávamos com a Taça, mas nada preenchia o nosso imaginário como a UEFA. Jogar com os melhores do continente. Ter aquela vertigem de ir mostrar o Marítimo ao mundo, de estar nos grandes palcos, de jogar onde interessa, onde se faz a diferença.
Cresci com as imagens do Rui Fontes a chorar na tribuna dos Barreiros, em Maio de 1993, quando a equipa-maravilha liderada por um tal de Paulo Autuori se tornou no primeiro clube madeirense a chegar às competições europeias. Com o golo do Paulo Alves ao Aarau, no ano seguinte, que fez com que uma equipa madeirense vencesse pela primeira vez uma eliminatória europeia. Com a bola do Vado à trave, revista no VHS vezes e vezes sem conta, enquanto a geração do meu pai, ainda estarrecida de espanto, se enganava que talvez esse golo pudesse ter derrubado uma tal de Juventus, que tinha o Baggio, o Del Piero e o Ravanelli.
Cresci a acordar cedo para ver o nosso papelinho desenrolado no sorteio da Eurosport, puto a fazer as figas todas para que não apanhássemos um tubarão. E depois a ficar desolado pela forma como nos agigantávamos com os Leeds e os Rangers deste mundo, só para o universo nos virar as costas e fazer-nos perder nos penalties.
A Europa sempre foi o nosso sonho. Do outro lado do mar, ganhar, ganhar, ganhar, como diz o hino. Com mais e menos azares, porém, há muito tempo que a primeira eliminatória nos sabia a pouco.
Ter ganho hoje, chegar finalmente à fase de grupos, é uma emoção indizível. De fora, pode parecer nada, mas, para nós, é um dia em directo para a História. O Marítimo, o grande Marítimo, o maior da Madeira, o Campeão das Ilhas, vai finalmente jogar entre os melhores da velha Europa. Mesmo em crise, e a milhas do dinheiro e das equipas de outros tempos, é desta que vamos finalmente à aventura.
Obrigado ao Presidente, que investiu pessoalmente na
campanha. A este grupo impagável de jogadores, que lembraremos daqui a muitos anos. E, acima de todos, ao
Pedro Martins. Pensei que nunca ia ver o meu Autuori. Afinal tenho o
privilégio de estar a ser liderado por um melhor.
Isto são os nossos títulos. Levar orgulhosamente ao mundo o nome de uma ilha com 250 mil habitantes, bater-se em Anfield, no San Mamés ou em San Siro com o brio do verde-rubro, com as cores dos nossos pais, e dos pais dos pais deles. Ganhar, poder crescer, contribuir para a saúde do futebol português e do país em si. Reviver o Marítimo do Funchal, do Caldeirão dos Barreiros, o Marítimo que se foi perdendo no caminho, mas que continua a não ter igual no coração da Madeira.
O Marítimo que está na casa e no carinho de toda a gente, e que pode voltar a estar na vaidade e na rua e por todo o lado. O Marítimo que só precisa de uma oportunidade para voltar a ser o Marítimo. Uma oportunidade que começou hoje.
Obrigado Leão.
2 comentários:
Uma crónica cheia de sentimento! Dois apuramentos históricos em dois dias seguidos é algo memorável, sem dúvida. um abraço grande Paulo
Um excelente artigo, que diz muito muito a quem vive este clube de forma apaixonada e leal.
O último parágrafo sintetiza muito daquilo que se espera que esta qualificação possa significar.
Esperemos que a oportunidade não se perca.
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