segunda-feira, 6 de agosto de 2012

The Dark Knight Rises


Antes de mais, duas coisas: a primeira é que era virtualmente impossível que TDKR superasse o seu antecessor, simplesmente porque The Dark Knight é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos, e foi um magnum opus que não acontece duas vezes na mesma trilogia. E não superou, de facto. A segunda é que Nolan faz filmes bons, muito bons ou excelentes, nunca menos do que isso.

The Dark Knight Rises é muito bom, mas fica a uns palmos da excelência. É ingrato dizer isto de qualquer filme de Nolan, mas é, ao mesmo tempo, dos maiores elogios que lhe posso fazer: o nível é tão alto, que os seus vácuos notam-se mais do que os dos outros. Em TDKR o ambiente gastou, como seria normal. Já todos tínhamos passado duas vezes por aquela Gotham no limite, caótica e possuída por um louco, só que desta vez não houve o glamour do festival do Joker. Depois, a acção prometeu muita coisa, mas teve dificuldade em concretizar, ferida de uma certa inevitabilidade de fim de história, que lhe toldou o rasgo criativo, e a impediu de ir mais longe aqui e ali. Uma linha importante da trama - Miranda Tate (Marion Cotillard) - é francamente infeliz. E, para acabar a lista, foi criminoso ter vulgarizado um fim que foi, até aos últimos fiapos, de altíssimo nível.

Dito isto, reforço que TDKR está à altura de uma trilogia tão brilhante como este Batman de Nolan, o que fala por ele. A grandeza do texto prova-se quase a cada cena. Os dilemas, as teses, os dramas pessoais, as relações, os propósitos, continuam a ser puxados pelos Nolan com uma mestria e um peso sem paralelo neste tipo de filmes. Uma Gotham irremediável, condenada a voltar à guerra independente aos anos de paz; um Batman de joelhos, que perdeu tudo e perdeu o rumo, mas que é incapaz de virar as costas; e vilões humanos, complexos, que a vida, não a psicopatia, precipitou para fins doentios. Além disso, se é que era preciso, Nolan provou-se, uma vez mais, como um colosso do cinema-espectáculo, provavelmente sem rival nos dias que correm, apoiado na gloriosa banda sonora de sempre de Hans Zimmer.

Chris Bale sustentou, uma vez mais com aquele peso do mundo aos ombros tão distinto, um Bruce Wayne morto para a sociedade há 8 anos, morto por dentro e sem razão para continuar. Anne Hathaway cumpriu as expectativas num papel que era a sua cara, como uma Catwoman lasciva mas nunca vulgar, a navegar como free agent. Tom Hardy é um Bane sensacional, digno sucessor do Joker de Ledger, um monstro de força profundamente torturado pelo passado, a quem a vida virou as costas, e que dela se tenta vingar. E, finalmente, o meu Óscar para Secundário era já entregue a Michael Caine. O Alfred ancião e venerável, mais mortificado do que nunca por aquele filho que nunca teve, e que rouba, possivelmente, as duas melhores cenas do filme, a última, então, de deixar um imenso nó na garganta.

Frustra-me, não posso evitar, que Nolan tenha tido o fim no ponto, e que não tenha evitado cair no óbvio, nem deixado de martelar uns favores comerciais. O seu Batman merecia ter sido perfeito até ao ecrã preto. Apesar de tudo, The Dark Knight Rises é mais um filme impressionante, e completa, com a altitude que se impunha, uma tão groundbreaking trilogia. No cinema de super-heróis, haverá, para sempre, o antes e o depois do Batman de Nolan.

8/10

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